sábado, 29 de setembro de 2018

Brasil terá centro de síntese em biodiversidade até o fim do ano.

Um consórcio de agências de fomento à pesquisa, federais e estaduais, ao lado de outras organizações do Brasil e do exterior, dará início ainda este ano ao Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose). A iniciativa será a primeira na região tropical, a exemplo de outras em operação no Canadá, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Austrália.

O objetivo é integrar dados de pesquisa espalhados por diferentes centros, a fim de avançar o conhecimento científico e procurar resolver problemas da sociedade, por meio de iniciativas junto a comunidades e órgãos governamentais.
Algumas definições para o SinBiose foram dadas durante workshop realizado entre os dias 24 e 26 de setembro no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Marcelo Morales, vice-presidente do CNPq, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) garantiu alocar R$ 1 milhão para o início das atividades.
“Temos que começar e decidimos começar virtualmente. Mas precisamos agora mostrar os resultados. Com isso, tenho certeza de que iremos convencer não apenas o Congresso, mas as agências e os ministérios [a colocar mais recursos na iniciativa]”, disse Morales durante o evento.
“A ideia de criar um centro de síntese é a possibilidade de reunir dados já disponíveis em projetos voltados para a solução de problemas, seja de uma bacia hidrográfica ou uma cidade, e utilizar essa síntese para o aperfeiçoamento e a implementação de políticas”, disse o organizador do evento Carlos Alfredo Joly, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do programa BIOTA-FAPESP.
Joly explicou que esses dados estão espalhados em grupos de pesquisa no Brasil inteiro, mas não há nenhuma instituição responsável por integrá-los.
“Nossa ideia é fazer algo transversal, que integre os melhores pesquisadores em determinado assunto para reunir tudo o que há de informação sobre aquele tópico específico e ver o quanto é possível avançar em relação a soluções e respostas a problemas”, disse à Agência FAPESP.
Uma das primeiras ideias para a criação de um centro de síntese em biodiversidade no Brasil teria vindo principalmente após as recomendações do relatório científico de 2015 do programa Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD)
“O relatório enfatiza que é realmente importante ter ligações mais fortes com os outros stakeholders [interessados] para que haja maior capacidade de preencher as lacunas entre ciência e prática”, disse o palestrante Jean Paul Metzger, professor do Instituto de Biociências da USP e membro da coordenação do programa BIOTA-FAPESP.
Para Metzger, um centro como esse, segundo no hemisfério Sul e primeiro na região tropical, possibilita uma colaboração mais ampla, com uma nova geração de pesquisadores mais colaborativos compartilhando dados e criando novas ideias, hipóteses e modelos com dados existentes. Além disso, promove uma abordagem inter e transdisciplinar, facilitando a sinergia entre ciência e políticas públicas.
A estrutura inicial do SinBiose seria composta de um comitê científico, assessorado por um comitê consultivo internacional. Além disso, haveria um corpo administrativo e um time operacional de tecnologia da informação, comunicação e assistência educacional.
O modelo inclui ainda um diretor científico, assim como pós-doutores, todos em regime de dedicação exclusiva ao centro. Além deles, pesquisadores experientes dedicados exclusivamente ao centro por um período determinado trabalhariam no SinBiose. Os membros dos grupos de trabalho devem se reunir uma ou duas vezes por ano para verificar o andamento dos trabalhos e definir os próximos passos.
“Nossa ideia é que haja um espaço físico, a princípio em Brasília, onde essa interação possa ocorrer. Será necessária uma alta capacidade de informática, o que não precisa ser nesse lugar, pois hoje isso pode ser feito em nuvem. Além disso, um conjunto de pós-doutores com dois ou três anos de pós-doutorado e pesquisadores espalhados pelo Brasil que poderão convergir a esse centro no momento que quiserem”, disse Joly.
“O centro é uma forma ainda de trazer conhecimento da área de humanidades, pois não serão envolvidas apenas a parte biológica e a ecológica, mas será necessário encontrar soluções que englobem pessoas, comunidades, e para isso serão necessários profissionais dessas diferentes áreas”, disse.
Segundo Joly, os resultados se darão na forma de publicações científicas, mas principalmente em soluções de problemas práticos que as populações enfrentam. “A produção científica vai ser uma parcela pequena do resultado. Ela é necessária, mas o foco será resolver um problema de uma bacia hidrográfica onde há conflito de uso de água, por exemplo. E fazer a interface com governos e autoridades”, disse.
Modelos internacionais
Pesquisadores participantes do evento apresentaram o funcionamento de centros de síntese nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Alemanha.
O Canadian Institute for Ecology and Evolution (CIEE) se destaca por ser uma instituição sem estrutura física, que usa pessoal das próprias universidades em que os pesquisadores-membro trabalham. O centro brasileiro iniciará as atividades seguindo esse modelo “virtual”, enquanto não se decide sobre a estrutura com uma sede física.
“Nosso centro tem um bom custo-benefício. É algo bem flexível e um programa realmente nacional, pois não há uma região em que esteja localizado. Essa é uma vantagem de um programa virtual”, disse Diane Srivastana, diretora do CIEE e pesquisadora da Universidade de British Columbia.
“No entanto, há algumas limitações. Os líderes de cada grupo têm mais trabalho, em termos de logística, e não temos uma infraestrutura de pessoal para suporte computacional e financeiro. Abrimos mão de algumas coisas por conta desse modelo”, disse Srivastana.
A síntese de dados em biodiversidade no CIEE tem sempre um objetivo voltado para a solução de problemas. Srivastana deu como exemplo um programa que está recuperando a população de peixes comerciais na costa de Newfoundland, no leste do país, que pode recuperar a economia local abalada com a escassez do bacalhau.
Outro modelo apresentado foi o do Synthesis Centre for Biodiversity Sciences (sDiv), na Alemanha. Diferentemente do canadense, o centro alemão tem uma sede física, em Leipizig, e seus grupos de trabalho não buscam necessariamente um fim social para as pesquisas realizadas.
“No entanto, as propostas devem abordar o tópico determinado em um sentido amplo. Um projeto sobre biota de solo, por exemplo, não terá só biólogos e ecólogos, mas pesquisadores que vão olhar para os aspectos geográfico, da química do solo, ou mesmo usar dados novos que ainda não foram utilizados para esse tipo de estudo, por exemplo”, disse Marten Winter, coordenador científico do sDiv.
Estiveram no evento ainda Thomas Meagher, chairman do Environmental Omics Synthesis (EOS), do Reino Unido, Emilio Bruna, da Universidade da Flórida e Laura Meagher, especialista em estudos transdisciplinares. Jon Kramer, diretor de ciência interdisciplinar do National Socio-Environmental Synthesis Center (SESYNC), dos Estados Unidos, e Jerôme Chave do LABEX-CEBA (Center for the Study of Biodiversity in Amazonia), localizado na Guiana Francesa, também participaram fazendo apresentações via internet. Todos falaram dos centros de síntese que dirigem e das possibilidades de colaboração.
Foco em soluções
Uma das principais demandas dos órgãos de fiscalização hoje no Brasil é a falta de dados científicos confiáveis para fundamentar decisões políticas. Por isso, Kátia Torres Ribeiro, da Coordenação Geral de Pesquisa e Monitoramento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e Ana Paula Fioreze, superintendente adjunta de Operações e Eventos Críticos da Agência Nacional de Águas (ANA), mostraram os programas que conduzem e as principais demandas que um centro de síntese poderia suprir.
“Nossa expectativa é que um centro de síntese forneça um acesso mais fácil ao que é mais recente e mais avançado em ciência. Uma vantagem desse centro seria endereçar uma questão que não está bem resolvida, que é a interação entre a gestão de água e a gestão ambiental”, disse Fioreze à Agência FAPESP.
“São informações que não são totalmente acessíveis e precisam ser consolidadas para que isso possa de fato ser incorporado na tomada de decisão. Ciência é uma das camadas dessa tomada de decisão, mas se ela for de difícil acesso não vai ser considerada da maneira que deveria”, disse Fioreze.
Fonte: Agência FAPESP

