terça-feira, 30 de abril de 2019

Girafas entram para a lista de espécies ameaçadas de extinção.

Após uma luta de dois anos por parte de ONGs e entidades ambientais, o departamento do governo norte-americano para questões ambientais (US Fish and Wildlife Service) anunciou a revisão de uma petição de 2017 para listar as girafas na Lei de Espécies Ameaçadas dos Estados Unidos (Endangered Species Act).

“Consideramos que a petição para listar as girafas apresentou informação substancial quanto às ameaças potenciais associadas ao desenvolvimento, agricultura e mineração”, anunciou um porta-voz do departamento.
Agora a US Fish and Wildlife Service deve compor a sua própria revisão, que deve levar um prazo de 12 meses e consultas públicas para determinar se as girafas serão incluídas na lista.
Segundo dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), a população desses animais diminuiu cerca de 40% de 1985 a 2016. Segundo Adam Peyman, do Humane Society International, os EUA não tem quase nenhuma restrição para a importação de produtos originários da caça e exploração de girafas: se a Lei de Espécies Ameaçadas oficialmente começar a proteger esses animais, a importação seria dificultada.
Entre 2006 até 2015, 39.516 girafas foram importadas, mortas ou vivas, para os Estados Unidos. O número inclui 21.402 esculturas ósseas, um pouco mais de 3 mil peles e 3,7 mil troféus de caça.
Fonte: Revista Galileu

segunda-feira, 29 de abril de 2019

ONU reúne países para iniciar tratado de proteção aos oceanos

Registros recentes mostram que a temperatura nos oceanos bateu recorde; ONU alerta para a necessidade de acordo para proteger as altas aguas e evitar impactos ambientais globais

Calcula-se que são despejados nos oceanos entre 8 e 12 milhões de toneladas de plásticos a cada ano. Esta poluição afeta os ecossistemas marinhos e afeta o estado das águas. Principal regular climático, a poluição do oceanos também pode causar impacto ao clima, provocando mais aquecimento.
Na semana passada, a ONU alertou para o aumento recorde das temperaturas dos oceanos. Desde o início dos registros meteorológicos, o período que vai de 2015 a 2018 foi o mais quente de todos para os oceanos.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a temperatura em 2018 superou os níveis já registrados, causando um aumento do nível do mar “a um ritmo acelerado”, segundo a OMM.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta para a situação dos oceanos. “Os dados divulgados são muito preocupantes. Os últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados, e a temperatura média na superfície do globo em 2018 foi superior em 1°C os valores pré-industriais”, disse.
Conferência Intergovernalmental sobre a Biodiversidade Marinha
No dia 25 de março, representantes nacionais se reuniram  para começar a elaborar um acordo que possa servir como instrumento jurídico para regular o uso dos oceanos. Os encontros formam parte de um esforço para conseguir elaborar uma lei que proteja a biodiversidade das águas. A expectativa é que em 2020, consigam ter o tratado finalizado.
A meta principal é elaborar uma espécie de Acordo de Paris específico para as águas. Será necessário, para lograr o acordo, um compromisso real já que entre os países membros da ONU há posições variadas sobre como restringir a exploração em alto mar e proteger a biodiversidade.
A reunião ocorrerá até o dia 5 de abril, e outros dois encontros estão agendados até meados de 2020. Na abertura, a diplomata Rena Lee da Singapura, quem preside esta Conferência Intergovernalmental, motivou os países a cooperar e mostrar-se flexíveis para conseguir juntos um resultado que seja justo e equilibrado.
Greenpeace foi mais enérgico, e pediu um resultado urgente, sólido e vinculante, que “não seja apenas uma declaração de intenções”, disse a ativista da ONG Pilar Marcos.
FUNIBER patrocina diversos programas na área ambiental, como o Mestrado em Ciência e Tecnologia Marinha, para interessados em ampliar o conhecimento e especializar-se para uma atuação profissional eficiente, capaz de enfrentar os desafios atuais no setor.
Fontes:

Um rio único em todo o mundo

O rio Caño Cristales, na Colômbia, atrai turistas interessados em ver as diversas cores que tingem o leito das águas durante os meses de outono

Em Colômbia se encontra o rio Caño Cristales, conhecido pelas cores chamativas com tonalidades que vão do azul, ao amarelo, laranja, verde e vermelho. Alguns chamam a correnteza deste rio de “arco-íris líquido”.
As águas deste rio, que tem apenas 100 quilômetros de longitude e 20 metros de largura, mudam de cor devido à planta Macarenia Clavigera, flora endêmica da região, especialmente durante o outono, entre os meses de Julho e Dezembro. Este espetáculo visual é único deste tipo em todo o planeta.
A planta necessita algumas condições precisas, como o nível adequado de água e a quantidade certa de luz solar, para poder apresentar tons brilhantes e pintar o rio. Por ter muitas pedras no leito do rio, basta uma chuva moderada para que se encha rapidamente. Durante o verão, quando as águas estão no nível mais baixo, as plantas podem multiplicar-se.
A zona foi fechada durante muitos anos para turistas, com a intenção de evitar ataques depredatórios e impactos negativos sobre o ecossistema local. Porém, foi reaberto há 10 anos, e hoje atrai diversos visitantes.
Desde Macarena, há transportes que fazem o passeio para o parque nacional Serrania de la Macarena, região onde se encontra o rio.
Mestrado em Gestão e Auditorias Ambientais, patrocinado pela FUNIBER, estudos nos campos da inovação e da gestão do conhecimento se confluem para oferecer uma formação integral. O profissional poderá adquirir a capacidade, a habilidade e os conhecimentos para compreender estratégias, sistemas, processos, ferramentas e métodos que permitam gerenciar a projeção das organizações no que se refere ao meio ambiente, a partir da óptica do desenvolvimento sustentável.
Caño Cristales en Colombia: ¿es este el río más hermoso del mundo?

domingo, 28 de abril de 2019

A catástrofe que matou milhares de filhotes e fez uma colônia de pinguins desaparecer.

