sábado, 16 de maio de 2020

Guarda florestal é morto em ação contra garimpo ilegal em reserva de São Paulo.

O garimpo ilegal funcionava no interior do Parque Estadual de Intervales, em Sete Barras, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo

A operação da Polícia Ambiental teve início na tarde de sexta-feira, 1.
Foto: Polícia Ambiental/Divulgação / Estadão

SOROCABA – Um guarda-parque foi morto, neste sábado (2), durante operação da Polícia Ambiental contra um garimpo ilegal que funcionava no interior do Parque Estadual de Intervales, em Sete Barras, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. O parque, uma reserva de proteção integral com 41 mil hectares de mata atlântica, é considerado sítio do patrimônio natural mundial desde 1991 pela Unesco. Os garimpeiros faziam uso de motor a combustão, mercúrio, máquinas e ferramentas para extração de ouro no garimpo clandestino em meio à floresta densa.

A operação teve início na tarde de sexta-feira (1) e se estendeu até a noite deste sábado, no bairro de Saibadela, no ponto de convergência do Intervales com outro parque estadual, o Carlos Botelho. O objetivo inicial era combater a extração ilegal de palmito da palmeira juçara, árvore típica da mata atlântica, ameaçada de extinção. Depois de quatro horas de caminhada na companhia de dois guardas-parques, os policiais ambientais localizaram o garimpo clandestino de ouro. Os quatro garimpeiros que estavam no local reagiram atirando contra o grupo.

O guarda-parque Damião Cristino de Carvalho Junior foi atingido na cabeça. Outro integrante da segurança do parque recebeu um tiro na perna. Três garimpeiros conseguiram fugir, mas um deles foi preso pelos policiais. Com dois guardas feridos, um em estado grave, os policiais pediram apoio ao grupamento aéreo da Polícia Militar. Devido à mata densa e a falta de visibilidade para pousar no local durante a noite, o resgate só aconteceu no sábado, dia seguinte. O helicóptero socorreu os feridos, mas o guarda-parque Damião morreu após chegar ao hospital.

Até a tarde deste domingo (3), os outros suspeitos do assassinato do vigilante ambiental não tinham sido presos. A Fundação Florestal, órgão da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado, que administra o parque, emitiu nota lamentando a morte do servidor “covardemente assassinado por criminosos”. Na nota, a fundação se solidariza com a dor da família e deseja que o exemplo de Damião guie as futuras gerações “a construir um mundo melhor, com mais tolerância, mais amor e respeito ao próximo e à natureza”.

Um coletivo de organizações ambientais capitaneado pela Fundação SOS Mata Atlântica divulgou nota de solidariedade à família de Damião e de repúdio “de forma veemente à escalada de violência e ilegalidade na causa socioambiental de norte a sul do Brasil, matando inocentes, como acaba de acontecer em São Paulo”.

Conforme a nota, a gestão das unidades de conservação do Brasil tem sofrido com a redução de equipe e a precarização da infraestrutura dos sistemas de proteção ambiental. “Isso acaba gerando uma pressão ainda mais sobre os guardas-parques e os serviços terceirizados de vigilância que estão à frente da proteção natural do Brasil”, diz a nota.

O texto lembra que “o discurso e as ações do governo federal fortalecem a permissividade de invasões ilegais para atividades clandestinas com o garimpo, que geram impactos ambientais praticamente irreversíveis nas áreas destinadas a preservar a natureza e o bem-estar de toda a sociedade”.

A nota, assinada também pelo Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal, Rede Nacional Pro-Unidades de Conservação, The Nature Conservancy (TNC) e WWF-Brasil, lembra que o ato de violência acontece pouco depois da divulgação de que um novo decreto do governo federal pode reduzir a proteção do bioma mais devastado do Brasil para beneficiar interesses do setor imobiliário.

Proposta do ministro do meio-ambiente, Ricardo Salles, pretende alterar o decreto que regulamenta a Lei da Mata Atlântica, mantendo a proteção apenas para as formações tipicamente florestais, o que pode reduzir a proteção do bioma em 10%, conforme noticiou o Estado em 27 de abril.

O presidente Jair Bolsonaro viveu a infância e juventude em Eldorado, cidade vizinha a Sete Barras, no Vale do Ribeira, onde ainda reside parte de sua família. Quando visitou a região já como presidente, em junho do ano passado, Bolsonaro prometeu às lideranças políticas regionais medidas de incentivo à exploração mineral na região. Na época, o presidente falou sobre projetos de exploração do grafite para a extração do grafeno em duas jazidas mapeadas em Miracatu, na mesma região. O Vale do Ribeira concentra 80% das áreas de mata atlântica do Estado.

Fonte: Terra

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