quinta-feira, 31 de maio de 2018

Pará abriga maior parque de cavernas em rochas ferríferas do País, diz Ibama.

Parque Nacional dos Campos Ferruginosos é voltado para atividades de educação ambiental, lazer, pesquisa científica e turismo ecológico.

Criado por decreto presidencial no dia 5 de junho, o Parque Nacional dos Campos Ferruginosos, no Pará, é resultado do licenciamento ambiental do empreendimento de mineração S11D. Com área total de 79 mil hectares, a Unidade de Conservação (UC) de proteção integral possui 59 mil hectares de floresta preservada e 377 cavernas de formatos únicos que abrigam espécies raras da fauna e flora, ameaçadas e exclusivas da região. É considerado o maior parque em rochas ferríferas do mundo. 

Localizado nos municípios de Parauapebas e Canaã dos Carajás, o parque se destina apenas a atividades de educação ambiental, lazer junto à natureza, pesquisa científica e turismo ecológico. É formado por dois platôs ferruginosos: a Serra da Bocaina, também conhecida como 'Serra do Rabo', localizada entre a rodovia PA 160 e o Rio Parauapebas; e a 'Serra do Tarzan', próxima à rodovia 118. Também guarda registros arqueológicos das primeiras ocupações humanas na Amazônia.

No topo das serras, rochas ferríferas expostas há milhares de anos formam uma densa carapaça conhecida como canga ou 'savana Metalófila'. Os solos rasos impedem o desenvolvimento de árvores de grande porte. O cenário é de campos rupestres e savanas em meio à floresta tropical, um tipo raro de ecossistema.

“A criação do parque é resultado do amadurecimento de um diálogo fundado em bases científicas com o objetivo de buscar equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental”, diz o diretor substituto de Licenciamento Ambiental do Ibama, Jônatas Trindade.

Segundo Jocy Brandão, chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV) do ICMBio, o parque vai dobrar o número de cavernas em Unidades de Conservação do governo federal. 

"A criação da UC é uma parte desse processo. O esforço do ICMBio agora é de aportar investimentos e recursos humanos. Acredito que a parceria com os empreendimentos que estão lá vai viabilizar essa implementação”, diz o representante do Instituto, responsável pela gestão do parque.  

Portal Amazônia, com informações do Ibama

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Pequenos e ferozes, peixes beta travam batalhas épicas na Tailândia.

“Não vou perder. Nunca perco”, afirma o tailandês Wit quase sem tirar os olhos dos aquários verticais nos quais pequenos peixes beta (“Betta splendens“) brigam ferozmente em uma aldeia ao sudoeste de Bangcoc.
“Os participantes trazem seus próprios peixes. Hoje trouxe seis”, conta à Agência Efe o tailandês, sentado diante de vários potes de vidro onde peixinhos lutam violentamente em uma aldeia na província de Samut Sakhon. Wit, que há 30 anos participa de brigas de peixes, não se complica ao dar nome a seus ferozes mascotes, aos quais chama de 72, 35, 66, 50, Kid 1 e Kid 2, em referência à ordem em que os guarda. Em um clima divertido e em um ambiente clandestino, mais de 20 homens se posicionam em torno de aquários de vidro colocados em duas fileiras com algumas notas de pouco valor nas mãos para fazer apostas.
Os beta, também conhecidos como peixe de briga siamês ou “pla kad” (“peixe mordedor”, em tailandês), medem apenas até 6,5 centímetros, pesam 270 gramas e são agressivamente territoriais. Lung Chat, o árbitro, pesa os adversários, que devem ter o mesmo peso ou muito parecido, e depois os coloca nos pequenos aquários, onde se atacam com mordidas leves até que um deles desista e se afaste para um lado. O peixe que cede terreno é colocado em outro frasco onde o árbitro observa se volta a expandir as barbatanas, o que indica que está em condições de continuar com a luta.
O dono do “lutador aquático” pode aceitar a derrota ou continuar, mas se o seu peixe beta morrer, deve pagar uma multa de 200 a 400 bahts (de US$ 6 a US$ 12). “Não é habitual que morram (os peixes)”, assegura Lung Chat, que ressalta que as brigas podem durar até duas ou três horas. Os peixes, que costumam viver dois anos, lutam apenas uma vez e depois são devolvidos à natureza. As apostas não costumam ultrapassar os 500 bahts (US$ 15), ainda que em alguns casos possam chegar a três mil bahts (US$ 80). As brigas de peixes são regularizadas na maioria das províncias tailandesas – Bangcoc é uma exceção -, embora na localidade de Samut Sakhon os apostadores reconheçam que às vezes precisam subornar a polícia.
Beer, que se dedica há 12 anos a criar peixes beta, diz à Efe que as brigas são uma tradição muito antiga e que envolve pouco dinheiro. “Criamos os nossos próprios peixes ou os compramos da fazenda e os treinamos para que sejam mais fortes”, detalha o tailandês, de 33 anos. Beer trabalhou durante dois anos como técnico de informática, mas se cansou e começou a criar peixes beta com as técnicas que tinha estudado no sul da Tailândia, onde estes animais são muito populares.
Um peixe de briga siamês custa aproximadamente 200 bahts (US$ 6), mas há casos em que o preço pode ser de milhares de bahts, se for um exemplar especial. Os beta usados nas brigas costumam ser pretos e ligeiramente azulados, mas os criados em aquários de decoração exibem uma ampla gama de cores como vermelho, laranja, amarelo, branco ou turquesa.
Em novembro do ano passado, um exemplar com as cores da bandeira tailandesa foi vendido por um preço recorde de 53.500 bahts (US$ 1,5 mil) em um leilão na internet. Segundo o site bettafishcenter.com, os siameses costumavam retirar os peixes beta dos tanques naturais e dos campos inundados de arroz para colecioná-los e colocá-los para brigar desde antes do século XIX. Ainda que o primeiro europeu a documentar a existência desta espécie tenha sido o médico Theodor Cantor, o nome científico “Betta splendens” foi dado pelo ictiólogo britânico Charles Tate Regan em 1909.
 (Fonte: Terra)