Milhares de filhotes de pinguins-imperadores se afogaram quando o mar congelado onde viviam foi destruído por condições climáticas extremas.

A catástrofe ocorreu em 2016 no Mar de Weddell, na Antártida, e acaba de ser relatada por uma equipe da British Antarctic Survey (BAS), a operação nacional britânica na região, no periódico científico Antarctic Science.
Assim, a colônia de pinguins-imperadores que vivia às margens da prateleira de gelo Brunt – que, por diversas décadas, reuniu entre 14 mil e 25 mil casais destas aves, o que corresponde de 5% a 9% da população global da espécie – desapareceu praticamente da noite para o dia.
Os cientistas Peter Fretwell e Phil Trathan perceberam o desaparecimento da colônia Halley por imagens de satélite. Mesmo em imagens tiradas a até 800 quilômetros de distância, é possível identificar o excremento das aves, conhecido por guano, em meio ao gelo branco e estimar assim o tamanho provável de um agrupamento.

O que pode ter acontecido?

Ventos fortes abriram buracos dentro da lateral mais espessa da prateleira Brunt, e o gelo que nunca se reformou completamente.
“O gelo que se formou desde 2016 não foi tão forte. As tempestades que ocorrem em outubro e novembro agora vão acabar fazendo com que ele desapareça mais cedo. Portanto, a situação mudou. O gelo deixou de ser estável e confiável”, disse Fretwell.
Os imperadores são a espécie de pinguim mais alta e pesada. Por isso, precisam de plataformas de mar congelado estáveis para se reproduzir. Elas devem durar, pelo menos, de abril, quando as aves chegam, até dezembro, quando filhotes já têm condições de flutuar.
Quando o gelo se rompe cedo demais, os filhotes não conseguem sobreviver, porque ainda não têm as penas adequadas para começar a nadar. Foi o que parece ter ocorrido em 2016.
A equipe britânica acredita que muitos adultos evitaram se reproduzir nesses últimos anos ou mudaram-se para novos criadouros no Mar de Weddell. Uma colônia a cerca de 50 km de distância, perto da geleira Dawson-Lambton, teve um grande aumento no número de animais.
Segundo cientistas, o evento fez com que a colônia de Brunt entrasse em colapso, pois as aves adultas não deram nenhum sinal de tentar restabelecê-la.
Não está claro por que a plataforma de gelo marinho na borda da prateleira Brunt não conseguiu se regenerar. Não há uma evidência climática clara para isso. Observações atmosféricas e oceânicas nas proximidades da Brunt encontraram poucas mudanças.

População da espécie no mundo pode ser reduzida em 70% até o fim do século

Mas a sensibilidade dessa colônia em relação as mudanças no gelo marinho evidencia o impacto que o futuro aquecimento na Antártida pode ter sobre os pinguins-imperadores em especial, diz a equipe.
Pesquisas sugerem que a espécie pode perder de 50% a 70% de sua população global até o final deste século, se o gelo marinho for reduzido na proporção calculada por modelos computacionais.
Isso teria consequências além dos pinguins-imperadores, diz Michelle LaRue, ecóloga da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia.
“Eles são uma parte importante da cadeia alimentar. São o que chamamos de mesopredadores. Eles são presas de animais como focas-leopardo, mas também se alimentam de espécies de peixes e krill. Então, eles desempenham um papel relevante no ecossistema “, disse ela à BBC News.
Trathan explicou que o que mais chama atenção não é que uma colônia se mude de lugar ou que possa haver uma interrupção no ciclo de reprodução.
“Sabemos que essas coisas acontecem. Estamos falando aqui da formação de uma baía no Mar de Weddell, que é um refúgio para as espécies adaptadas ao frio, como os pinguins-imperadores, em meio às mudanças climáticas. Haver grandes distúrbios em refúgios assim – onde não temos visto mudanças nos últimos 60 anos – isso é um alerta importante”, disse o cientista.

Colônia tinha um futuro incerto

Mas a colônia de Halley Bay poderia não ter futuro de qualquer forma. A prateleira Brunt está sendo dividida por uma enorme rachadura em desenvolvimento.
Este abismo acabará gerando um iceberg do tamanho da cidade de Londres no Mar de Weddell, e qualquer gelo marinho preso à borda do iceberg pode se desmanchar durante este processo, condenando a colônia independentemente do que aconteceu em 2016.
Fonte: BBC

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Brasil foi país que mais perdeu florestas tropicais nativas em 2018.

O mundo perdeu 12 milhões de hectares de florestas tropicais em 2018, o equivalente ao território da Nicarágua, afirmou nesta quinta-feira (25/04) a ONG ambientalista World Resources Institute (WRI).

