quinta-feira, 4 de abril de 2019

Humanidade consome recursos da Terra a taxas insustentáveis, alerta agência da ONU.

George Monbiot, correspondente do jornal britânico The Guardian e conhecido por seu ativismo ambiental e político, fez um apelo surpreendente para que as pessoas no Reino Unido reduzissem o uso de carros em 90% ao longo da próxima década.

Muitos indivíduos podem se mostrar avessos a essa ideia, mas talvez ela soe um pouco menos bizarra à luz de um novo relatório da ONU Meio Ambiente sobre a taxa com que estamos abocanhando os recursos do planeta Terra.

George Monbiot, correspondente do jornal britânico The Guardian e conhecido por seu ativismo ambiental e político, fez um apelo surpreendente para que as pessoas no Reino Unido reduzissem o uso de carros em 90% ao longo da próxima década.
Muitos indivíduos podem se mostrar avessos a essa ideia, mas talvez ela soe um pouco menos bizarra à luz de um novo relatório da ONU sobre a taxa com que estamos abocanhando os recursos do planeta Terra.
A indústria global do automóvel necessita de quantidades enormes de metais vindos da mineração, assim como de outros recursos naturais, como a borracha. E a transição para os veículos elétricos, embora necessária para conter a poluição do ar e as emissões de gases do efeito estufa, também tem consequências adversas para a natureza — a mineração em larga escala do lítio para as baterias usadas nos veículos elétricos poderia provocar novas dores de cabeça ambientais.
O Panorama Global sobre Recursos 2019, relatório da ONU Meio Ambiente preparado pelo Painel Internacional sobre Recursos, examina as tendências em recursos naturais e nos seus padrões correspondentes de consumo desde os anos 1970. Entre as principais descobertas da pesquisa, estão as seguintes conclusões:
  • A extração e o processamento de materiais, combustíveis e alimentos contribuem com metade do total de emissões globais de gases do efeito estufa e com mais de 90% da perda da biodiversidade e do estresse hídrico;
  • A extração de recursos mais do que triplicou desde 1970, incluindo um aumento de cinco vezes no uso de minerais não metálicos e um aumento de 45% no uso de combustíveis fósseis;
  • Até 2060, o uso global de materiais poderia dobrar para 190 bilhões de toneladas (a partir dos atuais 92 bilhões), enquanto as emissões de gases do efeito estufa poderiam aumentar 43%.
Além dos transportes, outro grande consumidor de recursos é o setor de construção, que cresce rapidamente.
O cimento, o insumo fundamental para a produção de concreto, o material de construção mais usado no mundo, é uma grande fonte de gases do efeito estufa e responde por algo em torno de 8% das emissões de dióxido de carbono, de acordo com um relatório recente da Chatham House.
Tanto a produção de concreto quanto a de argila (para tijolos) incluem processos que consomem muita energia para a extração de matéria-prima, além de etapas de transporte e uso de combustíveis para o aquecimento de fornos.
A areia de qualidade para uso na construção está sendo extraída atualmente a taxas insustentáveis.
“A extração de materiais é um dos principais responsáveis pelas mudanças climáticas e perda da biodiversidade — um desafio que só vai piorar a não ser que o mundo empreenda urgentemente uma reforma sistemática do uso de recursos”, afirma o especialista em mudanças climáticas da ONU Meio Ambiente, Niklas Hagelberg. “Tal reforma é tão necessária quanto possível.”

Transição energética

Dados de 2014 do Banco Mundial mostram que 66% da energia global é fornecida por combustíveis fósseis. A diretora-executiva interina da ONU Meio Ambiente, Joyce Msuya, pediu a aceleração da transição energética, dos combustíveis fósseis — carvão, petróleo e gás — para fontes renováveis de energia, como eólica e solar.
“Precisamos ver uma mudança quase total para as fontes renováveis de energia, que têm o poder de transformar vidas e economias ao mesmo tempo em que protegem o planeta”, afirmou a dirigente em uma carta para os participantes da Assembleia da ONU para o Meio Ambiente, realizada recentemente em Nairóbi, no Quênia.
O chamado da chefe da ONU Meio Ambiente veio poucos dias após o fundo soberano da Noruega — o maior do mundo, de 1 trilhão de dólares — sinalizar que planeja vender algumas das suas ações em empresas de petróleo e gás. A manobra é um golpe simbólico na indústria dos combustíveis fósseis, que vai reverberar entre empresas de energia e seus investidores.
“Agora, mais do que nunca, uma ação urgente e sem precedentes é exigida de todas as nações” para reduzir o aquecimento global, afirma o Relatório de Lacuna de Emissões da ONU Meio Ambiente de 2018. “Para transpor a lacuna de emissões de 2030 e garantir uma descarbonização de longo prazo, os países também têm que aprimorar as suas ambições de mitigação”, acrescenta o documento.
O Painel Internacional sobre Recursos foi lançado pela ONU Meio Ambiente em 2007, para construir e compartilhar os conhecimentos necessários para melhorar o nosso uso de recursos no mundo todo. O painel é formado por cientistas eminentes, altamente qualificados em questões de gestão de recursos, tanto de países desenvolvidos quanto de países em desenvolvimento, além de integrantes da sociedade civil e de organizações industriais e internacionais.
Fonte: ONU

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