terça-feira, 29 de maio de 2018

Alerta ambiental por morte de golfinhos no Brasil

Região próxima ao Rio de Janeiro, no Brasil, vem detectando cadáveres de golfinhos infectados por vírus. Biólogos, conservacionistas e moradores investigam as causas

Na baía de Sepetiba, a 65 quilômetros do Rio de Janeiro, um alerta se acendeu devido à quantidade de golfinhos encontrados mortos, com marcas e abaixo do peso. Ao total, desde finais do ano passado, foram encontrados mais de duzentos cadáveres de golfinhos Sotalia guianensis.
Pesquisadores e residentes buscam a resposta para o que ocorre na baía. Os golfinhos encontrados haviam sofrido danos no sistema nervoso e falhas respiratórias, que foram relacionadas com o vírus morbillivirus, transmitido por ar. Os efeitos causados pelo vírus causam uma morte dolorosa, com agonia.
A bióloga Mariana Alonso, do Instituto da Biosfera na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ressalta que os golfinhos são como sinais de alerta. Se algo está mal com eles, então “todo o ecossistema está fraturado”, disse.
Uma das respostas pode estar na contaminação do mar, já que a região é uma das princiapis vias de entrada de exportações. Próximo, estão diversas empresas químicas e de metal, como por exemplo, a Vale do Rio do Doce, uma das maiores companhias produtora de minério de ferro.
A bióloga lembra que nos anos mais recentes, o número de indústrias e empresas cresceu na região. “O que gera é uma maior concentração de contaminantes no fundo marinho e na cadeia alimentar”, afirmou.
O coordenador científico da Grey Dolphin Institute, Leonardo Flach, que colabora na investigação das causas das mortes dos golfinhos, afirmou que esta epidemia pode ser apenas “a ponta do iceberg”.
Os profissionais interessados na conservação ambiental podem optar pelos cursos de mestrado, doutorado e especializações patrocinados pela FUNIBER, como por exemplo, o Mestrado em Ciência e Tecnologia Marinha.
Fonte:
La muerte de delfines en Brasil alarma a los investigadores
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segunda-feira, 28 de maio de 2018

Cresce os níveis de CO2 da atmosfera

Organização Meteorológica Mundial (OMM) informou em seu último boletim sobre um aumento preocupante nos níveis de dióxido de carbono na atmosfera

A OMM publicou em seu boletim anual sobre o impacto dos gases de efeito estufa. Nele é alertado um “aumento perigoso da temperatura global”. Isso ocorre pelo aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2), principal gás de efeito estufa, chegando a alcançar níveis recordes. Segundo este boletim, no ano passado foram alcançadas 403,3 partes por milhão (ppm) de concentração atmosférica, superando os 400 que já chegou em 2015. Este aumento é preocupante e serão agravados com os acontecimentos “extraordinários” como furacões, secas e inundações.
Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática está acontecendo na cidade alemã de Bonn. Começou na última segunda-feira, dia 7 e continua até o dia 17 de novembro. O que se pretende obter é, levando em conta os resultados do boletim da OMM, avançar na aplicação do Acordo de Paris. Ao parecer há uma falta de compromisso por parte dos governos com relação à redução das emissões de CO2.
O Acordo de Paris foi assinado no ano 2015 para reduzir os efeitos dos gases de efeito estufa que são emitidos. O objetivo é evitar que ocorra um aumento nas temperaturas. As medidas estabelecidas têm que ser realizadas para evitar que ocorra um aumento na temperatura. Não obstante, estima-se que o 2018 será um dos anos mais quentes desde que se começou os registros no século XIX.
Outro tema que será protagonista durante a conferência é a saída dos Estados Unidos deste acordo. O presidente, Donald Trump, deixou clara sua opinião sobre o tema, alegando que a mudança climática é um conto inventado pela China para tornar os produtos dos Estados Unidos menos competitivos.
Aqueles interessados em uma formação ampla em matéria de problemas ambientais podem optar pelo Mestrado em Mudanças Climáticas patrocinado pela FUNIBER.
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domingo, 27 de maio de 2018

Desmatamento e poluição podem comprometer revitalização do Rio Parnaíba, dizem especialistas.

