domingo, 18 de fevereiro de 2018

Cerrado Ameaçado

Como destruição do Cerrado ameaça ‘floresta de cabeça para baixo’ e abastecimento de aquíferos

O equilíbrio desse ecossistema, contudo, está ameaçado pelo avanço da agricultura em larga escala.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 20% das espécies de plantas e animais exclusivas ao bioma já foram extintas, e ao menos 137 espécies de animais da região correm o risco de desaparecer.
“A gente não tem mais aquele habitat natural, porque esse tipo de vegetação deu lugar às lavouras: à soja, ao milho, ao feijão, ao arroz – e eles não têm a mesma função ecológica do Cerrado”, alerta Mauro Alves de Araujo, técnico agrícola especializado na identificação de espécies vegetais.
Boa parte das últimas áreas de Cerrado se encontra na região conhecida como Matopiba (que engloba trechos do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) – considerada uma das últimas fronteiras agrícolas do país.
“A gente está trocando árvore por herbácea, e isso na matemática (da ecologia) é cruel”, acrescenta Araujo.
O Cerrado é um dos biomas mais antigos e biodiversos do mundo. Começou a se formar há pelo menos 40 milhões de anos e abriga centenas de espécies de animais e plantas que só existem lá.
Para sobreviver às longas secas que ocorrem na região, muitas árvores locais desenvolveram sistemas de raízes extremamente profundas e ramificadas.
Graças a essas raízes, várias espécies do bioma jamais perdem as folhas, nem mesmo no auge da estiagem.
As raízes podem ser muito mais extensas que as copas das árvores, o que faz com que o Cerrado seja conhecido como “floresta de cabeça para baixo”.
Árvores presentes no bioma – entre as quais buriti, pequi, jatobá e baru – garantem ainda uma dieta rica para os habitantes da região.
Fonte: BBC

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Ilhas Galápagos, no Equador

Turismo ameaça ecossistema das Ilhas Galápagos, no Equador

Um paraíso que recorda o início dos tempos. Um tesouro ecológico que muitos desejam descobrir. Mas, para sobreviver, as Ilhas Galápagos, no Equador, devem desprezar milhares, talvez milhões, de turistas.
Nas areias brancas de Tortuga Bay, na Ilha Santa Cruz, as iguanas caminham ao lado dos turistas.
Os surfistas pegam ondas entre tartarugas marinhas. Mergulhadores observam arraias, tubarões de pontas brancas e peixes coloridos.
Desta maneira, entre espécies ameaçadas e visitantes que não chegam a formar uma multidão, sobrevive o arquipélago vulcânico, formado por 19 grandes ilhas e dezenas de pequenas ilhas e rochas a 1 mil km do continente.
Mas o Equador sabe que a explosão do turismo mundial, que bateu recorde em 2017, com 7% a mais de viajantes, exerce uma pressão crescente sobre os frágeis paraísos.
“Galápagos é a joia da coroa e, como tal, devemos cuidar. Não podemos massificá-la”, explica à AFP o ministro do Turismo, Enrique Ponce de León.
“Temos que ser muito enérgicos no cuidado ao meio ambiente”.

Bem-vindos

Com uma rede de pequenos hotéis e oferta de cruzeiros entre as ilhas, Galápagos é um destino ecoturístico que figura entre os mais exclusivos do Pacífico.
Os voos de Quito e Guayaquil se aproximam dos US$ 400 e a estadia de uma semana oscila entre US$ 2 mil e US$ 7 mil.
O fluxo aumentou até alcançar 245 mil visitantes por ano.
O número, que segundo as autoridades é o máximo que as ilhas podem suportar sem prejuízo aos ecossistemas, pode virar uma norma.
“As particularidades ambientais, sociais e biológicas deste lugar único nos obrigam a estabelecer um teto e a administra o turismo a partir da oferta, não da demanda”, afirmou à AFP Walter Bustos, diretor do Parque Nacional Galápagos.