O ano de 2018 foi o quarto pior em termos de desmatamento de florestas tropicais, depois dos anos de 2016, 2017 e 2014, desde que o WRI começou sua cartografia, em 2001, acrescentou o relatório anual, elaborado pelo projeto Global Forest Watch, com base em dados compilados pela Universidade de Maryland a partir da análise de imagens de satélite.
“É tentador saudar um segundo ano de declínio após o pico de 2016”, com 17 milhões de hectares de perdas, disse Frances Seymour, pesquisadora do WRI. “Mas, se olharmos para os últimos 18 anos, está claro que a tendência geral ainda é de aumento”, ressalvou.
Dos 12 milhões de hectares perdidos, 3,64 milhões de hectares são de florestas tropicais primárias, também chamadas de florestas nativas ou virgens, o equivalente ao território da Bélgica.
O Brasil foi o país que perdeu a maior área dessas florestas no ano passado – mais de 1,4 milhão de hectares –, à frente da República Democrática do Congo (481,2 mil hectares) e da Indonésia (339,8 mil hectares).
Segundo o WRI, a perda de floresta nativa no Brasil em 2018 foi menor do que seu pico, relacionado a incêndios em 2016 e 2017, mas maior do que foi entre 2007 e 2015, período em que o país tinha reduzido sua taxa de desmatamento em 70%.
A perda de florestas virgens é “especialmente preocupante”, segundo a ONG. “Estas são as florestas que têm o maior impacto em termos de emissões de carbono e biodiversidade”, disse uma especialista do WRI, Mikaela Weisse, já que armazenam carbono e abrigam uma grande fauna e flora.
A taxa de destruição de florestas nativas também é preocupante na República Democrática do Congo. Porém, ela diminuiu 63% na Indonésia, em comparação com o pico de 2016, de acordo com o estudo. A Indonésia se beneficiou de medidas do governo e de dois anos relativamente úmidos, desfavoráveis à deflagração de incêndios, mas o fenômeno El Niño pode mudar a situação em 2019.
A situação pode piorar no Brasil, segundo a organização não governamental Imazon, porque o desmatamento na Amazônia brasileira aumentou 54% entre janeiro de 2018 e janeiro de 2019, mas também devido à alteração de políticas ambientais defendida pelo presidente Jair Bolsonaro.
Segundo o Global Forest Watch, ainda é muito cedo para avaliar o impacto de eventuais medidas do governo Bolsonaro sobre a cobertura florestal brasileira.
Na vizinha Colômbia, a perda de florestas nativas aumentou 9% entre 2017 e 2018, uma vez que o acordo de paz entre o governo e as Farc ajudou a tornar algumas áreas mais acessíveis, afirma o estudo.
“O desmatamento causa mais poluição climática do que todos os carros, caminhões, navios e aviões do mundo juntos”, disse Glenn Hurowitz, executivo chefe da Mighty Earth, uma organização ambientalista. “É vital proteger as florestas que ainda temos.”
Fonte: Deutsche Welle

quinta-feira, 25 de abril de 2019

O casal brasileiro que recriou uma floresta do nada.

O desmatamento é um dos maiores problemas que a Terra tem de enfrentar para continuar abrigando a vida como a conhecemos. Por isso é tão importante quando bons exemplos são dados, principalmente por pessoas que podem influenciar outras. O portal Bored Panda fez uma matéria destacando um destes exemplos vindos aqui do Brasil. O texto fala sobre uma ação do casal formado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e pela arquiteta e mestra em urbanismo Lélia Wanick Salgado, que trouxeram à vida uma floresta que já estava morta.
“O que fazer em face da carnificina ambiental ? Isso pode fazer com que o indivíduo se sinta pequeno e indefeso, à medida que ponderamos o impacto que podemos realmente causar. Será que alguma coisa que façamos faz a menor diferença? O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e sua esposa Lélia Deluiz Wanick Salgado decidiram mostrar o que um pequeno grupo de pessoas dedicadas e apaixonadas pode fazer, revertendo o desmatamento e começando um processo de reflorestamento”.
O processo ao qual a matéria se refere diz respeito a um projeto de reflorestamento no município de Aimorés, em Minas Gerais, onde Sebastião Salgado foi criado. “Nos anos 90, exausto fisicamente e emocionalmente após documentar a terrível barbárie do genocídio em Ruanda, ele voltou para casa em sua área nativa do Brasil, que era coberta por uma exuberante floresta tropical. Ele ficou chocado e devastado ao descobrir que a área era agora estéril e desprovida de vida selvagem, mas sua esposa Lélia acreditava que poderia ser restaurada à sua antiga glória”, diz o texto.
“A terra estava tão doente quanto eu – tudo foi destruído. Apenas cerca de 0,5% da terra estava coberta de árvores. Então minha esposa teve uma ideia fabulosa de replantar esta floresta. E quando começamos a fazer isso, todos os insetos, pássaros e peixes retornaram e, graças a esse aumento das árvores, eu também renasci – este foi o momento mais importante”, disse Salgado ao jornal britânico The Guardian em 2015.
Juntos, Sebastião e Lélia fundaram o Instituto Terra, uma pequena organização que desde então plantou 4 milhões de mudas e trouxe a floresta à vida. “Talvez tenhamos uma solução. Há um único ser que pode transformar CO2 em oxigênio, que é a árvore. Precisamos replantar a floresta. Você precisa de florestas com árvores nativas, e você precisa coletar as sementes na mesma região que você plantou ou as serpentes e os cupins não virão. E se você planta florestas que não pertencem, os animais não vêm lá e a floresta fica em silêncio”, diz o fotógrafo, segundo o Bored Panda.
A área, reflorestada com plantas nativas, floresceu notavelmente nos anos que se seguiram. “A vida selvagem voltou, e onde havia um silêncio mortal há agora uma cacofonia de pássaros e insetos zumbindo ao redor. Ao todo, cerca de 172 espécies de aves retornaram, além de 33 espécies de mamíferos, 293 espécies de plantas, 15 espécies de répteis e 15 espécies de anfíbios, um ecossistema inteiro reconstruído a partir do zero”, destaca o BP. “A Mãe Natureza é uma alma resistente que sempre encontrará uma maneira de se recuperar, dadas as condições certas. Salgado é uma figura de renome, tendo ganho quase todos os grandes prêmios em fotojornalismo e publicado mais de meia dúzia de livros. O projeto inspirou milhões ao dar um exemplo concreto de ação ecológica positiva e mostrar a rapidez com que o ambiente pode se recuperar com as atitudes corretas”.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 129 milhões de hectares de floresta, uma área quase equivalente em tamanho à África do Sul, foram perdidos da Terra para sempre desde 1990. Uma área aproximadamente do tamanho do Panamá está sendo perdida todos os anos. Com cerca de 15% de todas as emissões de gases de efeito estufa advindos do desmatamento, e incontáveis ​​espécies de plantas e animais perdendo seus habitats todos os dias, estes são números absolutamente devastadores para a saúde do nosso planeta, e simplesmente não podem continuar”, define o BP. [Bored Panda]
Fonte: Hypescience

