Um projeto pioneiro quer trocar a produção de plástico a partir de derivados de combustíveis fósseis por plantas. O plano idealizado pela companhia de produtos químicos renováveis Avantium tem o apoio de empresas como Coca-Cola, Carlsberg e Danone.
A iniciativa ganha relevância diante do fato de que são produzidas 300 milhões de toneladas de plástico por ano no mundo e o descarte desse material contribui para a crise climática e poluição dos oceanos.
O novo material semelhante a plástico é feito a partir de açucares de milho, trigo e beterraba. Os testes mostram que o produto pode se decompor por completo em um ano em composteira e em alguns anos se deixados em condições externas naturais. Mas o ideal é que seja reciclado. Do ponto de vista da sustentabilidade, esse plástico não usa combustíveis fósseis e, além de poder ser reciclado, degrada bem mais rápido do que o usado hoje quando na natureza.
O plano é que o plástico à base de planta esteja nas prateleiras de supermercados em 2023. O projeto inicial produzirá 5 mil toneladas de plástico por ano. A Avantium espera que a produção aumente conforme a demanda por plástico sustentável. Também planeja usar açúcares vegetais provenientes de resíduos biológicos de origem sustentável, para não afetar a cadeia de fornecimento de alimento.
Plástico
O plástico que usamos hoje permanece muito tempo no ambiente, uma garrafa de água feita de plástico leva 450 anos para se decompor e canudos levam 200 anos. De acordo com estudo da WWF, mais de 104 milhões de toneladas de plástico poluirão os ecossistemas até 2030, se nada mudar. O volume de plástico que vaza para os oceanos todos os anos é de aproximadamente 10 milhões de toneladas.
De acordo com o estudo, a invenção do plástico trouxe benefícios, mas o descarte do material após uso único fez com que essa inovação se tornasse um problema ambiental. Dados do Banco Mundial apontam o Brasil como 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, com 11,3 milhões de toneladas. Desse total, apenas 1,28% é reciclado, sendo que a média global de reciclagem plástica é de 9%.
A queima do plástico pode liberar gases tóxicos, o descarte ao ar livre polui aquíferos, corpos d’água e reservatórios. O microplástico e o nanoplástico também podem contaminar o solo e a água.
Brasília (28/05/2020) – O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autuou nesta quinta-feira (28/5) os responsáveis pela embarcação que mutilou a cauda de uma baleia jubarte em rota migratória próxima a costa de Santa Catarina, resultando na morte do animal. Foram lavrados quatro autos de infração. O proprietário e o mestre da embarcação respondem por matar animal da fauna brasileira em extinção e por pescar em período proibido. O barco foi apreendido.
O ilícito ambiental foi divulgado por vídeo que circula nas mídias sociais desde o último domingo (24/05). Os infratores foram identificados pelo Ibama, em parceria com a Polícia Federal (PF), a Secretaria de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SAP/MAPA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A vistoria preliminar no barco ocorreu no porto de Itajaí (SC) na manhã da quarta-feira (26/5), onde atracou na noite anterior. A embarcação foi retirada da água e levada para a marina da cidade para inspeção.
A embarcação envolvida no incidente é estruturada para pesca de camarão e não estava autorizada a executar a atividade, devido ao defeso da espécie, que se estende até 31 de maio.
Biólogos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) analisaram a distribuição geográfica de mais de 5 mil espécies de plantas para construir o mapa
A floresta amazônica contém 13 regiões diferentes, cada qual com espécies de plantas particulares. É o que diz um novo estudo desenvolvido com mais de 5.000 espécies de árvores e de arbustos publicado na revista britânica Journal of Ecology. No trabalho, realizado por dois biólogos do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Karla Juliete Silva-Souza e Alexandre Souza, as regiões distintas foram chamadas de sub-regiões florísticas. Algumas das sub-regiões são grandes e dividem a Amazônia entre áreas a leste, a oeste e a norte (no planalto das Guianas). Outras regiões são pequenas e periféricas, contendo espécies de vegetações vizinhas como o cerrado, que penetram pelas bordas na Amazônia.
Para realizar o estudo, os pesquisadores compilaram um banco de dados, idealizado e batizado por Alexandre Souza de Caaporan (floresta bonita em tupi), contendo a distribuição geográfica de mais de 5.000 espécies de árvores e de arbustos encontrados na região. Eles aplicaram técnicas de estatística espacial sobre os dados, mapearam as sub-regiões e também construíram outro banco de dados contendo informações do ambiente para cada local onde as espécies foram registradas. Análises da compilação das informações permitiram aos cientistas investigar os fatores responsáveis pela distribuição e delimitação das várias “Amazônias”. Os resultados sugerem que a distribuição das sub-regiões está associada a ações humanas e a fatores ambientais, como variações do solo, regime de chuvas e inundação pelos rios.
Pioneirismo: divisão por composição de espécies
O estudo constitui a primeira divisão espacial da flora amazônica feita com base em dados de composição de espécies. “A delimitação e mapeamento de sub-regiões de espécies animais ou vegetais é muito importante para planejamentos de conservação da biodiversidade de uma região, pois permite aumentar o número de espécies protegidas. Isso acontece porque passa a ser possível a distribuição de áreas de proteção nas diversas sub-regiões identificadas”, explica Karla Souza.
