terça-feira, 5 de dezembro de 2017
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
POLUENTES CLIMÁTICOS DE CURTO PRAZO
Reunião no Chile discute políticas e ações para reduzir a emissão de poluentes climáticos de curta duração.
No mês passado, a concentração de CO2 na atmosfera quebrou um novo recorde histórico , superando a marca de 410 ppm pela primeira vez. A medida foi realizada pelo Observatório Mauna Loa no Havaí (EUA) e mostra valores perturbadores para o aquecimento global. Mas além do CO2, existem outros elementos no ar que também preocupam especialistas climáticos.
Estes são os chamados poluentes climáticos de curto prazo, um termo que se refere aos poluentes que causam problemas de saúde em muitas cidades ao redor do mundo. Os poluentes climáticos de curta duração (ou os contaminantes do clima vivo curto - SLCPs) são substâncias e compostos que têm uma vida curta na atmosfera, mas têm grande influência no aquecimento climático.
Representantes de mais de 50 países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reuniram-se em Santiago, Chile, no mês passado, juntamente com a Coalizão do Clima e do Ar puro (CCAC), para discutir e trocar experiências sobre estes poluentes
Os representantes do CCAC defendem que a hora de agir é agora, se quisermos reverter os danos que as emissões poluentes causam para o meio ambiente e para a saúde da população. Os principais poluentes de curta duração são o carbono negro, o metano (CH4) e o ozônio troposférico (O3), que após o CO2, representam as principais contribuições para o efeito estufa global.
O ministro do Meio Ambiente do Chile, Marcelo Mena, durante a reunião, defendeu a implementação de ações do governo local para reduzir as emissões de CO2 e as partículas de carbono preto que são emitidas na queima de combustíveis fósseis e biomassa.
Os profissionais interessados em uma educação universitária para atuar neste campo têm como opção o Mestrado em Mudanças Climáticas , patrocinado pela FUNIBER .
O CCAC está lutando pela proteção climática contra o aquecimento global, pressionando os países para reduzir as emissões de poluentes de curta duração. Existem 113 parceiros em todo o mundo, de 52 países, participando das ações da Climate and Clean Air Coalition. A Coalizão reúne 17 organizações intergovernamentais e 45 organizações não-governamentais.
De acordo com especialistas do CCAC, as reduções em poluentes climáticos de curta duração poderiam reduzir o aquecimento global em 0,4 graus Celsius. O efeito pode melhorar a saúde da população e o desenvolvimento sustentável.
Para mais informações sobre Poluentes Climáticos de Curto Prazo aqui
domingo, 3 de dezembro de 2017
Água Doce É EXEMPLO PARA O MUNDO
“O Programa Água Doce é um exemplo para o mundo”, vai logo dizendo Emílio Gabbrielle. “É um caso de sucesso que merece ser conhecido por todos, que precisa ser divulgado para todo o planeta”, prossegue ele, as palavras fluindo, velozes, num misto de italianês e portunhol.
De passagem por Brasília, o presidente da Associação Internacional de Dessalinização (IDA, na sigla em inglês), italiano de nascimento e brasileiro de coração, não escondeu o entusiasmo ao falar sobre o programa do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que produz, de forma permanente, água de qualidade para milhares de famílias do semiárido brasileiro por meio da dessalinização de águas subterrâneas, salobras ou salinas, extraídas de poços profundos.
Entre uma reunião e outra com gestores da Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental do MMA, para discutir a organização do VII Encontro Nacional de Formação do Programa Água Doce (PAD), que ocorrerá na próxima semana, entre os dias 5 e 7 de dezembro, em João Pessoa, na Paraíba, ele fez uma avaliação do sistema brasileiro em comparação com programas similares do resto do mundo.
“É uma ideia simples e eficiente que mostra a criatividade do povo brasileiro. Visitei 20 países nos últimos dois anos, como presidente da IDA, e não vi nada parecido em nenhum lugar do mundo”, diz ele sobre o programa.
