terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Fragatas-de-trindade: a luta para salvar ave brasileira que não consegue construir ninhos em ilha devastada.


A ilha também abriga outras espécies de fragata, como a fragata-grande (foto)
Elas existem só ali. Na remota ilha de Trindade,a 1,3 mil km da costa do Espírito Santo, as trinta últimas aves da espécie Fregata trinitatis procuram por árvores para se reproduzir.
Conhecidas como fragatas-de-trindade, essas aves marinhas são endêmicas da ilha. Com apenas 30 indivíduos vivos vivendo na natureza, são consideradas criticamente ameaçadas de extinção.
Habituada à vida no mar, a fragata-de-trindade se alimenta de peixes e é capaz de voar grandes distâncias sem pousar em terra firme. Mas ela não consegue se reproduzir sem árvores para fazer seu ninho.
Enquanto procuram um local ideal sob o sol, as aves são observadas pelos cientistas da FURG (Universidade Federal do Rio Grande) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que sabem que, infelizmente, elas não vão encontrar árvores por ali.
A ilha não têm nenhum morador fixo, mas as paradas que os homens fizeram em Trindade há centenas de anos foram suficientes para acabar com a vegetação do local.
Ao longo dos séculos, os navegadores que passaram por ali queimaram parte das árvores e deixaram ratos, cabras e porcos – que não têm predadores naturais na região e acabaram se multiplicando,comendo e destruindo o resto da vegetação. A ilha tem 9,2 km².
A destruição foi tanta, explica a analista ambiental Patrícia Serafini, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres, que até o solo se perdeu. Atualmente, a ilha abriga cerca de 130 espécies, entre plantas, peixes, aves, crustáceos e répteis.
Segundo ela, com a destruição da vegetação, as aves terrestres que existiam ali acabaram morrendo por não ter como se alimentar. As espécies terrestres que eram endêmicas à região foram todas extintas.
“As aves marinhas, que se alimentam de peixe, conseguiram sobreviver, mas a falta de árvores ameaça sua reprodução”, explica Serafini.
O grupo de pesquisadores da FURG, do ICMBio e de outras instituições estuda como recompor a vegetação da ilha, mas isso deve levar anos – se depender apenas disso, até a mata nativa estar recuperada, todas as fragatas já terão morrido sem conseguir produzir descendentes. Também participaram do projeto a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande de Sul), a UFMG (universidade Federal de Minas Gerais), a UFAL (Universidade Federal de Alagoas), o Museu Nacional do Rio e a UnB (Universidade de Brasília).
Reproduzir os animais em cativeiro não é uma opção.
“Não tem como mantê-las em laboratório, elas não sobrevivem e não conseguem se reproduzir em cativeiro”, explica Serafini.
“Ou fazemos a fragata voltar a se reproduzir em seu ambiente natural ou a espécie vai entrar em extinção.”

Ninhos artificiais

A última esperança dos pesquisadores é tentar estimular as fragatas a se reproduzirem com a criação de postes que imitam árvores e têm ninhos artificiais.
Alguns dos ninhos terão também aves empalhadas para estimular as fragatas-de-trindade reais a usá-los
O projeto, criado pelo ICMBio e pelas universidade federais com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, desenvolveu ninhos especialmente adaptados para as fragatas-de-trindade. Alguns deles têm até réplicas de aves e sons dos bichos se acasalando – a ideia é estimular a reprodução.
Os ninhos artificiais terão a base de metal e uma plataforma onde as aves podem pousar e trazer seus próprios gravetos. Ele também usarão réplicas – aves taxidermizadas – para tentar atraí-las.
“A ideia é que as aves ouçam os sons, se sintam atraídas, cheguem perto para investigar o que está acontecendo e percebam que podem se reproduzir ali, até que tragam elas mesmas seus gravetinhos”, explica Serafini.
Os pesquisadores testaram vários protótipos feitos de diferentes materiais até chegar no modelo final, que está sendo testado no Rio Grande do Sul antes de ser levado para Trindade.
“Tivemos que encontrar uma estrutura capaz de sustentar uma plataforma e resistir aos fortíssimos ventos da ilha”, afirma a ambientalista.
Os biólogos ainda não sabem se os ninhos cumprirão sua função. Outras iniciativas do tipo já tiveram sucesso no mundo – a bióloga Elizabeth Schreiber fez um trabalho bem sucedido com ninhos artificiais para outras espécies de fragata no Pacífico – mas o projeto em Trindade é a primeira tentativa de fazer isso no Brasil.
“Precisávamos de uma estratégia rápida. Essa pode ser a última chance dessa espécie”, diz Serafini.
Outras espécies, como a noivinha, a fragrata-grande, o atobá-de-pé-vermelho e a petral-de-trindade também serão ajudadas pelo programa.