Tentativas anteriores de divisão da Amazônia foram realizadas com base na aparência da vegetação, observação das predominâncias de ervas, arbustos ou árvores e se as plantas perdiam ou não as folhas na estação seca. Apesar do valor e da utilidade desses primeiros mapas produzidos, o presente estudo mostrou que várias sub-regiões florísticas distintas podem ter a mesma aparência. “Mapas baseados na aparência da vegetação não devem ser usados como indicativo da biodiversidade e não são eficazes nos esforços para aumentar o número de espécies protegidas”, adiciona Karla.
A floresta amazônica forma a região biologicamente mais rica do planeta. Ela cobre vastos 7.500.000 km² em nove países, o que equivale a 40% da América do Sul. Ela abriga um quarto da biodiversidade global e é uma das principais forças do funcionamento climático e biogeoquímico da Terra. A crescente perda e fragmentação de florestas devido à invasão de assentamentos e agricultura extensiva na Amazônia traz consequências para as populações humanas e demais formas de vida no planeta. As populações humanas dependem de forma direta ou indireta dos serviços produzidos pela biodiversidade da floresta amazônica, seja pela estabilização do regime climático ou pela utilização de espécies para produção de medicamentos, alimentos, cosméticos e outros produtos.
Impacto das mudanças climáticas
O mapeamento de sub-regiões florísticas da Amazônia produzido no estudo poderá ser utilizado para guiar os esforços de conservação da biodiversidade das plantas amazônicas. “A relevância que encontramos de fatores como o regime de chuvas e temperatura na explicação da distribuição espacial das sub-regiões alerta para um profundo impacto que as mudanças climáticas podem ter na organização espacial da flora amazônica. O aumento da frequência de anos secos na região deve promover a expansão de certas sub-regiões e a contração de outras, ameaçando a área disponível para milhares de espécies de árvores continuarem a viver e a prestar os seus serviços à humanidade”, analisa Alexandre Souza.
Cidades do Paraná e do Rio Grande do Sul já passam por estiagem. Em São Paulo, nível de chuvas é inferior ao esperado e levanta temor de repetição da crise de 2014.
No Rio Grande do Sul, 386 dos 497 municípios já decretaram situação de emergência por conta da seca — balanço consolidado no último dia 15. Em Santa Catarina, a situação é similar em pelo menos 65 cidades. No Paraná, depois de 10 meses de estiagem, a emergência hídrica foi decretada pelo governo estadual — a medida autoriza, por exemplo, rodízio no fornecimento de água.
Ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu comenta à DW Brasil que o cenário de estiagem na região sul do país afeta principalmente dois setores que dependem da água nesses estados: a agricultura e as usinas hidrelétricas — sobretudo no Paraná. “São regiões que têm seca com alguma frequência. E com [o atual contexto de] mudanças climáticas, esses fenômenos têm sido extremos”, pontua.
Ele avalia que a situação é mais preocupante no Paraná do que no extremo sul do País. “Porque o sul do Brasil tem uma característica de chuvas constantes ao longo do ano. Já o Paraná é, em aspectos climáticos, mais parecido com o sudeste”, afirma. Ou seja: tem invernos secos.
Em 9 de março, a Agência Nacional de Águas criou uma sala de crise para acompanhar a crise hídrica na região sul. De acordo com a assessoria da instituição, o grupo “reúne os principais atores ligados ao evento de estiagem em curso”, incluindo órgãos gestores, usuários, prefeituras, meio ambiente, setor elétrico e órgãos de monitoramento e previsão meteorológica.
O objetivo do comitê “é uniformizar o conhecimento sobre a situação da seca, identificar problemas existentes ou potenciais, promover a articulação entre os atores em busca de soluções para esses problemas e acompanhar sua implementação.”
Em nota, a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul afirmou que vem intensificando “o monitoramento meteorológico e climatológico” e realizando ações como “suspensão de outorgas de captação de água, alterações de licenças de lançamentos e efluentes e de irrigação” e intensificando “ações de fiscalização” para diminuir o impacto da seca no Estado. Procurado pela reportagem, o governo do Paraná não se posicionou a respeito da situação.
A região sudeste também dá sinais de que o sofrimento é iminente. Principal reservatório que abastece a capital paulista, o Cantareira está em nível semelhante ao que precipitou a histórica crise hídrica de 2014 e 2015: 59,4% de sua capacidade. O índice é considerado bom. Contudo, conforme lembram especialistas ouvidos pela DW Brasil, o inverno é justamente o período de seca na região sudeste. E o nível de chuvas deste ano já está inferior ao esperado de acordo com a média histórica.
No mês de março, por exemplo, a pluviometria prevista para o sistema é de 178,8 mm. Este ano, choveu apenas 88,6. Em abril, a série histórica indica um normal de 86,6 mm. Mas foram apenas 2,2 mm de chuva. Para maio, quando a estimativa é de 77,2 mm, até o momento foram somente 11,5.