A Associação Internacional de Dessanilização reúne as 50 nações mais criticamente ameaçadas pela escassez de recursos hídricos no planeta, entre elas, os países do Oriente Médio, como Israel, Arábia Saudita e Irã, onde a disputa pela água é estratégica e pode ser motivo de guerra. No seu mais recente congresso mundial, realizado em meados de outubro, em São Paulo, a IDA premiou o Programa Água Doce pelo seu caráter socioambiental e inovador.
REVOLUÇÃO
Para Gabbrielle, o programa brasileiro é revolucionário em todos os sentidos. De um lado, muda a realidade de comunidades do semiárido que antes dependiam de caminhões-pipas para sobreviver e cuja água nem sempre era de boa qualidade. Por outro, inova na técnica da dessalinização.
“Fazer a dessalinização da água salobra é um processo muito mais complicado do que a da água do mar, e aqui no Brasil isso está sendo feito de fontes subterrâneas e profundas, de forma muito competente. A água produzida pelo programa brasileiro é de ótima qualidade, como já foi comprovado cientificamente. Essa técnica das membranas (filtros de alta potência) é fantástica, elimina todas as impurezas”, garante o presidente da IDA.
O sistema consiste de poço tubular, bomba, reservatório de água bruta, chafarizes, dessalinizador, reservatório de água doce, reservatório de concentrado salino (efluente do sistema de dessalinização) e tanques de contenção do concentrado para evaporação.
Do poço profundo, a água é bombeada até o reservatório de água bruta, passa pelo dessalinizador, que usa a tecnologia da osmose inversa (remoção do sal pelas membranas), e sai purinha para o reservatório de água doce. Daí é distribuída por chafarizes para consumo humano.
Além do processo de dessalinização, Gabrielle vê outro aspecto inovador no PAD – o sistema de produção integrado que criou uma alternativa para aproveitamento do concentrado salino (a água que sobra da dessalinização). “Essa solução encontrada para se aproveitar os rejeitos é que dá mais originalidade ainda ao programa brasileiro”.
Pelo sistema, o concentrado vai para tanques de contenção e é usado na produção de peixes e na irrigação de plantas forrageiras que contribuem para a alimentação do rebanho de caprinos e ovinos durante a estação seca, seguindo um destino ambientalmente adequado.
COMUNIDADE
Mas Gabbrielle abre o sorriso mesmo quando fala sobre a participação da comunidade, que ele considera o “pulo do gato” do Programa Água Doce. “Aqui o povo é quem cuida da operação, se envolve diretamente. Isso é o grande diferencial em relação a outros países”, ressalta ele.
Na verdade, dos seis componentes do programa – gestão, sistema de dessalinização, sustentabilidade ambiental, produção integrada, formação de recursos humanos e mobilização social -, este último é uma das principais preocupações dos gestores.
Eles fazem questão de incentivar a participação das comunidades nas várias etapas de implantação do programa, desde a definição dos acordos de gestão compartilhada, quando cada parte – União, estados, municípios e sociedade civil – assume as suas responsabilidades até a operação dos sistemas de dessalinização e de produção.
“Isso é maravilhoso porque o processo torna-se autogestionário e flui com mais eficiência. As decisões passam a espelhar de forma mais precisa os reais interesses de cada comunidade. Ao operar o sistema, a comunidade assume o controle direto da distribuição da água”, afirma o presidente da IDA.
De dois anos para cá, algumas comunidades beneficiadas pelo programa passaram a utilizar energia solar para mover os dessalinizadores. Ao reduzir gastos com energia elétrica, o sistema ganhou em sustentabilidade. O fato deixa Gabrielle ainda mais empolgado com o futuro do programa.
“O uso de energias renováveis coloca o Água Doce em um novo patamar, o que terá repercussão geral com a consequente ampliação das ações”, vislumbra o italiano, sintonizado com a avaliação da Secretaria de Recursos Hídricos do MMA que projeta, para 2019, o atendimento de meio milhão de pessoas pelo programa.
DIMENSÃO
O Programa Água Doce abrange os nove estados do Nordeste – Alagoas, Bahia, Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão – e Minas Gerais. Atende aproximadamente 200 mil pessoas por meio de uma rede formada por cerca de 200 instituições. Os municípios são escolhidos por critérios técnicos e sociais, como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mortalidade infantil e escassez de água.
