quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Alemanha marca data para abandonar energia de carvão mineral.

Após uma maratona de negociações de 21 horas que se estendeu até a madrugada deste sábado (26/01), uma comissão indicada por Berlim deliberou que até 2038 a Alemanha deve deixar inteiramente de produzir energia a partir de carvão mineral.

A decisão visa reduzir as emissões nacionais de gases do efeito estufa, prejudiciais ao clima. Atualmente o país deve 40% de sua eletricidade a esse combustível fóssil e não conseguiu cumprir as metas estabelecidas no Acordo do Clima de Paris.
Durante as deliberações da comissão formada por 28 representantes da indústria, sindicatos, instituições científicas e grupos ambientalistas, os dois principais pontos de discórdia eram considerações financeiras e a data exata para o abandono do carvão.
As companhias de energia insistiam em compensações para evitar um aumento do preço da eletricidade, enquanto as regiões mineiras alemãs exigiam comprometimentos que lhes permitam contornar a consequente reviravolta estrutural. O plano inclui garantias para essas instâncias envolvidas, assim como certo grau de alívio financeiro aos consumidores.
Como membros da “comissão do carvão” informaram à agência de notícias Reuters, durante os próximos quatro anos operadoras de usinas elétricas como a RWE e a Uniper deverão reduzir sua capacidade em cerca de 12 gigawatts, o equivalente a 24 grandes unidades de eletricidade.
Ainda segundo a Reuters, 40 bilhões de euros seriam reservados à fase de transição. Para críticos, contudo, isso significará o governo iria investir somas gigantescas para praticamente comprar todo um setor de energia, com o fim de extingui-lo. O plano ainda necessita da aprovação formal do governo federal e dos diferentes estados alemães responsáveis por sua implementação.
O acordo deste sábado marca a segunda intervenção importante no mercado energético alemão em uma década. A outra foi a de fechar todas as usinas nucleares até 2022, em reação ao desastre de Fukishima, no Japão, em 2011.
Há anos grupos ligados ao Partido Verde vinham exigindo o abandono do carvão mineral. Segundo uma enquete divulgada na sexta-feira pela emissora de direito público ZDF, a iniciativa conta com o apoio de quase três quartos da população alemã.
Fonte: Deutsche Welle

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

MP instaura inquérito e Inea coleta amostras após praias do ‘Caribe brasileiro’ ficarem escuras.

O Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro (MPRJ) instaurou inquérito para apurar o rompimento de uma tubulação que provocou o avanço de material escuro pelas principais praias de Arraial do Cabo, conhecida como o ‘Caribe brasileiro’. As águas cristalinas ganharam coloração esverdeada e ficaram impróprias para o banho, pegando muitos turistas de surpresa.
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) coletou amostras na Prainha, na praia dos Anjos e na praia do Forno nesta terça-feira (29). O resultado, que vai dizer se a água está contaminada, deve sair na sexta (1º). Ainda nesta terça, as Prainhas do Pontal do Atalaia, de cenário paradisíaco, também ficaram com as águas escuras. O Inea informou que o local também será inspecionado nesta quarta (30).
“A gente vem, realmente esperando que vai ter aquela água azulzinha, toda limpinha. Aí chega tá tudo preto, tudo estranho, não gostei muito não”, disse a turista vinda de Petrópolis, Nete Carvalho.
O MPRJ disse ao G1 que abriu o inquérito nesta segunda-feira (28) e solicitou esclarecimentos da concessionária Prolagos e da Prefeitura de Arraial do Cabo sobre o problema nas quatro praias da cidade. A Prolagos informou que ainda não foi notificada. O G1 aguarda resposta da Prefeitura sobre a intervenção do MP.
A tubulação da Prefeitura se rompeu na última sexta-feira (25) durante uma forte chuva. A orla da Prainha acabou cedendo e o material escuro invadindo o mar e avançando para as demais praias.
Com o problema, muitos banhistas estão se dirigindo para a Praia Grande, que fica em outro ponto e não foi afetada pelo vazamento.
Equipes da Prefeitura, em parceria com a Fundação do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia realizaram na manhã desta terça a limpeza de lixos, algas mortas e microlixos da Praia do Forno. Um mutirão está previsto para acontecer na Prainha no próximo dia 9 de fevereiro.
Ainda de acordo com a Prefeitura, as praias estão sendo monitorados por equipes da Guarda Ambiental Marítima e Defesa Civil. O acesso às Prainhas do Pontal do Atalaia está liberado, mas a Prefeitura explicou que equipes estão orientando os banhistas a não entrarem na água.
Além do Inea, a concessionária Prolagos também coletou material para análise das águas na tarde desta segunda-feira (28). Disse que fez a coleta a pedido da Prefeitura e que a análise será feita por um laboratório credenciado pelo Inea.
A Prefeitura de Arraial do Cabo informou que, “apesar de não ser possível prever um temporal tão grave, a Prefeitura tem cobrado a concessionária Prolagos, responsável pelo tratamento de esgoto no município, providências para acelerar a realização dos serviços elencados no contrato de concessão assinado em 2016”.
Uma reunião foi realizada no gabinete do Prefeito na manhã desta segunda, e diversas solicitações foram apresentadas à concessionária e também a Agenersa, agência reguladora dos serviços.
A Prefeitura informou ainda que a Secretaria de Serviços Públicos já trabalha na limpeza de toda a rede de drenagem de águas pluviais, desentupimento dos bueiros e manutenção nas áreas em que o asfalto cedeu.
G1 acompanha o caso e aguarda a divulgação dos resultados das análises do Inea e da Prolagos, assim como, o resultado das investigações do Ministério Público.
Fonte: G1

