A ambiciosa missão para salvar o Delta do Okavango, na África
O Delta do Okavango não desemboca no mar. Todo contido no interior da bacia hidrográfica, ele acaba num perímetro a sudeste, com a sua água sendo absorvida pelos espessos areais do Kalahari. É possível considerá-lo o maior oásis do mundo, um refúgio úmido que assegura a sobrevivência de uma miríade de vida selvagem: elefantes, hipopótamos, mabecos, antílopes, javalis, búfalos, leões e zebras, assim como de uma deslumbrante diversidade de aves – sem mencionar um setor turístico que movimenta centenas de milhões de dólares por ano. No entanto, dos céus, não dá para a gente avistar os crocodilos e os hipopótamos descansando. Tampouco os cães-selvagens acocorados à sombra dos arbustos espinhosos ou as expressões de contentamento estampadas no rosto dos visitantes e dos empreendedores locais. Outra coisa que também não dá para ver do alto é a origem de tanta água.
Essa água vem quase toda de Angola, o complicado vizinho de Botsuana, do qual é separado apenas por uma estreita faixa de território namibiano. A origem da água está nas terras altas úmidas e chuvosas, no centro de Angola, e de lá ela corre para a região sudeste do país, passando por importante área de drenagem, a bacia do Rio Cubango, e em seguida, mais lentamente, por outra, a do Rio Cuito, em que forma lagos; depois, infiltra-se pouco a pouco através de relvadas planícies aluviais, turfeiras e camadas arenosas subjacentes, até que acaba, afinal, engrossando afluentes. O Cuito e o Cubango se juntam na fronteira meridional de Angola, formando um rio mais caudaloso, o Okavango, que atravessa a faixa de Caprivi, um estreito território da Namíbia, e entra, por fim, em Botsuana. Em média, 9,4 trilhões de litros de água afluem a cada ano à região do delta. Se não houvesse essa dádiva líquida, o Delta do Okavango deixaria de existir.
“Já deveríamos estar fazendo algo”, me diz Boyes, no início de 2017, em um acampamento à margem do Rio Cubango, depois de uma jornada remando as canoas típicas locais, os mokoros, rio abaixo. Boyes cresceu em Johannesburgo, mas sempre foi apaixonado pela natureza. Enquanto preparava o doutorado, teve diversos empregos – foi atendente em vinícolas, guia turístico, gerente um camping no Okavango. Por volta de 2007, a questão do suprimento de água tornou-se cada vez mais óbvia para ele. Mas, sempre que quis soar o alerta em Botsuana, topou com uma reação marcada pelo fatalismo. “As pessoas não demonstravam interesse”, diz. Instigado, Boyes passou a prestar mais atenção no norte, nas cabeceiras dos rios. Ele esperava não só entender mas contribuir para a preservação do sistema fluvial.
Em 2017, angola talvez pareça um local improvável para levar adiante projetos visionários de conservação – por outro lado, ele oferece oportunidades incomuns. Embora tenha sido devastado pela guerra, o país está pacificado. Desde o início da década de 1960 até o começo do milênio, Angola permaneceu no topo da lista de nações que ninguém gostaria de visitar – a não ser que você fosse um combatente mercenário ou um negociante de diamantes. Uma das colônias africanas de Portugal, o país tornou-se independente em 1975, depois de uma brutal guerra de libertação, e em seguida foi palco de uma guerra civil que se prolongou por 27 anos, durante os quais serviu de campo de enfrentamento das superpotências, tendo o seu território recheado de minas terrestres − um cenário de sofrimento e violência.
Mas a situação mudou de maneira drástica desde 2002, quando o grupo rebelde Unita foi definitivamente derrotado, ao mesmo tempo que começou a extração e exportação em grande es-cala de petróleo, gerando um surto de crescimento econômico. “O mais importante que temos a dizer ao mundo é que Angola hoje desfruta de estabilidade”, me disse recentemente a ministra do meio ambiente Maria de Fátima Monteiro Jardim. “Estamos empenhados na preservação da natureza”, insistiu. O que esse compromisso significa na prática, porém, é algo difícil de dizer.
Fonte: National Geographic
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