A proposta de revitalização do Rio Parnaíba tem como objetivo proteger a bacia hidrográfica e garantir abastecimento de água a população da região, disseram nesta quarta-feira (4) os especialistas ouvidos em audiência pública conjunta da Comissão de Meio Ambiente (CMA) e pela Comissão de Desenvolvimento Regional (CDR). Eles apontaram o desmatamento e a poluição como ameaças à preservação das reservas hídricas.
A audiência foi promovida para instruir o PLS 56/2014, que institui regras para a revitalização do Rio Parnaíba e de seus afluentes. O projeto é do senador Elmano Férrer (PMDB-PI).
A bacia hidrográfica do Parnaíba é a segunda mais importante do Nordeste e abrange o Piauí, parte do Maranhão e do Ceará. A senadora Regina Sousa (PT-PI), autora do requerimento da audiência, disse ser preciso colocar em prática o trabalho que já foi desenvolvido, pois a atual situação da bacia é preocupante.
— [é preciso] agir sem precisar aguardar um processo legislativo. Tentar unir forças para a gente fazer alguma coisa acontecer, porque a gente precisa salvar esse rio. Senão a geração que vem depois não vai nos perdoar — alertou.
De acordo com o presidente da Rede Ambiental do Piauí, Avelar Damasceno, o projeto precisa estabelecer um modelo de gestão para implementar as ações de recuperação e conservação da bacia, que enfrenta diversos problemas.
— O maior impacto ambiental é o desmatamento. Outra questão muito séria é o baixo nível de saneamento básico que acontece em todas as cidades. Tem a questão da poluição, que é muito intensa nessa bacia — afirmou.
A revitalização ampliará o volume de água disponível para a população e garantir o abastecimento nas zonas urbana e rural, a fim de promover o desenvolvimento econômico da região, disse o diretor de revitalização da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Inaldo Guerra. Ele informou como a instituição vai atuar na região.
— A revitalização compreende as ações de esgotamento sanitário, as ações de controle de processo erosivo e uma ação muito importante que são os arranjos produtivos locais. Quando você apoia essa atividade, você está fixando o homem no campo de forma sustentável, o que ajuda a preservar também o rio.
O projeto será analisado de forma terminativa na Comissão de Meio Ambiente (CMA). Caso seja aprovado, seguirá para a Câmara dos Deputados.
Com informações da Rádio Senado
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
Fonte: Senado noticias

sábado, 26 de maio de 2018

Vulcão Kilauea pode bloquear a única estrada que resta para fuga

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Rio Araguaia pode secar em 40 anos por causa do desmatamento

Segundo informações da prefeitura de Xambioá, a pesca, principal motor da economia local, foi o setor que mais sentiu os impactos da baixa do rio: de 17,5 mil quilos pescados, em setembro do ano passado, este ano o número caiu para pouco mais de 6,7 mil quilos.
Um levantamento feito pela Secretaria de Meio Ambiente de Xambioá, cidade à 480 quilômetros de Palmas, mostrou que de janeiro até o final de setembro o rio baixou cerca de 2 metros.
O rio Araguaia nasce em Goiás e desagua no Pará, passando por Mato Grosso e Tocantins. São mais de 2 mil quilômetros de extensão.
Em 2014, a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) de Goiás divulgou um estudo mostrando que a bacia pode secar em até 40 anos.
O principal motivo apontado foi o desmatamento da vegetação nativa para criação de gado. Para reverter a situação, em 2015 tornou-se crime ambiental desmatar áreas próximas a nascentes.
A Secretaria de Meio Ambiente de Xambioá diz, em nota, que já está desenvolvendo um plano de reflorestamento em nascentes e plantação de árvores em alguns pontos das margens do rio para devolver força às águas.
Fonte: Radio Agencia Nacional

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Fux considera só 3 pontos do novo Código Florestal inconstitucionais