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Fenômenos climáticos extremos atingiram quase 60 milhões de pessoas no mundo em 2018.

Um estudo divulgado nesta semana pelo Centro para a Pesquisa sobre a Epidemiologia dos Desastres (CRED) revela que enchentes, secas, tempestades e incêndios florestais afetaram mais de 57 milhões de pessoas em todas as partes do mundo em 2018. Em resposta à descoberta, o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR) pediu na quinta-feira (24) que países adotem políticas para melhor gerenciar os desafios trazidos por fenômenos climáticos extremos.

Um estudo divulgado nesta semana pelo Centro para a Pesquisa sobre a Epidemiologia dos Desastres (CRED) revela que enchentes, secas, tempestades e incêndios florestais afetaram mais de 57 milhões de pessoas em todas as partes do mundo em 2018. Em resposta à descoberta, o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR) pediu na quinta-feira (24) que países adotem políticas para melhor gerenciar os desafios trazidos por fenômenos climáticos extremos.
A enchentes atingiram o maior número de indivíduos — mais de 35 milhões, dos quais 23 milhões foram afetados somente no estado de Kerala, na Índia. Estima-se que as tempestades tenham sido o tipo de desastre mais custoso do ano passado, mas as perdas econômicas finais ainda não foram completamente compiladas. Os prejuízos causados pelo Furacão Michael, que inundou a costa leste dos Estados Unidos, são estimados, por exemplo, em torno de 16 bilhões de dólares.
O relatório do centro de pesquisa aponta ainda que tsunamis e terremotos foram responsáveis pela maioria de todas as 10.373 mortes registradas em situações de desastres naturais ao longo do ano do passado. Quando consideradas catástrofes que não são associadas ao clima, o número de pessoas afetadas por desastres em 2018 chega a 61,7 milhões.
Mais de 9 milhões de pessoas foram atingidas por secas em todo o mundo, com a população queniana representando um terço de todos os prejudicados. O país africano é seguido por nações da América Central (2,5 milhões de pessoas), incluindo polos de migração, como Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua.
O ano de 2018 foi de recordes para os incêndios florestais, com os EUA testemunhando a sua onda mais mortal de incêndios em um século e também a mais custosa. A Grécia também viu um número sem precedentes de mortos e feridos em meio a incêndios florestais em seu território, com 126 falecimentos.
Mami Mizutori, representante especial do secretário-geral para a Redução do Risco de Desastre, disse que, com o tempo se esgotando para limitar o aquecimento global a 1,5˚C ou mesmo 2˚C, as necessidades de adaptação às mudanças climáticas precisam ser uma prioridade.
A especialista defendeu estratégias para centros urbanos, medidas para impedir novos riscos por meio de um melhor uso da terra, um planejamento mais sólido das regulações, códigos de construção mais fortes e a preservação de ecossistemas protetivos. Mami também ressaltou a necessidade de reduzir a pobreza e tomar ações para diminuir a exposição aos níveis crescentes do mar.
A chefe do CRED, Debarati Guha-Sapir, reconheceu que o impacto humano de todos os desastres, em particular as estiagens e temperaturas extremas, é mal relatado, especialmente em países de renda baixa. Abordagens inovadoras que monitorem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS) precisam ser urgentemente avaliadas pelas agências da ONU adequadas, afirmou.
Fonte: ONU

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Agricultura de ponta da Holanda pode ser chave para alimentar o mundo?