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

China vai vender licenças para caçar animais em risco de extinção.

Turistas estrangeiros poderão caçar iaques, lobos e outros animais em risco de extinção após o leilão de licenças de caça que será promovido pelo governo chinês no próximo domingo (13), informou nesta quarta-feira (9) o jornal Beijing Youth Daily.

As licenças de caça vão ser emitidas de acordo com o tipo e a população dos animais, incluindo espécies protegidas dos níveis 1 e 2, as que correm maior risco de desaparecimento. Os preços vão desde US$ 40 mil para matar um iaque, a US$ 200 por um lobo, segundo o jornal.
O leilão em Chengdu, capital da província central de Sichuan, será o primeiro deste tipo organizado pela Administração Nacional de Florestas. As licenças deverão valer para as regiões autônomas de Ningxia e Xinjiang e as províncias de Qinghai, Shaanxi e Gansu.
Um encarregado do Departamento de Proteção de Animais Selvagens, que preferiu o anonimato, disse que “a caça autorizada não vai prejudicar as populações de animais, já que serão estabelecidas cotas”.
“Em algumas regiões do oeste, devido ao aumento dos esforços de proteção, o número de animais selvagens aumentou muito, apresentando problemas, por isso a caça pode ajustar a quantidade de cada espécie”, argumentou o funcionário.
A parte lucrativa do negócio não passou despercebida para o governo, já que “o dinheiro pode ser usado para a proteção dos animais”, disse a fonte, acrescentando que “é melhor vender o direito de caça que permitir os caçadores ilegais”.
Só os estrangeiros poderão comprar licenças de caça, já que Pequim exerce um rígido controle sobre as armas de fogo. A caça de animais selvagens não é permitida aos cidadãos chineses, segundo o jornal. (Efe/ Estadão Online)

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Programa Bicicleta Brasil pode beneficiar economia, saúde e meio ambiente.

Jefferson Rudy/Agência Senado
O presidente da República tem até o dia 5 de outubro para sancionar ou vetar o Programa Bicicleta Brasil (PBB), aprovado recentemente pelo Senado. O objetivo do programa (PLC 83/2017) é aumentar os investimentos no setor.
A proposta visa aumentar a construção de ciclovias, ciclofaixas e faixas compartilhadas; a implantação de aluguéis de bicicletas a baixo custo em terminais de transporte coletivo, centros comerciais e locais de grande fluxo; a construção de bicicletários nos terminais de transporte; a instalação de paraciclos ao longo das vias e estacionamentos apropriados; e a realização de campanhas de incentivo ao uso da bicicleta.
O PBB tem como base a reserva de 15% dos recursos arrecadados com as multas de trânsito em todo o país. Como o valor gira em torno de R$ 9 bilhões por ano, significa que o programa, se efetivado, terá um orçamento de ao menos R$ 1,3 bilhão anuais. O programa também deverá receber recursos da CIDE-Combustíveis (percentual a ser definido em regulamento), de repasses dos governos federal, estadual e municipal, de doações de organismos de cooperação internacionais ou nacionais, de empresas e até de pessoas físicas.
Durante sua tramitação no Congresso, o PBB teve o apoio oficial da União dos Ciclistas do Brasil (UCB) e da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Para estas entidades, o reforço ao uso das bicicletas poderá trazer importantes benefícios econômicos e sociais ao país.