Recuperar as ilhas

A ideia é manter as espécies vivas enquanto ornitólogos, botânicos e outros cientistas trabalham na recuperação da flora local, com a transposição de mudas para as ilhas.
Os ninhos artificiais estão sendo testados no Rio Grande do Sul antes de serem levados para a ilha de Trindade
Segundo Serafini, as cabras foram retiradas da região em 2005, mas outras espécies invasoras ainda são um desafio – os ratos, por exemplo.
“É preciso analisar o impacto que eles têm, pode ser que estejam comendo as sementes das plantas, por exemplo. Nesse caso teríamos que pensar em como erradicá-los, o que não é uma tarefa fácil”, diz a ambientalista.
O processo é lento. “É preciso analisar o que tem que ser feito, onde a vegetação está conseguindo se recompor. Depois é preciso recompor o solo para que flora possa crescer.”
Se tudo der certo, o trabalho com as aves vai ajudar nisso: as fezes dos animais no chão da ilha ajudam a adubar.
“Queremos recriar um ciclo positivo, em que as aves ajudem a manter as mudas e as novas árvores permitam que haja mais árvores.”
Para uma recuperação total, também é preciso proteger a vida marinha de pesca ilegal ao redor das ilhas – o arquipélago é hoje uma área de proteção ambiental, com a pesca proibida em berçários de animais marinhos.
Fonte: BBC

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Por que um planeta saudável e uma economia saudável andam de mãos dadas.

Em artigo, a chefe da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica, Cristiana Pasca Palmer, ressalta que os ecossistemas naturais oferecem serviços de importante valor para a humanidade, como a polinização feita pelos insetos e animais, associada a mais 75% dos cultivos alimentares do mundo.

Florestas, como a Amazônia, também desempenham um papel crítico na preservação do equilíbrio climático e na absorção de gás carbônico, afirma a dirigente.