Autor do livro Faça-se a Água, o pesquisador norte-americano Seth M. Siegel avalia que, diante do atual contexto, “o risco de escassez hídrica [no Brasil] é real”. “Como não se sabe o quão ruim uma seca pode se tornar, todo governo responsável deve assumir que uma escassez de água ocorrerá e, portanto, se preparar para ela”, comenta. “Infelizmente, assim que uma crise passa, com um ou dois anos de chuva, os governos tendem a ignorar a questão, direcionando foco e financiamento em outros setores.”
Fantasma da crise de 2014
Em 23 maio de 2013, o nível do Cantareira era similar ao atual, 59,6% de sua capacidade. Vinha em queda, acentuada pela inverno. O período de verão não foi suficiente para frear a derrocada do reservatório e, em maio de 2014, o sinal vermelho estava ligado: o sistema operava com 6% de sua capacidade. Então foram dois anos de torneiras contidas e 17 meses utilizando água da reserva técnica do Cantareira, apelidada de “volume morto” — significava que o índice operava no negativo.
Para o geógrafo Luiz de Campos Júnior, do projeto Rios e Ruas, o risco de uma nova crise hídrica é resultado da falta de ajuste nas políticas voltada para a produção de água. “Os sistemas de abastecimento, em geral, só estão preocupados com a água saindo da represa, sendo tratada e distribuída”, afirma. “É preciso olhar para a produção de água na bacia hidrográfica, aquela produção que vai manter o reservatório cheio e com boa vazão. Isso significa conservar os lençóis freáticos, diminuir a erosão no entorno dos rios e dos reservatórios. Deveríamos conservar todo o ambiente produtor de água e não pensar apenas na produção como pensam as empresas [de abastecimento].”
Responsável pelo abastecimento em São Paulo, a Sabesp enfatizou que a situação atual dos reservatórios “é satisfatória”. “Houve, no entanto, registro de pouca chuva nos mananciais nos últimos 60 dias e, por isso, a companhia solicita à população que mantenha o uso consciente de água, evitando desperdício”, informou.
A empresa ainda frisou que vem investindo na “redução de perdas de água”, efetuando “troca de tubulações, equipamentos e hidrômetros”. Balanço do chamado Programa de Redução de Perdas, da companhia, indica um investimento de R$ 5,3 bilhões nos últimos dez anos — segundo a Sabesp, implicando em uma economia de 138 milhões de metros cúbicos de água.
Especialistas e ativistas cobram um olhar para a malha fluvial próxima das cidades. No caso de São Paulo, calcula-se que haja mais de 300 rios no município, boa parte deles canalizados, retificados e sem cuidados de conservação.
“As companhias vão pegar água longe e nada fazem para recuperar os rios da cidade. Temos muita água aqui. Precisamos cuidar dos recursos hídricos em nosso quintal”, cobra o ativista ambiental Adriano Sampaio, do projeto Existe Água em SP.
Siegel tem opinião semelhante. “O Brasil é um país de potencial ilimitado. Tem uma população inteligente e empreendedora em um país bonito, repleto de enormes recursos. Uma das coisas que podem impedir o Brasil de alcançar seu potencial é uma falha na proteção de seus recursos hídricos”, afirma.
Mas ele recorda que há pesquisas indicando que o aumento do desmatamento na Amazônia tem influenciado os padrões de chuva, prolongando e intensificando as estiagens.
Economia da água
Pesquisador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Gustavo Velloso Breviglieri publicou um estudo no último dia 15 no periódico RAUSP Management Journal no qual apontou um mecanismo econômico como solução para a questão hídrica brasileira.
A ideia seria aprimorar os chamados “mercados de água”, pelo qual grandes usuários de uma mesma bacia negociam seu direito de uso e exploração de determinado volume dos reservatórios, em caso de necessidade.
“Caso um usuário consiga reduzir seu consumo de água para volumes inferiores aos que possui direito, este usuário poderia transferir, temporária ou permanentemente, esse ‘excedente’ para outro usuário, que, por sua vez, tenha necessidade de aumentar seu consumo”, explica o pesquisador.
Breviglieri aponta que “mais do que auxiliar na contenção de uma crise hídrica”, tal mecanismo seria útil para que “uma situação de escassez seja menos custosa para a sociedade como um todo”. Pelo formato, o mercado “contribui para que o montante disponível de água seja voluntariamente realocado para aqueles que possuem maior necessidade e maior dificuldade em reduzir o consumo”. E os que conseguem economizar são recompensados financeiramente.
Se adotado de forma constante, independentemente de cenário de crise hídrica, o pesquisador acredita que o mecanismo aumentaria a eficiência do sistema e, consequentemente, implicaria numa economia global de água.
A ideia é aproveitar a biodiversidade brasileira e reduzir dependência de insumos importados
O Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento lançou, nesta quarta-feira (27), o Programa Nacional de Bioinsumos que vai estimular a pesquisa, a produção e o uso de produtos biológicos, como fertilizantes e defensivos agrícolas, para o desenvolvimento sustentável da agropecuária do País.