País mais conhecido mundialmente por suas tulipas, a Holanda é o segundo maior exportador agrícola do mundo. Cebolas, batatas e vegetais como tomate, pimentão e pimenta estão entre os produtos mais vendidos.

O cultivo é em grande parte realizado com muito menos água e pesticidas do que a produção feita no solo ou ao ar livre. Muitos agricultores holandeses usam a tecnologia de estufa, chamada “agricultura de precisão”, que alguns na indústria de alimentos do país afirmam ser a mais avançada do mundo.
A moderna agricultura de estufa decolou no país após a Segunda Guerra Mundial, como reação a um dos últimos períodos de fome na Europa. Cerca de 20 mil pessoas morreram no “inverno da fome holandês” durante os últimos meses da ocupação alemã.
Atualmente, a parte mais avançada da tecnologia de estufas do país está na região sul de Westland, onde 80% das terras cultivadas estão sob vidro. Nas grandes estufas de alta tecnologia dos produtores sustentáveis ​​Duijvestijn Tomatoes, as plantas estão cheias de frutos vermelhos, amarelos, verdes e roxos. Nestes espaços altamente controlados, os visitantes são obrigados a usar roupas especiais, por causa da higiene.
“No final, a planta fica com cerca de 13 a 14 metros de comprimento e produzirá cerca de 33 cachos de tomates”, disse à DW Ad van Adrichem, gerente geral da Duijvestijn Tomatoes.
Alcançar tais alturas é importante em um país onde a terra é tão preciosa quanto escassa: a pequena Holanda tem uma das maiores densidades populacionais do mundo. Nas estufas de Westland, uma área que foi recuperada do mar com grande custo e esforço, são cultivados quase 70 quilos de tomates por metro quadrado. Isso equivale a pelo menos dez vezes o rendimento médio de uma plantação em campo aberto na Espanha ou no Marrocos, utilizando oito vezes menos água e praticamente sem pesticidas químicos.
Modo de pensar alternativo
O segredo para o sucesso dos tomates holandeses é que eles são cultivados em pequenos sacos de lã mineral – um material fibroso que também pode ser usado para isolamento térmico ou sonoro.
“Isso permite um controle muito maior”, diz Van Adrichem. “Assim, podemos controlar com muita precisão a quantidade de nutrição necessária e a quantidade de água necessária.”
Mas isso não é tudo. As próprias estufas são um capítulo à parte. A Duijvestijn Tomatoes investiu num revolucionário teto de vidro duplo que conserva mais calor e, graças a revestimentos especiais, difunde a luz que entra, assegurando, assim, que esta também atinja as folhas inferiores das plantas.
A temperatura constantemente aquecida vem de dois poços geotérmicos. O nível de CO2 no qual as plantas se desenvolvem é maior dentro da estufa do que no ambiente externo, chegando por tubulações desde a refinaria de petróleo local. Lâmpadas de LED dentro dessas estruturas de última geração permitem que as culturas continuem a crescer durante a noite.
A água usada é toda vinda da chuva, capturada e armazenada em uma camada subterrânea de areia para uso durante os meses secos. Sempre que aparecem pragas, são trazidos insetos para comê-las. Há até mesmo colmeias de papelão com abelhas para polinização.
No entanto, alguns ecologistas são céticos em relação à nova tecnologia. Herman van Bekkem, do Greenpeace da Holanda, é um deles.
“De fato, vemos exemplos promissores de agricultores fazendo o melhor que podem para reduzir os pesticidas”, diz ele à DW. “Mas se você olhar para os fatos, como as estatísticas para a poluição da água na Holanda, não há outra região mais poluída por pesticidas do que a região das estufas.”
Ele diz que os administradores de água em Westland vêm reclamando há muitos anos das altas quantidades de pesticidas nas águas superficiais.
“Não de nós”, garante Van Adrichem. “Trabalhamos com um circuito fechado de água. Damos às plantas a quantidade exata de água de que precisam e, como os tomates não são plantados no solo, não há escoamento.”
Futuro vertical
Leo Marcelis, professor de horticultura da Wageningen University and Research (WUR), centro que realiza pesquisas para a indústria de alimentos holandesa, diz que as fazendas verticais são o caminho a seguir.
“No futuro, teremos fazendas verticais que serão tão altas quanto edifícios e que só usarão luz artificial”, diz Marcelis, acrescentando que isso fará com que agricultura seja completamente independente do clima e completamente confiável.
Metade dos estudantes da WUR são estrangeiros e quando terminarem seus estudos, muitos levarão essa nova ciência para países da Ásia e da África. O diretor administrativo do WUR Plant Sciences Group, Ernst van den Ende, descreve um projeto de que participa na África, que otimiza a simbiose entre o feijão e uma bactéria capaz de fixar o nitrogênio – nutriente essencial para a planta – a partir do ar.
“Ao otimizar essa simbiose, somos capazes de aumentar os rendimentos sem usar fertilizantes”, afirma Van den Ende. Para ele, a pesquisa da WUR tem por meta impedir que pessoas passem fome, como ocorreu com a geração de seus avós na Holanda.
“Minha avó viajaria 80 quilômetros por um saco de couves-de-bruxelas”, diz. Agora, Van den Ende acredita que a tecnologia que os holandeses estão desenvolvendo poderá alimentar o mundo nos próximos anos.
Fonte: Deutsche Welle

