sábado, 7 de abril de 2018

Nova espécie de rã é descoberta em serra entre Colômbia e Venezuela.

Foto do dia 27 de março mostra rã da espécie Hyloscirtus Japreria (Foto: Fernando Rojas-Runjaic/La Salle Natural History Museum of Venezuela/AFP)
Cientistas da Venezuela e da Colômbia identificaram uma nova espécie de rã na Serra de Perijá, uma vasta cadeia montanhosa compartilhada pelos dois países e lar de espécies endêmicas como este pequeno anfíbio.
Com uma pele multicolorida e canto único, a Hyloscirtus japreria, que habita rios e cursos d’água a mais de 1 mil metros de altitude, foi descoberta durante expedições realizadas há uma década.
Seu nome presta homenagem aos járerias, um grupo étnico de Perijá, no estado de Zulia (noroeste da Venezuela).
Com essa descoberta – publicada na revista científica “Zootaxa” – são 37 espécies as identificadas do gênero Hyloscirtus.
Menores, os machos medem entre 2,8 e 3,2 centímetros e as fêmeas de 3,5 a 3,9 cm.
O caminho para concluir a investigação começou em 2008.
“Passaram-se vários anos antes que pudéssemos obter evidências suficientes de que se tratava de uma nova espécie”, indicou o biólogo Fernando Rojas-Runjaic, coordenador do estudo.
Depois de determinar que “era uma rã de torrentes, tivemos que verificar que não era o Hyloscirtus platydactylus, outra espécie registrada em Perijá em 1994″, acrescentou.
Conforme avançavam as expedições, foram incorporadas câmeras fotográficas e gravadores de som de alta definição para documentar a coloração e submeter os cantos a uma “análise bioacústica”.
Os sons que emite, que podem ser ouvidos a cerca de 15 metros de distância, são uma das suas características distintivas, indicou Edwin Infante, companheiro de Rojas nas excursões.
“Quando apareceu pela primeira vez – um macho adulto – foi um orgasmo intelectual”, lembra Infante.
O espécime foi reconhecido por seu canto particular: um “piu prolongado”.
A H. jareria também é caracterizada pelas suas costas amarelo-claras, com manchas castanhas escuras e pequenas manchas castanho-avermelhadas.
Também possui listras esbranquiçadas em certas regiões dos olhos, orelhas, coxas e pernas.
A íris é cinza com uma reticulação preta fina.
Junto com Rojas-Runjaic, do Museu de História Natural La Salle, em Caracas, trabalharam o biólogo colombiano Fabio Meza-Joya e os venezuelanos Infante e Patricia Salerno.
Foto do dia 27 de março mostra rã da espécie Hyloscirtus Japreria (Foto: Fernando Rojas-Runjaic/La Salle Natural History Museum of Venezuela/AFP)
Ciência graças à paz
Meza-Joya havia encontrado a mesma rã no lado colombiano, mas só se deu conta disso quando conheceu Rojas em um curso no Equador. Em 2013, decidiram unir forças.
Foi assim que descreveu a espécie “a partir de indivíduos coletados em três áreas da encosta oriental da Serra de Perijá (Venezuela) e em uma cidade na encosta ocidental (Colômbia)”, disse à AFP o herpetologista colombiano.
Para os intrincados habitats só era possível chegar a pé ou de mula depois de vários dias de travessia.
O acesso à Serra de Perijá da Colômbia foi restringido por décadas pelo conflito armado, “o que produziu vácuos de informação”, explicou Meza-Joya, que enfatizou que a assinatura da paz com as guerrilhas amplia o horizonte para novas descobertas.
O processo de paz com as FARC – que começou em 2012 e levou ao desarmamento do grupo e à conversão em um partido político em 2017 – “abriu uma janela para entrar em áreas inacessíveis, com a paz aumentando o conhecimento sobre a biodiversidade”, disse.
Meza-Joya enfatiza que os anfíbios são fundamentais nos ecossistemas, pois atuam como reguladores de populações de insetos que, por sua vez, podem ser pragas ou vetores de doenças.
Além disso, “algumas espécies têm uma acentuada vulnerabilidade às mudanças ambientais, razão pela qual são consideradas excelentes indicadores da saúde dos ecossistemas”, acrescentou o especialista.
Fonte: France Presse

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