Restrições

Frequentado no passado por piratas e caçadores de baleias, o arquipélago que inspirou Charles Darwin em sua Teoria da Evolução luta contra a pesca ilegal, o aquecimento global e “invasores” como cães, gatos e ratos.
Em 1959 foi criado o Parque Nacional para preservar 97% de sua superfície terrestre. Em 1978, a Unesco declarou o arquipélago Patrimônio Natural da Humanidade.
Também foi delimitada uma reserva marinha de 138 mil km2 e foi classificada como santuário marinho – com proibição total à pesca – uma área de 38 mil km2, entre as ilhas Darwin e Wolf, a região com a maior biomassa de tubarões do mundo.
Dependente das importações do continente e com fontes limitadas de água, o arquipélago limitou o crescimento de sua população: atualmente vivem apenas 26.000 pessoas nas quatro ilhas habitadas.
A lei de “Regime Especial” trata como estrangeiros os equatorianos continentais. Para obter o direito de residência permanente, por exemplo, a pessoa deve estar casada com um galapaguenho por no mínimo 10 anos.
As autoridades também adotaram restrições às construções e estimulam o uso de energias renováveis e de carros elétricos. As bolsas plásticas foram proibidas.
A ilha de Baltra, a principal porta de entrada de Galápagos, tem um aeroporto ecológico, movido por energia solar e eólica.
“Mas o desafio é administrar o turismo de maneira sustentável, que conserve os ecossistemas e gere lucros. O turista não deve ser visto como o diabo”, disse à AFP Juan Carlos García, diretor de conservação da ONG WWF no Equador.

Céus abertos

Impor limites ao turimo em Galápagos, no entanto, castiga a economia dolarizada.
E os últimos anos foram de escassez de divisas com a queda dos preços do petróleo e o forte endividamento. O turismo e o setor de mineração são considerados tábuas de salvação para a economia do país.
Em 2017, o número de visitantes no país cresceu 14% na comparação com 2016, com 1,6 milhão de pessoas, uma cifra modesta na comparação com outros países da região.
O presidente Lenín Moreno pretende estimular o turismo para fortalecer a economia.
Com este objetivo, decretou há alguns meses a política de “céus abertos”, que facilita o tráfego aéreo para que mais turistas pousem em Quito e Guayaquil.
E muitos destes turistas terão como objetivo visitar o arquipélago. A companhia aérea estatal TAME já anunciou novos voos para as ilhas.
As autoridades conseguirão resistir à pressão?
“Temos que apostar mais na qualidade e em aumentar o período de estadia dos turistas. E que depois viajem pelo resto do país, oferecendo pacotes”, afirma o ministro do Turismo.
A Metropolitan Touring, empresa que atua em Galápagos há meio século e atende 12 mil turistas por ano, adverte que a criação de uma “cota” vai aumentar os preços.
“Apesar de contrária aos interesses empresariais, esta é uma medida razoável para que não termine como Machu Picchu”, a sobrecarregada cidade inca do Peru, explica Roque Sevilla, diretor da empresa.
Fonte: France Presse

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Parque Yosemite

‘Cachoeira de lava’ é espetáculo da natureza no parque Yosemite

Conforme o pôr do sol se aproxima, a névoa capta os raios de sol e cria uma fabulosa ilusão de ótica que dura cerca de 10 minutos, possibilitando imagens extraordinárias.
A ‘cachoeira de lava’ pode ser vista de diversos pontos do parque, mas os mais disputados são a área de piquenique do El Capitan, a mais ou menos 3,2 quilômetros do Yosemite Valley Lodge (antigo Yosemite Lodge).
Turistas e locais também curtem o momento com um coquetel Firefall (chocolate quente com tequila, creme de cacaue pimenta pasilla) no lounge do Majestic Yosemite Hotel (antigo Ahwahnee).
Yosemite é repleto de lugares dos quais o parque pode se orgulhar, das paredes escarpadas do Yosemite Valley ao visual alpino de Tuolumne Meadows, e suas cachoeiras guardam muitas surpresas.
Com uma caminhada de 1,6 km é possível apreciar a vista do topo da mais alta delas, a Yosemite Fall e uma caminhada fácil, de 189 metros na Bridalveil Falls, te leva a um ponto de observação abaixo da cascata ondulada. Já a subida até Vernal e Nevada Falls é feita em degraus de pedra que levam à beira de dois declives enormes, onde você pode avistar o rio Merced sob a cordilheira rochosa. No lado sul do parque, perto de Wawona, a Chilnualna Falls esbarra em uma série de cordilheiras de granito.
Fonte: Catraca Livre

