quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Purpurina biodegradável, uma tendência crescente no carnaval carioca.

Fantasias de sereia, com um turbante de frutas tropicais à la Carmen Miranda ou um toucado de faraó egípcio: nenhum ‘look’ do carnaval de rua no Rio de Janeiro está completo sem uma grande quantidade de purpurina.

Mas acompanhando uma tendência mundial, muitos foliões estão tomando consciência do problema representado pelas 8 milhões de toneladas de plástico que a cada ano param no oceano dos cinco continentes e apostam numa versão ecológica para reduzir seu impacto.
“Eu sempre fui muito fã de glitter, usava muita purpurina no carnaval, tomava banho, dava banho nos outros, soltava glitter como se fosse uma coisa maravilhosa. Quando descobri que era de plástico, fiquei bem incomodada e pensei que deveria fazer alguma coisa a esse respeito”, contou à AFP Frances Sansão, uma arquiteta carioca de 29 anos que criou há dois anos a Pura Bioglitter, uma das marcas de purpurina ecológica pioneiras no Brasil.
As micropartículas que refletem a luz e embelezam a festa de noite e de dia perduram no planeta para sempre e podem, como muitos plásticos, acabar no estômago da fauna marinha.
– Menos brilhante e mais sustentável –
Insatisfeita com a ideia de espalhar microplásticos durante sua festa favorita, Frances começou a pesquisar em 2016 como fabricar sua própria purpurina ecológica; Importá-lo dos Estados Unidos ou da Grã-Bretanha era inviável, devido aos altos custos.
Inspirada pela culinária vegana, experimentou receitas até chegar a uma fórmula à base de algas marinhas e pó de mica (uma pedra brilhante), que tenta patentear.
“Esse glitter é mais leve, não tem material nocivo, ao contrário, as algas são super-hidratantes, faz bem para a pele. E ele não tem impacto sobre a vida marinha”, garante.
Após três dias, “quando ele se decompõe, volta ao estado natural, volta a ser alga e pedra e é menos agressivo para o meio ambiente, não há problema em ir para o mar”, explica.
Ao contrário da purpurina industrial, os “flocos” de glitter orgânico têm uma forma irregular e uma aparência mais metalizada, já que a mica é menos reflexiva que o alumínio.
“Quem é mais comprometido com a sustentabilidade entende que não vai ser igual [ao glitterde plástico]. Esta é uma alternativa sustentável”, mas tem tido uma boa recepção entre o público porque “é muito bonito”, assegura.
Em meio ao tumulto da música e da dança, a cozinheira Denise Davidson acaba de ser maquiada por Frances e uma de suas sócias, durante um dos blocos carnavalescos que tomam a cidade todo mês de fevereiro.
“Achei legal, é diferente, a gente vive um momento em que as pessoas se preocupam mais com a natureza, a sustentabilidade está super em alta, e acredito que seja viável, as pessoas vão aderir, sim”, diz Denise.
– Negócio em expansão –
Usando protetor para o rosto e luvas de borracha, Frances tritura em um liquidificador pedaços de papel metalizado para repor o estoque de purpurina dourada, que vende, como as demais cores, em frascos de 1 ou 3 gramas, a dez reais o grama.
Esse é o último passo de um processo que começa com a cocção de uma espécie de gelatina de alga, que é então misturada ao pó de mica, corantes e espalhado em um superfície plana para secar e adquirir a consistência de um papel, pronta para ser triturada em pedacinhos.
As três sócias e duas ajudantes produzem 800 gramas por dia. Até o final do Carnaval, esperam ter fabricado 50 kg de glitter.
“Quando criei a Pura, as pessoas me criticaram, disseram que era mi mi mi (a preocupação com a purpurina sintética), mas o discurso das pessoas foi mudando. Hoje em dia eu vejo que as pessoas estão muito mais engajadas, mais conscientes. Acho que vem mesmo da ignorância sobre o assunto. As pessoas não divulgavam muito essa questão do plástico”, assegura Frances.
Apesar de a demanda continuar crescendo, ela não acredita que a purpurina orgânica vai substituir completamente a versão industrial no Brasil, uma vez que não é possível fabricá-la a preço competitivo.
Por isso, para aqueles que continuarem usando a purpurina convencional, recomenda retirá-la do corpo e descartá-la no lixo antes do banho, para evitar que pare no mar.

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