Ao todo, 3.145 comunidades dos 298 municípios do semiárido que mais sofrem com o acesso à água já passaram pelo diagnóstico dos técnicos. Da meta de 1.200 sistemas de dessalinização, 742 estão contratados, 508 concluídos e 48 em fase de implantação em 170 municípios.
Lançado pelo MMA em 2003, com apoio de instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o programa conta com a participação dos estados e municípios e das comunidades beneficiárias.
Em cada estado há um núcleo estadual e uma coordenação estadual, criados por decreto e formados por técnicos qualificados. Nas comunidades, o sistema de dessalinização é gerenciado por grupo gestor local, estabelecido nos acordos em que a comunidade tem participação decisiva.
A implementação do programa é dividida em três etapas – avaliação das comunidades (diagnóstico), implantação dos sistemas de dessalinização e, por fim, operação, manutenção e monitoramento. O acordo de gestão só é assinado pelas partes após a instalação e entrada em funcionamento do sistema de dessalinização.
Os acordos ajudam a evitar ou sanar conflitos e permitem que a própria comunidade tome as decisões relacionadas à gestão do sistema de dessalinização, o que assegura o bom funcionamento do programa e a qualidade da água que será distribuída à população.
Além de estar conectado com os princípios da Política Nacional de Recursos Hídricos, o Programa Água Doce reforça a Política Nacional de Mudanças Climáticas, ao contribuir para a diminuição da vulnerabilidade de acesso a água no semiárido brasileiro.
Fonte: MMA
sábado, 2 de dezembro de 2017
PESCA NO PLANETA ACABARI ACABARIA EM 2048
Se continuarmos pescando com os métodos
utilizados atualmente, a pesca no mundo terminaria em 2048
De acordo com um relatório publicado
pelo Fundo
Mundial para a Vida Silvestre (WWF por suas siglas
em inglês), no ano de 2048 iria acabar a pesca no mundo, a menos que os métodos
de captura atuais sejam mudados. O relatório mostra que as frotas
pesqueiras são entre 2 a 3 vezes maiores do que os oceanos podem
suportar. A indústria pesqueira está capturando
mais peixes do que os que a natureza pode repor.
O relatório da WWF indica que 53% da
pesca do mundo são exploradas no limite, 32% são sobre-exploradas, esgotadas ou
estão se recuperando de um esgotamento. Muitas populações de peixes que são
capturadas de forma comercial sofreram diminuição a tal ponto que sua
sobrevivência está ameaçada. As espécies pescadas
atualmente seriam esgotadas em todo o planeta, até 2048, se as indústrias
pesqueiras não mudassem seus métodos de captura.
A cada ano, bilhões de animais marinhos
que não pertencem a espécies que se pescam comercialmente, são capturados pelos
botes pesqueiros por acidente: golfinhos, tartarugas, tubarões e corais, morrem
devido a práticas de pesca que são ineficientes, ilegais ou destrutivas.
Esta situação está espalhando-se por
todo o mundo porque é aplicada uma má gestão das pescas, aparecem os piratas
pesqueiros, captura de espécies prematuras, subsídios (que permitem a
propagação de botes pesqueiros), acordos injustos de pesca que permitem a
grandes frotas pescar de forma indiscriminada nas águas de países em
desenvolvimento e a aplicação de práticas destrutivas de pesca.
A WWF recomenda que os consumidores só
comprem produtos certificados com a etiqueta MSC nos Estados Unidos, para
garantir que vêm de uma fonte que busca uma pesca sustentável.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
Efeito curativo da natureza é tema do Diálogos ICMBio
Os benefícios que a natureza pode trazer à saúde das pessoas. Esse foi o tema que pautou as discussões do evento Diálogos ICMBio – Saúde, Parques e Reservas/Banho de Floresta realizado nesta quinta-feira (30/11) em Brasília. Representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Alana e do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE) defenderam os efeitos curativos da floresta para a melhoria da vida das pessoas.
A discussão faz parte da proposta do ICMBio de fazer com que as pessoas sintam na prática que as unidades de conservação federais, além do seu importante papel na conservação e preservação da biodiversidade, são também parceiras na melhoria da saúde e da qualidade de vida de todos cidadãos. Para isso, o ICMBio quer fomentar a prática, que nasceu no Japão, denominada de banho de floresta.