A intenção é aproveitar o potencial da biodiversidade brasileira para reduzir a dependência dos produtores rurais em relação aos insumos importados e ampliar oferta de matéria-prima para o setor.
Para estimular e fortalecer o segmento de bioinsumos, as ações do programa preveem ofertar aos usuários tecnologias, produtos, processos, conhecimento e informações sobre uma diversidade de insumos de base biológica aplicados no campo, desde a nutrição do solo, o controle de pragas como em processos relacionados à pós-colheita.
Ao lançar o programa, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, ressaltou que essa tecnologia não serve apenas para a agricultura orgânica, mas para todos agricultores brasileiros nos mais diversos modelos de produção.
“Nessa política todos estarão contemplados, o pessoal que trabalha com orgânicos há muito tempo e que sempre fez e esperou por essa política. Também a agricultura comercial que hoje já usa esse modelo de produção, às vezes puro, às vezes combinado com a agricultura convencional”, disse.
E completou: “Todos tem a ganhar. O Brasil tem a ganhar. Os produtores rurais de todos os tamanhos têm a ganhar. E o Brasil realmente se insere nessa política moderna de inovação tecnológica e que muitos bilhões também poderão também ser economizados”.
Brasil avança na bioeconomia
Os bioinsumos abrangem desde sementes, fertilizantes, produtos para nutrição vegetal e animal, extratos vegetais, defensivos feitos a partir de microorganismos benéficos para controle de pragas e doenças até produtos homeopáticos ou tecnologias que têm ativos biológicos na composição.
A ministra Tereza Cristina, afirmou que, ao ter uma política nacional de bioinsumos, o Brasil está entrando de fato na bioeconiomia, que é definida como um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos. “Essa bioeconomia, que a agricultura brasileira agora entra de fato com base no que queremos da agricultura do futuro”, explicou.
De acordo com ela, atualmente, em cerca de 10 milhões de hectares do sistema de produção brasileiro já são usados produtos biológicos no controle de pragas. A ministra acrescentou ainda que no Plano Safra 2020/2021, que será lançado em cerca de 20 dias, já estarão inseridas algumas ações da política nacional de bioinsumos.
O programa
Segundo o Ministério da Agricultura, o programa foi desenvolvido alinhado às necessidades de inovação nos segmentos agrícola, aquícola, florestal e pecuário. Uma das ações propostas é elaborar normas para a instalação de unidades produtoras de bioinsumos, as chamadas biofábricas, nas diferentes regiões do País, com prioridade à pequena e à média produção.
Outra ação é criar um ambiente favorável para o financiamento de infraestrutura e de custeio que beneficiem a produção e a utilização de bioinsumos.
Coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o programa terá um conselho estratégico formado por representantes dos setores público e privado.
A legislação relativa ao Programa Nacional de Bioinsumos está publicada na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União.
Entenda Mais
Bioinsumo é o produto, processo ou tecnologia de origem vegetal, animal ou microbiana, destinado ao uso na produção, no armazenamento e no beneficiamento de produtos agropecuários.
O uso pode ocorrer nos sistemas de produção aquáticos ou de florestas plantadas com o objetivo de interferir positivamente no crescimento, no desenvolvimento e no mecanismo de resposta de animais, de plantas, de microrganismos e de substâncias derivadas.
Foram desmatados 14.502 hectares na Mata Atlântica entre 2018-2019. A boa notícia é que Alagoas e Rio Grande do Norte conseguiram zerar desflorestamento e outros 7 estados estão próximos de zero desmatamento.
Entre 2018-2019 foram desflorestados um total de 14.502 hectares, crescimento de 27,2% comparado com o período anterior 2017-2018, quando foram desmatados 11.399 hectares. As informações atualizam o Atlas da Mata Atlântica, iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Mais uma vez o estado com maior desmatamento foi Minas Gerais, que teve uma perda de quase 5.000 hectares de floresta nativa. A Bahia ficou em segundo lugar, com 3.532 hectares, seguido pelo Paraná, com 2.767 hectares. Os três líderes do ranking tiveram aumento de desflorestamento de 47%, 78% e 35% respectivamente, ao comparar com o período anterior. Já o quarto e quinto lugares da lista, Piauí e Santa Catarina, tiveram redução do desflorestamento em relação ao período 2017-1018 de 26% e 22%. Piauí somou 1.558 hectares desmatados e Santa Catarina 710 hectares. A Tabela 1 mostra os valores de desmatamento encontrados para cada um dos estados.
Os estados de Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo, apresentaram valores muito baixos, chegando até a zerar o desmatamento como Alagoas e Rio Grande do Norte. A Figura 1 e a Tabela 2 mostram a evolução dos desmatamento no bioma desde o início do projeto em 1985.
Sobre o Atlas da Mata Atlântica
O Atlas da Mata Atlântica é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que monitora o bioma desde 1985, disponibilizando dados da série histórica do desmatamento no bioma Mata Atlântica.