Após o voto, a presidente do STF, a ministra Cármen Lúcia, pediu vista do processo, adiando o resto da votação. Não há previsão de quando a discussão vai ser retomada pelo plenário do STF.
No principal ponto rejeitado, Fux entendeu que o artigo 59 da lei 12.651/2012, que alterou o antigo Código Florestal, vai contra a Constituição. O artigo estabelece o Programa de Regularização Ambiental (PRA) – dispositivo que trata sobre como deve se dar a regularização de áreas que foram desmatadas ilegalmente.
Ele traz um parágrafo que prevê que a partir do momento que o proprietário de terra aderir ao PRA e enquanto estiver sendo cumprido o termo de compromisso, ele não poderá ser autuado por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008 por desmatamento em Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. Ou seja, ao se comprometer a restaurar suas áreas, o proprietário não pode mais ser multado.
Fux lembrou em seu voto que a Constituição prevê que condutas lesivas ao ambiente sujeitam os infratores a sanções penais ou administrativas, independentemente de o infrator promover uma reparação. “A lei confere verdadeira anistia condicional a esses infratores, em total desconformidade com o mandamento constitucional”, disse.
“Indicadores científicos evidenciam que, até 2012, o desmatamento em território brasileiro decresceu constantemente, chegando a atingir o menor nível naquele ano, segundo dados do Prodes. No entanto, desde a aprovação do Código Florestal, os índices de desmatamento cresceram progressivamente. Em 2016, a alta já era de 74,8%”, complementou.
Para ele, “a anistia das infrações cometidas até 22 de julho de 2008 pode ser apontada como uma das possíveis causas para esse aumento”. E continuou: “Ao perdoar infrações administrativas e crimes ambientais pretéritos, o Código Florestal sinalizou uma despreocupação do Estado para com o direito ambiental, o que consequentemente mitigou os efeitos preventivos gerais e específicos das normas de proteção ao meio ambiente.”
Segundo o ministro, esse item da lei incentiva a crença de que de tempos em tempos a lei vai ser revisada para perdoar infrações passadas. “Incentiva a ideia de que pode desmatar livremente no presente porque no futuro novos programas de regularização serão implementados”, afirmou. Em seu entendimento, os danos ambientais não são apagados com simples reflorestamento da área, que ele chamou de paliativo, por não apagar os efeitos da ausência da vegetação nos anos anteriores.
Outro ponto que Fux considerou inconstitucional foi a criação de regimes diferenciados de recomposição da vegetação para antes e depois do dia 22 de julho de 2008. Segundo o artigo 7º do novo Código, o proprietário é obrigado a recompor a vegetação desmatada em APP se ela não tiver sido autorizada. E se essa supressão não autorizada tiver ocorrido depois de 22 de julho de 2008, o proprietário não pode conseguir novas novas autorizações para supressão de vegetação. “Não encontrei justificativa racional para o marco temporal estabelecido pelo legislador”, afirmou o relator.
Questionamentos
Está sob análise no STF quatro ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) – sendo três ajuizadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e uma pelo PSOL – e uma ação declaratória de constitucionalidade (a favor do Código) do Partido Progressista. Ao todo, 58 pontos estavam sendo questionados. Fux os agrupou em 22 e considerou a maioria constitucional. Para o relator, somente 3 não são.
Apesar de a liberação das multas ter sido um dos pontos cruciais durante a tramitação do novo código, outros ainda mais polêmicos acabaram sendo considerados legais pelo relator, o que torna o seu voto mais favorável aos defensores da lei como ela foi aprovada. Para ambientalistas e cientistas que foram ouvidos em audiência públicas durante a análise do tema no STF, esses outros pontos resultaram em diminuição da proteção ao ambiente.
As ADIs questionam, entre outros aspectos, artigos que liberam de recuperação áreas desmatadas ilegalmente até julho de 2008 – o que, segundo cálculos da Esalq/USP, isentou 41 milhões de hectares desmatados. Também são questionados a redução de Áreas de Preservação Permanente (APPs), como matas ciliares, e de Reservas Legais (RLs), e o artigo que estabelece como pode se dar a compensação das RL desmatadas. Para Fux, todas eles são constitucionais.
Para André Nassar, diretor do Agroícone – think tank que realiza análises sobre o agronegócio –, o voto de Fux foi positivo. “Para quem gostaria de ver o código preservado como foi aprovado, o voto caminhou bem”, disse. Ele lembra, porém, que a multa é uma questão sensível. “Ouvi de muitos produtores que eles iriam aderir ao PRA para poder converter a multa. Então imagino que vair tirar muita gente da zona de conforto.”
Ainda assim, Nassar pondera que outros artigos, se fossem considerados inconstitucionais, seriam pior para o agronegócio. É o caso do artigo que estabelece a “escadinha” – item que definiu o tamanho da APP desmatada que tem de ser recomposta nas margens de rios conforme o tamanho da propriedade. Assim, terrenos pequenos, de até 4 módulos fiscais, por exemplo, precisam recompor só 5 metros de margem – a APP mínima no Código Florestal era de 30 metros. Quanto maior o terreno, maior a área.
O ambientalista Mauricio Guetta, do Instituto Socioambiental (ISA), afirma que esse era justamente um dos itens que o setor esperava ver declarado inconstitucional. Outro era um que estabelece a forma de medir as APPs de cursos d’água – a partir da “borda da calha do leito regular do rio”. Antes a referência era o leito maior, na cheia. Contando a partir da calha, o espaço para APP fica muito menor. Na Amazônia essa perda de proteção pode ser de 400 mil quilômetros quadrados de mata ciliar, segundo cálculos do ISA.
“Essas foram as grandes derrotas para a gente. Ter declarado inconstitucionais anistias a sanções administrativas e criminais e a desproteção de nascentes é bom, mas consideramos insuficiente para garantir o equilíbrio ambiental”, complementou.
A PGR, ao ajuizar as três ADIs, defendeu que os dispositivos questionados da lei “inserem uma absurda suspensão das atividades fiscalizatórias do Estado, bem como das medidas legais e administrativas de que o poder público dispõe para exigir dos particulares o cumprimento do dever de preservar o meio ambiente e recuperar os danos causados”.
“Os dispositivos normativos impugnados, além de tornarem caótico o sistema de controle ambiental no Brasil, afrontam de forma severa o art. 225, § 3°, da Constituição Federal, o qual determina que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”, argumentou a PGR.
Fonte: O Estado de S.Paulo

quarta-feira, 23 de maio de 2018

As árvores mais antigas do mundo.