Precisamos entender a natureza e a gravidade da crise coletiva que confronta agora a civilização humana se quisermos responder às questões que ela coloca. Se não frearmos e revertermos em breve a nossa atual trajetória descontrolada de mudanças climáticas, degradação ambiental e perda generalizada da biodiversidade, a economia global vai sofrer consequências negativas por conta própria.
Não é “salvar o planeta” que vai matar o crescimento. Ao contrário, a destruição acelerada da natureza vai minar não apenas a economia global, mas poderia eventualmente ameaçar muitas formas de vida na Terra, incluindo a nossa própria espécie.
O consenso científico sobre esse fato é quase universal — e suas implicações econômicas negativas também estão ficando cada vez mais claras. Um paralelo pode ser traçado com uma crise anterior. Durante o auge da Guerra Fria, quando os conselheiros econômicos do presidente Eisenhower foram informá-los sobre o impacto potencial de uma guerra nuclear sobre o dólar dos EUA, dizem que ele teria dito: “Esperem um minuto, rapazes, (caso haja uma guerra nuclear) não estaremos reconstruindo o dólar. Estaremos escavando a terra em busca de minhocas”.
Embora as mudanças climáticas possam parecer que estão ocorrendo num período de tempo mais longo, em escala geológica elas estão acontecendo num piscar de olhos. Por mais importante que seja o crescimento econômico, a dura realidade é que, como Eisenhower, se não impedirmos essa crise, nós provavelmente estaremos preocupados com coisas distintas do crescimento econômico.
A questão fundamental, portanto, é como salvar o planetar e, com ele, a economia, dessa crise de gerações, dados os incentivos extremamente de curto prazo das nossas principais instituições — as corporações e os governos em especial, que funcionam respectivamente à base dos lucros trimestrais e dos resultados das próximas eleições, mas também o público global, que está corretamente preocupado com suas próprias vidas e meios de subsistência.
Como podemos incentivar as lideranças a tomar decisões de longo prazo para o benefício comum da humanidade? Como podemos educar e ativar o público global para entender e fazer parte dessa luta? E como podemos reimaginar a economia, de modo que as oportunidades da transição verde não sejam apenas realizadas, mas distribuídas de maneira mais igual entre as pessoas, em vez de levar a uma desigualdade e instabilidade ampliadas?
Simplificando, como podemos garantir o nosso próprio futuro e o do planeta?
Três caminhos para a ação se destacam:
1) Desenvolver indicadores mais holísticos que expliquem melhor o crescimento econômico, junto com métricas mais amplas sobre o bem-estar humano e ambiental.
2) Incentivar todos os atores na economia a mudar os atuais caminhos de inovação e popularizar as transições ambientais necessárias para os seus principais modelos de negócios.
3) Uma liderança sábia que possa tanto mapear uma nova visão para viver em harmonia com a natureza quanto inspirar um compromisso compartilhado para alcançá-la.
Que o PIB tem falhas como uma medida do bem-estar humano, isso já é amplamente reconhecido por economistas. Muitas dessas falhas estão relacionadas à falta de indicadores ambientais que apontem os benefícios associados da saúde humana, segurança alimentar e hídrica e a economia.
Além disso, ecossistemas saudáveis oferecem serviços que, em muitos casos, têm valor econômico significativo. Por exemplo, mais de três quartos das principais culturas alimentares globais dependem da polinização por insetos ou animais. Entre 5 e 8% da produção agrícola global, com um valor anual de mercado entre 235 e 577 bilhões de dólares, é diretamente atribuível à polinização natural. No entanto, os polinizadores estão sob ameaça, e pode-se esperar que isso leve a perdas econômicas significativas.
Aliás, em alguns casos, o desenvolvimento econômico pode ocorrer em detrimento de atividades econômicas informais, mas valiosas. Por exemplo, o uso comercial das florestas acontece frequentemente em detrimento da coleta de recursos florestais não madeireiros, que variam da lenha até fontes tradicionais de alimentos. Nesses casos, o crescimento econômico resultante, como formalmente mensurado, por exemplo, numa mudança para a extração madeireira, pode não apenas ser socialmente injusto, ter um viés de gênero e ser prejudicial para os povos indígenas e as comunidades locais, como também seria uma ilusão, devido à perda de recursos florestais não madeireiros.
Ademais, o valor total de florestas críticas, como a Bacia Amazônica, deve incluir tanto o seu papel crítico como tanques de carbono quanto na formulação do clima, que torna possível a agricultura e outras produções em lugares distantes.
Também precisamos reconhecer e explorar o vasto potencial para o crescimento econômico que resultará da ecoinovação que, ao mesmo tempo, protege o meio ambiente e avança o bem-estar humano. De acordo com o relatório de 2017 da Comissão de Negócios e Desenvolvimento Sustentável, alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) pode liberar 12 trilhões de dólares em oportunidades de mercado em quatro setores econômicos centrais: alimentação e agricultura, cidades, energia e materiais e saúde e bem-estar. Esses setores representam em torno de 60% da economia real — o que aponta, dessa forma, para as oportunidades econômicas significativas que se associam ao desenvolvimento de soluções baseadas na natureza.
O caminho à frente não será fácil ou sem custos. Realizar um novo pacto global para a natureza e o planeta e fazer a transição para uma economia verde vão exigir o abandono de caminhos de desenvolvimento existentes e a criação de alternativas viáveis para a infraestrutura fundamental da sociedade. Isso exigirá uma liderança visionária, a liberação das inovações verdes e a compensação das implicações de curto prazo, especialmente pelos que mais se beneficiaram dos atuais modos de desenvolvimento econômico.
No entanto, esse tipo de transição não é sem precedentes. Assim como a transição da Era Agrícola para a Era Industrial ou da Era Industrial para a Era Digital, o que se exige não é nada menos do que uma reimaginação e uma reconstrução graduais e integrais da sociedade, para satisfazer as necessidades de uma nova era. Que tenhamos a força e a sabedoria para estar à altura desse desafio.
*Publicado originalmente no site do Fórum Econômico Mundial, em 16 de janeiro de 2019.
Fonte: Cristiana Pasca Palmer, secretária-executiva da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Como os cupins ajudam as florestas equatoriais a sobreviverem às mudanças climáticas.