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Reciclagem de Lâmpadas

Campanha incentiva reciclagem de lâmpadas

Ao todo, são até agora 305 pontos de coleta, espalhados por todas as regiões do Brasil, em 63 cidades de 21 estados e Distrito Federal. Em 2017, foram recolhidas 198.592 lâmpadas, o que resultou em 29 toneladas. Desse total, 129.085 foram lâmpadas compactas e 69.508 tubulares.
As lâmpadas descartadas podem ser recicladas para produção de diversos produtos, desde vidros de uso não alimentar até cimento. Quando não descartadas corretamente, as lâmpadas fluorescentes podem contaminar o meio ambiente com substâncias perigosas como o mercúrio.
COMPROMISSO
Em novembro de 2014, as empresas que criaram a Reciclus assinaram o Acordo Setorial para Implementação do Sistema de Logística Reversa de Lâmpadas Fluorescentes de Vapor de Sódio e Mercúrio e de Luz Mista (Acordo Setorial) com o MMA. Participam do acordo a Associação Brasileira da Indústria da Iluminação (ABILUX) e Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação (ABILUMI), além de 24 empresas fabricantes, importadoras, comerciantes e distribuidoras de lâmpadas.
A coordenadora-geral de Resíduos do MMA, Sabrina Andrade, destaca que a operacionalização dos sistemas de logística reversa em um país de grande extensão territorial e diversidade deve ser feita de forma gradual e sustentável. “Na primeira fase do acordo setorial, focamos na instalação dos pontos de entrega voluntária, para que os consumidores possam descartar as lâmpadas em local adequado e não contaminar solo ou águas superficiais”, explica.
“Estamos cientes de que podemos aprimorar os acordos setoriais, melhorando a fiscalização e envolvendo grandes geradores de resíduos. Para isso, temos a previsão de relatórios de monitoramento anuais e revisão dos acordos setoriais no prazo máximo de cinco anos”, afirma Sabrina Andrade.
POLÍTICA NACIONAL
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/10, contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos entre fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e cidadãos.
Fonte: MMA