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Tubarões brancos morrem de medo de uma certa criatura marinha.

Nós costumamos pensar no grande tubarão branco como um animal que vive no topo da cadeia alimentar, sem predadores naturais, e, portanto, sem medo de viver em nenhum território. Do que um tubarão branco teria medo, afinal de contas? Pois um novo estudo resolveu responder essa pergunta, e descobriu que há sim um animal de quem até mesmo os tubarões brancos têm medo: as orcas.
As novas evidências encontradas no estudo mostram que essas baleias são realmente boas em espantar a fera mais temida do mar. As orcas retiram do grande tubarão branco o trono de “predador supremo”. A equipe de cientistas marinhos, formada por pesquisadores do Aquário Monterey Bay, nos EUA, e da Universidade de Stanford, descobriu que grandes tubarões brancos (Carcharodon carcharias) se tornam extremamente escassos sempre que detectam a presença de orcas (Orcinus orca).
“Quando confrontados por orcas, os tubarões brancos desocupam imediatamente seu local de caça preferido e não retornam por até um ano, mesmo que as orcas estejam apenas passando”, conta Salvador Jorgensen, cientista sênior do Aquário Monterey Bay, nos EUA, e líder do estudo, em matéria publicada no site da instituição.
A equipe de pesquisa documentou quatro encontros entre os predadores no sudeste das Ilhas Farallon, no Santuário Marinho Nacional de Farallon, em São Francisco, na Califórnia. Os cientistas analisaram as interações usando dados de 165 tubarões brancos marcados entre 2006 e 2013 e compilaram 27 anos de pesquisas de focas, orcas e tubarões nos Farallones.
“Esta pesquisa combina duas fontes de dados realmente robustas. Complementando os novos dados de identificação de tubarões do Aquário com o monitoramento a longo prazo da vida selvagem no Refúgio Nacional de Vida Selvagem das Ilhas Farallon, nós pudemos mostrar conclusivamente como os tubarões brancos saem da área quando as orcas aparecem”, reafirma Jim Tietz, co-autor do estudo e biólogo do Programa Farallon, da Point Blue Conservation Science.
Em todos os casos examinados pelos pesquisadores, os tubarões brancos fugiram da ilha quando as orcas chegaram e não voltaram para lá até a estação seguinte. Isso teve um efeito nas colônias de elefantes-marinhos nos Farallones, que se beneficiaram indiretamente desse efeito. Os dados revelaram de quatro a sete vezes menos eventos de predação em elefantes-marinhos nos anos em que os tubarões brancos foram embora da região.
“Em média, documentamos cerca de 40 eventos de predação de elefantes-marinhos por tubarões brancos no sudeste da Ilha Farallon a cada temporada. Depois que as orcas aparecem, não vemos um único tubarão e não há mais mortes”, diz Anderson
A cada outono, entre setembro e dezembro, os tubarões brancos se reúnem nos Farallones para caçar jovens elefantes-marinhos, tipicamente passando mais de um mês circulando na região sudeste das Ilhas Farallon. As orcas que passam por ali também se alimentam de elefantes-marinhos, mas só aparecem ocasionalmente na ilha.
Para determinar quando as orcas e os tubarões coexistiram na área, os pesquisadores compararam os dados das marcas eletrônicas dos tubarões com as observações de campo dos avistamentos de orcas. Isso permitiu demonstrar o resultado nos raros casos em que os predadores se encontravam.
Etiquetas eletrônicas mostraram que todos os tubarões brancos começaram a desocupar a área em poucos minutos após breves visitas de orcas – às vezes as orcas estavam presentes na área apenas por menos de uma hora e isso já era suficiente para a debandada. As marcas então mostraram os tubarões brancos aglomerados em outras colônias de elefantes-marinhos mais distantes ao longo da costa ou dirigidas para fora da costa.
“Estes são tubarões brancos enormes. Alguns têm mais de 5 metros e meio de comprimento, e eles geralmente dominam o poleiro aqui. Temos observado alguns desses tubarões nos últimos 15 a 20 anos – e alguns deles até mais do que isso”, aponta Anderson.
O fato do tamanho dos tubarões não intimidar as orcas não é uma surpresa, entretanto – elas podem atacar baleias muito maiores do que isso. Orcas já foram observadas atacando grandes tubarões brancos ao redor do mundo, inclusive em regiões perto das Ilhas Farallon. Ainda não se sabe ao certo o motivo, mas os tubarões mortos por orcas são encontrados sem seus fígados, órgãos ricos em óleo e cheios de vitaminas.
As descobertas do estudo destacam a importância das interações entre os principais predadores na natureza, algo que é pouco documentado – ainda mais no oceano. “Nós normalmente não pensamos sobre como o medo e a aversão ao risco podem ter um papel importante na formação de grandes predadores que caçam e como isso influencia os ecossistemas oceânicos. Acontece que esses efeitos de risco são muito fortes mesmo para grandes predadores como os tubarões brancos – fortes o suficiente para redirecionar sua atividade de caça para áreas menos preferidas, mas mais seguras”, relaciona Jorgensen.
Os pesquisadores não sabem se as orcas estão atacando os tubarões brancos como presas ou se estão intimidando eles em nome da competição pelos elefantes-marinhos, presas ricas em calorias, mas acreditam que essa interação tem uma grande importância na formação e na dinâmica da cadeia alimentar.
“Eu acho que isso demonstra como as cadeias alimentares nem sempre são lineares. As chamadas interações laterais entre os predadores de topo são bastante conhecidas em terra, mas são muito mais difíceis de documentar no oceano. E como esta acontece com pouca frequência, pode demorar um pouco mais para entendermos completamente a dinâmica”, define Jorgensen. [Science AlertWashington PostMonterey Bay Aquarium]
Fonte:  Hypescience

