quinta-feira, 30 de abril de 2020

FAPESP e São Martinho criam Centro de Pesquisa para o controle biológico de pragas da cana.

CPE terá sede na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp em Jaboticabal; pesquisadores também vão atuar nas áreas de biotecnologia e resistência de planta (Foto: Wikimedia Commons)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – A FAPESP e a São Martinho – uma das maiores companhias do setor sucroalcooleiro do Brasil – selecionaram a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Jaboticabal, como sede do novo Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) voltado ao controle de pragas e doenças que afetam as plantações de cana-de-açúcar.
Com um investimento previsto de R$ 8 milhões em cinco anos, o Centro de Pesquisa em Engenharia Fitossanidade em Cana-de-Açúcar tem o objetivo de desenvolver estratégias contra pragas e doenças da cana por meio do controle biológico e comportamental. As duas técnicas se utilizam de fungos, bactérias e feromônios (substâncias que atraem pragas), por exemplo, para proteger lavouras, possibilitando eliminar ou reduzir o uso de agrotóxicos.
O CPE Fitossanidade em Cana-de-Açúcar também vai atuar na área de biotecnologia e resistência de planta, focado sobretudo em cruzamentos convencionais para o melhoramento do cultivar.
Os investimentos serão feitos por meio do programa Centros de Pesquisa em Engenharia (CPE). A FAPESP e a São Martinho vão aportar R$ 4 milhões cada em recursos para o novo centro de pesquisa A contrapartida econômica da universidade será oferecida na forma de salários de pesquisadores e de pessoal de apoio, infraestrutura e instalações. O programa tem validade de cinco anos, podendo ser prorrogado por mais cinco.
“Estamos confiantes de que a interação entre indústria e universidade vai gerar bons resultados para a economia e a sociedade. A São Martinho tem a inovação como um dos seus principais pilares de desenvolvimento. Nossa expectativa com o projeto é grande, com potencial para a criação de um novo ecossistema de inovação no país”, diz Walter Maccheroni, gestor de Inovação da São Martinho.
Com mais de 300 mil hectares de área de colheita e capacidade aproximada de moagem de 24 milhões de toneladas de cana, a São Martinho é uma das maiores companhias do setor no país..

Quatro problemas em ascensão

“Nosso objetivo com o novo centro é compreender todo o aspecto biológico, ecológico e epidemiológico de pragas e doenças e, com isso, avançar em métodos de controle que busquem a inovação. Isso em um setor que já privilegia o controle biológico como principal ferramenta de controle”, diz Odair Aparecido Fernandes, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp em Jaboticabal e pesquisador responsável pelo novo CPE.
A São Martinho definiu como focos de pesquisa a doença conhecida como síndrome do murchamento da cana, o bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) e a lagarta peluda (Hyponeuma taltula).
Além dos três problemas comuns nas lavouras de cana em todo o Brasil, também foi elencado como prioridade o controle da mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans). A despeito de não se tratar de uma praga nas lavouras de cana, as larvas dessa espécie de mosca se desenvolvem na palha do canavial quando esta recebe irrigação de vinhaça. Com a proliferação, elas atacam o gado em pastagens vizinhas, causando prejuízo aos pecuaristas sobretudo no oeste do Estado de São Paulo, no Mato Grosso do Sul e em Goiás.

Inovar sempre

Fernandes destaca que as quatro pragas ou doenças que serão estudadas no novo centro vêm retomando destaque nos últimos anos por estarem relacionadas a técnicas ambientais mais avançadas de plantio, que não envolvem a queima da palha.
“Não queimar a palha que recobre o solo é muito importante do ponto de vista ambiental. O avanço do sistema de plantio e colheita da cana foi essencial do ponto de vista ambiental, mas os efeitos colaterais são o ressurgimento dessas pragas e doenças. O grande objetivo do centro é inovar no controle biológico para não ter de recorrer a ferramentas antigas”, diz Fernandes.
O CPE vai contar com uma equipe de 31 pesquisadores formada pelo grupo da Unesp de Jaboticabal e parceiros de diferentes instituições, como Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Agência Paulista de Tecnologia (APTA), Cooperativa Agroindustrial (Coplana), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Fundação Educacional de Ituverava e Universidade de Franca.
“Procuramos reunir entomologistas, citopatologistas e pesquisadores ligados a educação e transferências de tecnologia. Além do desenvolvimento científico, será fundamental transferir conhecimento para o setor produtivo e para as escolas”, diz Fernandes.
Fonte: FADESP

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