Árvores em meio à neblina da floresta equatorial no Parque Nacional de Gunung Palung, na Ilha de Bornéu, na Indonésia. (FOTO DE TIM LAMAN, NAT GEO IMAGE COLLECTION)
Árvores, algumas das mais altas do mundo, erguiam-se diante de Hannah Griffiths e seus colegas toda manhã quando eles adentravam um trecho intacto de floresta equatorial na Bacia de Maliau, em Bornéu. Pássaros cantavam e animais silvestres apareciam de vez em quando. Um dia, um urso-malaio surgiu na frente deles. No outro, uma cobra real se esgueirou pelo caminho.
Contudo os cientistas continuavam andando, atravessando pontes suspensas e adentrando cada vez mais a floresta, onde haviam instalado uma série de experimentos para analisar os efeitos ecológicos de criaturas menores e menos chamativas: os cupins.
Os cupins, como eles já sabiam, dominam o chão da floresta, mastigando folhas que caem das árvores, escavando túneis e arejando o solo em uma verdadeira “engenharia” do ecossistema. Mas eles não conheciam exatamente a importância que os insetos têm na manutenção da saúde e do funcionamento da floresta—então tiveram que descobrir o papel dos cupins, retirando-os de uma determinada área da floresta e verificando a reação do ambiente.
Por sorte, eles começaram o experimento quando a floresta passava por uma grande estiagem, durante o fenômeno El Niño de 2015-2016. E o que eles descobriram—resumido em um estudo publicado na revista científica Science foi inesperado: os cupins estavam por toda parte—quase o dobro da quantidade encontrada em um ano com precipitação normal. E esses cupins ajudaram a floresta a suportar a estiagem e manter-se intacta e saudável: nas áreas ricas em cupins, o solo permaneceu úmido, mais sementes de árvores germinaram e o sistema prosperou, apesar do longo e duro período de seca.
“Eles são como um seguro ecológico”, afirmou Griffiths, entomologista da Universidade de York no Reino Unido. Os cupins, explica ela, acabaram protegendo a floresta do estresse das mudanças climáticas.