A localização exata e o nome do pinheiro são mantidos em segredo pelo Serviço Florestal dos EUA para evitar atos de vandalismo. Sua irmã mais nova, segunda árvore mais antiga de que se tem registro, tem 4.845 anos e é chamada “Matusalém”, apesar de já possuir o quíntuplo da idade do personagem bíblico.
Com galhos retorcidos e aspecto dramático, a espécie prospera em uma região rochosa, com altitudes superando 3 mil metros e baixa precipitação. A umidade costuma ocorrer na forma de neve, e as temperaturas ficam constantemente abaixo de zero. Ao mesmo tempo em que as condições são duras, elas também determinam sua sobrevivência: a falta de competição por nutrientes com outras espécies vegetais favorece a Pinus longaeva, assim como a distância entre os pinheiros, que evita a propagação do fogo. O segredo para a vida tão longa inclui ainda um tipo de madeira densa, resistente a insetos, fungos, pestes e protegida por uma capa de resina.
Esses pinheiros resistem impassíveis aos elementos naturais ao longo dos anos, mas um dos exemplares mais antigos foi derrubado por um cientista desavisado. Na década de 60, o geólogo Donald Currey derrubou, com autorização do Serviço Florestal, o pinheiro “Prometeu”, para depois descobrir que se tratava da árvore mais antiga já datada naquele momento, com 4.844 anos.
Controversa, a morte da árvore indignação nos EUA e contribuiu para a criação do Parque Nacional da Grande Bacia, que protege os pinheiros de longa duração. Cientistas apontam que o estudo da Pinus longaeva pode servir de guia para entender melhor, a nível celular, os motivos que a levam a viver tanto tempo. Com isso, a comunidade científica também teria mais conhecimentos necessários para desenvolver terapias que aumentem a longevidade humana.
Além da Pinus longaeva, a lista das árvores mais antigas do planeta conta também com um cipreste-da-patagônia encontrado no Chile, com 3.627 anos, e uma figueira-dos-pagodes de 2.222 anos, achada no Sri Lanka.
A lista considera árvores individuais, mas outro tipo de organismo pode chegar a idades surpreendentemente maiores por meio da clonagem, ou reprodução não sexuada. Um dos exemplos é Pando, uma floresta de cerca de 47 mil álamos unidos por um mesmo sistema de raízes. Individualmente, as árvores vivem cerca de 200 anos. Já o sistema de raízes, que cobre cerca de 43 hectares, tem estimados 80 mil anos de idade. Da espécie Populus tremuloides, Pando vive em Utah, também nos EUA.
O jequitibá-rosa
É possível que o Brasil também possua uma árvore de mais de três milênios, mas o tema é controverso. Um jequitibá-rosa localizado em uma reserva na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, no interior de São Paulo, teve sua idade estimada em mais de 3 mil anos.
O método usado pelo já falecido biólogo Manuel de Godoy foi o de contagem de anéis de crescimento de um jequitibá vizinho, que considera que um anel de crescimento visível no tronco da árvore é gerado a cada ano. Com essa idade, o jequitibá-rosa já seria milenário na época em que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil.
Contudo, outro cálculo aponta que o jequitibá teria cerca de 580 anos, conforme medição do chefe do laboratório de anéis de crescimento do departamento de ciências florestais da USP de Piracicaba, Mário Tomazello Filho. O pesquisador aponta que árvores tropicais possuem frequentemente falsos anéis de crescimento, o que poderia fazer com que se superestime a sua idade, como disse o pesquisador ao programa Globo Rural, da TV Globo.
Independente de sua idade, o jequitibá-rosa, apelidado de “Patriarca”, é imponente e impressionante: possui 11,5 metros de circunferência, 40 metros de altura e peso de 264 toneladas, equivalente a mais de 50 elefantes. O titã fica no Parque Estadual de Vassununga, área protegida mantida pelo governo estadual por meio da Fundação Florestal.
Fonte: G1

terça-feira, 22 de maio de 2018

Como uma doença sexualmente transmissível está ameaçando a sobrevivência dos coalas.

A população de coalas caiu drasticamente nas últimas duas décadas. Um dos motivos é a clamídia, doença sexualmente transmissível. (Foto: Getty Images).

A população de coalas caiu drasticamente nas últimas duas décadas. Um dos motivos é a clamídia, doença sexualmente transmissível.
A população de coalas diminuiu drasticamente nas últimas duas décadas, principalmente em decorrência de uma doença sexualmente transmissível chamada clamídia.
A ONG Australian Koala Foundation estima que só restem 43 mil coalas em ambiente silvestre. Antes de os europeus chegarem à Austrália, no século 18, havia 10 milhões desses animais. Autoridades de Queensland, o segundo maior estado do país, dizem que 40% dos coalas da região morreram.
Contaminação
“Cerca de 50% dos coalas em toda a Austrália estão infectados”, diz Daid Wilson, professor de infectologia do Instituto Burnet, em Melbourne. “Em alguns grupos populacionais, a grande maioria pode estar contaminada – até 80%.”
A clamídia se tornou uma ameaça tão séria quanto outros fatores tradicionalmente responsáveis pela redução populacional de coalas: destruição do habitat natural, ataque de cachorros domésticos, incêndios e atropelamentos.
A clamídia transmitida aos coalas é diferente da dos humanos e dificilmente ocorre contaminação entre as duas espécies.
Um estudo de 2017 mostrou que 50% dos coalas atendidos em clínicas veterinárias australianas tinham clamídia.

