terça-feira, 31 de outubro de 2017

AMAZÔNIA

Mais de 4 milhões de km² de Floresta Amazônica contribuem para o equilíbrio do sistema climático global. A área supera em mais de 10 vezes o tamanho de um país como a Alemanha e, pela sua importância, será tema central da atuação brasileira na Conferência do Clima, a COP 23, que começa na próxima segunda-feira (06/11) na cidade alemã de Bonn. A última matéria da série sobre a o Brasil na COP 23 aborda o potencial da floresta e as ações do governo federal para a conservação do bioma.
A queda no desmatamento resulta das medidas voltadas para a Amazônia. A redução foi de 16% entre agosto de 2016 e julho de 2017, em relação ao período imediatamente anterior. Esse é o intervalo de tempo usado para a medição do corte raso no bioma. “Conseguimos reverter a curva de desmatamento em decorrência da recomposição do orçamento dos órgãos de fiscalização”, analisa o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho.
Medidas capazes de impulsionar o desenvolvimento sustentável na região estão, agora, entre as prioridades do ministério. “O ideal é valorizar o bem ambiental de forma que a floresta em pé tenha maior valor do que a floresta derrubada”, afirma o ministro. Nesse sentido, Sarney Filho explicou que o país enfatizará, em Bonn, a necessidade de avanços nos mecanismos de pagamentos por serviços ambientais.
Em ambiente doméstico, o incentivo a uma economia florestal é um dos focos do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, o PPCDAm. Iniciada em 2016, a quarta fase do plano traz um eixo destinado a criar instrumentos normativos e econômicos para o setor produtivo sustentável. As linhas de ação incluem a ampliação de acesso ao crédito para as atividades de manejo florestal e a elaboração de acordos setoriais para combater o desmatamento.
ESPAÇO BRASIL
As políticas de conservação da Amazônia e dos demais biomas brasileiros integram a pauta de debates do Espaço Brasil na COP 23, uma área que será montada pelo governo federal na Conferência. O local abrigará extensa programação de discussões ao longo das duas semanas de realização da COP 23. O objetivo é envolver setor público, iniciativa privada, sociedade civil e academia nas diversas nos temas ligados à agenda climática.
A integração permitirá que o país cumpra sua meta no contexto do Acordo de Paris. Em relação ao papel da Amazônia nesse processo, o diretor de Florestas e Combate ao Desmatamento do MMA, Jair Schmitt, explica que todas as ações do departamento levam em conta a meta brasileira, conhecida como NDC no jargão técnico internacional. “A NDC do Brasil sinaliza o fortalecimento do Código Florestal, a recuperação da vegetação, a intolerância ao desmatamento ilegal e a promoção da economia florestal de base sustentável”, afirma.
POVOS TRADICIONAIS
Os direitos e conhecimentos dos indígenas e dos povos tradicionais são respeitados nas ações de redução do desmatamento na Amazônia. A forma como isso ocorre é apresentada no Sumário de Salvaguardas. O MMA recebe, atualmente, contribuições à segunda edição do relatório, que deverá ser finalizado e entregue à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) até o fim do ano. Para participar, é necessário enviar a planilha de contribuições para reddbrasil@mma.gov.br  até 15 de novembro.
O documento apresentará informações sobre a implementação das salvaguardas no andamento do PPCDAm e do Fundo Amazônia no período de 2011 a 2015. Essas salvaguardas garantem, para fins de investimentos financeiros, que aspectos como proteção dos direitos dos povos indígenas, participação social e preservação de ecossistemas naturais estão sendo respeitadas nas ações de redução de emissões provenientes do desmatamento e da degradação florestal, conceito conhecido como REDD+.
SAIBA MAIS
Entre 6 e 17 de novembro, será realizada a vigésima terceira edição da Conferência das Partes (COP 23), também conhecida como Conferência do Clima. O evento reunirá representantes dos mais de 190 países signatários da Convenção da ONU sobre mudança do clima em Bonn, na Alemanha. Apesar de ocorrer no país europeu, a Conferência será presidida pela República das Ilhas Fiji, um pequeno país insular no Pacífico que corre riscos por conta do aumento dos níveis do oceano.
O Acordo de Paris é um esforço mundial para conter o aquecimento global. O pacto foi concluído em 2015, na COP 21, e tem o objetivo de limitar o aumento da temperatura média global a bem abaixo de 2ºC. Nesse contexto, cada país tem uma meta específica a cumprir. A meta do Brasil é considerada uma das mais ambiciosas e propõe a redução de 37% das emissões de gases de efeito estufa até 2025, com indicativo de cortar 43% até 2030. Para isso, são propostas ações para o conjunto da economia.
Fonte: MMA

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

ÁREA

Área de unidades de conservação atingida por queimadas já é maior que a do mesmo período do ano passado

