Agricultura de ponta da Holanda pode ser chave para alimentar o mundo?
País mais conhecido mundialmente por suas tulipas, a Holanda é o segundo maior exportador agrícola do mundo. Cebolas, batatas e vegetais como tomate, pimentão e pimenta estão entre os produtos mais vendidos.
O cultivo é em grande parte realizado com muito menos água e pesticidas do que a produção feita no solo ou ao ar livre. Muitos agricultores holandeses usam a tecnologia de estufa, chamada “agricultura de precisão”, que alguns na indústria de alimentos do país afirmam ser a mais avançada do mundo.
A moderna agricultura de estufa decolou no país após a Segunda Guerra Mundial, como reação a um dos últimos períodos de fome na Europa. Cerca de 20 mil pessoas morreram no “inverno da fome holandês” durante os últimos meses da ocupação alemã.
Atualmente, a parte mais avançada da tecnologia de estufas do país está na região sul de Westland, onde 80% das terras cultivadas estão sob vidro. Nas grandes estufas de alta tecnologia dos produtores sustentáveis Duijvestijn Tomatoes, as plantas estão cheias de frutos vermelhos, amarelos, verdes e roxos. Nestes espaços altamente controlados, os visitantes são obrigados a usar roupas especiais, por causa da higiene.
“No final, a planta fica com cerca de 13 a 14 metros de comprimento e produzirá cerca de 33 cachos de tomates”, disse à DW Ad van Adrichem, gerente geral da Duijvestijn Tomatoes.
Alcançar tais alturas é importante em um país onde a terra é tão preciosa quanto escassa: a pequena Holanda tem uma das maiores densidades populacionais do mundo. Nas estufas de Westland, uma área que foi recuperada do mar com grande custo e esforço, são cultivados quase 70 quilos de tomates por metro quadrado. Isso equivale a pelo menos dez vezes o rendimento médio de uma plantação em campo aberto na Espanha ou no Marrocos, utilizando oito vezes menos água e praticamente sem pesticidas químicos.
Modo de pensar alternativo
O segredo para o sucesso dos tomates holandeses é que eles são cultivados em pequenos sacos de lã mineral – um material fibroso que também pode ser usado para isolamento térmico ou sonoro.
“Isso permite um controle muito maior”, diz Van Adrichem. “Assim, podemos controlar com muita precisão a quantidade de nutrição necessária e a quantidade de água necessária.”
Mas isso não é tudo. As próprias estufas são um capítulo à parte. A Duijvestijn Tomatoes investiu num revolucionário teto de vidro duplo que conserva mais calor e, graças a revestimentos especiais, difunde a luz que entra, assegurando, assim, que esta também atinja as folhas inferiores das plantas.
A temperatura constantemente aquecida vem de dois poços geotérmicos. O nível de CO2 no qual as plantas se desenvolvem é maior dentro da estufa do que no ambiente externo, chegando por tubulações desde a refinaria de petróleo local. Lâmpadas de LED dentro dessas estruturas de última geração permitem que as culturas continuem a crescer durante a noite.
A água usada é toda vinda da chuva, capturada e armazenada em uma camada subterrânea de areia para uso durante os meses secos. Sempre que aparecem pragas, são trazidos insetos para comê-las. Há até mesmo colmeias de papelão com abelhas para polinização.
No entanto, alguns ecologistas são céticos em relação à nova tecnologia. Herman van Bekkem, do Greenpeace da Holanda, é um deles.
“De fato, vemos exemplos promissores de agricultores fazendo o melhor que podem para reduzir os pesticidas”, diz ele à DW. “Mas se você olhar para os fatos, como as estatísticas para a poluição da água na Holanda, não há outra região mais poluída por pesticidas do que a região das estufas.”
Ele diz que os administradores de água em Westland vêm reclamando há muitos anos das altas quantidades de pesticidas nas águas superficiais.
“Não de nós”, garante Van Adrichem. “Trabalhamos com um circuito fechado de água. Damos às plantas a quantidade exata de água de que precisam e, como os tomates não são plantados no solo, não há escoamento.”
Futuro vertical
Leo Marcelis, professor de horticultura da Wageningen University and Research (WUR), centro que realiza pesquisas para a indústria de alimentos holandesa, diz que as fazendas verticais são o caminho a seguir.
“No futuro, teremos fazendas verticais que serão tão altas quanto edifícios e que só usarão luz artificial”, diz Marcelis, acrescentando que isso fará com que agricultura seja completamente independente do clima e completamente confiável.
Metade dos estudantes da WUR são estrangeiros e quando terminarem seus estudos, muitos levarão essa nova ciência para países da Ásia e da África. O diretor administrativo do WUR Plant Sciences Group, Ernst van den Ende, descreve um projeto de que participa na África, que otimiza a simbiose entre o feijão e uma bactéria capaz de fixar o nitrogênio – nutriente essencial para a planta – a partir do ar.
“Ao otimizar essa simbiose, somos capazes de aumentar os rendimentos sem usar fertilizantes”, afirma Van den Ende. Para ele, a pesquisa da WUR tem por meta impedir que pessoas passem fome, como ocorreu com a geração de seus avós na Holanda.
“Minha avó viajaria 80 quilômetros por um saco de couves-de-bruxelas”, diz. Agora, Van den Ende acredita que a tecnologia que os holandeses estão desenvolvendo poderá alimentar o mundo nos próximos anos.
Fonte: Deutsche Welle
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