Introdução
Na vastidão do norte do Oceano Pacífico, existe o Redemoinho Subtropical do
Pacífico Norte, um lento espiral de correntes, criado por um sistema de alta
pressão de correntes de ar. A área é um
deserto oceânico, cheio
de fitoplânctons minúsculos, mas com alguns peixes e mamíferos grandes. Devido à
falta de peixes grandes e ventos suaves, pescadores e marinheiros raramente
viajam pelo redemoinho. Mas a área tem mais coisa além de plâncton: lixo,
milhões de quilos de lixo, a maioria plástica. É o maior
depósito de lixo do mundo, que flutua no meio do oceano.
Imagem cedida por Algalita Marine Research
Foundation
Na vasta área da Grande Porção de Lixo do Pacífico,
a água-viva e outros animais que se alimentam por filtragem, freqüentemente
consomem o lixo flutuante ou ficam presos nele
|
O redemoinho realmente deu origem a duas grandes massas de lixo que se
acumulam, conhecidas como
Porções de Lixo do Pacífico Ocidental e
Oriental, às vezes, chamados coletivamente de
Grande Porção de
Lixo do Pacífico. A Porção de Lixo Oriental flutua entre o Havaí e a
Califórnia; os cientistas estimam que seu tamanho é duas vezes maior o estado
americano do Texas [fonte: LA Times]. A Porção de Lixo Ocidental se forma a
leste do Japão e a oeste do Havaí. Cada massa de refugo que gira é maciça e
recolhe o lixo de todo o mundo. As porções são ligadas por uma fina corrente de
3720km de comprimento chamada de
Zona de Convergência
Subtropical. Vôos de pesquisa mostraram o acúmulo de quantidades
significativas de lixo também na Zona de Convergência.
As porções de lixo apresentam vários perigos à vida marinha, à pesca e ao
turismo. Mas antes de discutirmos sobre eles, é importante analisar o papel do
plástico. O plástico constitui 90% de todo o lixo que bóia nos oceanos do mundo
[fonte: LA Times]. O United Nations Environment Program (Programa Ambiental das
Nações Unidas) estimou, em 2006, que cada milha quadrada do oceano abriga 46.000
pedaços de plásticos flutuantes [fonte: UN Environment Program]. Em algumas
áreas, a quantidade de plástico supera a quantidade de plâncton por uma relação
de seis para um. Dos mais de 100 bilhões de quilogramas de plástico que o mundo
produz por ano, cerca de 10% acabam no oceano [fonte: Greenpeace]. Setenta por
cento disso finalmente afunda, prejudicando a vida no fundo do oceano. [fonte:
Greenpeace]. O resto flutua; boa parte termina nos redemoinhos e nas porções de
lixo maciças que se formam, com o plástico sendo levado pelas águas a uma costa
distante.
O principal problema com o plástico - além de sua quantidade enorme - é que
ele não é
biodegradável. Nenhum processo natural consegue
eliminá-lo. Especialistas apontam que a durabilidade que torna o plástico tão
útil às pessoas é o que também o torna tão prejudicial à natureza. Ao contrário,
o plástico
fotodegrada. Um isqueiro jogado ao mar se
fragmentará em pedaços menores de plástico sem se quebrar em compostos mais
simples, o que os cientistas estimam que poderia levar centenas de anos. Os
pequenos pedaços de plástico produzidos pela fotodegradação são chamados de
lágrimas de sereia ou
grãos.
Essas partículas minúsculas podem ser sugadas pelos animais que se alimentam
por filtragem e prejudicar seus corpos. Outros animais marinhos comem o
plástico, que pode envenená-los ou levá-los a bloqueios fatais. Os grãos também
têm a propriedade traiçoeira de absorver produtos químicos. Ao longo do tempo,
mesmo os produtos ou venenos que se misturam à água podem tornar-se altamente
concentrados à medida que são eliminados pelos grãos. Essas massas venenosas
ameaçam toda a cadeia
alimentar, especialmente
quando ingeridas por animais que se alimentam por filtragem que, geralmente, são
devorados por criaturas grandes.
