quarta-feira, 1 de abril de 2020

‘A grande mentira verde’: como a destruição da Amazônia vai além do desmatamento.

Tucano no Amazonas
O tamanho da destruição atual da Amazônia é bem maior do que se acredita.
Atualmente, o bioma contém a maior e mais diversa floresta tropical do mundo, ocupa mais de 6,8 milhões de km2 e abriga 33 milhões de pessoas em nove países.
Em 2018, Brasil e Bolívia estiveram entre os cinco países que mais perderam florestas primárias, as matas virgens, no mundo, de acordo com a organização internacional Global Forest Watch.
A grilagem de terras, a expansão de fronteiras agropecuárias, a mineração e a exploração econômica descontrolada, entre outros fatores, são consideradas as principais atividades responsáveis pela perda de floresta.
Mas o desmatamento é só uma parte do problema.
Mapa de localização do bioma amazônico
“Falar só de desmatamento quando falamos da destruição da Amazônia é o que eu chamo de a grande mentira verde”, diz à BBC News Brasil o climatologista Antonio Donato Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“A perda de floresta amazônica até hoje é muito maior do que os quase 20% de desmatamento dos quais se fala nos meios de comunicação.
Nobre e outros pesquisadores acreditam que, para ter um panorama mais completo da destruição da floresta, é preciso considerar também a degradação.
Degradação é o fenômeno que acontece quando o acúmulo de perturbações em um trecho de floresta (incêndios, extração de madeira e caça descontrolada, por exemplo) retira daquele ecossistema sua capacidade de funcionar normalmente.
Em 2019, por exemplo, Brasil e Bolívia também viram aumentar dramaticamente o número de incêndios na região amazônica.
2004
2008
2012
2016
2018: Depois de um ano de queda, o desmatamento na Floresta do Jamanxim volta a aumentar. Em 2019, a área foi afetada pelo “Dia do Fogo”, um dos momentos chave na crise dos incêndios na Amazônia, que teria sido organizado por fazendeiros locais.
“A questão é que a degradação tem um papel importante na maneira como a floresta muda, e nós não estamos vendo. Não há nenhum tipo de política para evitar a degradação”, diz à BBC News Brasil o botânico Jos Barlow, professor da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e pesquisador da Rede Amazônia Sustentável (RAS).
“Assim como uma pessoa saudável tem menos chances de pegar uma gripe, uma floresta saudável tem menos chance de queimar e de sucumbir às mudanças climáticas. O que a degradação faz é deixar a floresta cada vez mais vulnerável”, explica.
Entre as muitas funções da Amazônia está ajudar a América do Sul — e todo o planeta — a equilibrar o clima, distribuir as chuvas pela região e capturar quantidades enormes de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases causadores do efeito estufa.
São papéis fundamentais para mitigar os efeitos da mudança climática. “Podemos ver essas árvores nas fotos de satélite, mas para a função climática essas florestas degradadas já não existem mais”, diz Antonio Nobre.
Trecho de floresta desmatada na Amazônia brasileira
Os dados de destruição da floresta costumam mostrar o corte raso de árvores, mas não a degradação
O avanço da degradação e o desmatamento estão empurrando o ecossistema para um “ponto de não retorno” no qual ele perderia sua capacidade de funcionar, de acordo com os cientistas Carlos Nobre e Thomas Lovejoy, dois dos principais especialistas em Amazônia no mundo.
Se a situação não for revertida, dizem eles, os impactos dessas mudanças poderiam se acelerar, com consequências catastróficas.

Nem toda perda de floresta é igual

Quando falamos em dados de desmatamento, nem sempre falamos da mesma coisa.
Uma maneira de medir o desmatamento é levando em conta todas as áreas da floresta em que a vegetação foi completamente eliminada. É o que se chama perda de cobertura florestal.
Só em 2018, a perda de cobertura florestal em toda a Amazônia chegou a 4 milhões de hectares (40 mil km2), segundo dados da Global Forest Watch.
Gif animado da perda de cobertura florestal na América do Sul
Mas algumas destas áreas desmatadas são de florestas primárias, aquelas que se encontram em seu estado original — não afetadas, ou afetadas o mínimo possível, pela ação humana. Por serem mais antigas, elas têm mais diversidade de espécies e guardam mais carbono.
As florestas secundárias, por sua vez, são todas as que estão em recuperação de processos de desmatamento ou de degradação grave. Mas elas podem levar décadas e, em alguns casos, séculos, para voltarem a ter as características que tinham quando primárias se forem mantidas intocadas, o que também é raro.
Em 2018, a Pan-Amazônia, como é chamado o conjunto do bioma em todos os países, perdeu cerca de 1,7 milhão de hectares de floresta primária, segundo os dados produzidos pelo sistema de monitoramento da Universidade de Maryland, nos EUA, e publicados pelo Global Forest Watch.
Isso significa que pouco mais de três campos de futebol de mata virgem foram desmatados a cada minuto em 2018.
A perda pode parecer insignificante perto da imensidão da floresta (representa cerca de 0,32% do total), mas não é uma questão só quantitativa e, sim, qualitativa.
“Essa forma de medir o desmatamento é importante porque as florestas primárias são muito mais ricas e diversas em biodiversidade”, explica Jos Barlow, da Universidade de Lancaster.
Gráfico de espécies que seria possível encontrar em 1 hectare de Amazônia
Uma floresta é muito mais do que suas árvores. É o produto de todos os processos e interações entre milhares de espécies de plantas e animais que coexistem ali. Por isso a floresta amazônica é insubstituível.
Muitas pessoas acham que para compensar o que perdemos na Amazônia basta plantar árvores em outros lugares. Mas isso está errado.”
Erika Berenguer, Universidade de Oxford
“Cada hectare desmatado significa que uma parte do ecossistema deixa de funcionar, e isso afeta todo o resto”, diz à BBC News Brasil a pesquisadora Erika Berenguer, especialista em florestas tropicais da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da RAS.
Nos últimos dez anos, as taxas de perda de florestas primárias se mantiveram altas ou voltaram a aumentar na maioria dos países amazônicos, como apontam a Global Forest Watch e dados oficiais.

