Moçambique: Moradores em protesto paralisam mina da Vale em Moatize.
No dia 4 de outubro, após várias tentativas fracassadas de negociação com a mineradora Vale, um grupo de residentes de Nhanchere, no Bairro Bagamoio, invadiu a mina Moatize II, obrigando a empresa a paralisar as suas atividades.
“Estamos cansados. Dia após dia temos que gerir poeiras nas nossas casas e já reclamámos várias vezes e não somos ouvidos”, diz António Sinalo, um dos manifestantes.
Os moradores de Nanchere afirmam que as actividades da mineradora só poderão ser retomadas depois do reassentamento das famílias que vivem nas proximidades da mina.
Moradores de Nhanchere invadiram mina a céu aberto.“Depois de nos ter reassentado podem voltar a funcionar, queremos mandar parar para sempre, se eles negam nos reassentar, nós vamos prometer queimar as máquinas”, garante Sinalo.
Autoridades “comem com a Vale”
Maxwell Abreu também mora em Nhanchere. Além da Vale, aponta o dedo ao Governo, que acusa de passividade. “A Vale faz e desfaz aqui no distrito de Moatize”, afirma. “Quando vamos à empresa ela diz para irmos ao Governo e o Governo nada faz, nunca agiu. Está bem claro que os representantes do governo do distrito comem com a Vale”.
Maxwell Abreu queixa-se da poeira provocada pelos trabalhos na mina: “Está próxima das casas e a matar-nos”, sublinha.
Mas, além da poluição ambiental, os moradores queixam-se da poluição sonora e fissuras provocadas nas residências na sequência do estremecer da terra devido aos explosivos usados pela Vale.
Polícia e representantes da Vale tentam dissuadir manifestantes na mina Moatize II.“A minha casa está se separando, quem vai pagar por aquilo?”, pergunta António Sinalo.
Organizações da sociedade civil apoiam protesto
A Coligação Cívica sobre a Indústria Extractiva, uma plataforma de organizações da sociedade civil de advocacia e monitoria deste sector económico, declarou o seu apoio à comunidade de Moatize.
Em conferência de imprensa, esta quarta-feira (17.10), a porta-voz do grupo, Fátima Mimbire, afirmou que o protesto dos moradores é legítimo “por ser consequência directa da inércia das autoridades e das responsabilidades corporativas da empresa”.
“Estamos solidários com as comunidades e recomendamos que as instituições competentes ajam em relação a esse caso e que sejam mais interventivas no controlo e monitoria das actividades mineiras”, diz Fátima Mimbire.
A direcção da mineradora reconhece as reivindicações dos moradores. Numa entrevista à STV, canal de televisão privado moçambicano, uma representante da empresa admitiu que a Vale conhece o problema: “Infelizmente, desde o início da nossa operação, sabíamos que a questão da poeira seria desafiadora”.
Desde a abertura da mina a céu aberto, em 2016, já foram reportados vários incidentes. Num dos casos, a mineradora vedou áreas que anteriormente eram usadas pela população para pastagem de gado e busca de lenha.
No ano passado, os moradores de Nhanchere saíram à rua exigindo a remoção da vedação, uma acção que foi repelida pela Polícia da República de Moçambique que acabou atingindo mortalmente um jovem.
Fonte: Deutsche Welle
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