Transmissão

Diferentemente do que ocorre com humanos, a clamídia em marsupiais é transmitida não apenas sexualmente. As mães, por exemplo, podem infectar os filhotes pelo contato com seus fluídos corporais, que também servem de nutrientes aos recém-nascidos.
Infectologistas acreditam que os coalas adquiriram uma mutação da bactéria trazida à Austrália pela introdução de ovelhas e gados, no século 18, durante a colonização europeia.
Assim como ocorre em seres humanos, a clamídia pode causar esterilização, mas os coalas também sofrem outros efeitos, como infecção urinária, tumores e cegueira.
“Estamos vivenciado uma situação de urgência: muitos coalas estão sofrendo. Vários deles não podem mais se reproduzir. Não sabemos quantos ainda são férteis e quantos estão contaminados”, disse Michael Pyne, diretor de uma clínica veterinária em Queensland. Especialistas dizem que a clamídia chegou à Austrália junto com o gado levado pelos colonizadores europeus.
Mortes
De acordo com Pyne, sua clínica tem recebido cada vez mais coalas doentes. Em 2017, foram 461. “Trabalho neste hospital veterinário há 18 anos. Há 10 anos, tratamos de 28 coalas (num ano)”, disse o veterinário.
Um estudo da Universidade de Queensland, publicado no ano passado, mostrou que, de 1997 a 2013, pelo menos 52% dos 20.250 coalas tratados na região naquele período tinha sintomas de clamídia.
A doença correspondeu à segunda causa mais comum de internação de coalas – traumas provocados por atropelamentos foram 15,5%. Mas veterinários dizem que esses acidentes são efeitos “invisíveis” da clamídia, porque os animais infectados têm mais chance de ser atropelados.
Coalas comem apenas folhas de eucalipto, mas os animais contaminados podem se sentir fracos demais para subir em árvores e acabam ficando em situação vulnerável no solo.
Como na contaminação de humanos, a clamídia é curável, mas há enormes desafios em tratar marsupiais. É difícil, por exemplo, detectar a infecção, em seu estágio inicial, entre as populações de coalas que vivem na floresta.
Tratamentos convencionais, como antibióticos, podem prejudicar a habilidade que os coalas têm de digerir folhas.
Veneno ou vacina?
O tratamento com antibiótico só é eficiente nos primeiros estágios da doença, mas ainda assim há riscos- o remédio está ligado ao possível desequilíbrio na produção de bactérias intestinais dos marsupiais, o que pode prejudicar a habilidade de digestão de folhas de eucalipto.
Enquanto as pesquisas para encontrar uma vacina contra a doença estão sendo desenvolvidas, alguns cientistas defendem um método mais radical para conter a expansão da clamídia entre coalas.
O professor David Wilson, do Instituto Burnet, em Melbourne, acredita que a melhor forma de preservar os animais é sacrificar, em larga escala, os contaminados que não apresentem mais chance de cura.
“Coalas gravemente doentes são sacrificados, porque os antibióticos não são eficientes. Sacrificar mais coalas (infectados) poderia ajudar a aumentar a população (desses bichos)”, disse Wilson à BBC.
Esse pensamento, aparentemente paradoxal, é baseado num modelo de computador que mostra que um abate de 10% da população de coalas em diferentes regiões a cada ano paradoxalmente teria um efeito positivo, em longo prazo, no crescimento populacional desses animais.
Controvérsia
“Até que uma vacina seja disponibilizada, infelizmente, acredito que o abate seja a melhor solução”, diz Wilson. Esse argumento, porém, causa controvérsia.
A ONG Australian Koala Foundation argumenta que a proteção do habitat pode ser uma política muito mais eficiente na proteção.
“Os coalas já têm clamídia há muitos anos e eles podem viver bem com isso até sofrerem complicações, causadas, por exemplo, por estresse. Assim como os seres humanos, eles são mais suscetíveis a infecções se estão enfraquecidos. Se você não tem comida, se sua árvore foi derrubada e está correndo risco de ser morto por carros ou cachorros, você pode perder a batalha e adoecer”, disse ao The Guardian Douglas Kerlin, um ecologista que trabalha para a Australian Koala Foundation.
Alguns cientistas defendem que abate de animais poderá levar a um aumento futuro da população de coalas
“A intervenção necessária é a proteção do habitat natural. Focar na clamídia é a resposta mais fácil, proteger o habitat é mais difícil. Não estou dizendo que sou necessariamente contra o abate, mas tenho receio de matar espécies ameaçadas.”
Mas Wilson disse à BBC que já foram implementados alguns testes de abate. “Acreditamos que está funcionando conforme o previsto, mas, por causa da repercussão negativa, percebemos que a melhor estratégia é manter a discrição sobre isso. Não achamos necessário chamar a atenção para esse método de preservação (da espécie) até que ele dê certo”, afirmou. Abate não é algo novo. Em 2015, o estado de Victoria revelou que foram sacrificados 700 coalas nos dois anos anteriores na região de Cape Otway. A culpa, naquele episódio, não foi da clamídia.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage caption.
Atropelamentos são uma das principais causas de morte de coalas
Curiosamente, o sacrifício ocorreu depois que veterinários descobriram que um grande número de coalas estava passando fome por causa do aumento populacional fora do controle da espécie na região.
Vacinação contra clamídia
Pesquisadores têm esperança de que a criação de vacinas possa evitar que os abates continuem. Uma equipe da Universidade Sunshine Coast, também em Queensland, anunciou em 2017 que testes com uma dose de injeção mostraram “resultados encorajadores” no combate à clamídia em coalas.
Os cientistas, liderados por Peter Timms, usaram 21 animais da região de Moreton Bay nos testes – 15 eram saudáveis e seis apresentavam os estágios iniciais da infecção por clamídia.
Após seis meses, nenhum dos animais saudáveis desenvolveu a doença, apesar de ela ser altamente prevalente no habitat deles. E os seis marsupiais que já estavam doentes se curaram.
Timms e sua equipe acreditam que as pesquisas também serão úteis para os seres humanos. O pesquisador Kennet Beagly, que ajudou a desenvolver a vacina, está trabalhando numa versão para seres humanos que poderá ser testada nos próximos cinco anos.
“Você nunca vai conseguir se livrar da clamídia por completo, assim como você nunca vai conseguir se livrar da gripe, mas acreditamos que a vacina vai, pelo menos, fazer a população de coalas crescer em vez de se reduzir”, disse Beagly, à revista New Scientist.
A premiê do Estado de New South Wales, Gladys Berejiklian, anunciou uma nova estratégia, que inclui zonas de proteção aos coalas e programas de pesquisa. O investimento será de US$ 34 milhões.
“Coalas são um tesouro nacional. Esta estratégia vai assegurar que tenhamos mais deles nas florestas”, afirmou Berejiklian.
Cientistas acreditam que pesquisas leverão a tratamento preventivo também para humanos.

