quarta-feira, 10 de abril de 2019

Alpinista e herói da ONU explora os subterrâneos de calota de gelo na Groenlândia.

O alpinista e explorador Will Gadd coleciona recordes e títulos. O Herói das Montanhas da ONU Meio Ambiente e Aventureiro do Ano da National Geographic em 2015 foi a primeira pessoa a escalar as águas congeladas das Cataratas do Niágara, na divisa entre EUA e Canadá.

Mas o seu maior – e mais perigoso desafio – foi em cima e embaixo da calota de gelo da Groenlândia – uma expedição concebida para coletar dados sobre buracos nas geleiras conhecidos como “moulins”.
O alpinista e explorador Will Gadd coleciona recordes e títulos. O Herói das Montanhas da ONU Meio Ambiente e Aventureiro do Ano da National Geographic em 2015 foi a primeira pessoa a escalar as águas congeladas das Cataratas do Niágara, na divisa entre EUA e Canadá. Mas o seu maior – e mais perigoso desafio – foi em cima e embaixo da calota de gelo da Groenlândia – uma expedição concebida para coletar dados sobre buracos nas geleiras conhecidos como “moulins”.
Os “moulins”, palavra francesa para moinho, são fendas verticais que carregam a água da superfície para as fundações rochosas das geleiras. Lagos enormes, feitos de água do degelo, podem ser acessados por aberturas largas na calota congelada, que levam para abismos aparentemente sem fim. Na parte mais quente do ano, escalar os “moulins” pode ser uma aventura surpreendentemente perigosa, devido à água que escorre por essas formações. No inverno, o perigo são os pedaços enormes de gelo que caem do alto.
A meta de Gadd era alcançar o lençol freático da geleira – e dar um mergulho nele. O alpinista teve a companhia do pesquisador, hidrologista glacial e instrutor de mergulho Jason Gulley, que ensinou ao parceiro de aventuras os princípios do mergulho dentro de cavernas. Contudo, por causa do risco de acabar sendo esmagada pela queda de gelo, a dupla desistiu do mergulho. “A primeira meta é sempre voltar (da missão)”, explica Gadd.
Mesmo sem o mergulho, a viagem conseguiu expandir o conhecimento sobre como os “moulins” nas calotas polares interagem com a água e sobre os potenciais impactos desses fluxos hídricos no aumento do nível do mar. A calota da Groenlândia é a segunda maior do mundo, mas a menos estudada.
Desde 1979, estima-se que o gelo do mar do Ártico tenha sofrido uma redução de 40%. Modelos climáticos preveem que, à taxa atual de emissões de dióxido de carbono, os verões do Ártico serão estações sem gelo nenhum nessa porção do planeta Terra lá pelos anos 2030. Mesmo que o mundo conseguisse cortar as emissões conforme o previsto no Acordo de Paris, as temperaturas de inverno no Ártico aumentariam de 3 a 5º C até 2050 e de 5ºC a 9ºC até 2080, devastando o equilíbrio climático da região e provocando aumentos do nível do mar em todo o mundo, afirma um novo relatório da ONU Meio Ambiente.
O derretimento da calota polar da Groenlândia e das geleiras do Ártico respondem por um terço do aumento do nível do mar no planeta.

Movido a curiosidade

Sobre a expedição à Groenlândia, Will Gadd é enfático: “É um projeto que me levou mais longe do que qualquer outro que já fiz. Eu celebro cada momento que consigo viver plenamente. Ficar pendurado com uma mão só sobre um redemoinho na calota de gelo da Groenlândia é viver. Há momentos na vida em que você simplesmente não poderia estar vivendo mais do que naquele momento. Esse foi um deles para mim”.
Na juventude, o canadense andava com uma equipe de exploradores de cavernas que o apelidaram de “a sonda”, por sua habilidade de se espremer por lugares minúsculos. “Eu me espremia em lugares aonde nenhum humano jamais tinha ido porque isso era loucamente interessante e atiçava a curiosidade”, diz.
“Mais de três décadas após as minhas primeiras experiências em cavernas, os meus (dois) mundos, da escalada no gelo e da exploração de cavernas, colidiram. E ainda assim, vinha a curiosidade: qual é a desses ‘moulins’?”
Mas Gadd não é apenas um aventureiro. Ele e o professor Martin Sharp, da Universidade de Alberta, trabalharam sob a Geleira de Athabasca, nas Rochosas Canadenses, e encontraram novas formas de vida crescendo no gelo.
“O meu grupo foi o primeiro a mostrar que existe uma vida microbial ativa dentro e debaixo das geleiras, lá nos anos 1990, e que os micróbios estão envolvidos no intemperismo hídrico e no ciclo de nutrientes nesses sistemas e, portanto, eles (os micróbios) afetam a química da água de degelo que sai da geleira”, explica Sharp.
“O que a nossa coleta de amostras (em 2016) mostrou é que micróbios são relativamente abundantes por todo o sistema intraglacial e que os micróbios encontrados dentro da geleira são bastante diferentes dos que vivem na neve, sobre a superfície da geleira”, acrescenta o cientista.
Carolina Adler, diretora da Iniciativa de Pesquisa em Montanhas e presidente da Comissão Ambiental da Federação Internacional de Alpinismo e Montanhismo, afirma que as variações das condições ambientais associadas à neve, geleiras e permafrost e os seus impactos sob a influência das mudanças climáticas são algumas das áreas temáticas que serão discutidas no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, sobre os Oceanos e a Criosfera em uma Clima em Transformação.
“Esse relatório especial deve ser lançado em setembro, em 2019. Esperamos continuar a chamar atenção sobre todas as evidências disponíveis para entender os motores e os processos da mudança, bem como os feedbacks e as interconexões com as mudanças climáticas”, diz a pesquisadora.
O documento vai avaliar a literatura científica sobre mudanças climáticas, os oceanos e a criosfera – as porções da superfície terrestre em que a água se encontra em estado sólido, isto é, congelada. A publicação também terá um capítulo dedicado às áreas de altitudes elevadas.
Fonte: ONU

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