Benefícios

Recentemente o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) publicou uma pesquisa relacionada ao uso da bicicleta em São Paulo, concluindo que a adesão da população paulistana ao uso da bicicleta resultaria numa economia de R$ 34 milhões por ano ao Sistema Único de Saúde (SUS). A economia viria da queda do número de internações por diabetes ou doenças circulatórias, com base em dados oficiais do setor hospitalar.
Os ciclistas já são responsáveis por uma redução de 3% na emissão de CO2 pelos meios de transporte paulistanos. O Cebrap ainda avalia que estas emissões podem cair até 18%, se for atingido todo o potencial ciclístico da cidade.
O Cebrap também demonstra que um paulistano que usa majoritariamente o transporte coletivo em seus deslocamentos pode economizar até R$ 140 por mês caso passe a priorizar a magrela. E para quem usa mais o carro particular, a economia pode chegar a até R$ 450 mensais.
Por fim, os cidadãos das classes C e D poderão economizar até 14% da renda mensal (R$ 214) caso incorporem a bike a seus dias úteis. E se todo o potencial ciclístico de São Paulo for aproveitado, haverá um acréscimo de R$ 870 milhões no PIB municipal em razão da economia de tempo nos deslocamentos.
Em julho a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também lançou um estudo oficial sobre o tema, chamado A Economia da Bicicleta no Brasil .
O levantamento destaca, com base em números de 2016, que o Brasil contava à época com quase 6 mil lojas dedicadas ao comércio de bicicletas, peças e acessórios, empregando diretamente quase 14 mil trabalhadores. Mais de 76% das bicicletarias tinham até cinco funcionários e 22,4% delas empregavam apenas um. Uma das características principais do ramo, segundo a UFRJ, é justamente a tendência de se configurarem como lojas de pequeno porte. Cerca de 83% destes estabelecimentos optam pelo regime de tributação SIMPLES.
A pesquisa mostra ainda que o faturamento médio deste tipo de loja gira em torno de R$ 800 mil anuais e que 22% vendem entre R$ 50 e R$ 200 mil por ano. Outros 20% movimentam entre R$ 200 e R$ 500 mil anuais e apenas 1% dos estabelecimentos faturam mais que R$ 10 milhões.
Cerca de 36% destas lojas estão abertas há mais de 10 anos, enquanto outros 13% estão no mercado há mais de 30 anos. Chama a atenção, porém, que 18% estejam funcionando há menos de 2 anos.

Cicloativismo

A pesquisa detectou ainda 55 entidades dedicadas ao cicloativismo no país, que receberam R$ 5,1 milhões de financiamento público e privado, da venda de produtos e da promoção de eventos em 2016.
O levantamento também mostra que, entre 2007 e 2017, foram realizados 124 projetos de pesquisa centrados na bicicleta no país, ao custo de R$ 3,7 milhões.
Já com base em dados da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), a UFRJ mostra que foram realizados 203 eventos esportivos ligados à bicicleta no país em 2016.
Estas competições contaram com a participação de mais de 149 mil atletas e acompanhantes, que gastaram mais de R$ 46 milhões em hospedagem em cidades de todo o país, a maioria no interior. Já em 2017, somente cada etapa da Copa Internacional de Mountain Bike, realizada durante finais de semana, empregou 1.200 pessoas.
Fonte: Agência Senado

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Veleiro de plástico reciclado no Quênia alerta para perigo ambiental dos descartáveis.

No início do ano que vem, o Flipflopi viajará para Zanzibar como parte de uma campanha, apoiada pela iniciativa Mares Limpos da ONU Meio Ambiente, para espalhar uma “revolução plástica” ao longo do litoral, muitas vezes salpicado de resíduos plásticos de lugares tão distantes quanto a Tailândia e a Malásia.