Taxa de perda anual acumulada de floresta primária na Amazônia 2002-2018

Nas florestas primárias vivem árvores que podem ter centenas ou até mesmo milhares de anos de idade. Elas cumprem um papel essencial na batalha contra as mudanças climáticas, já que agem como um enorme armazém de dióxido de carbono.
Uma pequena parte do CO2 que as árvores absorvem no processo de fotossíntese é emitida de volta para a atmosfera durante sua respiração. A outra parte é transformada em carbono e usada na produção dos açúcares que a planta necessita para seu metabolismo.
“Medimos a quantidade de carbono em uma árvore pela espessura do tronco. O carbono é armazenado ali, em forma de biomassa”, explica Erika Berenguer.
Por isso, quanto maior e mais antiga a árvore, mais carbono ela costuma armazenar.
Árvore na Amazônia peruana
As queimadas e o corte de madeira fazem com que o carbono armazenado nas árvores se transforme em CO2 e volte à atmosfera
Segundo Berenguer, uma árvore grande (com pelo menos três metros de circunferência) pode armazenar cerca de 3 a 4 toneladas de carbono.
Isso equivaleria a cerca de 10 a 12 toneladas de dióxido de carbono — ou a média que um carro de passeio emite durante quatro anos.
Um dos efeitos do desmatamento é liberar o CO2 guardado na floresta de volta na atmosfera — seja pela queimada ou pela decomposição da madeira cortada, processos que transformam o carbono das árvores novamente em gás.
Por este motivo, os cientistas temem que a região deixe de ser um armazém de carbono e se transforme em um importante emissor de CO2, acelerando os efeitos da mudança climática. Um estudo recente mostra que cerca de 20% do total da Amazônia já emite mais dióxido de carbono do que absorve.

A destruição (in)visível da floresta

Floresta degradada no Brasil
Quando a floresta está degradada, fica mais vulnerável a incêndios e a mudanças climáticas
Os sistemas que produzem imagens do desmatamento consideram geralmente o corte raso de árvores, ou seja, áreas em que a vegetação original foi totalmente removida.
No entanto, cientistas como Antonio Nobre acreditam que só o desmatamento não dá corretamente a dimensão da perda. Para isso, seria preciso ter também dados sobre a degradação.
Esse fenômeno é um produto dos eventos climáticos — como as secas — e da ação humana que deixam a floresta mais pobre e vulnerável. Mesmo quando, vista de cima, ela ainda parece seguir em pé.
Atividades como o corte de madeira ilegal e eventos recentes como os incêndios de 2019 fazem parte do problema.
“O solo fica mais frágil e mais seco por causa da remoção da vegetação, ainda que não seja total. Isso muda o microclima da floresta. Fica mais fácil incêndios se espalharem, por exemplo, porque o chão esquenta mais rápido”, explica Alexander Lees, professor de Ecologia Tropical na Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido.
No Brasil, entre os meses de janeiro e novembro, o fogo arrasou 70.698 km² (mais de 7 milhões de hectares) de Amazônia. Na Bolívia, o incêndio atingiu mais de 2 milhões de hectares do bioma.
Uma área de floresta degradada também perde, por exemplo, a capacidade de reciclar água da chuva.
“Somando o corte raso e a degradação, mais da metade da Amazônia já tem seus serviços ambientais ao clima da região comprometidos”, afirma Antonio Nobre.
Nenhuma árvore mais pode tombar na Pan-Amazônia.”
Antonio Nobre, Inpe
Cientistas já comprovaram que a degradação é um importante fator na emissão do CO2 armazenado na floresta. Um novo estudo do Raisg afirma que 47% de todas as emissões na Amazônia vem da degradação. E diz ainda que, em sete dos nove países amazônicos, esse fenômeno é o principal responsável pelas emissões do gás.
Corte de madeira na Amazônia peruana
Poucos países amazônicos divulgam dados anuais de degradação em suas florestas
Segundo o climatologista, as áreas degradadas da Amazônia chegam a ser até duas vezes maiores que as desmatadas.
Para fazer essa afirmação, ele se baseia no fato de que, só no Brasil, entre 2007 e 2016, foram contabilizados 14,6 milhões de hectares (146 mil km2) degradados na Amazônia brasileira.
Isso é quase o dobro da área desmatada no mesmo período, que foi de 7,5 milhões de hectares (75 mil km2), de acordo com dados do Inpe.
Um relatório recente do governo da Colômbia afirma que entre 2012 e 2015, a região amazônica no país perdeu 187.955 hectares por desmatamento e 414.605 hectares por degradação ​​— mais que o dobro.
Os dados disponíveis, segundo Antonio Nobre, fazem pensar que a área da Amazônia destruída pela ação humana é muito maior do que se acredita.
Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, concorda.
“Sabemos que até os números oficiais que temos são subestimados, porque geralmente só se mede a degradação mais grave.”
Gráfico sobre o que faz com que um bosque seja considerado degradado
Mas por que não se fala mais a respeito disso?
“É um fenômeno mais difícil de medir. Mesmo quando é possível enxergar a degradação por imagens de satélite, você precisa ter dados sobre o que está acontecendo no solo para entender se aquela área está mais ou menos degradada, se está se recuperando”, explica o pesquisador Alexander Lees.
Entre os países amazônicos, só o Brasil publica sistematicamente dados anuais de degradação.
No entanto, cientistas de toda a região estão tentando medir o fenômeno, para fazer um retrato mais amplo do estado atual do bioma.