“A saúde humana está relacionada à saúde do planeta. O contato com a natureza é uma benéfica e recíproca relação entre saúde e natureza”, defendeu o diretor de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial do ICMBio, Claudio Maretti, durante a abertura do Diálogos ICMBio – Saúde, Parques e Reservas/Banho de Floresta.
Já Marco Bilibio, do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE), relatou diversas pesquisas que apontam os benefícios psicológicos e fisiológicos para saúde das pessoas. “Quando se realiza algo na natureza, você está com a natureza. Essa experiência tem excelentes efeitos piscológicos. A floresta é um antidepressivo”, defendeu Bilibio. Ele contou que o banho de floresta é considerado uma medicina no Japão. “É importante o entendimento da necessidade de viver com saúde em um ambiente de saúde”, afirmou.
Guilherme Franco, da Fiocruz, disse que 18% dos problemas de saúde estão relacionados à poluição. Defendeu que é fundamental “trazer a saúde para mais perto das unidades de conservação”. Citou várias ações que a Fiocruz desenvolve relacionando o tema natureza e saúde.
Sobre a prática
Desenvolvido no início dos anos 1980 no Japão, o banho de floresta (shinrin-yoku) pode ser praticado de diversas maneiras, sempre, no entanto, rodeado pela natureza e entrando em contato com o estado que a floresta nos traz. Pode-se simplesmente caminhar sem rumo ou sentar e observar os detalhes das plantas e árvores de forma geral. Tudo isso respirando profundamente o bom ar limpo que a floresta oferece, em um certo tom de meditação. Tocar as plantas, sentir as diferentes texturas, ouvir os sons, perceber os aromas – tudo isso faz parte do banho.
Estudos realizados desde o início das práticas comprovam que os “banhos” diminuem o cortisol (hormônio causador do estresse), reduzem a pressão arterial, melhoram a concentração, a imunidade, fortalecem o metabolismo e elevam o bem-estar emocional.
Banho de floresta no Parque Nacional de Brasília
O Parque Nacional de Brasília já realizou no último domingo (26) o primeiro Banho da Floresta. Foram 23 pessoas que caminharam com tranquilidade pela floresta respirando profundamente o ar puro do lugar. O Parque Nacional de Brasília realizará outros encontros, com objetivo de fomentar essa prática de contato com natureza que contribui para tratamentos de saúde e melhoria da qualidade de vida.
Fonte: ICMBi0
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA)
Fauna é tema de encontro com entidades estaduais
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) recebeu a Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema) para tratar da gestão da fauna silvestre. “A ideia é harmonizar as ações federais e estaduais. Estamos trabalhando para construir soluções coletivas”, afirmou o diretor de Conservação e Manejo de Espécies do MMA, Ugo Eichler Vercillo.
O presidente da Abema, Luiz Tarcísio Mossato Pinto, foi recebido pelo secretário de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do MMA, Edson Duarte, e por representantes da Secretaria de Biodiversidade do MMA e do Ibama. Estavam presentes gestores dos órgãos estaduais de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais e Pará.
A Abema apresentou um ofício ao MMA com demandas das entidades ambientais estaduais, elaborado por um grupo de trabalho formado por técnicos da fauna. Entre as demandas, a maioria direcionada ao Ibama, estão questões relacionadas à operação do Sistema Nacional de Gestão de Fauna Silvestre (Sisfauna) e do Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros (Sispass).
A capacitação dos servidores, um dos pontos do ofício, foi abordada pela coordenadora e diretora substituta do departamento de Conservação e Manejo de Espécies do MMA, Marília Marini. “Já temos recursos aprovados pelo GEF Pró-Espécies para melhoria do Sisfauna e do Sispass e capacitação dos gestores para utilização dos sistemas”, disse.
Os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), unidades do Ibama responsáveis pelo manejo dos animais silvestres recebidos de ação fiscalizatória, resgate ou entrega voluntária de particulares, também estiveram na pauta da reunião. O próximo encontro ficou marcado para o dia 17 de janeiro, quando o MMA apresentará as respostas às demandas da Abema.