A epifania de Ben Morison chegou uma manhã quando ele começou a nadar na costa do Oceano Índico, no Quênia. O operador turístico queniano contou 13 peças de plástico, incluindo garrafas e chinelos, enquanto caminhava para o mar. Com um sobressalto, percebeu o quão degradada a costa que ele amava — e comercializada como um destino dos sonhos — se tornou. Ele teve que agir.
“É muito fácil olhar para a esquerda ou para a direita e esperar que alguém faça alguma coisa, mas eu pensei: ‘o que posso fazer para ajudar a chamar a atenção sobre isso de forma divertida e alegre?’”, disse ele.
A resposta tornou-se o projeto Flipflopi: um plano ambicioso para construir um veleiro tradicional de plástico reciclado e navegá-lo ao longo da costa da África Oriental para espalhar a mensagem de que nossa dependência de plásticos de uso único é um desperdício destrutivo.
Mais de dois anos depois, essa visão se tornou realidade. Em 15 de setembro, o veleiro Flipflopi, de nove metros, com as cores do arco-íris e artesanato pioneiro feito com 10 toneladas de plástico reciclado queniano, foi lançado da ilha de Lamu em sua viagem inaugural.
No início do ano que vem, o Flipflopi viajará para Zanzibar como parte de uma campanha, apoiada pela iniciativa Mares Limpos da ONU Meio Ambiente, para espalhar uma “revolução plástica” ao longo do litoral, muitas vezes salpicado de resíduos plásticos de lugares tão distantes quanto a Tailândia e a Malásia.
Para o fundador da Flipflopi, Morison, e sua entusiástica equipe de voluntários, o veleiro representa tudo o que há de melhor na criatividade e resiliência queniana. Ele demonstra que o descarte de plástico de uso único não faz sentido, ao mesmo tempo em que também se apresenta como um tributo à capacidade de “faça você mesmo” que permeia muitas comunidades em desenvolvimento.
“O ponto-chave da diferença é a liderança africana e o DNA africano”, diz Morison.
“Nós nos limitamos expressamente aos recursos disponíveis localmente. Nós construímos este barco com construtores de barcos tradicionais. Não há um computador à vista. Há apenas uma ferramenta elétrica. Poderíamos ter concluído o projeto em cinco meses e levamos dois anos e meio. Isso porque explicitamente queríamos demonstrar que essa reciclagem, essa capacidade de adaptar o plástico, pode ser feita nesse tipo de ambiente”, diz ele.
O Flipflopi foi construído a partir de pranchas feitas de plástico reciclado, enquanto o casco e o deque foram cobertos com painéis feitos com cerca de 30.000 chinelos reciclados.
O plástico foi coletado das praias de Lamu e das ruas de Nairóbi, Malindi e Mombasa. Ele foi classificado e depois enviado para usinas de reciclagem, onde foi derretido e remodelado.
“Temos uma indústria de reciclagem de plástico muito jovem no Quênia. É muito low-tech, mas é bom porque está fazendo uma mercadoria de algo que as pessoas poderiam ver como lixo”, diz Morison.
Tentativa e erro se tornaram as palavras de ordem enquanto a equipe se esforçava para criar o equilíbrio correto de flexão e rigidez nas pranchas de plástico. O mestre artesão Ali Skanda liderou a equipe de construção de barcos, esculpindo as pranchas com a destreza e habilidade que fizeram seu trabalho ser exibido em vários museus. Skanda vem de uma família de carpinteiros e construtores de veleiros em Lamu, cujas raízes remontam aos primeiros colonos que chegaram à ilha em 1.300.
O uso de chinelos foi uma escolha óbvia para Morison e sua equipe, que inclui o líder do projeto, Dipesh Pabari, e o engenheiro de design Leonard Schurg.
“Cerca de 3 bilhões de pessoas no planeta Terra usam ou possuem chinelos. Eles são o tipo mais onipresente de calçado. São usados ​​por negros, brancos, pessoas da Austrália à América do Norte. Eles cruzam barreiras linguísticas e barreiras de idade. Eles são um conector brilhante”, diz Morison.
O Flipflopi é o capítulo mais recente do esforço do Quênia para se tornar um líder global em lidar com a poluição por plástico. Em agosto de 2017, o país introduziu a mais dura proibição de sacolas plásticas do mundo, com qualquer pessoa produzindo, vendendo ou usando um saco plástico correndo o risco de prisão de até quatro anos ou multa de 40 mil dólares.
A proibição queniana inspirou outros países africanos — incluindo Uganda, Tanzânia, Burundi e Sudão do Sul — a pensar em seguir o exemplo. Ruanda já baniu as sacolas plásticas em 2008.
Morison situa seu projeto diretamente neste contexto de liderança africana em um problema global. “Nosso objetivo sempre foi demonstrar a outras pessoas como você pode usar algo como plástico de uma maneira realmente valiosa. Nós podemos fazer o que quisermos com este barco. Podemos transportar cargas, turistas”, diz ele.
Esta não é a primeira vez que resíduos plásticos são usados ​​para fazer barcos — embora seja a primeira vez que um veleiro tenha sido construído com plástico. Em agosto, ativistas ambientais lançaram um barco feito quase inteiramente de lixo plástico reciclado no rio Tâmisa, em Londres. O barco “PET Project” será usado para coletar lixo plástico do rio. E um cineasta italiano navegou em uma jangada de 1 mil contêineres de plástico em Ischia, na costa de Nápoles, para destacar o problema da poluição por plásticos marinhos.
Morison sabe que poderia simplesmente ter encomendado pranchas de plástico recicladas de outro país, mas acredita que comunidades como as da costa do Quênia precisam de formas viáveis ​​e sustentáveis ​​de reutilizar e reciclar plásticos.
“Para que isso seja significativo, tinha que ser um projeto queniano. Tinha que ser limitado a seu meio ambiente e ser realizável. Tudo o que fizemos é escalável. Isso pode ser feito em ambientes com poucos recursos.”
À medida que as economias emergentes se desenvolvem na África e no Sudeste Asiático, mais pessoas estão tendo acesso ao estilo de vida consumista e descartável dos países mais ricos. Sessenta por cento de todo o plástico que acaba nos oceanos do mundo vêm de apenas seis países da Ásia.
“O consumo responsável de plástico será definido por populações em ambientes de consumo emergentes. Esses não são consumidores que estão ouvindo (o apresentador e ativista britânico) David Attenborough. Nosso objetivo era encontrar uma maneira de comunicar e inspirar essas pessoas”, declara Morison, notando a injustiça pungente inerente em apontar o dedo para as nações emergentes.
“Tivemos 40 anos de ganância com esse recurso maravilhosamente útil (nos países mais ricos) e, se eu estivesse na classe emergente do Quênia, pensaria em por que não deveria ser permitido usar essas coisas? Eu me sentiria zangado. Por isso, penso que é importante comunicar como africanos com os nossos pares e outras pessoas nestes ambientes”, diz ele.
A dimensão global do problema foi claramente ilustrada pelo plástico recolhido pelos voluntários durante o projeto Flipflopi. Moradores e ambientalistas da cidade de Shela, crianças em idade escolar, grupos de mulheres e funcionários da indústria do turismo ajudaram a coletar os resíduos das praias e outros locais ao redor da costa.
“Você olha para o rótulo de uma garrafa ou para um chinelo e está em tailandês. Peguei uma garrafa de dois litros de água da Malásia, ao norte de Lamu”, diz Morison. Testemunhar a proveniência do lixo plástico o tornou ainda mais determinado a perseguir seu sonho de construir um barco maior, mesmo que o preço estimado de 500 mil dólares seja um desafio assustador.
A equipe da Flipflopi é voluntária, com apenas os construtores de barcos sendo pagos. A equipe arrecadou cerca de 11 mil dólares em doações, mas gastaram mais. Morison espera que seu sucesso até agora lhes permita garantir patrocínio para, eventualmente, construir um barco maior.
O Flipflopi deve chegar a Zanzibar por volta de janeiro do próximo ano, dependendo dos ventos favoráveis. É quando Morison acredita que a verdadeira aventura começará.
“Estou entusiasmado por poder chegar a Zanzibar e espero espalhar essa idiea para a Tanzânia”, diz ele. “A realidade é que o que fizemos é muito simples. É apenas se atrever a sonhar. (…) Você só precisa ter uma ideia e ser criativo.”
Fonte: ONU