sábado, 26 de janeiro de 2019

A importância das pequenas plantas do Cerrado.

São elas que protegem o solo da erosão e garantem a preservação de mananciais que abastecem rios. Biodiversidade seriamente ameaçada é tema de livro ( foto: livro Plantas pequenas do Cerrado: biodiversidade negligenciada)
“As pessoas só dão valor para aquilo que conhecem.” Foi este pensamento que inspirou a pesquisadora Giselda Durigan a coordenar a empreitada coletiva que resultou no livro Plantas pequenas do Cerrado: biodiversidade negligenciada.
Com 720 páginas, quase todas ilustradas com deslumbrantes fotos coloridas, o livro apresenta um levantamento exaustivo das plantas de pequeno porte, que são o sustentáculo do Cerrado.
Destinada à distribuição gratuita para bibliotecas, institutos de pesquisa e estudiosos, e também disponibilizada em arquivo PDF aberto para todos os interessados, a obra teve sua publicação financiada pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
Durigan, pesquisadora do Instituto Florestal do Estado de São Paulo, explica que a publicação é resultado de quase uma década de trabalho a várias mãos, que se iniciou com uma pesquisa de doutorado sobre o impacto da invasão das fisionomias campestres do Cerrado por árvores de pinus e ganhou corpo ao longo de três outras pesquisas apoiadas pela FAPESP.
Foram elas: “Avaliação do potencial de remanescentes naturais como fontes de propágulos para a restauração de fisionomias campestres de cerrado”; “Invasão do campo cerrado por braquiária (Urochloa decumbens): perdas de diversidade e experimentação de técnicas de restauração”; e “Efeito da queima prescrita e da geada sobre a diversidade e estrutura do estrato herbáceo-arbustivo do Cerrado”.
“Quando nos engajamos nessas pesquisas, percebemos que o grande impacto causado pelas invasões biológicas não se dava sobre árvores, mas sobre as plantas pequenas do campo. E isso constituiu um enorme desafio, porque a nomenclatura e a classificação dessas plantas eram largamente desconhecidas. Eu tinha passado toda a minha vida profissional olhando para cima, para as árvores. Tive, então, que olhar para baixo, e com muito respeito”, disse Durigan à Agência FAPESP.
Professora em programas de pós-graduação em Ciência Florestal na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Ecologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela estuda o Cerrado há mais de 30 anos.
O grupo que coordenou na feitura do livro foi constituído por suas alunas Natashi Aparecida Lima Pilon e Geissianny Bessão de Assis, e por seus colegas Flaviana Maluf de Souza e João Batista Baitello.
“O que chamamos de ‘plantas pequenas’ são espécies que se tornam adultas e capazes de se reproduzir com menos de 2 metros de altura. Foi um critério arbitrário que adotamos. Começamos coletando essas plantas, e inventando nomes provisórios para elas, enquanto corríamos atrás de pessoas que pudessem nos ajudar na identificação”, contou Durigan.
Mas não foi nada fácil encontrar essas pessoas, conta a pesquisadora. Simplesmente, não havia especialistas em plantas pequenas. Foi preciso recorrer a manuais, monografias, livros antigos e ao famoso Dicionário das Plantas Úteis do Brasil, em seis volumes, publicado por Manoel Pio Corrêa no início do século passado.
“Encontramos plantas que nunca tinham sido registradas no Estado de São Paulo e outras que não eram coletadas há várias décadas. Mas não achamos nenhuma espécie nova, desconhecida pela ciência. Todas já tinham seus nomes científicos. Porém, foi uma busca tremenda descobrir os nomes populares. Muitas das plantas que encontramos estavam classificadas como ‘daninhas’ nesses livros antigos, porque a perspectiva adotada era a de quem queria cultivar o Cerrado com pastagens ou agricultura”, disse Durigan.
Um termo curioso encontrado foi o “mata-pasto”, que nomeava nada menos do que sete espécies diferentes, todas elas muito resistentes. Como essas plantas rebrotam inúmeras vezes depois de cortadas, eram consideradas daninhas. E o nome popular que receberam invertia a ordem cronológica, como se o pasto tivesse aparecido antes e as plantas surgissem depois para atrapalhar, quando havia sido exatamente o contrário.
“O que as pessoas não entendiam – e temos feito um esforço enorme para esclarecer – é que essas plantas de pequeno porte são fundamentais para a sobrevivência do Cerrado e da extraordinária riqueza que ele possui em termos de recursos hídricos e biodiversidade”, disse Durigan.
“Fala-se em desmatamento quando ocorre corte de árvores. Mas, se as plantas pequenas são erradicadas, todo o equilíbrio do Cerrado se rompe. E isso está acontecendo sem o menor impedimento porque a legislação não protege a vegetação que não tem árvores. Além disso, essa vegetação nem sequer aparece nos mapas, dadas as limitações tecnológicas para diferenciá-la de pastagens ou agricultura em imagens de satélite”, acrescentou.
Seis plantas pequenas para uma árvore
Durigan destaca que são as plantas pequenas que cobrem o solo, prevenindo a erosão pela chuva ou pelo vento.
“Elas possuem um emaranhado de raízes, facilitando a infiltração da água no solo e garantindo a saúde do ecossistema e a manutenção dos mananciais que alimentam os rios. Para ser savana, o Cerrado precisa possuir as duas camadas: a camada de árvores esparsas a meia altura e a camada de plantas pequenas cobrindo o solo”, explicou.
Segundo os autores do livro, a proporção é de seis espécies de plantas pequenas para cada espécie de árvore. Das 12.734 espécies vegetais que compõem o Cerrado, mais de 10 mil correspondem a plantas pequenas. Elas estão ameaçadas pelo adensamento das copas das árvores, resultante do manejo inadequado, e pela invasão por espécies exóticas, como o pinus e a braquiária.
O objetivo do livro é encantar os leitores com a beleza dessas plantas pequenas. E conscientizá-los acerca da necessidade de sua preservação.
Fonte: FAPESP