Efeitos do plástico e a grande porção de lixo do
Pacífico
Image courtesy
Algalita Marine Research FoundationA população de albatroz foi
devastada pelo
plástico
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O plástico afetou
severamente os albatrozes, que percorrem um grande caminho do norte do Oceano
Pacífico. Eles geralmente apanham o alimento onde quer que esteja, o que faz
muitos pássaros ingerirem plástico e outros lixos, levando-os a morte. Na Ilha
Midway, que fica em contato com partes da Porção de Lixo Oriental, os albatrozes
dão à luz a 500.000 filhotes anualmente. Duzentos mil deles morrem, muitos pelo
consumo de plástico que seus pais lhes dão, confundindo-o com comida [fonte: LA
Times]. No total, mais de um milhão de pássaros e animais marinhos morrem por
ano, seja porque ingeriram plástico e outros lixos ou porque ficaram presos
neles.
Além de acabar com os animais selvagens, o plásticos e outros detritos
danificam barcos e equipamentos
submarinos,
espalham-se pelas praias, impedem as pessoas de nadarem e prejudicam as
indústrias de pesca local e comercial. O problema do plástico e outros lixos
acumulados afeta praias e oceanos do mundo inteiro, incluindo os dois pólos. As
massas de terra que acabam no caminho dos redemoinhos giratórios recebem grande
quantidade de lixo. As 19 ilhas do arquipélago havaiano, incluindo a Midway,
recebem quantidades maciças de lixo lançadas dos redemoinhos. Boa parte do lixo
é antiga. Algumas praias ficam cobertas de 1,5m a 3m de lixo, enquanto outras
ficam cheias de "areia plástica", milhões de pedacinhos, como se fossem grãos,
de plástico que são praticamente impossíveis de limpar.
A maior parte desse lixo não vem dos navios - 80% do lixo do oceano
origina-se da terra [fonte: LA Times]. O resto vem de navios comerciais e
particulares, de equipamentos de pesca, de
plataformas
petrolíferas (em inglês) e da queda de contêiners no mar (seus conteúdos
freqüentemente são levados pelas águas e chegam às costas distantes anos
depois).
Alguns esforços podem ajudar a lutar contra a maré do lixo. Os tratados
internacionais que proíbem o despejo de lixo no mar devem ser reforçados. A água
de
esgoto não tratada não deveria
desaguar no oceano. Muitas comunidades e alguns países que se encontram em
pequenas ilhas acabaram com o uso de sacolas plásticas. Essas sacolas geralmente
são recicláveis, mas bilhões delas são jogadas fora todo ano. Nas Ilhas
Havaianas, programas de limpeza levam voluntários às praias para recolherem o
lixo, mas algumas delas, mesmo as que passam por limpezas regulares, ainda estão
repletas de camadas grossas de lixo.
Os cientistas que estudaram o problema afirmam que recolher todo o lixo do
oceano é simplesmente impossível, além de prejudicar o plâncton e outras vidas
marinhas. Em algumas áreas, podem ser coletados grandes fragmentos, mas não é
possível, por exemplo, limpar completamente uma parte do oceano que amplia a
área de um continente e estende-se mais de 30m abaixo da superfície [fonte: UN
Environment Program].
Praticamente todos os especialistas que falam do assunto levantam o mesmo
ponto: depende do controle do lixo na terra, de onde vem a maior parte dele.
Eles recomendam convencer as empresas a encontrarem alternativas para o
plástico, especialmente seguras, em relação ao ambiente, e com embalagem
reutilizável. Programas de reciclagem deveriam ser ampliados para acomodar mais
tipos de plástico, e a população deveria ser educada sobre seu valor.
Em outubro de 2006, o governo dos Estados Unidos estabeleceu o Monumento
Marinho das Ilhas Havaianas do Noroeste. Essa longa faixa de ilhas, localizadas
a noroeste do Havaí, freqüentemente, entram em contato com a Porção de Lixo
Oriental. Após a criação do monumento, o congresso aprovou a legislação para
aumentar os fundos para os esforços de limpeza e obrigou que várias agências
governamentais expandissem seu trabalho de limpeza. Pode ser um passo
importante, especialmente se levar a uma maior atenção do governo para um
problema que, embora terrível, apenas recebeu atenção científica séria no início
da década de 90.
FONTE: HTTP://CIENCIA.HSW.UOL.COM.BR/LIXO-PACIFICO2.HTM