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A razão pela qual amamos abelhas e odiamos marimbondos.

AS PESSOAS ASSOCIAM AS ABELHAS COM O "MEL", "FLOR", "POLINIZAÇÃO". JÁ OS MARIMBONDOS COM "FERRÃO", "IRRITANTE", "PERIGOSO".

Que os marimbondos têm uma má reputação entre nós, isso não é novidade.
Em uma pesquisa, feita pela universidade britânica UCL (University City of London), com 750 pessoas de 46 países, foi detectado que os marimbondos, conhecidos por suas dolorosas picadas, estão entre os insetos mais odiados.
Para se chegar a esta conclusão, os pesquisadores perguntaram aos participantes quais eram os insetos que eles menos gostavam e os que mais gostavam, listando-os por ordem de preferência e pontuando-os em uma escala de -5 a +5. As notas mais negativas representavam um sentimento mais negativo em relação ao inseto e as mais positivas, o contrário.
Grande parte das pessoas que participaram da pesquisa categorizou as abelhas com nota acima de 3, enquanto os marimbondos receberam notas abaixo de -3 pela maioria.
As pessoas associam as abelhas com o “mel”, “flor”, “polinização”. Já os marimbondos com “ferrão”, “irritante”, “perigoso”.
Os marimbondos têm grande importância para o meio ambiente. São responsáveis pelo transporte dos grãos de pólen das flores e por matar pragas. Mas, infelizmente, não há pesquisas o suficiente que falem dos impactos positivos destes insetos ao meio ambiente. E isso contribui para que eles continuem com esta má fama.
Ao analisar estudos publicados ou divulgados sobre abelhas e marimbondos desde 1980, nota-se que 97,6% das pesquisas tratam sobre as abelhas.
A ausência de estudos tem retardado as estratégias de conservação dos marimbondos, cujos números estão reduzindo devido à perda de habitat e mudanças climáticas, de acordo com Alessandro Cini, da Universidade de Florença, que participou do estudo.
Fonte: BBC
Veja a reportagem completa em:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-45571821

sábado, 22 de setembro de 2018

ONU Meio Ambiente mobiliza escoteiros em campanha Mares Limpos.

Em parceria com a ONU Meio Ambiente e o Movimento Menos 1 Lixo, os Escoteiros do Brasil se engajam pelo segundo ano consecutivo em um projeto de cuidado com os oceanos, incentivando lobinhos, sêniores, escoteiros e pioneiros a reduzirem o consumo de plástico por meio do “Desafio Menos 1 Lixo/Mares Limpos”.

Campanha Mares Limpos visa combater poluição dos oceanos causada pelo consumo e produção de plástico. Foto: ONU Meio Ambiente/Shawn Heinrichs


Entre os dias 29 de setembro e 8 de dezembro, membros juvenis dos Escoteiros do Brasil de todo o país poderão participar do desafio para conquistar a Insígnia Mares Limpos.

Em parceria com a ONU Meio Ambiente e o Movimento Menos 1 Lixo, os Escoteiros do Brasil se engajam pelo segundo ano consecutivo em um projeto de cuidado com os oceanos, incentivando lobinhos, sêniores, escoteiros e pioneiros a reduzirem o consumo de plástico por meio do “Desafio Menos 1 Lixo/Mares Limpos”.