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Crescem as leis para proteger o meio ambiente, mas há falhas graves de implementação, diz relatório.

A primeira avaliação global do Estado de Direito Ambiental, divulgada nessa quinta-feira (24) pela ONU Meio Ambiente, mostra que embora o número de leis e agências ambientais tenha aumentado de forma exponencial em todo o mundo nas últimas quatro décadas, a fraca aplicação das leis é uma tendência que está agravando os problemas ambientais.
A primeira avaliação global do Estado de Direito Ambiental, divulgada nessa quinta-feira (24), mostra que embora o número de leis e agências ambientais tenha aumentado de forma exponencial em todo o mundo nas últimas quatro décadas, a fraca aplicação das leis é uma tendência que está agravando os problemas ambientais.
O novo relatório da ONU Meio Ambiente aponta que apesar de um aumento de 38 vezes da legislação ambiental em vigor desde 1972, a incapacidade de implementar e de fazer cumprir essas leis é um dos maiores desafios para mitigar a mudança do clima, reduzir a poluição e evitar a perda generalizada de espécies e habitats, revelou o relatório da ONU Meio Ambiente.
O relatório está sendo publicado em um momento crucial, quando especialistas em clima e lideranças políticas e econômicas buscam enfrentar as devastadoras conclusões publicadas em outubro de 2018 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, órgão das Nações Unidas, que instou ações urgentes para transformar a economia global a uma velocidade e escala “sem precedentes históricos”.
Para o relator especial da ONU sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente, David Boyd, este novo e convincente relatório soluciona o mistério de entender por que problemas como a poluição, diminuição da biodiversidade e mudança do clima persistem apesar da proliferação de leis ambientais nas últimas décadas. “A menos que o Estado de Direito Ambiental seja fortalecido, leis aparentemente rigorosas estão fadadas a falhar e o direito humano fundamental a um meio ambiente saudável não será usufruído.”
Embora a ajuda internacional tenha, de fato, auxiliado dezenas de países a assinar mais de 1,1 mil acordos ambientais desde 1972 e a elaborar muitos dispositivos legais na área ambiental, nem a ajuda nem os orçamentos nacionais levaram ao estabelecimento de agências e órgãos ambientais capazes de aplicar as leis e regulamentos de forma eficaz. Os autores identificam múltiplos fatores para a baixa implementação do Estado de Direito Ambiental, tais como a falta de coordenação entre as agências governamentais, a fraca capacidade institucional, a falta de acesso à informação, a corrupção e o sufocamento do engajamento civil.
“Temos um conjunto de leis, regulamentos e agências para governar nosso meio ambiente de forma sustentável”, declarou Joyce Msuya, diretora-executiva interina da ONU Meio Ambiente. “Agora é essencial que haja vontade política para assegurar que nossas leis trabalhem pelo planeta. Essa primeira avaliação global sobre o Estado de Direito Ambiental ressalta o trabalho daqueles que ficaram do lado certo da história — e de quantas nações se tornaram mais fortalecidas e seguras”, complementou.
O relatório apresenta várias conquistas do direito ambiental desde 1972, inclusive a adoção do direito constitucional a um meio ambiente saudável por 88 países, sendo que outras 65 nações incorporaram a proteção ambiental em suas constituições. Além disso, mais de 350 cortes ambientais foram criadas em mais de 50 países e mais de 60 países contam com dispositivos legais sobre o direito dos cidadãos à informação ambiental.
De acordo com Carl Bruch, diretor de Programas Internacionais do Instituto de Direito Ambiental (Environmental Law Institute), “a comunidade internacional pode fazer mais. Com frequência, o apoio de doadores se concentra em áreas específicas, o que resulta em programas sólidos em algumas áreas ambientais e outras com nenhum financiamento ou atenção. Essa abordagem fragmentada pode minar o Estado de Direito Ambiental ao não fornecer consistência na implementação e aplicação das leis e ao enviar mensagens conflitantes à comunidade regulamentada e ao público. Muitas dessas leis ainda têm que se enraizar na sociedade e, na maioria dos casos, a cultura de conformidade ambiental é fraca ou inexistente.”
