segunda-feira, 3 de junho de 2019

The Brando, o luxuoso balneário no Taiti que eliminou os mosquitos para agradar os clientes ricos e famosos.

O The Brando é um dos eco-resorts mais luxuosos do mundo, localizado em um atol no meio do Oceano Pacífico. É um dos últimos lugares onde se esperaria encontrar tecnologia pioneira, mas, para a surpresa de muitos, ele tem.

O resort no atol Tetiaroa – ao norte do Taiti – é uma representação clara do conceito de exclusividade de luxo. Os bangalôs de dois quartos que ele abriga custam a partir de 3.700 euros (aproximadamente R$ 16,26 mil) por noite.
Ele pertencia ao ator de Hollywood Marlon Brando, que enxergava ali um refúgio ecológico, e se tornou um ‘esconderijo’ para ricos e famosos, como Beyoncé e Barack Obama, em busca de férias relaxantes com menos impactos negativos para o planeta.
O atual dono Richard Bailey afirma que o lugar está perto de se tornar “neutro em carbono e auto-sustentável”.
A eletricidade no complexo, por exemplo, é gerada a partir de painéis solares e biocombustível de óleo de coco, enquanto a água residual é usada para irrigação sustentável.
E o sistema de refrigeração do resort é baseado em um sistema que retira água muito fria do mar – de 900 metros abaixo da superfície do Oceano Pacífico – para resfriar a água doce e o ar do complexo.
Como o sistema de refrigeração é alimentado em grande parte pela pressão da água, ele usa muito pouca energia.
“Muitas vezes, a sustentabilidade não parece compatível com o luxo do mercado hoteleiro, mas o The Brando prova que isso é possível”, diz o professor de sustentabilidade nos negócios da Universidade de Surrey, na Inglaterra, Graham Miller.
Mas, é claro, os visitantes do The Brando têm que voar para o Taiti primeiro e depois pegar outro “voo de 20 minutos para o paraíso”, então a emissão de carbono deles ainda é significativa.

Eliminando mosquitos

Os hóspedes endinheirados do resort provavelmente também não serão picados por mosquitos, graças a um programa de esterilização que reduziu a população desse tipo de inseto em Tetiaroa em pelo menos 95%.
Encabeçado pelo Dr. Hervé Bossin, do Instituto Louis Malardé, da Polinésia Francesa, o programa reproduz e libera mosquitos machos não picadores no meio ambiente, infectados com a bactéria Wolbachia.
Essa bactéria torna as fêmeas selvagens – que picam – estéreis.
Iniciativas semelhantes, com objetivo de erradicar doenças como a dengue e a zika, estão em andamento em países como Brasil, Austrália, Colômbia e China.
Mas poucos países desfrutaram do mesmo grau de sucesso que Tetiaroa, onde os níveis de mosquitos estão tão baixos atualmente que “a equipe simplesmente não está mais capturando nenhuma fêmea selvagem”, segundo Frank Murphy, diretor executivo da Sociedade Tetiaroa, organização não-governamental (ONG) que supervisiona o programa de esterilização.
“O sucesso do projeto recentemente convenceu o governo local a financiar uma estrutura muito maior para reprodução (dos mosquitos), que poderia expandir o programa para outras ilhas do Pacífico”, disse ele.
Mas não são apenas os mosquitos que a Sociedade Tetiaroa está trabalhando para erradicar. Os ratos também são vistos como um grande problema para o ecossistema do atol.
“Os ratos comem de tudo, desde filhotes de tartarugas até aves marinhas, e isso é ruim para os recifes de corais também”, diz Murphy.
A tecnologia também poderá ajudar nesse quesito.
A equipe quer usar drones de 2,2 metros de diâmetro para soltar iscas venenosas concebidas para atrair os ratos, mas não outras espécies.
A operação, a segunda já realizada no mundo, será conduzida pela Island Conservation, uma ONG americana que protege espécies ameaçadas eliminando espécies invasoras.
“Os ratos podem causar o colapso de todo o ecossistema terrestre”, diz Sally Esposito, da Island Conservation.
“No passado, usamos helicópteros para espalhar iscas, e recentemente usamos drones pela primeira vez, em Seymour Norte, nas Ilhas Galápagos. Tetiaroa é um ambiente mais complexo, então (essa operação) é uma ótima oportunidade para testar ainda mais os drones, e deve nos ajudar a criar um refúgio para espécies de aves nativas ameaçadas de extinção, como a Ground-dove e a Tuamotu Sandpiper.”
Talvez o projeto mais futurista em Tetiaroa seja o Island Digital Ecosystem Avatar, que usa pesquisas de detecção e alcance de luz para criar um modelo 3D. Outros dados, sobre animais, plantas, topografia e assim por diante, serão incorporados, para criar um modelo que possa ser usado para prever a capacidade da ilha de reagir em diferentes cenários, incluindo desde inundações até a introdução de novas espécies.
“Essas pesquisas nos dão uma representação em 3D dos contornos físicos da ilha, incluindo os solos”, diz o diretor científico da Sociedade Tetiaroa, Neil Davies – pesquisador sênior do Berkeley Institute for Data Science.
“É mais ou menos como passar um scanner na ilha.”
O objetivo final da equipe é capturar todo o ecossistema do atol – “de moléculas para cima” – para ajudar governos e comunidades locais a avaliarem riscos futuros e tomarem decisões.
O ecoturismo é uma tendência crescente que os resorts buscam explorar ao redor do mundo, à medida que as pessoas buscam fazer escolhas mais responsáveis diante das mudanças climáticas.
O Parkside Hotel & Spa no Canadá, por exemplo, é, junto com o The Brando, um dos poucos resorts que estão para obter a certificação Platinum de Liderança em Energia e Design Ambiental do US Green Building Council, organização americana que promove a sustentabilidade de projetos, construção e operação de edifícios.
O empreendimento tem um telhado de 290 metros quadrados com vegetação e usa tanques e armazenamento de água de chuva como um dissipador térmico para o seu sistema de ar condicionado.
O ator Leonardo DiCaprio, um reconhecido ativista ambiental e presença frequente no The Brando – também planeja abrir sua ilha eco-resort, em Blackadore Caye, em Belize, em 2020.
Mas, com o turismo contribuindo com cerca de 8% para as emissões globais de gases do efeito estufa, de acordo com um artigo publicado na revista científica Nature Climate Change, todos os resorts – e não apenas aqueles voltados para os ricos do mundo – precisarão se tornar neutros em carbono, ou seja, compensar o impacto ambiental que estão causando.
Fonte: BBC

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