Em 2017, 3.350 escoteiros receberam a Insígnia Mares Limpos após reduzirem significativamente seu consumo cotidiano de itens de plástico descartável como sacolas, copos, talheres, canudos e garrafas PET.

Segundo o relato de muitos deles, foi realmente um desafio recusar os descartáveis e convencer a família a mudar seus hábitos. Alguns grupos de escoteiros participantes relataram experiências que demonstram a resistência da sociedade em mudar.

Os jovens relataram certo desconforto em serem diferentes dos demais ao recusar o plástico ou usar alternativas em locais públicos, e também a dificuldade em obter a compreensão dos outros (atendentes, adultos) sobre sua opção. Por outro lado, o depoimento de vários participantes apontou que a princípio parecia muito difícil evitar o uso de plásticos, mas após algumas semanas acabaram descobrindo que é muito mais fácil do que parece.

Para conseguir a insígnia, os escoteiros deveriam definir o tipo de plástico descartável que iriam deixar de consumir e registrar, toda semana, quantos acabaram usando. O Padrão Ouro só foi alcançado com o consumo máximo de um item por semana.

O sucesso da primeira edição do desafio levou a União dos Escoteiros do Brasil a reeditar a competição. Porém, neste ano a obtenção das insígnias ficou mais difícil:

• Padrão Bronze – de 1 a 3 itens utilizados semanalmente (média geral do período de 10 semanas)

• Padrão Prata – menos de 1 item utilizado semanalmente (média geral do período de 10 semanas)

• Padrão Ouro – menos de 1 item utilizado semanalmente (média geral do período de 10 semanas) e uma atividade para combater a poluição plástica.

A realização de uma atividade “zero plástico” é o diferencial deste ano para obter a insígnia Padrão Ouro. O escoteiro terá que escolher entre promover uma festa para mais de 30 convidados sem utilizar nenhum plástico descartável ou uma campanha de conscientização sobre a importância da redução do consumo de plásticos descartáveis em sua escola, instituição religiosa, clube ou academia por, pelo menos, um mês, e que alcance mais de 300 pessoas.

A resolução que regulamenta a Insígnia Mares Limpos, bem como a explicação do Desafio, está publicada e pode ser conferida no documento: https://www.escoteiros.org.br/wp-content/uploads/2018/08/resolucao-mares-limpos-2808-1.pdf.

A segunda edição do Desafio Menos 1 Lixo/Mares Limpos conta novamente com o apoio da ONU Meio Ambiente e da Defensora Mares Limpos, Fe Cortez, idealizadora do projeto Menos 1 Lixo, que promove o consumo consciente.

Semana Mares Limpos de Limpeza de Praias

A campanha Mares Limpos está cadastrando ações de limpeza de praias programadas para o período entre os dias 15 e 23 de setembro, que ficará conhecida como a #SemanaMaresLimpos de Limpeza de Praias.

As inscrições podem ser feitas por meio do link www.bit.ly/CadastroSemana2018_v2. Os grupos inscritos receberão um kit da campanha com cartilha de orientações sobre como realizar o clean up, fichas de catalogação do lixo encontrado e material da campanha para impressão (logo, cartazes), e serão convidados a participar de um projeto de reciclagem de tampinhas.

As informações sobre o lixo coletado em cada ação serão contabilizadas e farão parte do panorama nacional sobre o lixo no mar, subsidiando a elaboração do Plano Nacional. A metodologia de coleta de dados foi elaborada pelo Instituto Ecosurf.

Fonte: ONU Meio Ambiente

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

O país que conseguiu recuperar um ‘mar’ que havia sido extinto.

O Mar de Aral está trazendo novas riquezas para vilarejos de pescadores no Cazaquistão, mas, na costa oposta, no Uzbequistão, a situação é bem diferente (Crédito: Taylor Weidman)
“Costumávamos fazer nossos próprios anzóis e depois ficávamos pescando à beira mar”, relembra Zhasekenov, atualmente com 58 anos. “Pescávamos peixes pequenos e grandes; alimentávamos gatos e cachorros para nos divertir”, completa.
Mas, quando Zhasekenov tinha 17 anos, uma tragédia aconteceu. Os níveis de água do Mar de Aral começaram a cair, enquanto a salinidade subiu rapidamente. Como resultado, todos os peixes que viviam ali morreram.
Ele lembra que um dos momentos mais difíceis foi quando teve de passar a comprar peixe para as refeições diárias de sua família.
“Não sabíamos como comprar peixe porque tínhamos nos habituado a pescá-los”, diz. “Na primeira vez que fui ao mercado para comprá-lo, fiquei com uma sensação muito ruim.”
No extremo oposto dali, no Uzbequistão, Marat Allakuatov, 47 anos, diz que tinha cinco ou seis anos quando viu navios no mar pela última vez.
Allakuatov morava em Moynaq, uma movimentada cidade na parte sul do Mar de Aral. Ali, o fundo do mar secou completamente. Só restam agora imensos depósitos de sal e redes de pesca abandonadas. A economia local evaporou junto com a água.
“Como o mar desapareceu, as pessoas que permaneceram lá ficaram desempregadas”, diz Allakuatov. Ele agora trabalha em um hotel em Nukus, capital da república do Caracalpaquistão, uma região autônoma do Uzbequistão que engloba Moynaq. “A geração mais velha perdeu as esperanças no futuro.”
Não há mais água na parte sul do Mar de Aral, no Uzbequistão; apenas destroços de navios (Crédito: Taylor Weidman) Não há mais água na parte sul do Mar de Aral, no Uzbequistão; apenas destroços de navios (Crédito: Taylor Weidman)
Sem qualquer fonte de sustento, as comunidades das quais esses dois homens fizeram parte em extremos opostos do mar enfrentaram tragédias parecidas nos anos 90.
Mas, duas décadas depois, hoje se encontram em situações completamente diferentes. O Mar do Norte de Aral, no Cazaquistão, foi revitalizado. Junto com a água, veio o desenvolvimento econômico em Aralsk.
á o Mar do Sul de Aral, no Uzbequistão, está praticamente seco.
Mas como as duas cidades tiveram destinos tão diferentes?
Antiga fábrica de conservas de peixe em Moynaq, anteriormente próspero centro de pesca, em ruínas (Crédito: Taylor Weidman)