terça-feira, 23 de abril de 2019

O mistério das ‘piranhas impossíveis’ encontradas em lago na Inglaterra.

Dois peixes com características muito próximas das piranhas foram encontrados mortos em um lago em Yorkshire, na Inglaterra.

Os animais estão sendo analisados para verificação de sua espécie.
Os peixes de dentes afiados foram encontrados por pescadores no lago Martinwells, próximo de Doncaster, uma região popular para caminhadas e pescaria.
Especialistas dizem que é praticamente impossível para piranhas, que são naturais dos trópicos, sobreviverem nas águas geladas da Inglaterra.
Autoridades ambientais do distrito de Doncaster, onde fica o lago, dizem que os peixes podem ter sido abandonados no local após terem sido criados como “animais de estimação”.
Os ferozes predadores foram encontrados por Lisa Holmes e seu parceiro Davey White, que estavam pescando no lago no domingo.
“Meu parceiro estava observando a beira do lago quando de repente viu um peixe flutuando próximo à plataforma de pesca. Quando olhamos mais de perto e vimos os dentes, percebemos que era uma piranha”, diz Lisa.
“Dado o ambiente natural das piranhas, é altamente improvável que elas tenham estado vivas em qualquer momento no lago”, diz Gill Gillies, diretor-assistente de meio-ambiente da Assembleia de Doncaster.
“Imaginamos que elas foram criadas por alguém e jogadas no lago, algo que desencorajamos veementemente.”
Os peixes agora estão sendo analisados pela agência ambiental local.
“Piranhas não são nativas da Inglaterra e não são apropriadas para nossos lagos e rios”, disse um porta-voz da agência. “Esses peixes não sobrevivem ou se alimentam em temperaturas abaixo de 10ºC e rapidamente sucumbem ao frio e aos invernos do norte.”

Dentada poderosa

Piranhas são originárias das águas doces da América do Sul. Existem 36 espécies conhecidas, 24 delas encontradas no Brasil.
Algumas piranhas foram encontradas em outras parte do mundo, mas acredita-se que são todos casos de bichos mantido em cativeiro e soltos na água, segundo a BBC Ciência e Ambiente.
Piranhas têm dentes muito afiados e mandíbulas poderosas. Um estudo de 2012, feito por pesquisadores de universidades americanas e pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), apontou que a piranha-preta, que chega a atingir 40 cm de comprimento, tem a mordida mais forte entre todos os peixes ósseos.
Elas comem praticamente qualquer coisa quando estão com fome – inclusive recorrendo a canibalismo se o alimento for muito escasso.
Embora raros, casos de ataques a humanos já foram registrados – e tendem a acontecer quando banhistas se aproximam de áreas de reprodução, já que os peixes se tornam mais agressivos no período de reprodução.
Em 2016, 25 pessoas foram atacadas por piranhas em dez dias na cidade de Pão de Açucar, em Alagoas.
Fonte: BBC

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Sob risco de extinção, espécie de papagaio mais gorda do mundo tem recorde na reprodução e anima biólogos.

Os kakapos são a espécie mais gorda de papagaios do mundo e chegaram a ser o pássaro mais comum de toda a Nova Zelândia, até se tornarem ameaçados de extinção por conta da caça, do desmatamento e de predadores. O resultado é que chegaram a restar, no país, apenas 147 kakapos adultos.