O estudo fundamenta-se na identificação de remanescentes florestais em estágios primário, médio e avançado de regeneração com ao menos 3 hectares de área contínua bem preservada, que são essenciais à conservação da biodiversidade no longo prazo. Sendo assim, florestas nativas menores de 3 hectares, áreas muito alteradas, ou em regeneração, e pequenas manchas, especialmente no espaço urbano, não são contabilizadas. Esta área mínima de 3 hectares também justifica-se pela necessidade de manter a compatibilidade com os dados históricos que permitem a comparação e monitoramento das alterações dos fragmentos florestais ao longo do tempo.
O estudo tem patrocínio do Bradesco Cartões e execução da Arcplan, sendo o INPE responsável pelo suporte técnico para a execução dos mapeamentos.
O ritmo atual de desmatamento da Amazônia — que cresce sem parar pelo segundo ano consecutivo — é, além de um enorme problema ambiental, uma tragédia socioeconômica, afirma o ambientalista brasileiro Beto Veríssimo, fundador da consultoria Imazon, diretor do Centro de Empreendedorismo da Amazônia e pesquisador associado da Universidade de Princeton.
O discurso que põe em lados opostos o desenvolvimento econômico e a preservação da Amazônia, diz ele, é falso. “Desmatamento não gera desenvolvimento, não gera aqui e em lugar nenhum no mundo. E ele inibe investimento — que investidor sério vai querer investir na Amazônia, rodeada por ilegalidade?”, diz, em entrevista à BBC News Brasil.
Veríssimo afirma que seria possível aumentar muito a produção agrícola na Amazônia sem desmatar um só hectare — aproveitando terras já degradadas em décadas passadas. No entanto, diz, é preciso ao mesmo tempo reforçar a fiscalização e punição de infratores.
“Não tem como contemporizar com desmatadores ilegais, ladrões de florestas públicas, extratores ilegais de madeira. Para a ilegalidade, a força da lei”, diz ele.
Ele diz que “a presença do Exército é bem-vinda”, ao comentar o decreto do governo que colocou, de maio a junho, as rédeas das ações de fiscalização e combate ao desmatamento nas mãos das Forças Armadas — tirando-as do Ibama, que passou a ser subordinado aos militares.
Mas diz que é cedo para avaliar o resultado das operações militares realizadas até agora. O governo anunciou que, até o dia 21/05, “26 pessoas foram presas por delitos ambientais e outros crimes durante as ações do Exército, e que foram aplicadas multas no valor de R$ 8,7 milhões”. Além disso, foram apreendidos motosserras, tratores, caminhões e embarcações.
O fato de o Exército ter descartado a destruição do equipamento apreendido, entretanto, preocupou Veríssimo. “Se não usarmos essas medidas (destruição de equipamento apreendido), que são comprovadamente eficazes, eu tenho um pouco de dúvida se vão conseguir combater o desmatamento”, diz.
Leia abaixo trechos da entrevista concedida à BBC News Brasil, em que pesquisador alerta para as graves consequências do aumento do desmatamento. Ele também comenta a fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de que é preciso aproveitar a pandemia para “passar a boiada” na mudança de legislação ambiental.
BBC News Brasil – O último boletim de desmatamento da Amazônia do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), de abril, registrou um aumento de 171% em relação a abril de 2019. O que explica esse aumento expressivo?
Beto Veríssimo – Apesar da diminuição da atividade econômica por causa da pandemia, o desmatamento esse ano, não só em abril, mas em todos os meses, tem se mantido em uma tendência de alta. E isso tem uma explicação dupla: uma é a menor presença da fiscalização no campo. O segundo fator é o fato de que governo não prioriza o combate ao desmatamento.
O calendário do desmatamento vai de agosto de 2018 até julho de 2019, então pega pouco do governo Temer. Mas neste ano, de agosto de 2019 até julho de 2020, vai ser totalmente na conta do governo atual. Ainda faltam dois meses para termos os números, mas toda a tendência é que a gente vai ter mantido esse crescimento, com um aumento seguido do desmatamento por dois anos. É bastante preocupante.
BBC News Brasil – Como a mudança do comando das operações de fiscalização do Ibama para o Exército afeta esse cenário? As operações que o Exército tem feito estão tendo algum efeito no combate ao desmatamento?
Veríssimo – As operações começaram em abril e maio. É cedo para dizer se vai ter impacto, nos dados de maio, que saem em junho, vai ficar mais claro se a ação das Forças Armadas está conseguindo. O que a gente sabe, historicamente, é que há um efeito positivo quando há uma operação de combate ao desmatamento ostensiva, com a presença de aparato policial — porque o Ibama não tem força policial, eles precisam do aparato da Polícia Federal, do Exército etc. Então a presença do Exército é bem-vinda, a gente está em uma situação muito complicada na Amazônia. Mas não dá para dizer ainda se vai ter efeito da maneira como eles estão fazendo.
BBC News Brasil – Como você avalia o que eles têm feito até agora, como o comando da operação ter mudado para o Exército e essa decisão de não destruir os equipamentos dos criminosos ambientais pegos em flagrante?
Veríssimo – O ideal nessas operações é contar com a parceria de todas as instituições, da Polícia Federal, do Ibama, do Exército — e o Ibama tem todo o know how de como fazer, esse conhecimento não pode ser ignorado.
