Oito espécies de pássaros são consideradas extintas, sendo cinco nativas do Brasil.
Uma revisão dos dados sobre as espécies de pássaros mais ameaçadas do planeta recomenda que a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) reclassifique sete delas de “criticamente em perigo” para “extintas” ou “possivelmente extintas”. Entre elas estão quatro aves nativas do Brasil: o gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti), o limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), o caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum) e a arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus), além da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), famosa pelo filme “Rio”, que foi reclassificada para “extinta na natureza”.
A nova avaliação levou oito anos para ser concluída e foi realizada por pesquisadores da BirdLife International, responsável pela classificação de aves na Lista Vermelha da IUCN, com 61 espécies que eram listadas como “criticamente em perigo”. Além dos pássaros brasileiros, foram reclassificados o Poo-uli (Melamprosops Phaeosoma, agora considerado “extinto”), nativo do Havaí; o javan lapwing (Vanellus macropterus, “possivelmente extinto”), natural dos rios de Java em Sumatra e no Timor; e o New Caledonian lorikeet (Charmosyna diadema, “possivelmente extinto”), endêmico da Nova Caledônia.
Estas são as primeiras extinções de pássaros do século, que elevam para 187 o número conhecido de aves extintas ou possivelmente extintas desde 1.500. A reavaliação foi a primeira a quantificar três fatores reunidos: a intensidade de ameaças à espécie, o tempo e a confiabilidade dos registros e o tempo e a confiabilidade dos esforços de busca. As recomendações serão debatidas por especialistas no Fórum de Espécies Globalmente Ameaçadas da BirdLife e encaminhadas para a IUCN, que atualizará o status das espécies na Lista Vermelha em 2019.
Pedro Develey, diretor executivo da ONG Save Brasil, braço da BirdLife International, explica que as cinco espécies reclassificadas pela BirdLife International já eram consideradas extintas pelo governo brasileiro. Para a ararinha-azul ainda existe esperança, pois existem cerca de 170 indivíduos em criadouros espalhados pelo mundo. Em junho, o governo federal anunciou a criação da Área de Proteção Ambiental da Ararinha Azul e o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha Azul, ambos na Bahia, para um projeto de reintrodução da espécie.
“O Ministério do Meio Ambiente declarou essas espécies extintas em 2014. Na época, muita gente considerou a ação precipitada, mas nesses quatro anos muita gente foi ao campo procurar essas aves e ninguém encontrou. A BirdLife foi mais comedida, porque a decretação da extinção significa o fim dos esforços de conservação”, explicou Develey. “A ararinha-azul ainda podemos salvar, mas as outras nem em cativeiro existem mais. A extinção é para sempre”.
A perda dessas espécies deve servir de alerta, afirma Develey, que aponta outras duas aves brasileiras em situação crítica. A choquinha-de-Alagoas (Myrmotherula snowi) tem menos de 30 indivíduos, a maior parte na Estação Ecológica de Murici. Situação ainda mais crítica enfrenta a rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis), que tem entre 16 e 20 indivíduos concentrados numa reserva da Save Brasil na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais.
“O básico nós já estamos fazendo, que é a proteção do habitat. Agora, estamos pensando em técnicas de manejo direto, como o plantio de árvores que eles mais gostam, a colocação de caixinhas para ninhos e até mesmo a reprodução em cativeiro”, contou Develey. “Ainda há esperança. Nós perdemos cinco espécies, mas ainda existem 1.919 espécies conhecidas no país, com tempo, vontade e conhecimento para a conservação”.
Saiba mais sobre as espécies extintas:
Arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus)
Essas aves habitavam regiões da Argentina, do Paraguai, do Uruguai e do Brasil, mas a caça e a derrubada de palmeiras que as alimentavam para o avanço da agricultura restringiram a espécie ao Paraguai. O último avistamento aconteceu em 1998.
Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii)
Famosa pelo personagem principal do filme “Rio”, a ararinha-azul já era conhecida dos comerciantes de aves silvestres antes de qualquer população selvagem ser descoberta pela ciência. Por isso, existem coleções em criadouros internacionais, mas na natureza, o último exemplar foi avistado em 2000. A destruição do seu habitat, a caatinga, somada à caça para o tráfico, contribuíram para o seu desaparecimento. Em 2016, um indivíduo foi avistado em matas da cidade de Curaçá, possivelmente libertado do cativeiro por algum morador local.
Gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti)
A espécie era da mesma família do joão-de-barro, natural de florestas de Mata Atlântica do nordeste. Era encontrado em apenas duas áreas: Murici, em Alagoas, e na Reserva particular do patrimônio natural Frei Caneca, em Pernambuco. Com a fragmentação das florestas nessas regiões, derrubadas para extração de madeira ou para o avanço de pastagens e da agricultura, o pássaro não é visto desde 2007.
Caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum)
O caburé-de-pernambuco era uma pequena coruja que se alimentava de insetos, com cerca de 15 centímetros de altura, que vivia no estado de Pernambuco. As causas da extinção foram a caça e o desaparecimento de seu habitat pela extração ilegal de madeira. O último avistamento aconteceu em 2002.
Limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi)
A ave também habitava a Mata Atlântica do Nordeste, e desapareceu devido à fragmentação do seu habitat. Muito associado a bromélias, o pássaro marrom do tamanho de um palmo vivia no alto das florestas. O último registro aconteceu na Serra do Urubu, em Pernambuco, em 2011.
Fonte: Agência O Globo
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