Apenas no mês de outubro, um balanço preliminar do instituto aponta que pelo menos 185,6 mil hectares foram atingidos pelo fogo em unidades federais de todo o país, quase o dobro do registrado em outubro do ano passado (97,9 mil hectares). Como o mês ainda não acabou, a diferença deve aumentar.
Parte considerável da destruição do mês está no Parque Nacional da Chapada do Veadeiros, que passa pelo maior incêndio da sua história. A queimada já atingiu mais de 65 mil hectares. Segundo o ICMBio, o fogo já foi controlado na maior parte da reserva, mas cerca de 400 pessoas, entre voluntários e brigadistas, seguem trabalhando 24 horas por dia para evitar que novos focos surjam.
Além disso, o instituto registra fogo em outras 16 unidades de conservação, como o Parque Nacional da Serra das Capivaras, o Parque Nacional da Serra da Canastra e o Parque Nacional do AraguaiaNenhum, porém, é tão devastador quando o que atinge a Chapada.
O mês de setembro também foi considerado incomum pelos especialistas, com uma área atingida por incêncios 83% maior que a do mesmo mês do ano passado.
Segundo Christian Berlinck, coordenador de prevenção e combate do ICMBio, o tempo mais seco que o normal nestes dois meses, com temperaturas elevadas, ventos fortes e umidade abaixo de 15%, foram responsáveis pelos números elevados.
Ele explica que, no país, usa-se fogo o ano inteiro nos setores de agricultura e pecuária. Normalmente, até julho, o fogo não evolui muito por conta do clima mais úmido, com vegetação verde, que facilita o trabalho das brigadas.
“Setembro e outubro deste ano foram extremamente secos. Chegamos ao auge da seca, então qualquer fogo que perde o controle cresce muito rápido.”
O coordenador cita os incêndios que atingiram a Califórnia, nos Estados Unidos, e diversas regiões de Portugal  também em outubro, deixando dezenas de mortos.
Além disso, setembro foi o mês com o maior número de queimadas da história do país , segundo a série do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), iniciada em 1999. Foram 110.736 focos.
Incêndios criminosos
Apesar de as condições climáticas dificultarem o combate aos incêndios, Berlinck destaca que o início das queimadas não é natural em muitos casos. Na Chapada dos Veadeiros, a Policia Civil trabalha com a hipótese de incêndio criminoso.
“É fato [que o incêndio da Chapada foi criminal]. A maior parte dos incêndios que tomam grandes proporções é criminosa. Ocorrem em momentos mais quentes do dia e a favor do vento.”
Segundo ele, estes incêndios geralmente são iniciados com fósforos e isqueiros em regiões próximas de trilhas, ou mesmo com mecanismo retardante, como colocar uma vela dentro de uma lata. “A vela queima e atinge a grama. Isso dificulta a identificação do autor, pois ele faz isso, sai andando e o fogo só começa depois de meia hora.”
Apesar de os incêndios poderem não ser intencionais, Berlick acredita que o da Chapada foi doloso, pois o fogo está reaparecendo em áreas em que já havia sido controlado. Ele diz não saber quais as motivações. “Não temos hipóteses. Primeiro, estamos preocupados em controlar o fogo.”
Próximos meses
Berlick acredita que os incêndios devem continuar nas unidades de conservação nos próximos dois meses do ano, pois a expectativa de chuva está abaixo do normal. “No final do ano, começam as secas no sul no Nordeste, no estado da Bahia. Também tem seca no Rio Grande do Sul, em Roraima e no Amapá. Devemos começar a ter problemas nessas áreas”, diz.
Ele afirma que o balanço da área atingida por queimadas nas UCs federais deve ser semelhante ao do ano passado, que fechou com 1.170.654,30 hectares destruídos. “Se a gente não estivesse tão estruturado e organizado e não tivesse investido tanto em prevenção, seria maior.”
Fonte: G1

domingo, 29 de outubro de 2017

BALEIAS

As baleias, estrelas do ecoturismo na Islândia, escapam da caça.