O relatório dedica atenção especial a uma tendência particularmente preocupante: a crescente resistência às leis ambientais, que tem sido mais evidenciada nos casos de assédio, ameaças, prisões arbitrárias e assassinatos de defensores ambientais. Entre 2002 e 2013, 908 pessoas — incluindo agentes florestais, inspetores governamentais e ativistas locais — foram mortos em 35 países e, só em 2017, 197 defensores ambientais foram assassinados.
“A criminalização e os crescentes ataques aos defensores ambientais constituem claras violações ao Estado de Direito Ambiental e uma afronta aos direitos, papéis e contribuições dos povos indígenas e da sociedade civil na proteção do meio ambiente. Esse relatório capta a falta de responsabilização, de uma governança ambiental forte e do respeito aos direitos humanos para a sustentabilidade do nosso meio ambiente”, afirmou Joan Carling, ativista de direitos indígenas e defensora ambiental das Filipinas.
O engajamento de uma sociedade civil informada leva à melhor tomada de decisões pelo governo, a ações ambientais mais responsáveis por parte das empresas e a um direito ambiental mais eficaz. A produção periódica de relatórios sobre a qualidade ambiental dos países, inclusive sobre a qualidade do ar e da água, também pode ajudar a atingir essas metas. Infelizmente, de acordo com o Índice de Democracia Ambiental, apenas 20 dos 70 países avaliados, ou seja, 28%, são classificados como sendo “bom” ou “muito bom” na produção de relatórios periódicos, abrangentes e atuais do “Estado do Meio Ambiente”. Na Índia, Tailândia e Uganda, por exemplo, os dados sobre a poluição gerada por instalações industriais só podem ser obtidos por meio de contatos pessoais.
O relatório ainda oferece diversos exemplos de boas práticas, inclusive inovações aplicadas em países em desenvolvimento que muitas vezes enfrentam os mesmos desafios dos países desenvolvidos, mas com menos recursos. A diversidade geográfica desses esforços e inovações reforça dois pontos-chave desse relatório: O desenvolvimento e a promoção do Estado de Direito Ambiental é um desafio para todos os países; é também uma prioridade crescente. Para que as metas de centenas de leis, regulamentos e políticas nacionais que regem o meio ambiente em todo o mundo sejam alcançadas — inclusive a saúde e o bem-estar públicos, economias sólidas e sociedades pacíficas —, é preciso atribuir prioridade máxima ao fortalecimento do Estado de Direito Ambiental.
NOTA PARA EDITORES
Sobre o Programa de Governança Ambiental na ONU Meio Ambiente
Na ONU Meio Ambiente, trabalhamos junto com os países para promover uma governança ambiental inclusiva e eficaz, sustentada por leis e políticas, bem como instituições informadas e fortalecidas. Baseamos esses esforços no Estado de Direito, promovendo uma abordagem baseada em direitos para a gestão ambiental e fortalecendo as capacidades de fazer cumprir a legislação e combater infrações. Também promovemos respostas globais coordenadas e coesivas para questões ambientais urgentes.
Sobre a Iniciativa de Defensores Ambientais
A Iniciativa da ONU de Defensores Ambientais levará a proteção ambiental para mais perto das pessoas, ajudando-as a entender melhor seus direitos e como defendê-los; trabalhando com a mídia para melhorar a cobertura das questões de direitos humanos e ambientais; chamando o setor privado para ir de uma cultura de conformidade para uma onde os direitos ambientais sejam defendidos; e ajudando os governos a implementar as obrigações de direitos ambientais. A Iniciativa de Defensores Ambientais representa a fase seguinte do trabalho da ONU Meio Ambiente em direitos humanos e meio ambiente. Baseia-se nos resultados de seus projetos passados, bem como em resoluções da Assembleia da ONU Meio Ambiente (UNEA) e do Conselho de Direitos Humanos.
Fonte: ONU