E se perdermos a Amazônia?

Gado em trecho de floresta desmatada na Amazônia brasileira
O modelo que projeta um ponto de inflexão da Amazônia nos próximos 20 a 30 anos ainda não inclui dados de degradação
Se o desmatamento e a degradação continuarem nos ritmos atuais, a Amazônia pode deixar de funcionar como um ecossistema tropical em breve, mesmo que parte dela continue de pé.
Atualmente, pouco mais de 18% de toda a floresta original foi desmatada, de acordo com dados do projeto de monitoramento Mapbiomas, parceria entre universidades, ONGs, institutos de todos os territórios amazônicos e o Google.
O número é perigosamente próximo do que o biólogo americano Thomas Lovejoy e o climatologista brasileiro Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP, chamam de tipping point (ponto de não retorno, em inglês).
Eles se referem ao momento em que o desmatamento, em conjunto com as mudanças climáticas e a vulnerabilidade a incêndios mudarão completamente a Amazônia.
Esse ponto ocorrerá, segundo eles, quando entre 20% e 25% da floresta original estiverem destruídos.
De acordo com os cálculos de Nobre e Lovejoy, o tipping point pode acontecer nos próximos 20 a 30 anos, mantida a taxa atual de cerca de 1,5 milhão de hectares (15 mil km2) desmatados em média por ano em toda a região.
“Se chegarmos a esse ponto, aumentará a duração da estação seca e a temperatura da floresta. A partir daí, as árvores começarão a morrer de maneira acelerada, e isso criará um ciclo vicioso. O que era floresta tropical ficará parecido com o cerrado brasileiro, mas como uma espécie de savana pobre, sem a rica biodiversidade do cerrado”, diz Carlos Nobre à BBC News Brasil.
Projeção de como se veria a vegetação da Amazônia depois do tipping point
No estudo, os cientistas projetam um cenário para 2050 (confira na imagem acima) no qual a Amazônia perdeu 20% de floresta e está mais vulnerável a incêndios, em que a temperatura da região aumentou 3°C e em que aumentou cerca de 30% a concentração de CO2 na atmosfera.
“Neste cenário, teríamos até 60% da floresta transformada nesta savana pobre”, afirma o pesquisador.
A projeção, no entanto, ainda não inclui detalhadamente a degradação, pela dificuldade de conseguir dados da Pan-Amazônia.
Isso significa que a floresta poderia estar ainda mais próxima do ponto de não retorno. Segundo Nobre, há planos de incluir o fenômeno em uma próxima análise.
Mas o que acontece após o ponto de não retorno?

Menos chuva

Os cientistas ainda não sabem com precisão todos os possíveis efeitos de uma transformação brusca da floresta amazônica.
Mas, segundo as estimativas de Carlos Nobre, a temperatura na região poderia aumentar de 1,5°C a 3°C nas regiões que se tornarem savanas pobres. Isso sem contar o aumento já esperado com o aquecimento global.
Em 2012, um estudo da Universidade de Leeds afirmou que o desmatamento pode fazer com que as chuvas na Amazônia diminuam cerca de 12% durante a estação chuvosa e 21% na estação seca até 2050.
Floresta queimada no Brasil em 2015 ao lado de plantação de soja
A transformação da Amazônia em savana pode ter um efeito catastrófico para a economia da América do Sul
Com menos evapotranspiração na floresta, diminuiríam também as chuvas na bacia do rio da Prata, e a temperatura no Centro-Oeste brasileiro poderia aumentar em até 2°C.
Isso teria um efeito catastrófico para a economia regional. Menos chuva e mais calor significaria menos água para a pecuária e para cultivos como a soja.
“Certamente, haveria diminuição da produtividade da agropecuária nas partes da região que são mais importantes para essas atividades”, diz Carlos Nobre.