Durante muito tempo, as baleias na Islândia tradicionalmente acabavam nos pratos em forma de filés. Mas os tempos mudaram, e com a peregrinação de turistas a esta ilha no Atlântico Norte, esses animais se tornaram estrelas do ecoturismo.
“Uma baleia Minke no fundo à direita, a cerca de 200 metros!”, gritou Alberto Alejandro, um guia espanhol da companhia Elding, cujo barco navega ao longo da costa da capital, Reykjavík.
O aparecimento do cetáceo é rápido e furtivo, e só se vê a barbatana caudal, mas esses poucos segundos são suficientes para tirar o fôlego dos 60 turistas a bordo da embarcação, que suspiram em coro.
“Esta é uma das coisas que queríamos fazer de qualquer jeito em nossa primeira visita aqui”, disse Joachim Holm, um visitante sueco. “Temos poucas chances de ver baleias vivas”, acrescentou.
Em um momento em que grupos ambientalistas e alguns cientistas lutam contra a caça destes animais, a presença dos turistas também não é inócua, e perturba estes mamíferos marinhos.
Mas no fim das contas, é preferível que os animais estejam vivos a que terminem esfolados, segundo os defensores do meio ambiente.
Em Húsavík, no norte do país, e também na baía de Faxaflói, perto de Reykjavík, mais de 355 mil pessoas foram observar baleias em 2016, na esperança de vislumbrar os animais no Atlântico Norte.
Isto representa um aumento de 30% em relação a 2015, e quadruplica o número de dez anos atrás.
– Tradição versus turismo verde –
Na baía de Faxaflói também ocorre a pesca da baleia Minke, cuja população estável nas águas islandesas é estimada em cerca de 32.000 exemplares, segundo dados do governo.
Ao contrário da pesca da baleia-comum, suspensa após a falta de interesse comercial do Japão, a caça da baleia Minke persiste na Islândia, que é um dos dois únicos países do mundo, junto com a Noruega, que ignora a moratória sobre a pesca comercial destes cetáceos, que data de 1986.
Alessandro Rosa, um turista italiano, disse que respeita “as tradições” da Islândia, onde a pesca de baleias é registrada desde o século XIII. Mas “nunca comi carne de baleia e não tenho intenção de fazer isso”, assegurou.
Os próprios islandeses consomem pouca carne de baleia, e se a pesca continua é sobretudo para satisfazer a demanda dos turistas. No ano passado, o país recebeu 1,8 milhão de visitantes, e deve receber mais de dois milhões neste ano.
Há vários anos, a Islândia está longe de explorar as cotas às que tem direito, devido, em grande parte, ao mau tempo.
A empresa IP-Utgerd Ltd, uma companhia especializada na caça da baleia Minke, abateu 17 mamíferos em 2017 (em comparação com 46 em 2016), muito abaixo do limite estabelecido, de 224.
– Baleia no cardápio –
Em Reikiavik, o restaurante Thrír Frakkar inclui carne de baleia em seu cardápio desde que abriu suas portas, em 1989. Os asiáticos são os clientes mais assíduos.
“Eles estão acostumados com a carne de baleia, é algo que está na sua cultura”, explicou o chef, Stefán Úlfarsson.
A americana Sarah Krieger disse que não tem nada contra este costume, defendendo uma gestão “responsável” das populações. “Os humanos estão no topo da cadeia alimentar”, argumentou.
Entre a caça e a observação, as baleias contribuem com cerca de 100 milhões de euros em rendimentos por ano no país, uma pequena ilha com cerca de 300.000 habitantes e um PIB de 20 bilhões de euros, segundo dados dos especialistas.
A caça continua sendo rentável e, segundo dados do setor, com cerca de 45 exemplares pescados a cada ano desde 2003, seu preço dobrou em uma década, passando a 2.500 coroas por quilo (20 euros, 24 dólares), mais que o frango ou o porco.
Mas os consumidores são cada vez mais escassos. Segundo pesquisas do Fundo Internacional para a Proteção dos Animais (IFAW), o consumo da carne de baleia caiu entre os turistas estrangeiros. Em 2016, só 12% afirmaram ter comido, em comparação com 40% em 2009, segundo esta ONG.
O responsável da filial islandesa da IFAW, Sigursteinn Másson, disse estar convencido de que a caça de baleias vive suas últimas horas, devido à mudança de mentalidade da população.
Fonte: AFP

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

CHAPADA DOS VEADEIROS

Órgãos ambientais avaliam situação das queimadas na Chapada dos Veadeiros Incêndio.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

BRASIL

Brasil apoia proteção de tubarões migratórios.

O governo brasileiro formalizou o interesse em somar esforços à conservação de espécies de tubarões e raias migratórias. Nesta terça-feira (24/10), o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro de Oliveira Costa, assinou o Memorando de Entendimento sobre a Conservação dos Tubarões Migratórios (Sharks MoU), na 12ª sessão da Conferência das Partes da Convenção sobre Espécies Migratórias. O evento ocorre em Manila, Filipinas, até o sábado (28/10).
O Departamento de Conservação e Manejo de Espécies do ministério recebeu o convite para assinar o memorando em março deste ano. A iniciativa fortalece o Brasil no manejo de tubarões e raias migratórias de forma sustentável, em cooperação com outros países, garantindo a conservação das espécies.
“É uma demonstração do comprometimento com a conservação e uso sustentável desse importante recurso marinho e ajudará a criar iniciativas internacionais futuras”, afirmou José Pedro.
O Sharks MoU é um instrumento internacional que visa restaurar um estado de conservação favorável para as espécies de tubarões em perigo em nível global. Complementa os acordos internacionais de pesca e as organizações regionais de gestão de pesca. O Secretariado do MoU está localizado em Bonn, na Alemanha.
Para o Brasil, o documento auxilia na implementação do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Tubarões e Rais Marinhos Ameaçados de Extinção (PAN Tubarões) e no cumprimento de compromissos internacionais como a Convenção, “ampliando a cooperação internacional dos países da área de distribuição dessas espécies para sua conservação”, explicou José Pedro.
ESPÉCIES
Das espécies de tubarões e raias constantes no Sharks MoU, 17 estão incluídas na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção da fauna brasileira e no PAN Tubarões.
São elas: Rhincodon typus (tubarão-baleia), Cetorhinus maximus (tubarão-peregrino), Carcharodon carcharias(tubarão-branco), Isurus oxyrinchus (mako, anequim), Alopias superciliosus (tubarão-raposa), Alopias vulpinus(tubarão-raposa), Sphyrna lewini (tubarão-martelo), Sphyrna mokarran (tubarão-martelo), Squalus acanthias(tubarão-gato, tubarão-bagre) neste caso está citada apenas para a população do hemisfério norte, Pristis pectinata (peixe-serra), Pristis pristis (peixe-serra), Manta birostris (raia manta), Mobula japanica (raia manta), Mobula thurstoni (raia-manta), Mobula tarapacana (raia-manta), Mobula hypostoma (raia-manta), Mobula rochebrunei (raia-manta).
Delas, quinze possuem outras proteções por instrumentos internacionais, como a Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites), também reconhecida pelo Brasil.
PLANO DE CONSERVAÇÃO
O Sharks MoU foi criado como um primeiro instrumento global para a conservação das espécies migratórias de tubarões, abrangendo 29 espécies de tubarões. Atualmente, conta com 41 signatários.
O Plano de Conservação aprovado pelos signatários, em 2012, baseia-se em cinco objetivos: aumentar a conscientização pública sobre ameaças aos tubarões; melhorar a compreensão das populações de tubarões migratórios através da pesquisa; garantir que as pescarias dirigidas e não dirigidas para tubarões sejam sustentáveis; proteger habitats críticos e corredores migratórios; e reforçar a cooperação nacional, regional e internacional.
Dentre os benefícios estão o suporte no desenvolvimento de estratégias de conservação, de parcerias ou atividades de conservação colaborativas transfronteiriças e intergovernamentais, suporte técnico do comitê consultivo para tubarões do MoU e oportunidades de financiamento e capacitações para iniciativas de conservação de tubarões e raias.
A assinatura do MoU também amplia a visibilidade internacional, permite o acesso a uma rede de especialistas e pode trazer benefícios para outras espécies marinhas.
Entre as responsabilidades para os signatários estão itens como a designação de um ponto focal, adoção, implementação e controle de medidas administrativas para a conservação das espécies. E ainda a definição e implementação de medidas para a recuperação das populações das espécies e a elaboração de relatórios sobre a implementação do memorando.
Fonte: MMA