A destruição dos equipamentos é recomendada. Tem duas maneiras de inibir o infrator, (que comete) o desmatamento ilegal. Uma é prendendo, mas o infrator normalmente não está lá, é um laranja, um funcionário. A outra, mais eficaz, é quando você penaliza o infrator, quando o crime é claramente configurado, destruindo o equipamento. É como quando há apreensão de droga, você tem que incinerar a droga. A carga, quando a madeira é ilegal, tem que ser apreendida. Não tem como contemporizar com desmatadores ilegais, ladrões de florestas públicas, extratores ilegais de madeira. Para a ilegalidade, a força da lei.
Não tem como contemporizar com desmatadores ilegais, ladrões de florestas públicas, extratores ilegais de madeira. Para a ilegalidade, a força da lei
Se não usarmos essas medidas, que são comprovadamente eficazes, eu tenho um pouco de dúvida se vão conseguir combater o desmatamento (com as operações). A gente já observou no passado que o que de fato faz com que outros desmatadores, que estão nos arredores daquele local sendo fiscalizado, parem de desmatar, é quando você apreende e destrói equipamentos. Quando isso acontece, os infratores de fato diminuem sua atividade num raio expressivo com medo de prejuízos econômicos importantes. Eles não têm muito medo de ser presos, acabam sendo soltos.
BBC News Brasil – O risco aos fiscais e ambientalistas aumentou também nesse momento de alto desmatamento?
Veríssimo – A gente teve um episódio em que um fiscal do Ibama foi agredido na região do Pará, teve uma tentativa em Rondônia de emboscar fiscais… A gente não tem um levantamento, mas eu diria o seguinte: a gente está assistindo um aumento do desmatamento na Amazônia, isso é um fato, está observando que esse desmatando está acontecendo em regiões onde há pouca presença do Estado, onde há muitos crimes ambientais associados (extração ilegal de madeira, garimpo ilegal, invasão de florestas públicas). Isso tudo configura uma ambiente de ilegalidade nocivo e perigoso.
BBC News Brasil – Existe um discurso, que é bastante encampado pelo atual governo, que contrapõe o desenvolvimento econômico à preservação da Amazônia, como se as leis de proteção fossem burocracias que atrasam o desenvolvimento. Existe alguma realidade nesse argumento?
Veríssimo – Não. As pessoas confundem. O desmatamento da Amazônia não melhorou a economia da Amazônia. Nos anos 1970, quando 99% da floresta ainda estava em pé, a região participava do Produto Interno Bruto mais ou menos na mesma proporção que participa hoje. E nesse meio tempo você desmatou 20% da Amazônia, tem o dobro disso de degradação. Ou seja, o modelo baseado no desmatamento não gerou prosperidade na Amazônia, não gerou desenvolvimento econômico, não gerou progresso social — a gente está vendo agora o drama da saúde, que é um problema endêmico e se agrava com o coronavírus. Então, desmatamento não gera desenvolvimento, não gera aqui e em lugar nenhum no mundo. E ele inibe investimento — que investidor sério vai querer investir na Amazônia, rodeada por ilegalidade?
O desmatamento está acontecendo muito mais nesse caráter especulativo do que no caráter produtivo. Ninguém está expandindo o desmatamento para aumentar a produção de soja — está se desmatando onde a produção agrícola não está presente, em regiões afastadas. O que é uma tragédia pro Brasil. É um roubo de patrimônio público, você tem um prejuízo para os cofres, tem um prejuízo ambiental, tem um ambiente conflagrado de conflitos que impede bons investimentos econômicos.
O desmatamento é, sobretudo, uma tragédia socioeconômica, que beneficia grupos muito pequenos de setores que operam na ilegalidade.
Você tende a piorar a situação social daqueles territórios. Acaba criando municípios que são incapazes de ter uma arrecadação suficiente para ter serviços públicos, o que onera o contribuinte brasileiro… é o pior dos mundos. A situação do Amazonas com a pandemia é um exemplo dessa precariedade. Destrói recursos naturais, mantém pobreza, inibe investimentos e aumenta ilegalidade.
O desmatamento de fato é um problema ambiental, essa é a face que a gente conhece e a face que o mundo inteiro se preocupa. Mas o desmatamento é, sobretudo, uma tragédia socioeconômica, que beneficia grupos muito pequenos de setores que operam na ilegalidade.
BBC News Brasil – Como promover o desenvolvimento sem destruir o meio ambiente?
Veríssimo – É como se a gente tivesse três Amazônias. Existe uma, que tem 20% das áreas desmatadas, que corresponde ao leste do Pará, ao sul do Pará, centro-norte do Mato Grosso, penetra no meio de Rondônia, algumas faixas no sul do Amazonas e do Acre. Essa é uma área que de fato o governo deveria ter um foco no desenvolvimento, na assistência técnica, no aumento da produção agropecuária. A gente precisa de fato alocar os recursos escassos do governo para aumentar a produtividade com o uso das áreas que já foram desmatadas, apoiar produtores nessa área.