Cupins ao resgate

Os cupins têm má reputação. Eles viram notícia, pois consomem bilhões de dólares em bens todos os anos nos Estados Unidos—e, por vezes, literalmente comem dinheiro. Eles são responsáveis por cerca de 2% das emissões de carbono globais, apenas em razão de suas populações enormes e devido à tendência de se alimentarem de materiais ricos em carbono. Uma indústria inteira está direcionada ao extermínio deles.
Contudo, eles exercem um papel fundamental em muitos ecossistemas naturais. Os cientistas sabem há anos que, em florestas tropicais, os cupins alimentam-se de folhas caídas e madeira morta, mantendo o número de troncos caídos sob controle e devolvendo ao sistema nutrientes do material morto para serem usados por outras plantas, insetos e animais.
Foi muito difícil identificar o papel exato dos cupins em muitos dos ecossistemas habitados por eles—quem exatamente era responsável pela maior parte da arrumação do chão da floresta: os cupins, os micróbios do solo, as formigas ou todos eles juntos? Mas a equipe descobriu uma forma de exterminar os cupins, e apenas os cupins de algumas pequenas regiões da floresta, colocando montinhos de celulose envenenada como iscas—“bem parecidos com rolos de papel higiênico”, afirma Griffiths—que apenas os cupins eram capazes de digerir. O que restou foi um ecossistema praticamente livre de cupins que pôde ser comparado a ecossistemas não afetados, permitindo identificar o papel exato exercido pelos insetos.
Em anos sem estiagem, eles observaram, não havia muita diferença entre os lotes normais e aqueles em que eles retiraram os cupins. Entretanto, durante a estiagem, os efeitos foram acentuados. Onde havia mais cupins alimentando-se de depósitos de folhas mortas, o solo permaneceu úmido e sementes germinaram, ajudando a floresta a enfrentar a pior estiagem em 20 anos.
“Os cupins podem ser eficientes para abrandar as mudanças climáticas”, afirma Rob Pringle, ecologista da Universidade de Princeton, que não participou do estudo. “Quanto mais fizermos para tentar manter a integridade dos conjuntos de comunidades naturais, mais resistentes elas estarão aos desafios futuros, como as mudanças climáticas”.

Um futuro árido

Cientistas preveem que, com o avanço das mudanças climáticas, as estiagens da região podem se tornar mais severas, causando ainda mais estresse aos últimos fragmentos da floresta equatorial intocada de Bornéu, conta Jane Hill, entomologista da Universidade de York, que trabalha na floresta de Maliau há anos. Contudo, para ela, a mensagem está clara: os cupins são importantes para manter a integridade da floresta diante das mudanças climáticas.
Entretanto, a maior parte das florestas tropicais restantes no mundo—em Bornéu e em outros lugares—não é tão perfeita e inexplorada assim e, em muitas delas, as populações de cupins já foram drasticamente reduzidas. “Muitas florestas foram fragmentadas ou degradadas”, afirma Hill. “Qual o grau de resiliência delas?”.
E, em um futuro determinado pelo clima, até o reforço que os cupins podem oferecer à floresta pode não ser suficiente. “É evidente que os cupins têm o potencial de serem muito benéficos”, conta Carina Tarnita, ecologista da Universidade de Princeton, que não participou do estudo. “Mas o que acontecerá com eles após os efeitos das mudanças climáticas? Até quando conseguirão aguentar?”.
Para Griffiths, o seu próprio estudo lhe mostrou o quanto ainda temos que aprender sobre as inter-relações desse ecossistema com o ecossistema de florestas tropicais ao redor do mundo. Eles descobriram a verdadeira importância dos cupins ao sistema por acaso, porque decidiram estudar a estiagem, destaca ela. E isso “me preocupa”, prossegue, “porque me faz pensar no que mais não sabemos? Se começarmos a destruir comunidades biológicas, nunca conheceremos as consequências”.
Fonte: National Geographic

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Colapso de insetos cria desastre ecológico, afetando população de aves e repteis, em Porto Rico.

O cientista Brad Lister retornou à floresta tropical de Luquillo, em Porto Rico, depois de 35 anos para descobrir que 98% dos insetos haviam desaparecido do solo.
Ele pode notar a diferença de cara: não havia pássaros em nenhum lugar.
Aos poucos, Lister chegou à conclusão aterradora: a população de insetos que uma vez forneceu alimento abundante para as aves em todo o montanhoso parque nacional havia desmoronado.
No chão, 98% tinham ido embora. Nas copas frondosas, 80% haviam desaparecido. “É um verdadeiro colapso das populações de insetos na floresta tropical. Começamos a perceber que isso é terrível – um resultado muito, muito perturbador”, disse.