terça-feira, 24 de outubro de 2017

POLUIÇÃO

Poluição do ar acidifica oceanos e ameaça vida marinha, diz estudo.

Toda a vida marinha será afetada por causa das emissões de gás carbônico, que vêm elevando a acidez dos oceanos no mundo, revela um novo estudo.
A pesquisa, que durou oito anos, foi conduzida por mais de 250 cientistas.
Os resultados apontam que criaturas marinhas em estágio inicial de desenvolvimento devem ser as mais prejudicadas pelas mudanças.
Um exemplo é o bacalhau. Segundo os cientistas, com a acidificação dos oceanos, 25% dos filhotes chegariam à fase adulta – no pior cenário, apenas 12% sobreviveriam.
As constatações foram feitas pelo projeto Bioacid, liderado pela Alemanha.
O resumo das principais descobertas do estudo será apresentado a negociadores do clima em novembro, numa cúpula em Bonn, no oeste alemão.
Mas nem todas as espécies estão ameaçadas. Os impactos biológicos da acidificação dos oceanos, explicam os cientistas, podem beneficiar diretamente alguns animais.
Ainda assim, mesmo esses podem ser afetados com as alterações na cadeia alimentar marinha.
Esse processo de acidificação tende a se agravar com mudanças climáticas, poluição, desenvolvimento urbano no litoral, uso de fertilizantes agrícolas e pesca predatória.
O nível de acidez está aumentando porque, à medida que o dióxido de carbono de combustíveis fósseis se dissolve na água do mar, produz ácido carbônico e reduz o pH da água.
O pH médio identificado na superfície da água caiu de 8,2 para 8,1, o que representa um aumento na acidez de cerca de 26%.
O estudo foi liderado pelo professor Ulf Riebesell, do Centro Helmholtz de Pesquisas Oceânicas (Geomar) em Kiel, no norte da Alemanha.
Considerado uma das maiores autoridades do mundo no assunto, ele tem mantido a cautela ao falar sobre efeitos da acidificação.
À BBC, ele disse que todos os grupos marinhos serão afetados pelas mudanças químicas, ainda que em diferentes níveis.
“Corais de águas aquecidas são geralmente mais sensíveis do que corais de água fria. Já os moluscos e os caracóis são mais sensíveis do que os crustáceos”, explicou o especialista.
“Também identificamos que essas mudanças geram maior impacto em filhotes do que em adultos”, completou.
Desde 2009, pesquisadores que trabalham no programa Bioacid têm estudado como espécies marinhas estão sendo afetadas pela acidificação em diferentes fases da vida e seu impacto na cadeia alimentar. Também tentam verificar se há como reduzir os efeitos pela adaptação evolutiva da fauna e flora.
O estudo foi conduzido em laboratório e também nos mares do Norte, Báltico, no Oceano Ártico e na Papua Nova Guiné.
Um resumo de mais de 350 publicações acadêmicas sobre os efeitos da acidificação – que será apresentado no próximo mês – revelou que quase metade da fauna marinha testada reagiu de forma negativa ao aumento, ainda que moderado, da concentração do dióxido de carbono.
Entre as espécies ainda em crescimento no Atlântico, bacalhau, mexilhão-azul, estrela-do-mar, ouriço e borboleta-marinha aparecem como as mais afetadas pela mudança no pH da água.
Um experimento com os cirrípedes (tipo de crustáceo) mostrou que eles não são sensíveis à acidificação e algumas plantas – como algas que usam carbono para a fotossíntese – podem até se beneficiar.
Carol Turley, especialista em acidificação oceânica no Reino Unido, avaliou a pesquisa como “extremamente importante”.
“A pesquisa contribuiu com importantes dados sobre os impactos que a acidificação pode gerar em uma ampla gama de organismos marinhos, de micróbios a peixes”, concluiu.
Fonte: G1

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

INCÊNDIOS

Risco agora é a erosão dos solos e a contaminação da água.

