Muito antes da cordilheira do Himalaia ser escalada pela primeira vez, em 1953, a atividade humana já alterava sua atmosfera da cadeia montanhosa ao longo do século 18. É o que mostra uma nova pesquisa publicada no PNAS, que sugere que os subprodutos da queima de carvão na Europa atingiram a região durante a Revolução Industrial.
Para realizar a pesquisa, a equipe de especialistas utilizou amostras retiradas da Shishapangma, que com cerca de 8.020 metros de altura é a 14ª montanha mais alta do mundo. O material analisado pertence mais especificamente à geleira Dasuopu, que faz parte do monte, e é o local de maior altitude do mundo, onde os cientistas obtiveram um registro climático extraído a partir de um núcleo de gelo.
Ao estudar a parte interna das geleiras através desses núcleos, os cientistas conseguem estimar registros de queda de neve, circulação atmosférica e outras mudanças ambientais ocorridas ao longo do tempo. Como explicam os pesquisadores, devido às pistas ambientais, é possível deduzir até mesmo o ano em que uma camada da geleira se formou.
A amostra estudada pelos cientistas foi coletada em 1997 e se formou entre 1499 e 1992, o que permitiu à equipe notar a presença de níveis elevados de diversos metais tóxicos nas amostras a partir do início da Revolução Industrial, em 1780. “A Revolução Industrial foi uma revolução no uso de energia”, explicou Paolo Gabrielli, líder do estudo, em comunicado.
“E assim o uso da combustão de carvão também começou a causar emissões que acreditamos terem sido transportadas pelos ventos até o Himalaia”, disse o especialista. Dentre as substâncias encontradas na amostra estão o cádmio, cromo, o níquel e o zinco, que são subprodutos da queima de carvão.
Eles também acreditam que é possível que alguns dos metais, principalmente o zinco, tenham ido parar nas montranhas por conta de incêndios florestais em larga escala. Apesar de ser difícil dizer se essas queimadas ocorreram de forma natural ou não, a época em que os registros foram encontrados no núcleo de gelo corresponde aos anos 1800 e 1900, quando incêndios florestais eram causados para derrubar árvores e dar lugar a fazendas.
“O que acontece é que, além da Revolução Industrial, a população humana explodiu e se expandiu”, afirmou Gabrielli. “Portanto, havia uma maior necessidade de campos agrícolas — e, normalmente, a maneira como eles obtinham novos campos era queimando florestas.”
A equipe de pesquisadores fez questão de destacar que a poluição causada pelos humanos atingiu os Himalaias antes mesmo de nós chegarmos por lá: os primeiros alpinistas chegaram ao cume do Shishapangma só em 1964. “Os níveis de metais encontrados foram maiores do que o que existiria naturalmente, mas não são altos o suficiente para serem extremamente tóxicos ou venenosos”, pontuou Gabrielli.
Ainda assim, o pesquisador ressalta que a descoberta é um alerta sobre a forma como lidamos com o meio ambuiente. “No futuro, a bioacumulação pode concentrar metais da água que se fundem [derretem] em níveis tóxicos e perigosos para os tecidos de organismos que vivem em ecossistemas abaixo da geleira”, exemplificou o especialista.
Fonte: Revista Galileu
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