Se os recursos escassos fossem focados para esse território, a gente poderia ter um aumento de renda e produtividade sem desmatar um hectare. Nessa faixa toda existem muitas áreas que estão subaproveitadas. De cada dez hectares desmatados, apenas um tem produtividade agropecuária na média da produtividade brasileira. Seis têm produtividade abaixo (da média). E três não têm nada, o capim ficou áspero e cheio de espinho, nem o boi quer mais. São áreas que hoje não produzem mais nada.
Temos também uma segunda Amazônia, que corresponde a uns 40%, com municípios gigantes, como Altamira, no sul, centro-norte e centro-sul do Amazonas, grande parte da parte central do Pará — é uma área de floresta, que não faz o menor sentido desmatar. Com o desmatamento, estamos levando pobreza, crime organizado, não vai gerar riqueza para o país — nessa área temos que combater, temos que fazer um foco ostensivo de controle.
E temos ainda uns 40% de terras indígenas, de unidades de conservação, que estão ainda relativamente protegidas, quase que passivamente, porque não são alvo ainda de grandes ameaças. Não quer dizer que elas estão imunes, mas elas estão relativamente protegidas.
O que a gente precisa na Amazônia é uma agenda de uso inteligente dos recursos, de aproveitamento das áreas que foram desmatadas até 2008 e de proteção das áreas de floresta.
BBC News Brasil – Como a aprovação da PL 2633/2020, sobre regularização fundiária de terras da União, que ganhou o apelido de PL da grilagem, pode afetar esse quadro?
Veríssimo – A regularização é importante, mas precisa ser feita com cuidado, em área já consolidadas, com duas, três décadas de produção, onde o desmatamento aconteceu até 2008 (ano determinado como linha de corte pelo Código Florestal), onde há de fato produtores, não especuladores. Quem continuou desmatando depois dessa data, invadiu florestas públicas, é um movimento totalmente diferente, não pode regularizar áreas que foram griladas. E os produtores regularizados vão ter que respeitar o Código Florestal.
Então essa regulação depende de onde, com quais condições. É preciso que haja um grande debate para separar o interesse legítimo e o ilegítimo, e é algo que não tem condições de acontecer no meio de uma pandemia, precisa ser quando o país tiver com oxigênio para discutir isso.
BBC News Brasil – Em um vídeo de uma reunião do presidente com ministros divulgado na semana passada, o ministro Ricardo Salles diz que é preciso aproveitar o “momento de tranquilidade” em que a atenção da mídia está voltada para o coronavírus para “passar a boiada” e aprovar diversas flexibilizações. Que tipo de medidas são essas, que poderiam ser aprovadas sem a atenção da mídia? Como você avalia as consequências dessa postura do governo?
Veríssimo – Ele não diz quais são as medidas. O dever dele, inclusive constitucional, deveria ser de preservar. Mas o que a gente está assistindo desde 2019, quando houve a posse (do presidente) é que essas falas não são apenas falas, elas se traduzem em resultado. (O presidente Jair Bolsonaro) já dava (antes) sinais, mensagens, já dizia que não ia criar novas áreas protegidas, não ia criar reservas indígenas. A gente vê que sinais e mensagens se tornam políticas que acabam favorecem o aumento do desmatamento. E o perigo é que se tomem outras medidas que possam agravar ainda mais o problema.
Então houve um recrudescimento, esse governo na verdade não teve nenhuma proposta de preservação do meio ambiente, as falas são no sentido de que (eles não enxergam) o desmatamento como um problema.
BBC News Brasil – A situação da Amazônia tem atraído muito a atenção da mídia internacional. Como está a imagem do Brasil no exterior quanto a isso? E como isso pode afetar o país?
Veríssimo – A questão do coronavírus trouxe luz para como a destruição ambiental gera um impacto. Temos diversas doenças que vêm de animais que tiveram habitats destruídos, que vêm de florestas tropicais. E os impactos da destruição da Amazônia para o clima vão ser muito mais dramáticos do que um único vírus, então o mundo inteiro está muito preocupado com isso, muito preocupado com o Brasil.
A questão do coronavírus trouxe luz para como a destruição ambiental gera um impacto. Temos diversas doenças que vêm de animais que tiveram habitats destruídos, que vêm de florestas tropicais
Então, com certeza, conforme aumenta a destruição, aumenta também a pressão internacional sobre o país, não só de governos, mas empresas, corporações. Então “se é da Amazônia eu não compro”, “se é da Amazônia eu não invisto”, o impacto econômico pode ser muito grande.
A destruição da Amazônia pode parecer algo muito longe, muito distante da realidade do dia a dia das pessoas. Mas as consequências não são restritas àquela região. Como a destruição desse ambiente vai afetar alguém que está em SP ou em PE? Tem várias formas em que afeta, mas três principais.
Uma é essa questão da saúde — da possibilidade de pandemias vindas da destruição do ambiente, de problemas respiratórios que podem se agravar com as queimadas. A fumaça das queimadas não atinge muito o Nordeste, mas atinge o Sudeste, chega até o Paraná. E gera problemas respiratórios graves, piores ainda em momento de uma pandemia de uma doença que afeta o sistema respiratório como a covid-19.