Renascimento das águas

Estendendo-se por mais de 67 mil km², o Mar de Aral já foi o quarto maior lago de água doce do mundo.
Mas as políticas agrícolas imprudentes da União Soviética nos anos 50 levaram a água de dois rios – o Amu Darya e o Syr Darya – a ser desviada para irrigar as estepes do deserto da Ásia Central.
O objetivo era aumentar a produção de algodão. Como consequência, os níveis de água caíram e as populações de sargos, carpas e outros peixes de água doce, outrora abundantes, foram dizimadas.
Hoje, o mar é um décimo do seu tamanho original e quase se dividiu em dois. Imitando a forma de um número oito fragmentado, o Mar do Norte de Aral – a metade superior do corpo de água – fica no Cazaquistão. Já o Mar do Sul de Aral, que consiste em uma faixa de água no oeste e uma bacia seca no leste, se localiza no Uzbequistão.
Do outro lado do mesmo mar, cidade cazaque de Aralsk passou por destino muito diferente (Crédito: Taylor Weidman)
Na década de 1990, os dois corpos de água pareciam fadados a destinos semelhantes. Mas isso mudou quando o Banco Mundial entrou em cena com um projeto de resgate de US$ 87 milhões (R$ 355 milhões em valores atuais) no Cazaquistão.
O plano incluiu a construção de um dique de 12 km de comprimento ao longo do canal estreito que liga as duas partes, com o objetivo de reduzir a quantidade de água que jorra para o Mar do Sul. Melhorias nos canais existentes do rio Syr Darya, que corre para o norte a partir das montanhas Tian Shan, no Cazaquistão, também ajudaram a impulsionar o fluxo de água para o Mar do Norte de Aral.
Concluída no verão de 2005, a barragem de Kokaral – como o dique é conhecido – superou as expectativas do Banco Mundial, levando a um aumento de 3,3 m nos níveis de água em apenas sete meses, contra os dez anos calculados anteriormente por especialistas.
“Naquela época, não esperávamos um fluxo de água tão grande. Foi surpreendente”, diz Masood Ahmad, líder da equipe do Banco Mundial que preparou e avaliou o projeto em 2001.
O renascimento do Mar do Norte de Aral impulsionou o retorno da indústria pesqueira em Aralsk. Em 2006, a produção anual de peixe totalizou 1.360 toneladas, principalmente solhas – uma espécie de água salgada de que os cazaques não gostam.
Em 2016, a Unidade de Inspeção de Peixes de Aralsk registrou 7.106 toneladas de peixes à medida que as espécies de água doce retornaram, incluindo o lúcio – valioso para os pescadores locais – sargos e bagres.
Talvez surpreendentemente, o governo cazaque tenha desempenhado um papel fundamental nesse processo de recuperação.
“A maioria dos governos costuma priorizar a geração de renda, como melhorar a irrigação para aumentar a produção agrícola ou o manejo da água, de forma a abastecer as cidades”, diz Ahmad.
“Melhorias ambientais e ecológicas são a última coisa a que os governos dão prioridade, mas os cazaques fizeram isso”, acrescenta.
O dique de 12 km do Cazaquistão salvou parte do Mar do Norte de Aral – conectando-o ao Mar do Sul de Aral (Crédito: Taylor Weidman)