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Os gigantes

Os gigantes do mar ameaçados pelo aumento da poluição por plástico

O Golfo do México, o Mar Mediterrâneo, a Baía de Bengala e o Triângulo de Corais são áreas consideradas prioritárias para serem monitoradas, de acordo com uma análise de pesquisas já publicadas.
Cientistas americanos, australianos e italianos analisaram dados relacionados às ameaças para as espécies chamadas “filtradoras”, ou seja, que se alimentam de partículas em suspensão e, por isso, estão mais expostas aos microplásticos.
Com menos de 5 milímetros, essas partículas podem ser prejudiciais tanto para os oceanos quanto para a flora e fauna aquática.
Contaminações por microplástico podem reduzir o tamanho da população dessas espécies filtradoras. E os pesquisadores avaliam que há poucos estudos sendo conduzidos na tentativa de mensurar esses riscos.
“A completa magnitude dos riscos de ingerir microplásticos ainda está para ser investigada”, afirma Elitza Germanov, da Universidade Murdoch, na Austrália, que também é pesquisadora da fundação norte-americana Marine Megafauna.
Os possíveis riscos incluem a redução de absorção de nutrientes e danos ao sistema digestivo quando microplásticos são ingeridos.
Além disso, diz a pesquisadora, a exposição a toxinas por meio da ingestão de plástico pode afetar processos biológicos, como, por exemplo, o crescimento e a reprodução, colocando as espécies que ingerem essas micropartículas ainda sob mais risco.
Espécies emblemáticas
O estudo que faz um levantamento das evidências já coletadas sobre o impacto do microplástico nos oceanos foi publicado na revista acadêmica Trends in Ecology and Evolution (Tendências em Ecologia e Evolução, em tradução livre).
Nele, os pesquisadores argumentam que as maiores espécies filtradoras, muitas delas “economicamente importantes”, deveriam ser priorizadas como objeto de estudo em pesquisas futuras sobre os riscos dos microplásticos.
Filtradores engolem centenas de metros cúbicos de água diariamente para capturar a comida da água e, nesse processo, podem ingerir plásticos. Os microplásticos são similares, em tamanho e em massa, a muitos tipos de plânctons.
Estudos já indicam a presença de produtos químicos associados a plásticos nos corpos de tubarões-baleia e em baleias-fin (ou baleias-comuns).
“Nossos estudos em tubarões-baleia no Mar de Cortez (Pacífico) e com baleias-fin no Mediterrâneo confirma a exposição a produtos tóxicos, indicando que esses animais que se alimentam por filtragem estão retendo microplástico no processo de alimentação”, afirma a copesquisadora Maria Fossi, da Universidade de Siena, na Itália.
Segundo ela, a exposição a toxinas associadas a esses plásticos representam uma grande ameaça à saúde desses animais. Pode alterar os hormônios que, por sua vez, regulam o crescimento do corpo, desenvolvimento, metabolismo e funções reprodutivas.
Pesquisadores estimam que tubarões-baleia no Mar de Cortez, no México, têm ingerido uma média de 200 pedaços de plástico por dia. As baleias-fin no Mediterrâneo, 2 mil partículas diárias.
Os pesquisadores citam relatórios indicando que 800 quilos de plástico foram encontrados em uma carcaça de uma baleia encalhada na França. Outra, na Austrália, tinha seis metros quadrados de folhas plásticas e 30 sacolas inteiras.
O estudo aponta várias regiões apontadas como chave para futuros estudos e monitoramento, onde há uma alta concentração de microplásticos.

Espécies emblemáticas, segundo os pesquisadores, devem ser o principal objeto de estudos, especialmente em países que dependem do turismo na fauna marinha.
“Vale salientar que o uso dessas espécies icônicas, como os tubarões-baleia, arraia jamanta e baleias para atrair a atenção e envolver comunidades, políticos e administradores podem melhorar o manejo de ecossistemas marinhos”, diz Elitza Germanov, que faz doutorado na Universidade Murdoch.
Há espécies de tubarões filtradores, arraias e baleias sob risco de extinção ou na lista de animais vulneráveis. Muitas vivem muito, mas se reproduzem pouco.
Fonte: BBC

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

ÁRVORES

Plantar 20% a mais de árvores é arma poderosa contra a poluição urbana

Theodore Endreny e sua equipe utilizaram a ferramenta on-line i-Tree Canopy para estudar florestas urbanas de 10 grandes cidades: Pequim, Buenos Aires, Cairo, Istambul, Londres, Los Angeles, Cidade do México, Moscou, Mumbai e Tóquio. “Trabalhando em grandes cidades, alcançamos as maiores áreas urbanas e de população, o que nos permitiu atingir uma alta eficiência na prestação de serviços, melhorando o bem-estar humano e a biodiversidade”, diz Theodore Endreny, justificando a escolha dos locais.
Na análise, foram consideradas questões como as espécies arbóreas, a população humana, a poluição no ar e o uso de energia. Os pesquisadores calcularam que florestas urbanas ocupam, em média, 20% da área de cada uma das 10 cidades, que têm o potencial para dobrar a cobertura arbórea e mudar consideravelmente a vida dos moradores. A equipe construiu um modelo de cobertura para cada cidade e concluiu que a ação dobraria benefícios como redução de poluição do ar, economia de energia e fornecimento de alimentos.
Juntos, esses benefícios renderiam em torno de US$ 500 milhões por ano. “Com o aumento das árvores, essas pessoas vão ter a limpeza imediata do ar ao redor. Vão receber esse resfriamento direto da árvore, até comida e outros produtos. Existe potencial para aumentar a cobertura das florestas urbanas em nossas megacidades, e isso faria com que elas ficassem mais sustentáveis, se transformassem em melhores lugares para viver”, ressalta Theodore Endreny, em comunicado.
Para a engenheira ambiental Roberta Costa e Lima, a vantagem que mais se destaca das florestas urbanas é a capacidade de remoção de poluentes do ambiente, como a captação de gases tóxicos. “Ruas bem arborizadas podem filtrar grande parte da poeira em suspensão no ar”, exemplifica. Segundo a especialista, os resultados constatados no estudo italiano podem se repetir em outras cidades do mundo. Brasília, inclusive, é um exemplo de local planejado para abrigar grandes áreas verdes. “O objetivo era criar uma cidade com grande quantidade de espaços urbanos livres, que contribuíssem para melhor circulação, arejamento, salubridade e insolação. Ou seja, o contrário das cidades muito urbanizadas e poluídas”, diz.