Fonte: BBC

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Brasil adere à campanha global Mares Limpos

O ministro informou a adesão brasileira em reunião com Erik Solheim, diretor executivo da ONU Meio Ambiente, responsável pela campanha. Na ocasião, Sarney Filho destacou a liderança brasileira na proteção dos recursos marinhos. “Os serviços ecológicos prestados pelos oceanos são essenciais para a população e o Brasil vem tomando uma série de medidas para garantir a conservação dos ecossistemas marinhos e costeiros”, afirmou.
As ações brasileiras incluem o compromisso voluntário de implementar uma estratégia de combate ao lixo no mar, anunciado pelo Brasil na Conferência dos Oceanos, realizada em junho em Nova York. No encontro, o país também apresentou medidas como o Programa Nacional de Conservação da Linha de Costa Brasileira (Procosta), construído pelo MMA com foco no monitoramento e gestão da região litorânea do país.
O engajamento nacional na criação do Santuário das Baleias do Atlântico Sul também está entre as medidas voltadas para a conservação marinha. O objetivo é criar uma área de proteção das baleias entre os continentes americano e africano, em uma proposta defendida pelo Brasil em parceria com Argentina, Uruguai, Gabão e África do Sul. O Santuário prevê, ainda, a pesquisa não-letal e não-extrativa e a integração dos esforços de gestão e conservação na área.
Articulação - Ao todo, 8 milhões de toneladas de plástico acabam nos oceanos ao redor do mundo, conforme as estimativas da ONU Meio Ambiente. Frente aos números, a campanha Mares limpos: o mar não está para plásticos busca enfrentar o problema por meio da articulação entre governos, sociedade civil e setor privado em cinco anos. Os organizadores da iniciativa esperam a adesão de pelo menos 40 países.
A campanha almeja, assim, contribuir para o cumprimento de dois dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Consumo e Produção Responsáveis (ODS 12) e Uso Sustentável dos Oceanos (ODS 14). Os ODS foram estabelecidos em 2015 pelas Nações Unidas e deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos 15 anos. (Fonte: MMA)

domingo, 20 de maio de 2018

O sítio arqueológico coberto por lava de vulcão há 1.400 anos e que segue intacto.

Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionJoya de Cerén, en El Salvador, é um sítio arqueológico com características únicas”É uma cápsula do tempo extraordinária”.
Assim define o arqueólogo Payson Sheets o sítio arquelógico Joya de Cerén, local descoberto por ele em El Salvador. O espaço é conhecido como Pompeia da América, mas Sheets prefere não se referir ao lugar dessa forma. “Seria me gabar demais”, diz à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
A comparação com a cidade italiana, cuja população de milhares de pessoas foi morta por uma erupção do monte Vesúvio no ano 79, ocorre porque a lava que destruiu Joya também preservou a arquitetura e os artefatos da época, que permanecem nas posições em que estavam no momento da tragédia.
Os especialistas concordam que Joya de Cerén é um local singular e um dos sítios arqueológicos mais importante do mundo. Isso porque ele mostra restos muito bem preservados de uma aldeia pré-colonização na Mesoamérica.
A importância do local é tanta que a Unesco declarou Joya de Cerén patrimônio da humanidade, em 1993.
Direito de imagemMINISTERIO DE CULTURA EL SALVADORImage captionUna de las habitaciones encontradas en Joya de Cerén.
O que aconteceu?
Joya de Cerén era uma aldeia habitada por uma comunidade maia. Por volta do ano 600, uma erupção do vulcão Ilopango destruiu o local.
No entanto, segundo evidências encontradas por arqueólogos, a maior parte dos moradores teve tempo para fugir.
“No caso de Joya de Cerén, as pessoas não tiveram tempo de levar suas coisas. Precisaram escapar da erupção do vulcão, que ficava a somente 600 metros de onde moravam”, explica Sheets.
O professor Sheets, que realizou numerosas escavações na região nos últimos 40 anos, diz que a população conseguiu escapar porque a erupção do vulcão ocorreu em fases.
“Primeiro caiu uma massa fina de grãos sobre as plantações, como milho e mandioca e cobriu também o telhado das casas. A segunda fase foi mais violenta e explosiva, deslocando a água do rio. Depois, vieram outras fases que converteram o lugar em uma cápsula do tempo”, diz.
Direito de imagemPAYSON SHEETSImage captionO professor Payson Sheets durante uma de suas escavações em Joya de Cerén.
Direito de imagemPAYSON SHEETSImage captionRecriação digital de uma casa em Joya de Cerén.
Direito de imagemPAYSON SHEETSImage captionJoya de Cerén, em El Salvador, nomeada patrimônio da humanidade pela Unesco em 1993.