Mais doenças

Estudos feitos na Amazônia brasileira e em outras florestas tropicais do mundo relacionam o desmatamento a um aumento na incidência de doenças transmitidas por mosquitos, como a malária e a leishmaniose.
“Em um ambiente rico em biodiversidade, a proliferação do vírus se dilui, porque há mais espécies que podem ser incubadoras. Vetores como os mosquitos têm uma oferta de alimento grande”, disse a bióloga Márcia Chame, pesquisadora da Fiocruz, à BBC News Brasil.
O processo de queimadas e degradação faz com que os bichos busquem outras fontes alimentares, explica Chame. Isso normalmente aproxima o ciclo de algumas doenças das cidades.
Mosquito na Amazônia
A perda de áreas de floresta pode fazer com que mosquitos transmisores de vírus tenham maior contato com humanos
“Não sabemos ainda o que vai acontecer, mas temos elementos para dizer que, com menos floresta, há um risco alto de termos mais transmissão em humanos”, alerta a bióloga.
O aumento da temperatura causado pelas mudanças na floresta também pode provocar mais mortes e internações por doenças cardiovasculares e respiratórias relacionadas ao calor, segundo a pesquisadora Beatriz Oliveira, da Rede Brasileira de Pesquisas em Mudanças Climáticas.
“Mesmo mantendo as condições que temos hoje, a temperatura na região amazônica poderia aumentar até 8°C, somando o desmatamento e o aquecimento global, a partir de 2070. Com a substituição da floresta por outro ecossistema, esse incremento poderia ser maior ou acontecer bem antes”, adverte.

É possível evitar o ‘tipping point’?

De acordo com Carlos Nobre, há uma maneira de prevenir a transformação da floresta em savana:
“O que precisamos fazer imediatamente é adotar uma política de desmatamento zero na Pan-Amazônia e, junto com ela, um grande programa de restauração florestal no sul, no sudeste e no leste da Amazônia, que são os trechos mais vulneráveis”, afirma.
“Se conseguíssemos reflorestar 60 ou 70 mil km2 dessa grande área, onde a estação seca já está mais longa, poderíamos fazer a floresta voltar a funcionar melhor ali, ela ficaria mais resiliente.”
O objetivo não parece fácil de ser atingido no futuro próximo.
Indígena da Amazônia manuseia uma arma de caça
Em toda a Amazônia há cerca de 100 tribos indígenas com as quais há pouco ou nenhum contato
Em setembro de 2019, representantes de sete países amazônicos — sem a presença de Venezuela e Guiana Francesa — se reuniram em Leticia, na Colômbia, com um objetivo de criar uma agenda de prevenção de crises ambientais como os incêndios recentes.
O resultado foi o Pacto pela Amazônia, um acordo de 16 medidas não obrigatórias, mas que indicam um compromisso dos países contra o avanço da destruição da floresta. No entanto, o texto não coloca metas específicas para a redução do desmatamento, nem para um plano de reflorestamento.
Todos os políticos falam a frase célebre: preservação sim, mas com desenvolvimento. Mas está escondido na palavra desenvolvimento um modelo que só consegue ver a atividade econômica sem a floresta. Isso precisa mudar, e precisa ser agora.”
Carlos Nobre, USP
Fonte: BBC

Protocolo de Kyoto foi marco na proteção climática, mas insuficiente.