Desastre ecológico

Os insetos são 17 vezes mais abundantes que os humanos na Terra, e fundamentais para a cadeia alimentar. Seu colapso beira um “Apocalipse Ecológico” e o culpado mais provável é, de longe, o aquecimento global.
O trabalho em Porto Rico é apenas um dos poucos estudos que avaliam essa questão vital.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Bebê orca de espécie ameaçada aparece nos Estados Unidos.

CIENTISTAS ESTÃO PREOCUPADOS COM A SOBREVIVÊNCIA DA ORCA BEBÊ (FOTO: CENTER FOR WHALE RESEARCH)
população de orcas de Puget Sound, nos Estados Unidos, tem algo para comemorar: uma fêmea deu à luz. Em 10 de janeiro, imagens aéreas registraram o filhote nadando perto da fêmea de 31 anos conhecida como L77.
A espécie (Orcinus orca) é monitorada desde 1976 pelo Centro de Pesquisa de Baleias (CWR). Elas são conhecidas como orcas residente no sul e são classificadas em três grupos sociais, nomeados de J, K e L.
Em 11 de janeiro, os cientistas da CWR saíram em um barco para investigar a aparição do bebê. Sua presença foi confirmada às 9h50 do horário local. “O filhote parecia ter cerca de três semanas de idade e estava pulando entre L25, L41, L77, L85 e L119”, informou um comunicado da instituição.
ORCA BEBÊ L124 NADA AO LADO DE L41 AND L85 (FOTO: CENTER FOR WHALE RESEARCH)
Os pesquisadores ainda não conseguiram identificar o sexo do recém-nascido, chamado de L124. Eles esperam futuras observações para desvendar essa questão, mas estão preocupados com o bebê. Isso porque cerca de 40% dos filhotes de orcas residentes do sul não sobrevivem após o primeiro ano.
Segundo a Marine Mammal Commission (MMC), agência federal de conservação de mamíferos marinhos, entre 2006 e 2011, havia 85 a 89 indíduos da espécie, mas o número diminuiu. Em 2018, a população perdeu um bebê e uma fêmea de 3 anos, o que reduziu seu número total para 74 orcas – o menor em mais de três décadas.
Fonte: Revista Galileu

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

América Latina e África podem se beneficiar da produção de bioenergia da cana.

Apesar de ser a energia renovável mais consumida no mundo – com participação equivalente à da energia hídrica, eólica, solar e de outras fontes renováveis somadas –, a bioenergia ainda é produzida de forma limitada frente ao potencial existente. O Brasil e os Estados Unidos, por exemplo, respondem juntos por mais de 80% da produção atual de biocombustíveis líquidos.