Agora, uma nova geração de pássaros anima os ambientalistas do país: os kakapos neozelandeses produziram 76 filhotes na última temporada reprodutiva, o maior número já registrado desde que a espécie ficou sob acompanhamento, informa o Departamento de Conservação (DOC) da Nova Zelândia. Espera-se que ao menos 60 dos bebezinhos cheguem à vida adulta.
A nova geração é duas vezes mais numerosa do que a da última temporada reprodutiva, em 2016.
O kakapo (Strigops habroptilus) – também conhecido como papagaio-mocho – só se reproduz uma vez a cada dois ou quatro anos, e em condições bem específicas: eles botam ovos quando há abundância de frutas de uma árvore conífera endêmica da Nova Zelândia chamada rimu(o alimento favorito desses pássaros), o que também só acontece a cada dois ou quatro anos.
Além disso, essa espécie tem enfrentado problemas de infertilidade e a proliferação de doenças. Ou seja, nem todos os ovos botados se convertem em filhotes vivos e saudáveis.
Isso torna o recorde reprodutivo deste ano ainda mais importante para a espécie. Segundo Andrew Digby, conselheiro do DOC, cientistas notaram um aumento na quantidade de frutas das árvores rimu nos últimos anos. Com tantas frutas à disposição, muitas fêmeas kakapo conseguiram botar mais ovos do que de costume.

Quase extintos

Os kakapos são pássaros noturnos, incapazes de voar. Segundo as autoridades neozelandesas, eram uma espécie abundante em todo o país antes da colonização humana.
“A população (de kakapos) caiu dramaticamente por conta da ação de caçadores, de predadores introduzidos (pela colonização europeia) e pela retirada da mata”, diz o DOC. “Os esforços de conservação começaram ainda em 1894, mas, em meados do século 20, os kakapos estavam à beira da extinção.”
Em 1977, documentava-se a existência de apenas 18 espécimes desse papagaio.
Até que um grupo de kakapos foi descoberto na Ilha Stewart, no extremo sul da Nova Zelândia. Começou então um esforço dos cientistas para aumentar a população dos pássaros, em ilhas onde eles não sofressem ameaça de predadores externos.
O projeto hoje prevê que kakapos recém-nascidos sejam criados em laboratório, até serem novamente liberados na vida selvagem, acoplados a um transmissor.
Cada papagaio tem seu ninho monitorado por sensores e câmeras; e as aves ganharam comedouros com suplementos nutricionais que aumentam suas chances de crescerem saudáveis.
“Esses pássaros não têm muita privacidade”, brinca Digby. “Consigo ver pela internet o que eles estão fazendo, se estão acasalando, por quanto tempo e qual a qualidade do acasalamento. Essa é provavelmente uma das espécies mais gerenciadas do mundo, certamente a mais gerenciada da Nova Zelândia.”
Para aumentar a conscientização do público a respeito dos kakapos, o DOC promoveu no início deste mês uma sessão online de observação dos bebês pássaros.
Digby conta que a expectativa é de alcançar uma população de 500 kakapos, algo que exigirá um esforço constante.
“O objetivo de nosso programa é que cada criança (do país) cresça sabendo o que é um kakapo, assim como sabem o que é um elefante e um leão.”
Fonte: BBC

domingo, 21 de abril de 2019

Rara condição faz animais serem metade fêmea, metade macho.

Do grego gynos, que significa feminino, e andros, que quer dizer masculino, ginandromorfismo é uma condição rara, mas não incomum, na qual animais apresentam características de macho e fêmea. E não é só nos órgãos de reprodução que elas se manifestam, mas também no fenótipo.

Ou seja: é possível, sim, você um dia encontrar uma ave que pareça galo de um lado e galinha de outro; tentando acasalar em alguns momentos, colocando ovos em outros. A condição é diferente de outras em que o indivíduo é geneticamente uniforme, mas tem um fenótipo intermediário entre o padrão masculino e feminino, ou que só apresenta os órgãos sexuais masculinos e feminismo, sem características físicas (hermafroditismo).
O fenômeno afeta principalmente as aves, ainda que em quantidades mínimas. Estima-se que uma em cada um milhão se desenvolva assim. Insetos, como as borboletas e o bicho da seda, e crustáceos, como a lagosta e camarões, também podem apresentar as características. Em mamíferos, nunca houve registro de casos, provavelmente porque o desenvolvimento do sexo ocorre de maneira bem diferente, sofrendo muita influência de hormônios (no caso do ser humano, por exemplo).
Podem ocorrer três formas de ginandromorfismo: bilateral, quando cada metade do corpo é uma região; polar, quando a região anterior é de um sexo e a posterior de outro; e oblíquo, com a região anterior e um lado de um sexo, e a posterior e o outro lado de outro, em diagonal.
Há diferentes teorias e explicações para a condição. Alguns animais têm cromossomos sexuais normais em cada lado do corpo, o que leva pesquisadores a pensar que são quase como gêmeos bivitelinos unidos pelo centro. Outra teoria é que, por uma falha de formação de óvulos, o pacote de DNA com metade dos cromossomos que deveria ser descartado (chamado de corpo polar) é retido e fertilizado, causando ambos óvulo e corpo polar a se desenvolverem.
Fonte: Revista Galilei

Por ‘acidente’, cientistas descobrem plásticos que estão no oceano desde os anos 60.

Criado para coletar informações sobre plânctons em mar aberto, um instrumento que viaja pelos oceanos desde 1931 pode ter acidentalmente criado um registro histórico sobre um elemento estranho ao ambiente marinho natural, mas presente amplamente graças à ação humana: o plástico.