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Groenlândia está derretendo mais rápido do que esperávamos e não há muito mais o que fazer.

É possível que já seja tarde demais para reverter o derretimento do gelo na Groenlândia. Segundo um novo estudo, o aquecimento contínuo e acelerado da atmosfera terreste está fazendo com que as camadas de gelo na ilha derretam mais rápido do que os cientistas imaginavam, o que provavelmente levará a uma elevação mais rápida do nível do mar.
Os cientistas já sabiam há muito tempo sobre o derretimento do gelo nas regiões sudeste e noroeste da Groenlândia, onde grandes geleiras têm perdido pedaços de gelo do tamanho de icebergs para o Oceano Atlântico. Esses pedaços flutuam pelo oceano e eventualmente acabam derretendo. No novo estudo, porém, publicado em 21 de janeiro na revista Proceedings, os cientistas descobriram que a maior perda de gelo do início de 2003 a meados de 2013 veio da região sudoeste da Groenlândia, que é desprovida de grandes geleiras.
“O que quer que fosse não poderia ser explicado pelas geleiras, porque não há muitas lá. Tinha que ser a massa da superfície – o gelo estava derretendo para o interior da costa”, diz Michael Bevis, principal autor do estudo, professor de geodinâmica na Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, em matéria publicada no site da instituição.
Esse derretimento significa que, na parte sudoeste da Groenlândia, rios de gelo derretido estão fluindo para o oceano durante o verão. Esta região, que anteriormente não era considerada uma ameaça, provavelmente se tornará um importante contribuinte futuro para o aumento do nível do mar. “Sabíamos que tínhamos um grande problema com o aumento das taxas de descarga de gelo através da saída de algumas grandes geleiras. Mas agora reconhecemos um segundo problema sério: cada vez mais, grandes quantidades de massa de gelo vão sair como água de degelo, como rios que correm para o mar”,
O pior de tudo é que, segundo Bevis, não há mais como reverter a situação. “A única coisa que podemos fazer é nos adaptar e mitigar o aquecimento global – é muito tarde para não haver efeitos. Isso vai causar aumento adicional do nível do mar. Estamos observando o manto de gelo atingir um ponto crítico”, alerta. “Vamos ver um aumento mais rápido e mais rápido do nível do mar no futuro previsível. Uma vez que você atinge esse ponto de inflexão, a única pergunta é: quão grave isso é?”

Groenlândia está derretendo mais rápido do que esperávamos e não há muito mais o que fazer.