Depois dos incêndios, quando a chuva vier a sério, as extensas regiões afetadas pelos fogos deste ano, que ascendem a mais de 500 mil hectares, enfrentam novos problemas: a erosão dos solos e a possibilidade de contaminação de rios e albufeiras com as cinzas e outros contaminantes, transportados pela escorrência das águas. Nas zonas de maior risco poderá haver intervenções para travar os efeitos mais severos, mas a dimensão das áreas ardidas não ajuda.
No terreno, já há quem esteja a trabalhar, como Jacob Keiser, investigador da Universidade de Aveiro e especialista em erosão do solo, com a demonstração de técnicas que podem diminuir o impacto das chuvas na erosão dos solos que ficaram calcinados.
“Fomos contactados pelo ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas] em meados de agosto, na sequência dos incêndios de Pedrógão para um projeto-piloto de demonstração de técnicas para travar a erosão do solo no pós-incêndio”, explica ao DN o investigador de Aveiro.
Na sequência do pedido, Jacob Keiser e a sua equipa do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro participaram em agosto num workshop com técnicos dos gabinetes técnicos florestais (GTF) dos municípios afetados pelo incêndio de Pedrógão, e fizeram a demonstração em encostas de pinhal ardido, em Castanheira de Pera.
Porque pretendem recolher dados para estudo científico, numa das parcelas a equipa não fez nenhuma intervenção, noutra aplicou uma barreira de ramos, com o objetivo de travar a velocidade da água da chuva, quando ela chegar, e noutra aplicou uma cobertura de caruma que ao mesmo tempo que protege o solo calcinado e vulnerável também absorve alguma água e trava a sua escorrência.
“Demonstrámos as técnicas, vamos continuar a monitorizar as parcelas com os técnicos dos GTF e depois vamos acompanhar como consultores a aplicação das medidas que forem tomadas”, adianta Jacob Keiser. Para breve está também agendada uma demonstração idêntica em zonas de eucaliptal, mas de acordo com os estudos que faz há anos nesta área, o investigador de Aveiro é da opinião de que a aplicação de um coberto sobre o solo ardido é o que acaba por ter mais vantagens. “O ideal, na nossa perspetiva, é aplicar uma cobertura, por exemplo, de palha ou de resíduos florestais que ficaram do corte, ou ainda caruma, no caso do pinhal”, adianta. Na Galiza, diz, “há muito a prática de aplicar palha, lançada de helicóptero”. As vantagens? “É eficaz e é impossível fazer mal, enquanto criar barreiras leva mais tempo e pode ter riscos.”
Na prática, será impossível agir em todas as áreas ardidas. Mas dada a extensão e a severidade dos fogos, “haverá zonas com bastante erosão”, acredita Jacob Keiser. Será sobretudo aí que vai ser preciso intervir, diz. Em zonas “onde a severidade do incêndio foi grande e o risco de erosão é maior, em zonas com declives mais acentuados, ou onde o solo é importante do ponto de vista dos ecossistemas, naquelas onde os sistemas florestais têm importante produtividade e ainda onde há albufeiras e linhas de água, ou onde há riscos de inundações urbanas”, explica o cientista de Aveiro. É que, além do problema da erosão dos solos, e consoante a sua intensidade, as chuvas vão arrastar não apenas sedimentos e nutrientes, mas também as cinzas e os restos calcinados de vegetação que têm um grande potencial de contaminação das linhas de água e das albufeiras.
Nesta altura, apontar em concreto as regiões onde vai ser preciso intervir “é difícil”, nota Jacob Keiser, mas à partida serão aquelas que couberem nestes critérios e, na sua opinião, terão de ser as autoridades e os técnicos locais quem melhor poderá fazer essa despistagem.
Contaminação da água
O outro problema que vai colocar-se quando a chuva chegar é o da potencial contaminação dos recursos hídricos pelas cinzas e sedimentos queimados, levados para rios e albufeiras.
“Os sedimentos e nutrientes que não foram volatilizados pelo fogo, são transportados pela chuva”, explica Alexandre Tavares, professor e investigador da Universidade de Coimbra na área das Ciências da Terra e da cartografia de risco.
“Estamos a falar de sais solúveis, de sulfatos, de nitratos e de outros compostos de azoto, e de cinzas, que têm concentrações de cálcio 20 vezes superiores em relação ao solo original por causa do fogo”, sublinha o cientista. É esta mistura que “atinge as linhas de água e que, por causa da sua concentração, pode levar à proliferação de algas, que, por sua vez, pode levar à proliferação de micro-organismos, alguns deles tóxicos”, antecipa Alexandre Tavares.
A chuva logo a seguir aos fogos já foi uma pequena amostra do que poderá suceder quando vier o inverno. Sem surpresa, logo na quarta-feira, a população de várias localidades de Alcobaça foi aconselhada pelos serviços municipais a não beber água da rede pública – estava cheia de cinzas.
Fonte: Diário de Notícias

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

A Àrvore

A árvore que nos ajudaria a combater o aquecimento global

As árvores têm um papel fundamental para a sobrevivência das espécies. Um exemplo é a Kiri, árvore com potencial para combater o aquecimento global