“Diversos países também estão usando a bioenergia, mas poderia ser muito mais. Isso dá a impressão de que a bioenergia seria uma ‘jabuticaba’, que só funciona em alguns países”, disse Luiz Augusto Horta Nogueira, pesquisador associado do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade Estadual de Campinas (Nipe-Unicamp) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).
A fim de superar essa visão, mostrando que a bioenergia pode ser produzida de forma eficiente e proporcionar benefícios econômicos e sociais para vários outros países, Nogueira e colegas do Nipe-Unicamp e de diversas instituições do Brasil e do exterior realizaram um estudo, nos últimos cinco anos, apoiado pela FAPESP, em que avaliaram o potencial de expansão da produção de bioenergia da cana na América Latina e na África.
Os resultados do trabalho denominado Projeto LACAF, realizado no âmbito do BIOEN, foram reunidos no livro Sugarcane bioenergy for sustainable development, lançado em 14 de dezembro na sede da FAPESP.
O livro reúne 33 artigos, de autoria de 60 pesquisadores do Brasil e do exterior, em que avaliam o potencial da bioenergia da cana como uma estratégia para o desenvolvimento sustentável de países da América Latina e da África.
As duas regiões foram escolhidas porque apresentam condições muito favoráveis para produção e são estratégicas para a expansão da bioenergia no mundo. Um estudo feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontou que cerca de 440 milhões de hectares de terra estariam disponíveis globalmente para serem usados para produção de bioenergia até 2050.
Mais de 80% dessas terras estariam localizadas justamente na África e na América do Sul e Central, sendo que cerca de 50% delas em apenas sete países: Angola, República Democrática do Congo e Sudão, na África, e Argentina, Bolívia, Colômbia e, em maior parte, no Brasil, na América Latina.
“O Brasil é, de longe, o país com maior disponibilidade de terra para plantio de cana para produção de bioenergia. O país é um exemplo raro, caso atípico, de produção de bioenergia a partir da cana com alta produtividade”, disse Luis Augusto Barbosa Cortez, professor da Unicamp e coordenador do projeto, durante o lançamento do livro.
De acordo com os estudos, além do Brasil, outros países da América Latina que tiveram sucesso no cultivo da cana foram a Colômbia, a Argentina e a Guatemala.
A exemplo do Brasil, a Colômbia produz cana e etanol com alta produtividade. Por sua vez, a Argentina iniciou recentemente um programa de geração de bioenergia a partir da cana e do milho e tem atingido níveis de mistura de etanol na gasolina próximos aos do Brasil. E, paradoxalmente, a Guatemala é um grande produtor de açúcar da cana, produz e exporta etanol para os Estados Unidos e importa toda a gasolina de que necessita.
Já na África, as experiências mais bem-sucedidas ocorreram na África do Sul – que hoje é o maior produtor de açúcar da cana do continente africano –, além das Ilhas Maurício, Malawi e, mais recentemente, Moçambique.
Em comum nas duas regiões uma parcela expressiva de suas populações ainda não tem acesso à eletricidade e energia limpa para cocção de alimentos. Na África Austral, por exemplo, estima-se que 59 milhões de pessoas utilizem carvão para cozinhar – o que gera sérios problemas de saúde e ambientais, como o desmatamento. “A energia limpa para cocção na África pode ser a bioenergia”, disse Nogueira.
A demanda por etanol para cocção de alimentos na África Austral seria muito superior à voltada para o abastecimento da frota veicular da população das cidades, onde até 90% da população usa energia de baixa qualidade e em condições insalubres para cozinhar, estimam os pesquisadores. Uma família típica da região precisaria de 360 litros de etanol por ano para abastecer um fogão a etanol, calcularam.
“A produção de etanol para cocção já foi tentada em alguns países da África, como em Moçambique, mas não foi adiante porque faltou combustível. Mas se tiver disponibilidade de etanol para essa finalidade com certeza o mercado vai absorver a produção”, disse Nogueira.
Os pesquisadores estimaram que a produção de 4,1 bilhões de litros de etanol de cana e de 2,7 terawatt-hora (TWh) de eletricidade por ano em Moçambique geraria 3,3 milhões de empregos e aumentaria em 28% o Produto Interno Bruto (PIB) do país africano.
Para produzir essa quantidade de combustível e de eletricidade seria necessário cultivar cana em 600 mil hectares, o que corresponde a menos de 3% da terra disponível para plantação de cana no país africano, afirmaram.
“Há terra adequada e disponível suficiente no país para expandir a produção de cana-de-açúcar, sem prejudicar outros usos, como a produção de alimentos e de ração animal. A visão de que a produção de bioenergia competiria com os alimentos é equivocada”, disse Nogueira.
A inclusão de pequenos produtores deve fazer parte do modelo de produção dos países que adotarem a bioenergia da cana, segundo Manoel Regis Lima Verde Leal, professor da Unicamp e um dos editores do livro, juntamente com Cortez e Nogueira.
À exceção do Brasil, da Austrália e dos Estados Unidos, no resto do mundo a cana é cultivada por pequenos produtores, em propriedades agrícolas menores do que 10 hectares. “A Índia, que é o segundo maior produtor de cana no mundo hoje, tem 5 milhões de hectares de cana plantada e 50 milhões de produtores”, disse Leal.
Participação no debate mundial
Na avaliação de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, estudos como o realizado pelos pesquisadores do projeto LACAF têm contribuído para inserir a pesquisa em bioenergia feita no Estado de São Paulo na discussão mundial sobre a sustentabilidade da bioenergia da cana.
Há menos de uma década o espaço dos pesquisadores brasileiros no debate mundial sobre esse tema era muito menor do que é hoje. “Estudos como esse contribuem para que os pesquisadores da área em São Paulo participem e até mesmo liderem a discussão mundial sobre quais são as condições necessárias para se produzir bioenergia a partir da cana em grande escala em outras regiões do mundo”, disse Brito Cruz.
Prestes a completar 10 anos – em 2019 –, o BIOEN já resultou em mais de mil publicações. O impacto dos trabalhos publicados fez com que, em 2013, pesquisadores ligados ao programa fossem convidados a coordenar um estudo da sustentabilidade da bioenergia global para o Comitê Científico para Problemas do Ambiente (Scope, na sigla em inglês) – agência intergovernamental associada à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
“A realização desses estudos têm realmente ajudado a projetar os resultados da pesquisa sobre bioenergia em São Paulo nos fóruns mundiais sobre o tema”, disse Gláucia Mendes Souza, professora do IB-USP e membro da coordenação do BIOEN.
Sugarcane bioenergy for sustainable developmentLançamento: 2018
Preço: US$ 120
Páginas: 418
Mais informações: www.routledge.com/Sugarcane-Bioenergy-for-Sustainable-Development-Expanding-Production-in/Cortez-Leal-Nogueira/p/book/9781138312944
Fonte: FAPESP