Mina de carvão perto de Duisburg, na Alemanha
Sob o Protocolo de Kyoto, a UE reduziu suas emissões em 19%, e a Alemanha, em 23%
“Até o fim, a sensação era de formigamento”, afirma o advogado ambientalista e cientista climático Hermann Ott, descrevendo o clima das negociações que se estenderam noite adentro na tentativa de traçar um caminho para a luta da humanidade contra as mudanças climáticas. “Até o último momento, tremíamos pensando se tudo fracassaria nos últimos segundos.”
O resultado das conversações, que só entraria em vigor oito anos depois, foi o Protocolo de Kyoto: o primeiro tratado vinculante sob o direito internacional visando reduzir os gases de efeito estufa, um marco na política climática internacional. O documento deu o tom para tudo que se seguiu, diz Saleemul Huq, diretor do Centro Internacional de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento.
A história do Protocolo de Kyoto começa em 1992, na Convenção das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, onde a comunidade internacional sublinhou a responsabilidade histórica dos países ricos pela mudança climática.
Em 1997, em Kyoto, no Japão, as negociações sobre o documento definiram como e em que contexto a proteção do clima deveria prosseguir, consumando que grandes emissores de gases de efeito estufa deveriam liderar a desaceleração da mudança climática. Após a assinatura de 141 países, o Protocolo de Kyoto entrou finalmente em vigor em 16 de fevereiro de 2005, exatos 15 anos atrás.
Sob o tratado, 38 países industrializados se comprometeram a reduzir suas emissões de gases nocivos ao clima em 5,2%, em média, até 2012, em comparação com os níveis de 1990. Os signatários incluíram os Estados Unidos e a União Europeia (UE).
“Foi a primeira vez que tivemos algo no direito internacional tão vinculativo”, afirma Huq, que esteve envolvido nas negociações para os países em desenvolvimento. “Foi um avanço.”
“Acordo insuficiente”
Quando os Estados Unidos – responsáveis por uma grande parte das emissões históricas de CO2 – se retiraram do acordo em 2011, e o Canadá logo depois, muitos analistas pensaram que o Protocolo de Kyoto fracassara.
Mas, em 2012, as emissões dos países industrializados caíram 20% em relação aos níveis de 1990 – cinco vezes a meta de Kyoto para os demais países. A UE reduziu suas emissões em 19%, e a Alemanha, em 23%. No mesmo período, contudo, as emissões globais aumentaram cerca de 38%.
O acordo não foi suficiente para limitar o aumento do aquecimento global a longo prazo, afirma Andrew Light, do World Resources Institute (WRI). Isso porque o documento se aplica apenas aos países responsáveis por um quarto das emissões globais. “Isso não é suficiente para lidar com o problema. É preciso obter um acordo com participação maior”, diz Light.
Jovens participam de protesto pelo clima no Japão
Protesto no Japão: movimento climático global é liderado por jovens nascidos após a assinatura do Protocolo de Kyoto
Comércio de carbono
Mais do que apenas reduzir as emissões, o protocolo introduziu o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo para o comércio de carbono. Ou seja, países que não atingissem suas metas de redução poderiam “comprar” o direito a emissões extras de países menos poluentes.
Essas nações emissoras também puderam compensar as emissões excedentes através de medidas de proteção climática em países em desenvolvimento.
Um por cento da receita do comércio de carbono tem sido destinado a um fundo de adaptação às mudanças climáticas, que é gasto em medidas como o reflorestamento de manguezais, construção de barragens e a contenção de erosões em regiões montanhosas de países em desenvolvimento.
Segundo o Banco Mundial, cerca de 10 bilhões de dólares (43 bilhões de reais) foram investidos em projetos por meio do fundo e do comércio de emissões.
O comércio global de emissões acabou se mostrando menos bem-sucedido do que os negociadores esperavam, mas pelo menos impôs um preço ao carbono pela primeira vez, avalia Huq, do Centro Internacional de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento.
Governos em todo o mundo estão agora avaliando introduzir impostos sobre o CO2, e vários já o fizeram. A Suécia cobra o preço mais alto pelas emissões de gases prejudiciais ao clima: 114 euros (530 reais) por tonelada.
Pontos fracos
Em relação à energia renovável, o Protocolo de Kyoto foi um “divisor de águas”, afirma Karsten Neuhoff, chefe de política climática do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW, na sigla em alemão). “Em 2007, todo mundo ainda dizia que gerar 20% da energia da Europa a partir de fontes renováveis em 2020 seria uma utopia. Hoje é realidade.”
“Kyoto não é o único responsável por investimentos na transição energética, mas foi um estímulo importante”, acrescenta Neuhoff.
Por outro lado, especialistas afirmam que a principal debilidade do Protocolo de Kyoto foi que nações em desenvolvimento não se comprometeram com metas climáticas. Economias de países como China, Índia e Indonésia cresceram rapidamente nos anos seguintes – assim como suas emissões de gases de efeito estufa.
Hoje, mais da metade das emissões globais vem de economias em desenvolvimento e emergentes. “Não fazemos o suficiente para resolver o problema em nível global”, diz Huq. “E assim todos nós temos que fazer mais coletivamente.”
Geleiras na Península de Kamchatka, na Rússia
Se as emissões forem mantidas nos níveis atuais, Terra se aquecerá 3 graus Celsius até o fim do século
Em princípio, países industrializados ainda têm obrigações sob o Protocolo de Kyoto, mas um tratado posterior, o Acordo Climático de Paris de 2015, agora o substituiu.
Sob o Acordo de Paris, quase todos os países do mundo concordaram em limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Os signatários do pacto se comprometeram com metas climáticas nacionais e de redução de CO2 que eles mesmos elaboraram.
Até agora, no entanto, quase nenhum país tem cumprido suas metas.
As emissões globais de gases de efeito estufa aumentaram 41% desde 1990 e continuam a aumentar. Se as emissões de CO2 forem mantidas nos níveis atuais, a Terra se aquecerá cerca de 3 graus Celsius até o final do século.
“O princípio do consenso fracassou”, afirma o cientista climático Ott. “Países de combustíveis fósseis como Arábia Saudita, Estados Unidos, Rússia e Austrália estão bloqueando qualquer ação real. Portanto, um novo acordo é necessário – uma via expressa para aqueles Estados que realmente têm interesse na proteção do clima.”
Fonte: Deutsche Welle

Cidades-esponja: conheça iniciativas pelo mundo para combater enchentes em centros urbanos.