Por conta própria

Há ainda os esforços individuas para aumentar a área verde. Sara Joffily, 68 anos, cultiva diversos tipos de árvores no quintal de casa, na Cidade Ocidental. Ela sempre teve o desejo de plantar, mas não sabia como fazer. Um curso de sistemas agroflorestais a ajudou a dar os primeiros passos. Agora, as práticas verdes ganharam espaço também dentro de casa, nas práticas do dia a dia. “Tenho um balde dentro do meu box e limpo o chão da minha casa com a água colhida do banho. Não tenho máquina de lavar, apenas um tanquinho. Colho a água dele e rego as plantas. Fui desenvolvendo uma habilidade ecológica e vejo que pouca gente tem o que tenho hoje”, lista a aposentada.
Roberta Costa e Lima alerta que o processo de arborização deve ser bem planejado. Com a assistência de pessoas especializadas, como engenheiros agrônomos, para que a árvore não seja plantada perto de caixas de telefone, fiação e esgotos.  “Para promover a longevidade das árvores, a redução nos custos de manutenção e a valorização e conservação dos recursos naturais regionais pela população urbana”, explica. Outro ponto a se verificar é que a espécie escolhida seja nativa do bioma local. “O uso de uma espécie exótica também pode ser feito, mas é importante observar se ela tem boa adaptação no ambiente onde será plantada” sugere.
Segundo a Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital), existem no Distrito Federal em torno de 5 milhões e meio de árvores. Por ano, 120 mil novas mudas são plantadas. O Plano Piloto é o local mais arborizado, seguido de cidades mais antigas, como Sobradinho, Ceilândia e Planaltina
“Existe potencial para aumentar a cobertura das florestas urbanas em nossas megacidades, e isso faria com que elas ficassem mais sustentáveis, se transformassem em melhores lugares para viver”
Theodore Endreny, pesquisador da Universidade Parthenope de Nápoles e autor do estudo

Envolvimento deve ser geral

Apesar de estudos como o conduzido na Universidade Parthenope de Nápoles constatarem a importância das áreas verdes urbanas, segundo Carla Freitas, professora de arquitetura e urbanismo da Universidade Católica de Brasília, o processo de arborização das cidades costuma ser lento, principalmente por falta de políticas públicas. “Desde os anos de 1920, existe essa ideia de cidade industrial e poluída envolvida por cinturões verdes, as chamadas cidades jardins. É preciso haver uma sensibilização da ponta que executa, o governo, os gestores”, defende.
Theodore Endreny, autor do estudo italiano, concorda que as autoridades precisam mudar a percepção quanto ao uso de recursos naturais e deixar as cidades o mais sustentáveis possíveis, mas o cientista ressalta que esse assunto deve ser uma preocupação generalizada. “Todos podem agir para aumentar as áreas da floresta urbana das cidades, não apenas os planejadores”, defende.
O discurso é o mesmo de Marcos Woortman, idealizador do projeto Viveiro do Lago Norte. “Meio ambiente é responsabilidade de todos. Então, a gente tem que fazer mais que a nossa competência. Por isso, eu convido as pessoas a receberem doações de mudas e plantarem onde quiserem. A maioria que recebe planta em casa”, diz.  O projeto começou em 2015, em um trabalho com moradores do Lago Norte e órgãos do governo em que foram mapeadas 110 nascentes degradadas.  A solução encontrada pelo grupo foi cultivar mudas do cerrado para a recuperação dessas áreas.
Hoje, mudas são doadas também para moradores de outras cidades e do Entorno, que as usam para arborizar parques, escolas, praças e o próprio quintal. Simone Carrara, 49 anos, recorre à iniciativa para turbinar o projeto Poranga no Lago Norte. “O primeiro plantio que fizemos foi no Jardim Botânico. Plantamos 3 mil mudas no córrego Cabeça de Veado para recuperar a área degradada, recuperar a área de nascente”, conta a dentista criadora da iniciativa. O Lago Norte e o câmpus da Universidade de Brasília também já foram beneficiados. (SS)
Fonte: Correio Braziliense