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Mar engole condomínio de luxo e pontos turísticos em Sergipe.

Menor Estado do país, Sergipe começa a sentir com maior intensidade os efeitos do avanço do mar. A invasão das águas afetou povoados e condomínio de luxo. Na capital, Aracaju, vem destruindo pontos turísticos e já ameaça bairros inteiros.
O transtorno mais recente em Aracaju se estende desde o dia 3 de maio. Um trecho de 600 metros da avenida Beira-Mar, uma das principais da cidade, foi interditado em razão do avanço das águas do rio Sergipe, que é ligado ao oceano Atlântico.
Enquanto a prefeitura (do DEM) e o governo (do PT) não se entendem sobre os estudos ambientais necessários à obra de recuperação, o trânsito na avenida fica caótico nos horários de pico e comerciantes reclamam da queda no movimento.
A chamada erosão costeira – desequilíbrio entre “o que chega” e “o que sai” de sedimentos no mar – responde em grande parte pela mudança de cenário em Sergipe.
“Nossa costa é formada por depósitos sedimentares, não é rochosa e com contenção costeira como em outras regiões. E temos muita água ao redor de Aracaju, influência do mar e de marés”, diz o secretário estadual do Meio Ambiente, Genival Nunes.
Na orla da praia de Atalaia, a mais famosa de Aracaju, a praça de eventos foi interditada após o mar destruir parte da estrutura. Bares localizados no início desta praia também já viraram história, assim como parte do asfalto da avenida litorânea.
Até uma atração de Aracaju que figurava no Guinness Book cedeu ao avanço das águas. Reconhecida em 2010 como “maior árvore de Natal do mundo”, a estrutura não é montada desde 2011, quando o local da montagem foi coberto por dois rios. 
Fonte: Folha.com