Para combater as mudanças climáticas, uma grande aliada é a árvore. Por isso, garantir a proteção dos ecossistemas com árvores é uma estratégia fundamental para cuidar do planeta. De acordo com os dados da ONU, aproximadamente 13 milhões de hectares florestais são destruídos cada ano em todo o mundo.
Em abril deste ano, um estudo sobre as árvores desenvolvido pelo Botanic Gardens Conservation International (BGCI) indicou que das mais de 60 mil espécies de árvores existentes no mundo, perto de 10 mil já foram identificadas como ameaçadas de extinção.
Além das reservas florestais, devemos garantir também os espaços verdes nas cidades. Estes seriam alguns dos benefícios das árvores em zonas urbanas:
  • Reter a água da chuva
  • Purificar o ar
  • Render frutos
  • Diminuir a poluição sonora
  • Oferecer sombra
  • Evitar a erosão do solo
  • Contribuir para a diminuição da temperatura atmosférica
  • Revitalizar a área urbana
  • Servir de hábitat para animais
Kiri, a árvore imperatriz
Originária da China, a Kiri ou Paulownia tomentosa é uma das árvores que nos ajudaria a proteger o meio ambiente. Ela possui até 27 metros de altura e seu tronco tem entre 7 e 20 centímetros de diâmetro. Uma das grandes potências da árvore para a luta contra o aquecimento global é a sua capacidade de absorção de CO2. Ela poderia absorver dez vezes mais o gás carbônico do que qualquer outra espécie.
Além disso, provoca a emissão de grandes quantidades de oxigênio, resultando numa troca muito benéfica para o meio ambiente. A árvore também tem uma especialidade: é a que cresce mais rápido entre todas as outras. Em oito anos, pode atingir o mesmo tamanho que um carvalho-roble de 40 anos.
Por diversas partes do mundo, projetos ambientais estimulam que as pessoas plantem a árvore como meio de purificação de solos e do ar. Um exemplo é o “The Kiri Revolution”, que pretende recuperar zonas ambientais esgotadas na cidade do Texas, nos Estados Unidos, que vem sendo realizado desde 2008.
Os profissionais interessados em atuar para a sustentabilidade podem ampliar os conhecimentos com o Mestrado em Mudanças Climáticas, patrocinado pela FUNIBER.
Foto: Todos os direitos reservados

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Produto Interno Verde agora é lei

O presidente da República, Michel Temer, sancionou a lei que prevê o cálculo anual do Produto Interno Verde (PIV). De acordo com a Lei nº 13.493, publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão responsável pelo cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), divulgará também, se possível anualmente, o PIV.
Além dos dados tradicionalmente utilizados, será considerado no cálculo do PIV o patrimônio ecológico nacional, levando em conta iniciativas nacionais e internacionais semelhantes. Com isso, será possível a convergência com sistemas de contas econômicas ambientais adotados em outros países. A lei estabelece, ainda, ampla discussão da metodologia de cálculo do PIV com a sociedade e com instituições públicas, incluindo o Congresso Nacional.
“As riquezas ambientais do Brasil agora serão contabilizadas, como ocorre em outros países mais avançados. Isso é muito importante porque o Brasil tem diferenciais enormes na área ambiental. Temos a maior parte da nossa cobertura vegetal, temos a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, que está razoavelmente preservada, e que agora tivemos a oportunidade de dar os números da queda do desmatamento graças às ações que efetivamos, graças à recomposição do orçamento”, comemorou o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho. “O Brasil sairá ganhando com o PIV e temos absoluta certeza que esse diferencial será devidamente aproveitado para as discussões internacionais”, completou.
O projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional foi apresentado pela Câmara dos Deputados, em 2011, depois de um amplo debate que envolveu especialistas, a sociedade civil e a Frente Parlamentar Ambientalista.
O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, que nos últimos anos esteve à frente dos debates sobre o tema, como coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista e na Comissão do Meio Ambiente e de Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, afirma que a iniciativa se baseia nos princípios da economia verde, ao contabilizar as variáveis relacionadas à sustentabilidade social e ambiental. “A contabilidade ambiental é complexa, mas é um passo necessário e importante”, defendeu o ministro.
“Pelo indicador PIV há o benefício de atribuir valor econômico a serviços ambientais prestados pelos ecossistemas. Desse modo, esses valores podem ser incorporados à contabilidade do setor produtivo”, esclareceu Sarney Filho. Dessa forma, o país passaria a contar com um indicador conjunto dos processos econômicos, da sustentabilidade ambiental e do bem-estar da sociedade.
Para o ministro, com o cálculo do PIV, será possível identificar se o país está produzindo riqueza ou se está apenas consumindo o patrimônio ecológico nacional existente, bem como avaliar se as políticas públicas em curso estão produzindo passivo ambiental a ser enfrentado pelas gerações futuras.
BIODIVERSIDADE
Ao apresentar o PLC 38/2011, o autor da proposta, deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ), justificou que os critérios tradicionais para o cálculo do PIB, observados pelo IBGE, em consonância com padrões internacionais, deixavam de lado uma das maiores riquezas do país: seu patrimônio ambiental. “Nesse contexto do debate sobre o mundo que queremos para a presente e para as futuras gerações, é fundamental a revisão dos critérios utilizados no cálculo das riquezas das nações”, afirmou.
“Com a proposta do “PIB Verde”, nosso objetivo foi suprir tal lacuna. Com efeito, a modificação vem ao encontro dos anseios mais recentes, tanto no âmbito nacional, quanto internacional”, disse o parlamentar.
Em 2012, quando o projeto já estava tramitando na Câmara, foi realizada no Brasil a “Rio+20” – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. A importância da proposta pautou os eventos que antecederam o evento, realizado no Rio de Janeiro. O objetivo da Rio+20 foi assegurar o comprometimento político renovado com o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso feito até o momento e as lacunas que ainda existiam na implementação dos resultados dos principais encontros sobre desenvolvimento sustentável, além de abordar os novos desafios emergentes.
Ainda na justificativa do projeto, o deputado Otávio Leite citou o economista, cientista social e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) em São Paulo Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos entusiastas do até então chamado “PIB Verde”.
“As pessoas não têm noção de como a contabilidade usada para o registro dos fatos econômicos é parcial e equivocada. Se uma comunidade tem água potável disponível, isso não é registrado nas contas nacionais. Se todas as fontes forem poluídas e tivermos de purificar, engarrafar, distribuir e transportar a água, o PIB aumenta. É algo que passa a ser mediado pelo sistema de preços e entra com sinal positivo na conta. Essa comunidade passou a trabalhar mais para ter acesso à água potável e, aparentemente, se tornou mais próspera. Essa sociedade empobreceu, e não enriqueceu”, defende Giannetti.
NO SENADO
Depois de aprovado na Câmara, o projeto foi discutido no Senado e aprovado no Plenário, no dia 20 de setembro. Foi acatada emenda que trocou a expressão “PIB Verde” por “Produto Interno Verde – PIV”. Outra mudança, sugerida pelo IBGE, foi a substituição do termo “índices” por “sistema de contas economicamente ambientais”. Para o senador Flexa Ribeiro, relator de Plenário da proposta, as emendas aperfeiçoam o projeto, que torna mais efetiva a possibilidade de enfrentar o dilema do desenvolvimento econômico sustentável, com transparência e governança ambiental.
Fonte: MMA