Parque dos Manguezais em Sanya, na China, um exemplo de parque alagável  — Foto: Turenscape/Divulgação
Parque dos Manguezais em Sanya, na China, um exemplo de parque alagável — Foto: Turenscape/Divulgação
Assim como grandes cidades brasileiras, várias partes do mundo sofreram com enchentes e inundações que causaram tragédias nas últimas décadas. Para enfrentar ou evitar catástrofes, urbanistas têm rejeitado soluções tradicionais – baseadas em bocas de lobo e encanamentos – em favor de novas formas de garantir a drenagem da água: criam, assim, as chamadas cidades-esponja.
O conceito parte da ideia central de que as metrópoles modernas lidam com a água de maneira errada. Em vez de coletar a água das chuvas e jogá-la o mais rápido possível nos rios – como ocorre habitualmente –, as cidades-esponja lançam mão de uma série de recursos que asseguram espaço e tempo para que a água seja absorvida pelo solo (conheça cada um deles mais abaixo).
Essas medidas incluem a criação de:
  • parques alagáveis
  • telhados verdes
  • calçamentos permeáveis
  • praças-piscina
Cidades-esponja: veja recursos para minimizar o impacto das chuvas em metrópoles pelo mundo — Foto: Arte/G1

Inspiração ancestral na China

Em 2012, uma enchente causou a morte de quase 80 pessoas em Pequim, muitas delas afogadas ou eletrocutadas. Casas desabaram e estradas, metrô e até o aeroporto ficaram sob as águas.
No entanto, fotos de turistas tiradas na época mostraram a Cidade Proibida, construída centenas de anos atrás, completamente seca – graças a seu antigo sistema de drenagem.
A tragédia chamou a atenção das autoridades. A China, que viveu intenso processo de urbanização nos últimos anos, passou a ser um dos países que abraçou com mais força o conceito de cidade-esponja. Em Taizhou e Jinhua, por exemplo, muros de concreto que canalizavam rios foram demolidos e substituídos por parques.
Parque alagável Yanweizhou, na cidade de Jinhua, na China — Foto: Turenscape/Divulgação
Parque alagável Yanweizhou, na cidade de Jinhua, na China — Foto: Turenscape/Divulgação
Propostas semelhantes também têm sido adotadas em outras cidades pelo mundo, como BerlimCopenhague e Nova York.
O arquiteto chinês Kongjian Yu explica que a proposta da cidade-esponja é preservar ecossistemas naturais, mais capazes de se recuperar das adversidades.
“A sabedoria ancestral de conviver com a água é a maior inspiração para o conceito de cidade-esponja”, explica o arquiteto chinês Kongjian Yu, chefe do escritório que fez alguns dos maiores projetos da área no país asiático.
“Esse conhecimento vem sendo negligenciado há muito tempo. Nós construímos as cidades modernas usando técnicas industriais, dependentes de infraestrutura feita de concreto, canos e bombas.”
O arquiteto defende que construir cidades-esponja ajuda não só a enfrentar, no período das chuvas, a força da água, mas também a mantê-la fluindo pelas torneiras durante os meses mais secos do ano.
Veja, abaixo, algumas das soluções das cidades-esponja pelo mundo:

Parques alagáveis

O Rio Yongningantes da construção de um parque alagável na cidade chinesa de Taizhou... — Foto: Turenscape/Divulgação
O Rio Yongningantes da construção de um parque alagável na cidade chinesa de Taizhou… — Foto: Turenscape/Divulgação
...e o mesmo rio depois da criação do parque alagável, que absorve a água das cheias e é aberto à população — Foto: Turenscape/Divulgação
…e o mesmo rio depois da criação do parque alagável, que absorve a água das cheias e é aberto à população — Foto: Turenscape/Divulgação
A face mais visível do conceito de cidade-esponja são os parques desenhados especialmente para serem parcialmente alagados durante alguns meses do ano. Diversos locais do tipo foram projetados e inaugurados pelo escritório de Kongjian em cidades chinesas.
Em boa parte dos casos, esses espaços tem passarelas suspensas, com livre acesso o ano todo. A parte térrea, alagável, fica intransitável no período de cheias, mas pode ser usada pelos frequentadores durante a seca.
Um parque alagável geralmente vai muito além da criação de um espaço extra para as águas. Ele também conta com uma vegetação pensada para absorver a água e fomentar a biodiversidade local.
Para o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil em São Paulo (IAB-SP), Fernando Tulio, esses parques são uma alternativa aos piscinões, uma das soluções comumente adotadas por autoridades brasileiras.
“Piscinões são grandes espaços vazios que passam a ser um grande problema urbano, acumulam lixo, ratos, exigem manutenção”, critica o arquiteto.
Os parques alagáveis são mais comuns nas margens dos rios e nas costas, como no caso de Nova York, onde foi criado o Hunters Point South Park.
Mas também são encontrados em terrenos sem cursos d’água, que concentram água da chuva, como o parque Chulalongkorn, em Bangcoc, na Tailândia, e o parque de Qunli, na própria China.
Parque alagável de Qunli, na China, criado para reter, filtrar e devolver ao solo a água da chuva — Foto: Turenscape/Divulgação
Parque alagável de Qunli, na China, criado para reter, filtrar e devolver ao solo a água da chuva — Foto: Turenscape/Divulgação