Fonte: MMA
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
MEIO AMBIENTE FAUNA
Por dentro do mundo secreto das onças-pintadas
Os discípulos de Juan Flores trouxeram o meu tíquete para o mundo espiritual da onça-pintada em um pequeno cálice de plástico. Ele continha la medicina, o ayahuasca, um xarope pardacento resultante do cozimento de folhas de chacruna e cipó-mariri, que depois fora decantado em garrafas usadas de água. No início da cerimônia, o maestro consagrou a bebida, soprando sobre ela a fumaça de uma espécie silvestre de tabaco da Amazônia, o mapacho. Em seguida, passou a encher o cálice, servindo pequenas doses a cada um dos participantes. Sentados sobre esteiras e enrolados em cobertores, ao lado de baldes para o caso de alguém sentir vontade de vomitar, ficamos à espera sob a cobertura de palha da maloca no meio do mato.
Éramos 28 pessoas – vindas dos Estados Unidos, Canadá, Espanha, França, Argentina e Peru. Todos nós estávamos em busca de algo, ali naquela remota localidade na Amazônia peruana, à beira de um estranho rio de águas tão escaldantes que chegam a ser letais, o Fervente. Alguns tinham a esperança de encontrar a cura para moléstias graves; outros buscavam um rumo na vida; e havia também os que apenas queriam vislumbrar um outro mundo – o aspecto mais esotérico daquilo que o zoólogo americano Alan Rabinowitz identifica de forma ampla como o “corredor cultural da onça-pintada”. Esse domínio abrange os hábitats e as rotas migratórias que a organização Panthera, dirigida por Rabinowitz, se empenha em proteger, com o objetivo de assegurar tanto a sobrevivência de uma população estimada em 100 mil onças-pintadas como a vitalidade do patrimônio genético desses animais.
Uma mãe cuida dos filhotes à margem do Rio Três Irmãos, no Pantanal. Elas se acasalam em qualquer época do ano e têm ninhadas de um a quatro filhotes após 100 dias de gravidez. Depois de apenas alguns meses, a mãe expõe os filhotes a uma presa ferida para que comecem a desmamar e a aprender a caçar.
FOTO DE STEVE WINTER
Pequenos morcegos voam entre os sarrafos no teto da maloca. Duas solitárias lâmpadas afastam a escuridão da mata. A poção foi distribuída em silêncio em meio ao incessante rumorejar do rio, em que as colunas de vapor se elevam e se torcem em redemoinhos no fresco ar noturno. Quando os discípulos do “maestro” se aproximam, me ajoelho, sem pensar, talvez por um velho hábito católico ou simplesmente porque os outros estavam fazendo isso. Um dos aprendizes me oferece o cálice, enquanto outro espera ao lado com um copo d’água. Como se estivesse na beirada de um penhasco, hesito um instante, me lembrando do que me havia dito o conhecido curandero Don José Campos, na cidadezinha portuária de Pucallpa, perto dali, alguns dias antes.
“Você não toma o ayahuasca”, resumiu ele. “Ele é que toma você.” Virei o cálice e engoli tudo.
Decidi procurar o maestro Juan Flores, em Mayantuyacu, o centro terapêutico xamânico por ele fundado, nos anos 1990, na expectativa de aprender mais sobre a onça-pintada, ou jaguar, em especial aqueles aspectos do animal que não conseguimos captar com câmeras automáticas. A Pantera onca ocupa o topo da cadeia alimentar dos carnívoros nas Américas. Ao mesmo tempo majestosas e ferozes, as onças são furtivas como nenhum outro animal, movendo-se à vontade nos rios, no chão da selva e na copa das árvores, os olhos luzindo nas trevas com as células do tapetum lucidum das suas retinas adaptadas à visão noturna. Entre os felídeos de grande porte, os jaguares são aqueles que têm, em proporção ao tamanho, a mordida mais poderosa. E, uma exceção entre os grandes felinos, elas mordem o crânio, e não a garganta, das presas, às vezes perfurando o cérebro e causando a morte instantânea das vítimas. O seu rugido gutural e rascante sugere as notas graves da própria força vital.
