Oceanos ficarão mais quentes e ácidos com aquecimento global, aponta ONU.
Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas divulgado nesta quarta-feira (25) traz dados preocupantes sobre como as mudanças climáticas vão afetar oceanos e a criosfera, área terrestre coberta por gelo.
Mais de 100 autores de 36 países avaliaram cerca de 7 mil publicações científicas para criar o relatório. Divulgado dois dias após o fim da Cúpula Climática da ONU, que aconteceu em Nova York entre os dias 21 e 23 de setembro, e os protestos globais pelo clima, os organizadores do documento querem reforçar a necessidade de atitudes mais radicais dos governos em torno das emissões de carbono.
“Se reduzirmos as emissões bruscamente, as consequências para as pessoas e seus meios de subsistência ainda serão desafiadoras, mas, potencialmente, mais gerenciáveis para os mais vulneráveis”, disse Hoesung Lee, membro do IPCC, em comunicado. “Aumentaremos nossa capacidade de criar resiliência e, assim, haveá mais benefícios para o desenvolvimento sustentável.”
O nível do mar
Uma das informações que mais chama atenção diz respeito ao aumento do nível do mar, que subiu 15 centímetros no século 20 – o que tem acontecido cada vez mais rápido nos últimos anos.
Uma das informações que mais chama atenção diz respeito ao aumento do nível do mar, que subiu 15 centímetros no século 20 – o que tem acontecido cada vez mais rápido nos últimos anos.
De acordo com o relatório, mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas e o aquecimento global seja limitado a, no máximo, 2 °C, o nível das águas aumentará entre 30 e 60 centímetros até 2100. Se nada for feito para conter o aquecimento global, esse crescimento pode chegar a 110 centímetros.
A elevação do nível do mar impactará diretamente fenômenos naturais que têm relação com os oceanos, como marés altas, tempestades e ciclones tropicais. Um exemplo disso é o furacão Dorian, que atingiu as Bahamas e os Estados Unidos no início de setembro e, segundo os especialistas, foi particularmente forte por conta das mudanças climáticas.
Cada vez mais, esses eventos colocarão em risco pessoas ao redor do planeta, principalmente quem vive em cidades costeiras e pequenas ilhas. Michael Meredith, da British Antarctic Survey, disse à NewScientist que mesmo os países desenvolvidos sofrerão com o aumento do nível das águas e terão de reforçar a defesa costeira.
Os ecossistemas
O relatório do IPCC também aponta que os oceanos absorveram mais de 90% do excesso de calor causado pelas mudanças climáticas. Isso significa que, mesmo que as emissões de carbono diminuam, até 2100 os mares absorverão de duas a quatro vezes mais calor do que entre 1970 e a atualidade. Entretanto, se o aquecimento global ultrapassar os 2 °C, essa quantidade pode ser até sete vezes maior.
O relatório do IPCC também aponta que os oceanos absorveram mais de 90% do excesso de calor causado pelas mudanças climáticas. Isso significa que, mesmo que as emissões de carbono diminuam, até 2100 os mares absorverão de duas a quatro vezes mais calor do que entre 1970 e a atualidade. Entretanto, se o aquecimento global ultrapassar os 2 °C, essa quantidade pode ser até sete vezes maior.
O aumento da absroção de carbono pelas águas afeta diretamente a fauna e a flora dos biomas aquáticos, pois altera não apenas sua temperatura, mas também a acidificação da água e os níveis de oxigênio e nutrientes essenciais para a manutenção de um ecossistema equilibrado.
Isso também é prejudicial para os seres humanos, já que a dieta de diversas populações é baseada na pesca. “O corte das emissões de gases de efeito estufa limitará os impactos nos ecossistemas oceânicos, que nos fornecem alimentos, apoiam nossa saúde e moldam nossas culturas”, explicou Hans-Otto Pörtner, que fez parte da pesquisa.
O permafrost
O solo de permafrost, no Ártico, também está sofrendo com o aumento da temperatura da Terra. Congelado por muitos anos, essa camada de gelo está derretendo em um ritmo preocupante — até o fim do século 21, estima-se que ele deixará de existir.
O solo de permafrost, no Ártico, também está sofrendo com o aumento da temperatura da Terra. Congelado por muitos anos, essa camada de gelo está derretendo em um ritmo preocupante — até o fim do século 21, estima-se que ele deixará de existir.
Os pesquisadores estimam que, mesmo que o aquecimento global seja limitado a menos de 2 °C, cerca de 25% do permafrost próximo à superfície (3 a 4 metros de profundidade) derreterá até 2100. Entretanto, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem aumentando, até 70% dessa camada de gelo poderá ser perdida durante o período.
Como explicaram os membros do IPCC, o permafrost ártico e boreal é importante porque retém grandes quantidades de carbono orgânico. Logo, seu derretimento pode resultar em um aumento significativo de gases poluidores lançados na atmosfera.
É preciso agir agora
A conclusão dos especialistas após a publicação do novo documento não foi surpresa para ninguém: é preciso agir agora. “Só conseguiremos manter o aquecimento global bem abaixo de 2 °C (…) se efetuarmos transições sem precedentes em todos os aspectos da sociedade”, apontou Debra Roberts, uma das especialistas.
A conclusão dos especialistas após a publicação do novo documento não foi surpresa para ninguém: é preciso agir agora. “Só conseguiremos manter o aquecimento global bem abaixo de 2 °C (…) se efetuarmos transições sem precedentes em todos os aspectos da sociedade”, apontou Debra Roberts, uma das especialistas.
“Quanto mais decisiva e rapidamente agirmos, mais capazes seremos de enfrentar mudanças inevitáveis, gerenciar riscos, melhorar nossas vidas e alcançar sustentabilidade para ecossistemas e pessoas ao redor do mundo — hoje e no futuro”, disse Roberts.
Fonte: Revista Galileu
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