domingo, 11 de fevereiro de 2018

BANANAS

Doença ameaça dizimar bananas pelo mundo – e uma plantação africana busca a resposta

Ele foi detectado na África pela primeira vez há cinco anos, depois de dizimar milhões de hectares de plantações de banana na Ásia a partir de 1980.
O fracasso nas tentativas de conter a doença – que é resistente a fungicidas e não pode ser controlada quimicamente – gera preocupações ao redor do mundo. Poderia a fruta mais exportada do mundo, fonte de nutrientes para milhões de pessoas, estar sob o risco de extinção?
A BBC foi o primeiro veículo de imprensa a ter acesso à fazenda desde que ela foi atingida pela doença. E descobriu que, mais além da devastação, a plantação é um caso emblemático sobre as consequências inesperadas e indesejadas da globalização – e sobre a forma como a solução para esses problemas pode vir de lugares improvavéis.
Feita a higienização ao entrar na fazenda, visitantes avistam cachos e cachos de banana presos a armações de metal.
De lá, centenas de bananas são carregadas para uma área de tratamento antes de serem enviadas para o Oriente Médio em containeres.
Supervisor desse processo, o chefe técnico da fazenda, Elie Matabuana, passa todo o tempo olhando cacho por cacho para checar se eles têm as folhas amareladas e o cheio podre característico das plantas contaminadas.
“Quando acordo de manhã, a primeira coisa que penso é: o que posso fazer para acabar com essa doença?”, diz ele.
“É uma luta enorme, mas estamos vencendo”, agrega, antes de se corrigir. “Nós vamos vencer.”
Contenção
Matabuana e sua equipe na fazenda Matanuska lutam uma batalha extremamente difícil. A doença se espalhou rapidamente nos últimos cinco anos
“Vim para Matanuska pela primeira vez logo após identificarmos o patógeno. Nesse estágio a fazenda ainda era maravilhosa”, diz Altus Viljoen, professor da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. Ele foi o primeiro cientista a confirmar que a doença havia de fato se espalhado para além da Ásia.
“Eu sabia que a paisagem (das plantações) iria mudar, mas não tinha ideia do tamanho do golpe, de quão severo ele seria.”
Hoje, restam apenas 100 hectares das plantações de Matanuska. Cerca de dois terços dos 2,7 mil trabalhadores da fazenda foram demitidos, arruinando a economia local.
Conter a doença e encontrar uma variedade resistente se tornaram prioridades urgentes.
Cerca de 500 mil pessoas trabalham na indústria bananeira em Moçambique.
‘Má sorte’
Países vizinhos como a Tanzânia, a 600 km de Matanuska, também têm a economia extremamente dependente do cultivo de banana. Na Uganda e no Congo, as bananas representam 35% da ingestão de nutrientes de boa parte da população.
E, embora acredite-se que o tipo da fruta cultivado nesses países seja resistente ao fungo, ninguém sabe com certeza.
No Brasil, onde a banana é a fruta mais consumida, a produção chega a 7 milhões de toneladas anuais, segundo medições oficiais, com papel importante no mercado exportador. E a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) diz, em boletim online, que diversas variedades da fruta são suscetíveis ao Mal do Panamá. A recomendação principal, segundo o órgão, é investir em variedades resistentes ao fungo.
De volta a Moçambique, a chefe da área de doenças botânicas do Ministério da Agricultura local, Antonia Vaz, afirma que “todos os países africanos estão preocupados com o que está acontecendo aqui”.