Uma mordida precisa no seu crânio vulnerável faz do jacaré uma refeição instantânea e substanciosa. As onças-pintadas caçam na terra, na água e na copa das árvores. A dieta delas inclui mais de 85 espécies, entre as quais veado, búfalo, preguiça, macaco, roedores, tartaruga, tatu e aves.
FOTO DE STEVE WINTER
ONÇA CONTRA JACARÉ: QUEM VENCE?
Um domina a terra, o outro domina o rio. Neste duelo entre predadores alfa, apenas um sai vencedor.
No entanto, ao longo de milhares de anos, as onças-pintadas levaram uma vida dupla – com uma destacada presença figurativa na arte e na arqueologia das culturas pré-colombianas, que se distribuíam por quase todo o âmbito histórico da espécie, desde a Argentina até o sudoeste dos Estados Unidos. As onças eram veneradas como divindades por olmecas, maias, astecas e incas, que entalharam efígies delas em templos, tronos, alças de vasilhas e colheres feitas de ossos. Imagens de jaguares foram tecidas em xales e mortalhas do povo Chavín, uma civilização que surgiu no Peru por volta de 900 a.C. Algumas tribos amazônicas bebiam o sangue dos felinos, devoravam o seu coração e vestiam a sua pele. Muitas acreditavam que uma pessoa podia virar onça, e que o animal podia se tornar ser humano. Para a tribo Desana, do noroeste da Colômbia, a onça era a manifestação do Sol; para o povo Tucano, do Brasil, o rugido do animal anunciava a chuva. A palavra maia balam designa tanto as onças como os sacerdotes ou feiticeiros. Entre o povo Mojo, da Bolívia, os melhores candidatos para se tornar curandeiros eram aqueles que haviam sobrevivido a um ataque de onça-pintada.
Mesmo nos dias de hoje, quando essa espécie perdeu mais da metade do seu âmbito original, os sinais atuais desse contato ancestral com os seres humanos estão por toda parte. A cada mês de agosto, por exemplo, em uma festa conhecida como Tigrada, moradores da cidade de Chilapa de Alvarez, no sudoeste do México, suplicam ao deus-onça Tepeyollotl que lhes traga chuvas e colheitas abundantes, desfilando pelas ruas com máscaras de onça e fantasias sarapintadas. E são comuns as imagens de uma onça que mostra os dentes, tanto nas latas da cerveja mais popular do Peru como em toalhas de praia, camisetas, mochilas, charretes, peixarias e bares gays.
Sem dúvida, o aspecto mais misterioso da vida dupla das onças-pintadas está nos domínios dos curandeiros e dos estados alterados de consciência que os povos do Alto Amazonas vêm explorando há milênios por meio de plantas psicotrópicas. Nesse espaço oculto no qual os xamãs nativos afirmam que podem identificar a origem de todas as doenças e achar curas com a ajuda de espíritos, a onça-pintada reina sob a forma de aliada e guardiã, uma presença vital capaz de afastar moléstias e desviar forças obscuras. A onça tem lugar de destaque em meio à cornucópia de espíritos amazônicos que vivem em lagos e rios, em animais e também nas estimadas 80 mil espécies vegetais que compõem um dos mais prodigiosos ecossistemas do planeta.
Mayantuyacu fica 50 quilômetros a sudoeste de Pucallpa. “Há apenas quatro anos, não tinha estrada por aqui”, diz Andrés Ruzo, enquanto a caminhonete em que viajamos segue por uma trilha de terra numa área desmatada por fazendeiros. Aos pés de uma colina está um complexo de edificações cobertas de palha entre as árvores. Ruzo acabou conhecendo Mayantuyacu e o maestro Juan nos sete anos que dedicou ao estudo do Rio Fervente, como parte do seu doutorado, concluído com apoio de bolsa da National Geographic Society. Em poços profundos, a água é aquecida e sobe por fissuras até a superfície em que alimenta o rio, que corre por cerca de 6 quilômetros. Em certos trechos (há locais em que a temperatura chega aos 100ºC), a água é tão quente que mata todos os animais que nela caem.
Fonte: National Geographic Brasil
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