Os Gravadores Contínuos de Plânctons (CPRs, na sigla em inglês), formados por caixas de metal com aparência antiquada e frutos de uma colaboração científica internacional, arrastaram consigo pela primeira vez uma sacola plástica em 1965, na Irlanda.
Segundo pesquisadores, pode ser o primeiro registro de lixo plástico encontrado no mar.
Os registros dos CPR também trouxeram à tona muito mais da poluição marítima nas últimas décadas.

Como os cientistas encontraram o plástico ‘acidentalmente’?

Ao coletar plânctons durante todas essas décadas – organismos que são um ótimo indicador da situação dos oceanos e das espécies que nele vivem -, a engenhoca produziu por tabela a trajetória dos plásticos nesses ambientes.
Clara Ostle, pesquisadora do projeto e membro da Associação de Biologia Marinha de Plymouth, explica que, durante a coleta de amostras de plâncton da água, a equipe precisa registrar quando algum item estranho fica preso no gravador.
“Vimos por meio desses registros que tivemos alguns casos históricos de plástico emaranhados”, explicou Ostle.
“Podemos construir uma série temporal a partir disso – para que possamos ver o aumento de plástico maiores presos.”

O que essa linha do tempo de plástico no oceano mostra?

Além da sacola plástica coletada na Irlanda em 1965, outros pontos destacados são:
• Uma linha de pesca plástica encontrada em 1957;
• A confirmação de que houve um aumento significativo e constante do plástico oceânico desde 1990;
• Para dar esperança, a equipe observou que o número de sacolas plásticas encontradas no oceano diminuiu nos últimos anos, mas não está claro se isso está relacionado a proibições e campanhas contrárias ao uso desse material.

Que males o plástico causa ao mar?

Os animais marinhos podem ficar emaranhados em plásticos maiores – particularmente redes e cordas. Uma equipe de documentaristas da BBC filmou no ano passado em uma ilha remota aves marinhas que morreram de fome porque seus estômagos estavam cheios de fragmentos de plástico.
Plásticos muito menores, conhecidos como microplásticos e que muitas vezes são oriundos de produtos maiores fragmentados, já foram encontrados dentro de peixes, em sedimentos no fundo do mar e até mesmo no gelo da Antártida. O potencial dano disso para estes seres ainda está sob investigação por cientistas.
Fonte: BBC

quarta-feira, 17 de abril de 2019

A ave que está entre as mais perigosas do mundo e matou seu dono nos EUA.

O casuar é considerado uma das aves mais perigosas do mundo. O ataque de um deles matou na sexta-feira seu cuidador, um homem de 75 anos.

 polícia do condado de Alachua, no norte da Flórida, nos Estados Unidos, disse à BBC ter recebido uma chamda de emergência.
Ao chegarem, encontraram Marvin Hajos gravemente ferido por um casuar. A ave chega a pesar mais de 45 kg, e suas garras podem chegar a 10 cm de comprimento. O casuar consegue correr a até 50 km/h.
Hajos foi levado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. A polícia está investigando o caso, mas disse que tudo indica que se tratou de um “acidente trágico”.
“O homem estava próximo da ave e, em algum momento, caiu (no chão) e foi atacado”, disse o subchefe de polícia Jeff Taylor ao jornal local Gainesville Sun.
Uma mulher que se identificou como companheira de Hajos disse ao mesmo jornal que o homem “estava fazendo o que amava”. Por décadas, ele se dedicou a cuidar de animais exóticos, segundo informações da mídia local.

Peso pesado

De aspecto similar ao dos emus, os casuares são originários da Austrália e da Papua Nova-Guiné. Estão entre as maiores e mais pesadas espécies de aves do mundo – na realidade, em peso, só perdem para o avestruz.
Suas plumas não foram feitas para que voem, mas para se proteger em seu habitat natural, a selva tropical. Elas mantém o casuar seco e a salvo dos afiados espinhos.
Suas potentes garras podem “abrir o corpo de qualquer predador ou ameaça em potencial como uma única patada”, diz o site do zoológico de San Diego, nos Estados Unidos.
A Comissão de Conservação de Vida Silvestre e Pesca da Flórida considera o casuar uma espécie de classe 2. Isso significa que é um animal perigoso para as pessoas.
Para cuidar de um espécime, é preciso ter uma permissão especial, além de experiência com isso e uma jaula que atenda a requisitos específicos, esclarece o órgão.
A polícia informou que a ave envolvida no acidente permanece na propriedade onde tudo ocorreu.
Fonte: BBC

Disputa EUA-China pode respingar no cerrado brasileiro.

A guerra comercial iniciada há um ano entre as duas maiores potências do mundo, Estados Unidos e China, deixa efeitos colaterais entre produtores de uma importante commodity americana: soja.