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Simpósio discute perda de abelhas no Brasil

Começou em Teresina (PI), nesta segunda-feira (16/10), o Simpósio sobre Perdas de Abelhas no Brasil, promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O evento reúne cientistas brasileiros, norte-americanos, franceses e australianos. Segue até o dia 18 e está sendo transmitido ao vivo no canal da Embrapa no Youtube.
O Simpósio sobre Perda de Abelhas no Brasil tem o objetivo de discutir as principais causas de perdas de enxames de abelhas no Brasil, suas consequências, estratégias e direcionamentos de pesquisa para mitigar as perdas das colônias e os efeitos causados com o declínio de polinizadores. Serão 22 palestras sobre o tema.
A analista ambiental do MMA Ceres Belchior apresentou a primeira palestra, nesta segunda-feira (16/10), sobre os resultados e desdobramentos do projeto GEF Polinizadores do Brasil. O projeto teve início em 2010 e terminou em 2015 e formou uma rede de pesquisa, geração e disseminação de conhecimento, e a revisão de políticas públicas.
O GEF Polinizadores do Brasil apoiou a produção de estudos e cursos de treinamento sobre a polinização de sete culturas agrícolas: algodão, caju, canola, castanha-do-brasil, maçã, melão e tomate. Participaram cerca de 80 pesquisadores, 20 técnicos, 150 bolsistas e 60 colaboradores, de 40 instituições de pesquisa em 17 estados brasileiros. Esses esforços renderam, ao todo, mais de 60 publicações.
De modo geral, os estudos mostraram que uma maior presença de polinizadores nas áreas amostradas melhora e aumenta a produtividade das culturas, em termos de peso, número de frutos e sementes, e qualidade dos frutos. Mais de 200 pessoas, incluindo agricultores e técnicos agrícolas, receberam capacitações sobre boas práticas para a conservação dos polinizadores.
“É importante ter uma visão integrada para poder atuar na mudança das práticas adotadas atualmente. Embora tenhamos linhas de crédito para programas de práticas sustentáveis, temos uma baixa execução desses programas”, afirmou Ceres Belchior. A conservação das abelhas é de extrema importância para a preservação ambiental e da biodiversidade, garantia de produção de alimento e geração de renda para apicultores e meliponicultores.
O desaparecimento das abelhas vem preocupando especialistas, organizações governamentais e não governamentais em todo o mundo. Problemas com perda de enxames têm sido relatados por produtores em todo o país pelas causas mais diversas, como ataque de inimigos naturais, uso indiscriminado de agrotóxicos, desmatamento e fragmentação de matas e florestas, sendo muitos desses fatores diretamente associados às mudanças climáticas.
Fonte: MMA

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

HABITAT POLUÍDO

Pato-Mergulhão é uma das aves mais ameaçadas do mundo

Ele é tão raro, que poucas pessoas se dão conta de sua existência. Vivia na Argentina, Paraguai e Brasil, mas hoje, os últimos 250 indivíduos de sua espécie estão por...

O pato-mergulhão é uma das 10 aves mais ameaçadas de extinção no mundo. (Foto: Divulgação)