É possível que já seja tarde demais para reverter o derretimento do gelo na Groenlândia. Segundo um novo estudo, o aquecimento contínuo e acelerado da atmosfera terreste está fazendo com que as camadas de gelo na ilha derretam mais rápido do que os cientistas imaginavam, o que provavelmente levará a uma elevação mais rápida do nível do mar.
Os cientistas já sabiam há muito tempo sobre o derretimento do gelo nas regiões sudeste e noroeste da Groenlândia, onde grandes geleiras têm perdido pedaços de gelo do tamanho de icebergs para o Oceano Atlântico. Esses pedaços flutuam pelo oceano e eventualmente acabam derretendo. No novo estudo, porém, publicado em 21 de janeiro na revista Proceedings, os cientistas descobriram que a maior perda de gelo do início de 2003 a meados de 2013 veio da região sudoeste da Groenlândia, que é desprovida de grandes geleiras.
“O que quer que fosse não poderia ser explicado pelas geleiras, porque não há muitas lá. Tinha que ser a massa da superfície – o gelo estava derretendo para o interior da costa”, diz Michael Bevis, principal autor do estudo, professor de geodinâmica na Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, em matéria publicada no site da instituição.
Esse derretimento significa que, na parte sudoeste da Groenlândia, rios de gelo derretido estão fluindo para o oceano durante o verão. Esta região, que anteriormente não era considerada uma ameaça, provavelmente se tornará um importante contribuinte futuro para o aumento do nível do mar. “Sabíamos que tínhamos um grande problema com o aumento das taxas de descarga de gelo através da saída de algumas grandes geleiras. Mas agora reconhecemos um segundo problema sério: cada vez mais, grandes quantidades de massa de gelo vão sair como água de degelo, como rios que correm para o mar”,
O pior de tudo é que, segundo Bevis, não há mais como reverter a situação. “A única coisa que podemos fazer é nos adaptar e mitigar o aquecimento global – é muito tarde para não haver efeitos. Isso vai causar aumento adicional do nível do mar. Estamos observando o manto de gelo atingir um ponto crítico”, alerta. “Vamos ver um aumento mais rápido e mais rápido do nível do mar no futuro previsível. Uma vez que você atinge esse ponto de inflexão, a única pergunta é: quão grave isso é?”

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Ibama identifica fraudes na cadeia produtiva do carvão vegetal no MA.

Agentes do Ibama inspecionaram 14 empreendimentos com movimentações comerciais suspeitas e identificaram 165,9 mil metros de carvão vegetal sem origem legal vendidos para siderúrgicas do Maranhão nos últimos três anos. Esse volume equivale à carga de pelo menos 1.700 caminhões adaptados para o transporte do produto.
A ação foi realizada após análise de dados gerados pelo Sistema do Documento de Origem Florestal (DOF). Analistas ambientais do Instituto estimam que 7.100 hectares do Cerrado maranhense tenham sido desmatados para abastecer a movimentação ilegal identificada.
Toda a lenha sem origem legal foi apreendida. As áreas desmatadas de forma irregular, inclusive reservas legais, foram embargadas. A operação resultou na aplicação de 34 autos de infração, que totalizam R$ 55,4 milhões, no Maranhão.
De acordo com a investigação, empresas simulavam a compra de lenha em fazendas com autorização para desmatamento. “Informações apresentadas, como distância de transporte e tempo de execução, ajudaram a identificar as fraudes, uma vez que seriam inviáveis economicamente. Em vários casos estava expresso nos documentos que a transação se resumia à transferência de créditos de produtos florestais”, afirma o chefe substituto da Divisão Técnico-Ambiental do Ibama no Maranhão, Eder Carvalho, que coordenou a operação.
Os créditos virtuais, obtidos a partir de declarações falsas no sistema de controle, acobertavam a venda de carvão ilegal. Os infratores também simulavam supressões de vegetação para gerar saldo de madeira no sistema sem que o corte fosse realizado em campo.
O carvão ilegal representa cerca de 30% do total nativo vendido para uma siderúrgica de Açailândia (MA) em 2015. Esse percentual aumentou para 40% em 2016 e permaneceu próximo a 10% em 2017 e 2018.
De acordo com o artigo 34 da Lei nº 12.651/2012, indústrias que usam grande quantidade de matéria-prima florestal são obrigadas a adotar Plano de Suprimento Sustentável (PSS).
Com a pressão da demanda por carvão sobre o Cerrado maranhense, associada ao avanço da fronteira agrícola na região, o estado atingiu a segunda posição do ranking entre os que mais desmatam o bioma. Em 2018, o corte raso do Cerrado no Maranhão atingiu 1.472,7 km².
Fonte: IBAMA