‘Com a boca aberta’

Após as sucessivas e violentas erupções, Joya de Cerén foi totalmente sepultada. Os restos da aldeia permaneceram preservados por quase 1.400 anos.
Em 1978, um pouco por curiosidade e também por sorte, o professor Sheets, que realizava uma pesquisa em El Salvador, deparou-se com uma estrutura coberta de cinzas em uma escavação que havia sido feita por uma construtora dois anos antes.
“Assumi que se tratava de uma erupção recente, de uns 100 anos. Cavei um pouco mais, pensando que acharia algum diário ou estrutura de metal, mas só encontrei objetos antigos clássicos. Para mim não fazia sentido, porque eu estava a apenas cinco metros de profundidade. Era um enigma”, diz o arqueólogo, em entrevista por telefone.
“Peguei algumas amostras, fiz o teste de datação por radiocarbono (método que consegue determinar a idade de algum material) e os resultados mostraram que elas tinham 1.400 anos. Não me lembro quanto tempo fiquei de boca aberta”, conta Sheets.
“Me dei conta de que não havia nada no mundo moderno com uma preservação desse tipo”, diz.
Direito de imagemPAYSON SHEETSImage captionUma espiga de milho coberta de cinzas manteve sua forma.
Direito de imagemPAYSON SHEETSImage captionEntre os utensílios maias há vasos e pedras para moer

Acidente histórico

A preservação é uma grande preocupação dos pesquisadores.
“Não há muitas ‘Pompeias’ no mundo porque o grande problema que os arqueólogos enfrentam é a preservação”, diz Robert Rosewig, professor do departamento de Antropologia da Universidade de Albania, em Nova York.
Quando ocorrem erupções ou inundações é muito frequente que esses sítios desapareçam, sejam destruídos ou desmoronem. Por isso, uma área preservada como a de Joya de Cerén é quase um acidente histórico”, explica Rosenwig.
‘Comer as evidências’
Direito de imagemPAYSON SHEETSImage captionForam encontradas centenas de sementes com 1.400 anos de idades
“A comida que foi deixada em vasilhas permaneceu. Encontramos um vaso de cerâmica com centenas e centenas de sementes de abóbora. Depois de 1.400 anos, num clima tropical, as sementes não mudaram de tamanho, forma ou peso. Elas estavam apenas com um pouco de poeira “, conta Sheets.
“Pensei em comer apenas uma semente para saber se o gosto havia mudado, mas depois decidi que não: os arqueólogos não devem comer suas evidências”, diz, gargalhando.
O que foi encontrado em Joya de Cerén?
Em quase 40 anos de escavações, o professor encontrou 10 edificações ainda inteiras.
Entre elas há casas, bodegas, uma cozinha e um prédio religioso e um edifício cívico onde se reuniam os líderes da comunidade para solucionar problemas locais. Há outra estrutura onde se guardavam e preparavam alimentos para cerimônias e festas, diz o site do parque arqueológico de Joya de Cerén.
“Nas escavações foram encontradas sementes de feijão, urucum, milho e mandioca, além de um banho de sauna temazcal ou sauna seca, uma estrutura única em sua categoria, já que em toda a Mesoamérica não foram encontrados temazcal ainda em pé”, afirma Johnny Ramos, administrador do parque arqueológico.
Direito de imagem MINISTÉRIO DE CULTURA DE EL SALVADORImage captionEm Joya de Cerén foi encontrado um temazcal, também conhecido como saudas, onde os maias faziam rituais
Além disso, também foram encontrados cerâmicas, tigelas, copos e jarros que usavam como celeiros, assim como pedras de moagem, entre outros elementos.
Muitos deles estão expostos em museu no sítio de Joya de Cerén.
“Cada vez que fazemos escavações, encontramos insetos muito bem conservados”, diz Ramos, que assegura que as pesquisas continuam. Ele não descarta a possibilidade de restos humanos serem encontrados.
Para o professor Sheets, Joya de Cerén “nos dá a oportunidade de descobrir como era a vida cotidiana” naquela época.
“Conhecemos muito sobre a elite maia, suas pirâmides, seus hieróglifos… Joya de Cerén é uma janela que nos mostra a riqueza da vida de gente comum”, diz Sheets.
Fonte: Analía Llorente da BBC Mundo