Ele é tão raro, que poucas pessoas se dão conta de sua existência. Vivia na Argentina, Paraguai e Brasil, mas hoje, os últimos 250 indivíduos de sua espécie estão por aqui. Cerca de metade habita a Serra da Canastra (MG) e outros poucos animais  a Chapada dos Veadeiros (GO) e o Jalapão (TO). Não foi caçado, mas encurralado pela falta de habitat adequado. Trata-se do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), uma das 10 aves mais ameaçadas de extinção no mundo, que encontrou no Instituto Terra Brasilis um aliado.
A organização não governamental mineira criou o Programa Pato-Mergulhão com estratégia ambiental específica para estudar a ave e sensibilizar a população e produtores rurais. Conforme explica a coordenadora do programa, Lívia Lins, “a espécie vive apenas em rios de água corrente limpa. Isso porque ela se alimenta basicamente de peixes. E precisa mergulhar com condições de enxergar a presa. Como boa parte dos rios brasileiros está poluída, o pato perdeu espaço”, explica.
Conscientizar a população que vive no entorno da Serra do Canastra quanto à importância da preservação dos recursos hídricos da região é um dos tripés do programa, que visa ainda ao estudo biológico e comportamental da espécie e orientação das melhores práticas de manejo de solo e recursos hídricos dos produtores rurais. Lívia esclarece que a pesquisa objetiva gerar conhecimento. “Temos poucos registros da espécie, até porque é um animal que vive solitário ou apenas com o parceiro. Nunca foi um animal fácil de ser encontrado”, afirma.
A primeira ação executada pelo Terra Brasilis foi diagnosticar onde havia a espécie na Serra da Canastra. O conhecimento anterior era da ocorrência em seis trechos de rios. Lívia diz que já foram diagnosticados cerca de 60 territórios onde a ave está na região. “É um trabalho muito desafiador e conseguimos muitos avanços pelo fato de o pato ser um animal desconhecido. Nosso segundo passo foi acompanhar a rotina de vida das aves para entender melhor sua reprodução, seu convívio no habitat e suas peculiaridades em geral”, acrescenta.
Ao localizar um ninho de pato-mergulhão, a equipe quebrou um tabu que perdurava desde 1951. O último a ser descoberto foi naquela época, na Argentina, em um tronco oco de árvore. Os biólogos também identificaram um novo ambiente onde a espécie deposita ovos – uma fenda num paredão de rocha. “Isso abriu uma nova perspectiva de busca de ninhos. Aprendemos como e onde procurar esses locais e começamos a estudar ainda os filhotes e famílias inteiras do animal”, comenta Lívia, que trabalha ainda pela recuperação de áreas degradadas e proteção de mata ciliares, com o intuito de proteger as nascentes.
Radar
Com a captura das aves, implantação de anilhas e radiotransmissores nos indivíduos para um monitoramento mais rigoroso e o rastreamento e acompanhamento dos deslocamentos, foi possível identificar alguns hábitos do pato-mergulhão. “Um único casal demanda de cinco a 12 quilômetros de rio para viver. Daí se percebe que para aumentar a população será preciso ter longas extensões de água corrente e limpa. Também pudemos constatar que eles reutilizam o ninho e chegam a ter até oito filhotes numa postura, com período de encubação entre 30 e 33 dias. Os patos já nascem aptos a nadar, mas desses jovens, apenas dois ou três vão chegar à vida adulta”, lamenta. E o mergulhão é fiel ao parceiro. “Pudemos perceber que os casais sempre ficam juntos. Só mudam de parceiro se um dos dois morre.”
Buscando facilitar a vida dos casais e aumentar as chances de reprodução, o Terra Brasilis idealizou caixas-ninho para instalar na região. “Ainda não temos certeza se vai funcionar. Mas pensamos num ninho com características próximas às que eles buscam na natureza. Depois desse período de reprodução, que ocorre entre maio e setembro, é que saberemos a eficácia dessa estratégia.” Até os seis meses, os filhotes ficam com os pais. O que ocorre depois e para onde vão quando se dispersam são questões ainda a serem respondidas pelas pesquisas.
A condição de preservação da espécie, que precisa de água limpa, também é importante para os seres humanos. O trabalho se iniciou com a distribuição de calendários em estabelecimentos comerciais e produtores rurais, explicando como era o hábito de vida dessa espécie e a importância do auxílio da população no cuidado com as águas, solo e vegetação. “Procuramos mostrar nas escolas e comunidades essa relação de benefício mútuo. Mas nem sempre o saber gera um comportamento adequado. Temos pessoas completamente cientes dos cuidados necessários, mas que continuam levando bois e vacas até o rio. O convencimento é um trabalho longo”, afirma.
Nas escolas, mais de 1,5 mil crianças assistiram a teatros infantis e palestras de conscientização. “Fizemos oficinas e um material didático voltado para os professores para que o assunto pato-mergulhão estivesse também dentro de sala de aula”, ressalta Lívia.
Ficha técnica
Destaca-se o longo penacho nucal e os pés vermelhos; tem bico negro longo, estreito e serrilhado nas bordas. Cabeça e pescoço escuros, com reflexos verde-metalizados.
É uma ave delgada, com comprimento  total entre 48cm e 55cm e peso médio de 800 gramas.
Alimenta-se principalmente de peixes e de invertebrados aquáticos. Na Serra da Canastra, seu principal alimento é o lambari. Os peixes são capturados nos mergulhos, que podem durar até 30 segundos.
O pato-mergulhão é extremamente sensível à degradação e perda de seu ambiente natural. Por isso, é considerado um bom indicador da qualidade dos ambientes aquáticos.
Foto: Divulgação
Entre as principais ameaças  à espécie estão:
– Destruição de matas ciliares, perda de árvores de maior porte e a degradação das margens e dos leitos dos cursos d’água;
– Uso de pesticidas nas pastagens e lavouras que são carregados para os cursos d’água;
– Mineração, que impacta diretamente os cursos d’água e, consequentemente, sua fauna associada;
– Construção de barragens, que modificam profundamente os ambientes aquático;
– Atividades esportivas mal planejadas realizadas ao longo dos cursos d’água.
Fonte: EM