Ela diz que o governo moçambicano implementou medidas para controlar a doença e garantir que ela não se espalhe para o norte. Ela também faz questão de dizer que a doença não é endêmica no país. O governo acredita que ela tenha vindo das botas de trabalhadores rurais das Filipinas.
“Foi um grande azar”, diz ela.
O comércio de banana no mundo movimenta mais de U$ 12 bilhões todos os anos – o que torna a fruta a número um em valor e volume.
Não há cura
Em geral, quando quantias bilionárias estão em risco, soluções não são muito difíceis de serem encontradas.
Mas o problema na luta contra o Mal do Panamá é a maneira como as bananas são cultivadas hoje em dia.
Embora existam milhares de tipos de banana no mundo, a maior parte da produção mundial hoje é de banana cavendish. No Brasil, a come-se o subtipo dawrf cavendishconhecido por aqui como banana nanica.
Cultivar apenas uma variedade de uma planta em grandes monoculturas é uma prática que se tornou cada vez mais comum no mundo em todas as variedades de produtos – de árvores madeireiras a frutas.
O problema é que monoculturas são altamente suscetíveis à doenças. O que torna o caso das bananas ainda pior é que as cavendish são estéreis. Novas plantas são produzidas assexuadamente, o que significa que são idênticas à geração mais antiga.
Como elas não são reproduzidas naturalmente, não há seleção natural – o que poderia ajudar no surgimento de espécimes de banana resistentes à doença.
A cavendish se tornou a banana mais popular depois que a primeira variedade do fungo do Mal do Panamá dizimou a banana Gros Michel, que até os anos 1950 era a variedade mais comum. Como a cavendish era imune ao fungo, ela passou a ser a mais cultivada.
O problema é que a quarta “geração” do fungo, a TR4, agora ataca a cavendish e outras variedades.
Fusarium Fungus vive no solo e ataca as raízes antes de se espalhar pelo resto da planta. Ele também produz esporos que sobrevivem no solo por décadas, tornando a terra inútil para colheitas não resistentes.
Nova esperança
Diantede um cenário tão lúgebre, por que continuar a plantar bananas em Matanuska?
Há dois motivos principais.
Um dele tem a ver com o controle da área. “Se a terra foi simplesmente abandonada e as pessoas se movimentarem por ali, ninguém sabe quem vai carregar a doença e para onde”, diz o professor Viljoen.
O outro motivo é a esperança de encontrar uma solução.
A americana Tricia Wallace é uma ex-investidora do mercado financeiro que ajudou a conseguir financiamento para a fazenda anos atrás, quando a ideia de ter uma plantação de banana nessa parte do mundo parecia uma loucura, uma miragem no deserto.
Ela diz que nos primeiros anos de funcionamento da fazenda, “pessoas vinham de outras partes de Moçambique e não conseguiam acreditar (no sucesso)”.
Ante a devastação causada pelo fungo, Wallace diz que sentiu-se na obrigação de garantir que as pessoas não desistissem do projeto e acabou deixando seu trabalho no mercado financeiro para tocar a fazenda.
Agora, ela está investindo pesado em um tipo de banana cavendish de Taiwan, conhecido como banana formosana.
Essa variedade pode ter a resposta para os problemas, e é o que Matanuska precisa para sobreviver.
Até agora os resultados são promissores: 200 hectares da banana formosana estão crescendo na fazenda. E embora algumas das plantas estejam com a doença, elas parecem mais fortes e mais capazes de lutar contra ela.
“Se isso der certo, é um grande benefício não só para a indústria bananeira de Moçambique, mas para a região como um todo.”
Fonte: BBC