Desde que os chineses deixaram de comprar dos americanos devido às sobretaxas impostas por Donald Trump, produtores dos EUA amargam perdas com a soja estocada. Dados do governo americano apontam que aproximadamente 100 milhões de toneladas estão empacadas – o equivalente a 80% do total colhido no país em 2018.
E é ao Brasil que a China, maior compradora de soja do mundo, está se voltando para suprir a demanda interna.
“A briga entre China e Estados Unidos deu uma alavancada nos preços e nos valores aqui no Brasi””, confirma Antonio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja).
No ano passado, as exportações brasileiras para a China cresceram 35%. No mesmo período, oito em cada dez toneladas da soja produzida no Brasil e exportada tiveram o gigante asiático como destino.
A euforia, no entanto, é discreta. “Mais dia, menos dia, a safra contida nos EUA vai sair para o mercado”, diz Galvan. Ou seja, com excesso do produto circulando, os preços devem cair.
Uma preocupação diferente vem de outro setor da sociedade. Com as vendas em alta, novas áreas plantadas poderiam avançar sobre mata nativa brasileira.
“Quase metade da soja brasileira hoje é produzida no cerrado. E ainda não existe um acordo de mercado que barre a compra desse grão que venha da conversão de vegetação nativa do cerrado”, lembra Aline Soterroni, pesquisadora do instiuto Iiasa, da Áustria.
Segundo cálculos feitos por Fernando Ramos, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e pela pesquisadora Soterroni, 70 mil hectares adicionais de mata nativa podem sumir por ano exclusivamente por conta dessa demanda extra de soja, além do que é desmatado anualmente para pecuária e agricultura.
Dados sobre o mapeamento da soja apontam que o cultivo tem crescido entre 500 mil a 1 milhão de hectares por ano no país. Desse total, estima-se que até 150 mil hectares tenham avançado sobre mata nativa, provocando desmatamento.
Mais da metade do cerrado já foi devastado. “Se as projeções se confirmarem, o bioma vai desaparecer rapidamente, e os impactos podem ser irreversíveis”, alerta Ramos. O cerrado é a savana mais rica em biodiversidade do mundo, e o berçário de importantes bacias hidrográficas no país.
Paulo Barreto, pesquisador do Instituto Amazônico do Homem e Meio Ambiente (Imazon), diz, no entanto, que traçar essas relações de causa e efeito é complexo. “Normalmente, estudos mostram que quando há aumento de preço (da soja, no caso), isso leva ao desmatamento no ano seguinte”, afirma.
Segundo Barreto, ainda é difícil mensurar se a guerra comercial entre os gigantes da economia global tenha levado à destruição de mais florestas no Brasil: “Existe ainda muita incerteza de quanto tempo essa disputa entre China e EUA vai durar”.
Moratória da soja
Em discussão há algum tempo, o veto à comercialização de soja produzida em áreas abertas ilegalmente no cerrado ainda não decolou. A proposta segue os moldes da moratória da soja na Amazônia, em vigor desde 2006 e avaliada como bem-sucedida por pesquisadores e produtores.
“Existem elementos técnicos à disposição para apoiar o monitoramento de uma moratória da soja no cerrado”, afirma Claudio Almeida, coordenador do sistema de monitoramento do via satélite feito pelo Inpe.
“Essa moratória seria muito bem-vinda para colocar um ordenamento no plantio de grãos, e discutir publicamente como ocupar essa área do cerrado”, complementa Almeida.
Imagens de satélites são usadas para acompanhar a cobertura do bioma cerrado desde 2010. Em 2018, 6.657 quilômetros quadrados foram desmatados, o equivalente a quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Ainda assim, a taxa caiu 11% em relação ao ano anterior.
Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima e coordenador geral do MapBiomas, confirma que, em tese, a busca chinesa por mais soja brasileira pode levar ao desmatamento no cerrado. “A pressão no bioma já é grande. Mas, nesse momento, tem mais a ver com os sinais dados pelo governo para essa questão”, pondera Azevedo, chamando o fenômeno de “desmatamento especulativo”.
“As pessoas estão crentes de que haverá mais uma perdão para ilegalidade mais na frente. Os sinais estão sendo dados”, exemplifica o pesquisador, mencionando a articulação do governo Jair Bolsonaro para rever e perdoar multas ambientais.
Por enquanto. A Aproja não considera implantar uma moratória para o cerrado, segundo posicionamento oficial em discussões com outros setores. Segundo Antonio Galvan, a busca da China por mais soja brasileira devido ao embate com os EUA não vai impulsionar a destruição ambiental no país.
“Não tem o menor risco de isso acontecer”, diz à DW Brasil. O motivo seria o custo. “Em Mato Grosso, a soja hoje não remunera o custo de produção. Não existe vontade de aumentar área plantada nem em áreas de pastagem. Imagine em novos desmatamentos”, afirma.
Nathália Nascimento, doutoranda do Inpe associada à Universidade de Bonn, na Alemanha, tem um olhar diferente. Com base em entrevistas com pequenos produtores e em modelagens de computador, ela considera que o atual cenário pode, sim, aumentar o desmatamento.
“O efeito do aumento no preço da soja provoca uma dinâmica de mercado de terra que pode influenciar o desmatamento indireto”, comenta. Isso quer dizer que, para aumentar a produção,  os grandes proprietários, mais capitalizados pelo lucro maior provocado pelo aumento do preço, negociam terras com produtores menores que, por sua vez, avançam para áreas ainda com remanescentes florestais.
Os produtores de soja, ressalta Nascimento, não agem por impulso. “É uma atividade que demanda capital, investimento em tecnologia, mão de obra especializada”. Por outro lado, quando não há pressão financeira para que a legislação seja cumprida, o aumento do preço do produto no mercado se torna mais atraente que o risco de ser punido.
“Ou seja, o retorno econômico de uma infração é superior à punição. Por isso que é preciso controlar a cadeia produtiva para diminuir a ilegalidade”, afirma, sobre a importância da moratória da soja no Cerrado e na Amazônia.
Fonte: Deutsche Welle