Mudança de carreira

Para Aldanbek Kerinov, de 27 anos, o retorno da pesca ao Mar do Norte de Aral permitiu-lhe mudar de carreira. Taxista havia sete anos, ele ganhava cerca de 3 mil a 5 mil tengues (moeda do Cazaquistão) por dia (de R$ 32 a R$ 54).
Agora, ele trabalha com seus dois irmãos no lago. Durante o inverno, em fevereiro, eles pescam cerca de 20 kg diários de lúcio-poleiro com suas redes submersas sob a superfície congelada do Mar de Aral. Extremamente popular entre os cazaques, o peixe é vendido por cerca de 650 tengues (R$ 7) o quilo para processadoras de alimentos e outros compradores.
“No inverno, às vezes, pescamos o equivalente a 50 mil tengues (R$ 533,70) por pessoa”, explica Kerinov. “Ou seja, 150 mil tengues (R$ 1,6 mil) para nós três. Preferimos pescar do que dirigir o táxi”, destaca.
Kerinov era muito novo para ter visto a água do mar batendo contra o deque do porto de Aralsk. A costa se localiza a cerca de 20 km da cidade, ou duas horas de carro através da neve espessa do inverno.
“Sonhamos com o dia em que o mar chegará a Aralsk, daí não precisaremos dirigir tanto”, diz Kerinov. “Todos os dias, pescaríamos apenas da porta da nossa casa.”
Segundo Ahmad, essa é uma possibilidade real. Devido à melhoria do fluxo de água no rio Syr Darya, cerca de 2,7 bilhões de metros cúbicos de água por ano transbordam da barragem de Kokaral e jorram para a parte sul do mar.
Graças à revitalização do Mar do Norte, o setor de pesca de Aralsk renasceu (Crédito: Taylor Weidman)
“Mas esse volume excedente que transborda evapora e se perde”, diz ele. “Não tem tanto valor ecológico ou benefício. Desde que a represa de Kokaral foi construída em 2005, mais de 30 bilhões de metros cúbicos jorraram do norte do Mar de Aral para o sul.”
Aumentar o tamanho dos diques em mais quatro metros ajudaria a manter mais 15 bilhões de metros cúbicos de água no Mar do Norte de Aral, acrescentou ele. Isso estenderia a área coberta pelo mar, atualmente em 800 km², por outros 400 km².
“Aumentaria em 50%”, diz Ahmad. “Isso levará cerca de quatro, cinco anos.”
Tal projeto foi apresentado como parte de uma segunda fase do plano do Banco Mundial, mas está engavetado. Segundo o Banco Mundial, ainda falta a aprovação do governo do Cazaquistão.
Do outro lado da fronteira no Uzbequistão, a história é muito diferente.
Embora o Banco Mundial tenha trabalhado em alguns projetos para restaurar os lagos existentes ao redor do Mar do Sul de Aral, como o Lago Sudoche, o sucesso foi menor.
Produção de peixes aumentou em Aralsk
O principal obstáculo parece ser a demanda dos uzbeques por água, já que o rio Amu Darya é usado para fins agrícolas e, por essa razão, não tem fluxo suficiente para encher o Mar do Sul de Aral.
A crescente dependência da produção de algodão para movimentar a economia local também prejudicou as tentativas de recuperação. De 1930 a 1990, o Uzbequistão forneceu mais de dois terços do algodão produzido na União Soviética. O país ocupava o quinto lugar entre os 90 maiores produtores de algodão do mundo e foi o segundo maior exportador de fibra dessa matéria-prima para os EUA.
Hoje, o Uzbequistão ainda é o quinto maior exportador de algodão do mundo depois de EUA, Índia, Brasil e Austrália.
Água voltou ao Mar de Aral, mas pescadores ainda têm de dirigir 20 km para trabalhar (Crédito: Taylor Weidman)
“O governo poderia ter recuperado o Mar de Aral do Sul, mas, para isso, acabaria desempregando milhares de agricultores”, diz Ahmad. “Você não pode abrir mão do que gera renda para o seu país”, acrescenta.
Em 2015, a bacia oriental do Mar do Sul de Aral secou completamente e a água nunca retornou.
“É uma pena”, lamenta Allakuatov. “Acho que a situação econômica é mais prioritária agora do que manter a água, a natureza ou o meio ambiente”.
Em Moynaq, no Uzbequistão, que já teve uma próspera indústria pesqueira, a história tem sido muito diferente (Crédito: Taylor Weidman)

Tempestades de sal

Ainda há empregos disponíveis em Moynaq. O leito oceânico seco proporcionou novas oportunidades para as empresas de gás natural que esperam explorar os recursos localizados no subsolo.
Mas, embora a situação tenha permitido a essa nova indústria manter o desemprego sob controle, também gerou novos temores entre os moradores da cidade.
A falta de água afetou o clima da região, alterando a temperatura e o regime de chuvas. O leito marinho exposto também contém muito sal e sedimentos, enquanto o uso de fertilizantes pelos produtores de algodão ao longo das décadas fez com que substâncias químicas nocivas se concentrassem no solo.
Revitalização da parte sul do Mar de Aral tem sido complicada por causa de necessidade da água para irrigação de algodão (Crédito: Taylor Weidman)
Em dias de ventos fortes, tempestades de poeira sufocantes se formam, atingindo vilarejos do entorno. Estudos associaram a exposição regular a essa poeira ao aumento de doenças respiratórias em pessoas que moram nas proximidades.
“Há poeira saindo do leito do Mar de Aral, então, esse sal está se espalhando por toda parte – não apenas no território de Caracalpaquistão, mas também no noroeste do Turcomenistão”, diz Allakuatov. “As pessoas estão sofrendo por causa desse excesso de sal.”
Do outro lado da fronteira, em Aralsk, o mar continua tendo papel central na vida de Zhasekenov. Como diretor do Museu Regional de Aralsk e do Museu dos Pescadores – posto que herdou de seu falecido pai – Zhasekenov conhece toda a história do mar e sonha com o retorno da água ao antigo porto, onde seu museu está localizado.
Poeira, sal e produtos químicos que brotam do leito oceânico seco do Mar de Aral estão causando problemas de saúde para os moradores locais (Crédito: Taylor Weidman)
Por enquanto, ele diz estar feliz porque o regresso do Mar do Norte de Aral lhe permitiu reviver alguns de seus antigos passatempos. E permanece otimista de que o mar voltará à glória de outrora.
“Hoje, se pegar um atalho, o mar está a apenas 14 km de distância e poderei chegar na casa de alguns pescadores. Lá, os eles nos darão alguns peixes. Isso me faz lembrar da minha infância”, diz.
“Acredito que vou ver a água no porto novamente”, conclui.
Fonte:  BBC