Calçamentos permeáveis

Boa parte da água da chuva que cai sobre uma cidade fica retida sobre asfalto ou concreto. De lá, ela é drenada por meio de canos para ser levada a rios e muitas vezes se mistura com esgoto não tratado no caminho — especialmente quando a chuva é tanta, que supera a capacidade do sistema para absorvê-la.
A cidade chinesa de Lingshui, no extremo sul do país, é uma das que trocaram os tradicionais bueiros por estruturas conhecidas como bioswales. São pequenos canais de infiltração natural, com vegetação nativa, que correm paralelamente a ruas, avenidas e calçadas.
Outras opções exigem novas tecnologias. Copenhague, na Dinamarca, e cidades chinesas têm aberto novos espaços públicos usando um tipo de “concreto” permeável.
Praça Langelands, em Frederiksberg, na Dinamarca, recebeu tecnologia que funciona como uma esponja para absorver a água da chuva — Foto: Divulgação/ Rockwool
Praça Langelands, em Frederiksberg, na Dinamarca, recebeu tecnologia que funciona como uma esponja para absorver a água da chuva — Foto: Divulgação/ Rockwool
A cidade dinamarquesa de Frederiksberg, perto da capital do país, sofreu com os estragos de uma chuva de 100 mm que caiu em duas horas em julho de 2011. Desde então, o município focou em desenvolver a capacidade de “amortecer” grandes volumes de água para, em seguida, dispersá-los de maneira segura.
Uma das iniciativas foi colocada em prática na praça Langelands (veja a foto acima), ponto alto mais alto de Frederiksberg e o local a partir de onde a água da chuva corre para Copenhague.
Nessa praça de 3 mil metros quadrados, foi concluída em 2019 a instalação de um material fibroso (stone wool) que funciona como uma esponja e libera a água de maneira lenta. A cada litro de água despejado, o material pode absorver até 950 ml, de acordo com o fabricante.
Concreto permeável usado na construção do Parque Yanweizhou, em Jinhua, na China — Foto: Turenscape/Divulgação
Concreto permeável usado na construção do Parque Yanweizhou, em Jinhua, na China — Foto: Turenscape/Divulgação
Apesar dessas iniciativas, a ideia de que a permeabilização por si só é a chave para evitar alagamentos não é unanimidade.
O arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Milton Braga defende que a discussão deve privilegiar a preservação do verde nas grandes cidades, e não a permeabilização do solo.
A vegetação é que “segura” a água e dá tempo para que o solo consiga absorver todo o volume de chuva.
“Tanto a vegetação rasteira, como gramados e arbustos, quanto as árvores contribuem [para evitar alagamentos]”, diz o arquiteto. “Muitas vezes, o solo já é naturalmente impermeável. O grave é a supressão dos elementos que ‘seguram’ a água.”

Telhados verdes

Telhado verde implantado sobre prédio da Escola de Finanças e Administração de Frankfurt — Foto: Frank Rumpenhorst/dpa/Picture-Alliance/AFP/Arquivo
Telhado verde implantado sobre prédio da Escola de Finanças e Administração de Frankfurt — Foto: Frank Rumpenhorst/dpa/Picture-Alliance/AFP/Arquivo
A ideia de fazer jardins em tetos ou telhados não é nova – vem da Antiguidade, passando pela Itália renascentista. Telhados verdes existem em diversas partes do mundo, e não é difícil encontrá-los no Brasil.
A novidade é incentivar a construção desses espaços de forma ampla, para resolver problemas das cidades. Em número suficiente, a vegetação em cima dos prédios pode reter boa parte da chuva e diminuir o fluxo de água que vai parar nos bueiros e nos rios durante uma tempestade.
“Os benefícios desses jardins vão muito além de ajudar a mitigar as enchentes”, diz o arquiteto e professor FAU-USP Milton Braga. “Eles ajudam a regular a temperatura dentro dos centros urbanos, a filtrar o ar, a filtrar a própria água.”
Braga pondera, no entanto, que criar um jardim sobre um prédio já existente significa colocar um peso muito maior sobre a estrutura, e isso exige cuidados.
“Não é fácil fazer um jardim no topo de um prédio já existente. É impossível fazer um jardim no telhado de uma casa sem um reforço na estrutura.”
Já abrir um quintal em um espaço impermeabilizado no térreo é bem mais fácil, diz o arquiteto.
A ideia, como política pública, ainda engatinha – mas algumas cidades já buscam meios de incentivar a implantação de telhados verdes em prédios privados. É o caso de Copenhague, que já em 2011 colocou a medida em seu Plano de Adaptação Climática.