Outro aspecto principal é como a destruição Amazônia afeta as mudanças climáticas, ela é enorme, tem muito carbono, ela é realmente um termômetro do mundo, afetas as chuvas, os ventos, o clima do país e do mundo inteiro. É um impacto tremendo, não estamos falando de milhares estamos falando de uma escala de dezenas de milhões de pessoas.
E afeta também a economia do país — grande parte do PIB brasileiro depende das águas da Amazônia, de um regime de chuvas que é afetado pelo desmatamento, então sua destruição é um risco enorme para a própria economia. E os agricultores, produtores agropecuários, a maioria têm consciência disso. Os agricultores podem ser aliados, o que não podemos é contemporizar com ladrões de florestas públicas, milícias, bandidos especuladores.
Isolado em casa com a família em Nova Lima (MG), João Marcos Rosa publica diariamente nas redes sociais cliques feitos da vida selvagem no quintal.
A natureza sempre fez parte da vida do fotógrafo profissional João Marcos Rosa. As lembranças da infância são carregadas de verde e vida selvagem. E essa criação o levou na juventude a buscar uma profissão em que pudesse trabalhar com essa temática. Se formou em jornalismo e ainda no começo da carreira se lançou na fotografia voltada ao meio ambiente.
“No meu trabalho eu sempre tentei propor histórias e assuntos ligados ao meio ambiente. Eu fui criado no meio do mato sempre me senti em casa na natureza, me sentia fora de casa quando estava na parte urbana”, conta.
Há mais de 20 anos o fotógrafo se dedica em clicar a biodiversidade do nosso Planeta. Centenas de imagens feitas por ele já ilustraram revistas renomadas da vida selvagem no Brasil e também no exterior.
O mineiro já morou em grandes centros como São Paulo e Belo Horizonte, mas há seis anos ele vive com a família em Nova Lima (MG), onde cresceu. Mora em uma área coberta pela Mata Atlântica e é vizinho da Estação Ecológica de Fechos, área que é pressionada pela mineração.
Na mata de casa João encontrou uma oportunidade compartilhar a natureza com outras pessoas que estão confinadas nesse período de isolamento social. Com a chegada da pandemia no Brasil o fotógrafo teve a ideia de criar um diário virtual de quarentena para dividir diariamente o que encontra nos arredores do lar.
“A ideia surgiu de forma natural, eu estava com meu filho no quintal. Aqui tem muita avenca, estava bonita eu fiz uma foto e ele pegou uma e levou para minha esposa, eu logo pensei vou falar desse dia, foi tão legal, tão bom e agradável e então compartilhei o registro e fui escrever sobre isso”, comenta.
O diário também foi inspirado em um trabalho realizado pelo fotógrafo norte-americano Jim Brandenburg que se dedicou por 90 dias a registrar a natureza ao redor da casa em que morava em Minnesota.
“Eu sempre tive na minha cabeça que isso era uma coisa que eu queria fazer, registrar a natureza de casa, mas eu não tinha tempo, sempre viajei muito e vi nesse momento de isolamento social a oportunidade de realizar”, acrescenta.
Borboletas, aves e paisagens compõem o diário virtual do João, mas um dos protagonistas principais é o filho Benjamin Carvalhais Rosa, de seis anos, um pequeno aventureiro apaixonado pela natureza. O fiel companheiro ajuda o pai a encontrar os protagonistas na floresta, como um lagarto papa-vento.
“A gente tinha saído pra ir numa parte do Cerrado, pois eu queria registrar o pôr-do-sol e então o Benjamin avistou esse lagarto. Foi uma situação muito bonita e legal, pois eu nunca tinha visto e pensei: como ele viu aquilo? Ele me ajudou até na hora de fazer a foto, segurou o flash foi muito especial”, conta.
E o Benjamin não precisa nem posar na natureza, essa relação com a vida selvagem já faz parte da vida dele. “Apesar de novo ele aprecia a natureza. Como eu gosto, ele sempre me observou então acabou criando um certo gosto também, mas não é nada forçado, ele realmente gosta. Criança na natureza é igual bicho, ele aprende rápido, desenvolve uma parte motora e física que é bonito de ver. Eu considero um privilégio poder criá-lo como eu fui criado. Claro que a gente tem cautela e sempre está por perto”, explica.
Não existe nenhum planejamento para os cliques do diário virtual, mas o João sempre busca fotografar uma cena ou situação que passe uma mensagem representativa e comovente.
“A ideia é gerar uma reflexão e inspirar as pessoas a se conectarem e perceberem a importância do meio ambiente. Voltar às nossas origens, pois tem muita gente, principalmente as que vivem em centros urbanos, que se esquecem que nós fazemos parte da natureza”, comenta.
Mais do que sensibilidade e beleza, as fotografias feitas pelo João ainda que no quintal de casa são essenciais para despertar novos olhares de admiração e cuidado pelo mundo natural. Os registros mostram também a natureza que resiste mesmo próximo à área que é extremamente afetada pelo homem.
“As pessoas só preservam o que conhecem, então é importante divulgar essa natureza que temos aqui. Precisamos rever algumas posturas e repensar sobre o alto consumo e o que é realmente essencial para nossa vida”, finaliza.