Praças-piscina

Quadra da praça Benthemplein, em Roterdã, na Holanda, em um dia sem chuva  — Foto: Divulgação: Jeroen Musch, Ossip van Duivenbode, pallesh+azarfane, Jurgen Bals and De Urbanisten (Florian Boer & Eduardo Marin)
Quadra da praça Benthemplein, em Roterdã, na Holanda, em um dia sem chuva — Foto: Divulgação: Jeroen Musch, Ossip van Duivenbode, pallesh+azarfane, Jurgen Bals and De Urbanisten (Florian Boer & Eduardo Marin)
Em Roterdã, na Holanda, a praça Benthemplein foi construída em 2013 adaptada para armazenar água nos dias de chuva.
O complexo, desenvolvido pelo escritório de arquitetura De Urbanisten, é composto por três bacias. Duas delas são subterrâneas e armazenam a água sempre que chove. A terceira é uma quadra de esportes abaixo do nível da rua que enche quando a chuva persiste (veja acima).
Na praça, a água da chuva é transportada até as bacias por grandes calhas de aço inoxidável. Essas calhas são projetadas para serem utilizadas por skatistas quando não está chovendo.
Quadra na Praça Benthemplein, em Roterdã, na Holanda, estava com água nesta quinta-feira (13)  — Foto: Reprodução/fotopaulmartens.netcam.nl
Quadra na Praça Benthemplein, em Roterdã, na Holanda, estava com água nesta quinta-feira (13) — Foto: Reprodução/fotopaulmartens.netcam.nl
O armazenamento da água pode durar até 36 horas depois da chuva. Um sistema deixa a água fluir gradualmente, o que permite que ela volte para as reservas subterrâneas e nunca seja canalizada para o esgoto.
O equilíbrio das águas subterrâneas é especialmente importante durante os períodos de seca para manter as árvores e plantas da cidade em boas condições. A iniciativa acaba por reduzir o efeito da ilha de calor urbano. Parte a água, devidamente filtrada, é distribuída em bebedouros.
Uma câmera mostra ao vivo o movimento na praça de estudantes, frequentadores de uma igreja e visitantes de um teatro que fica na região.
Fonte: G1

Tribunal alemão suspende derrubada de floresta para fábrica da Tesla.


Área em Grünheide onde será construída fábrica da Tesla
O anúncio da Tesla de que construiria “gigafábrica” em Grünheide dividiu moradores
Um tribunal na Alemanha determinou na noite de sábado (15/02) que a Tesla interrompa imediatamente a derrubada de uma floresta nos arredores de Berlim, onde prepara o terreno para construir sua primeira fábrica na Europa. A decisão é uma vitória para ativistas ambientais locais.
O Tribunal Administrativo Superior de Berlim-Brandemburgo emitiu uma liminar afirmando que, antes de tomar uma decisão final sobre o tema, precisa primeiro analisar um recurso contra o corte de árvores apresentado pela Grüne Liga Brandenburg, uma associação de proteção ambiental.
Organizações ambientalistas expressaram indignação quando a derrubada de árvores ao longo de 91 hectares de floresta teve início na última quinta-feira.
A Grüne Liga foi um dos grupos que se manifestou pela paralisação imediata dos cortes florestais, e entrou com um pedido de emergência na sexta-feira para que a preparação do terreno para a “gigafábrica” da Tesla fosse interrompida.
Em sua decisão, a corte afirmou que o “já avançado” trabalho de derrubada da floresta seria “concluído em três dias”, e portanto decidiu impor uma suspensão temporária, enquanto analisa o recurso apresentado pela associação ambiental.
“Não devemos presumir que a moção que busca proteção legal trazida pela Grüne Liga não tem qualquer chance de sucesso”, diz um comunicado do tribunal.
Na última quinta-feira, o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha autorizou a Tesla a iniciar a derrubada da floresta para preparar o terreno para sua “gigafábrica”, mas “por sua conta e risco”, já que a empresa ainda não recebeu a licença final para a construção do prédio.
Segundo o ministério alemão, reclamações contra a nova fábrica ainda podem ser feitas até 5 de março e, depois disso, a permissão para a construção será analisada.
A gigante americana de carros elétricos planeja dar início à produção em Grünheide, no estado de Brandemburgo, em meados do próximo ano. O plano inicial de Elon Musk, CEO da Tesla, é produzir 150 mil veículos elétricos por ano ali. Mais tarde, a produção anual pode subir para 500 mil veículos. Estima-se que até 12 mil funcionários sejam contratados.
A Tesla anunciou em novembro que construiria sua quarta “gigafábrica” nos arredores de Berlim – atualmente, já existem duas nos Estados Unidos e uma na China –, uma notícia que dividiu moradores.
Uma área de 300 hectares em Grünheide, numa região conhecida por suas vastas florestas e numerosos lagos e rios, foi vendida à empresa pelo estado de Brandemburgo por 41 milhões de euros (190 milhões de reais).
Fonte: Deutsche Welle