Muitos estudos têm sido feitos para atualizar o número e tipo de espécies que habitam a área que engloba o Parque Nacional da Serra do Divisor, que fica entre Acre e Peru, em cidades do Vale do Juruá.
E foi pensando nisso que uma expedição foi feita na unidade de conservação entre novembro e dezembro do ano passado. Foram cerca de 15 pesquisadores para estudar mamíferos, aves e répteis. Um desses grupos estuda mamíferos terrestres de médio e grande porte e também os primatas.
Durante o período da expedição, armadilhas fotográficas foram montadas para fazer os flagras dentro da unidade.
A ideia é fazer um inventário das espécies que ocorrem no parque, mas nesta primeira fase, o grupo ficou apenas na região do rio Moa.
“O diferencial desta expedição foi a utilização de armadilhas fotográficas, que nada mais são do que câmeras fotográficas digitais disparadas por sensores de movimento e temperatura. Com elas, conseguimos registrar, por 24 horas durante 40 dias, todos os animais que passavam pelas trilhas e também no topo das árvores. Como as armadilhas foram retiradas há poucos dias, ainda estamos analisando as imagens”, explica o doutorando em ecologia e conservação da biodiversidade pela Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus (BA) e também membro fundador e pesquisador do Instituto Juruá, Hugo Costa.
Localização privilegiada
Até que as imagens sejam completamente analisadas, detalhe por detalhe, é difícil antecipar se há alguma novidade na área estudada pelo grupo de Costa, porém, ele destaca que o Parque Nacional da Serra do Divisor é um dos lugares mais ricos do país.
“É uma região com poucos estudos e de localização geográfica privilegiada e que, com mais estudos genéticos e de taxonomia, com certeza encontraremos novidades para muitos grupos como primatas, aves e pequenos mamíferos”, acredita.
As peculiaridades da região, segundo Costa, provêm do fato de sofrer forte influência dos Andes.
“É provavelmente a região de maior diversidade biológica do Brasil e de toda a Amazônia brasileira, justamente por ser uma região sob forte influência dos Andes, além de ser nascente de importantes rios Amazônicos como o rio Juruá por exemplo”, pontua.
Espécies endêmicas
O local pré-andino também abriga espécies que só podem ser vistas lá, segundo o pesquisador. Outras estão ameaçadas de desaparecer, caso não sejam conservadas. Algumas espécies conhecidas pela ciência hoje naquela região são:
- O Callimico goeldi, um macaco conhecido localmente como lalau ou soim preto;
- O uacari (Cacajao calvus);
- O macaco-barrigudo (Lagothrix poeppigii)
“Além de muitas questões de taxonomia e de distribuição geográfica, que precisam ser elucidadas sobre os “soins” (primatas de pequeno porte dos gêneros Saguinus e Leontocebus), parauacus (Pithecia spp) e zogue-zogues (Plecturocebus spp). Além desses também ocorrem no Parque a onça-pintada (Panthera onca), o cachorro vinagre (Speothos venaticus), o cachorro-do-mato-de-orelha-curta ou raposa (Atelocynus microtis) a ariranha (Pteronura brasiliensis) a anta (Tapirus terrestris), o queixada (Tayassu pecari) todos sob o risco de extinção de acordo com a IUCN [União Internacional para a Conservação da Natureza)”, acrescenta o estudo.
Falta de recurso
Apesar do grande potencial científico e para turismo da região, muitos pesquisadores esbarram na falta de recursos para apostar em estudos dentro da unidade de conservação.
Atualmente, Costa diz que ocorrem pesquisas pontuais, mas diz que há meios de expandir.
“O Acre possui campus da sua Universidade Federal em Cruzeiro do Sul. Tenho certeza que todos os pesquisadores e professores da instituição teriam o maior prazer em conduzir suas pesquisas e aulas na unidade com maior frequência”, salienta.
Fase seguinte
Após essa expedição, o grupo pretende conseguir mais recursos para explorar outras áreas dentro do parque. Conforme o levantamento for avançando, os resultados devem ser apresentados em artigos científicos.
“Esperamos obter mais recursos para uma nova expedição, agora na parte sul do parque, que pode possuir algumas espécies diferentes ou que não encontramos durante esse primeiro trabalho. Com esses dados podemos auxiliar na gestão do parque e também propor novas pesquisas e também o monitoramento de algumas espécies”, finaliza.
Quarto maior parque nacional do país
A Serra do Divisor é o 4º maior Parque Nacional do Brasil, segundo o biólogo Ricardo Plácido. O local tem mais de 843 mil hectares e ocupa cinco municípios acreanos, entre eles, Mâncio Lima (31,8%), Marechal Thaumaturgo (4,8%), Cruzeiro do Sul (23,1%), Rodrigues Alves (13,3%), Porto Walter (27%).
Um projeto de lei propõe mudar a unidade de conservação da área de proteção integral para uma área de uso sustentável, mas uma petição online tenta barrar a aprovação do projeto e já reúne mais de 80 mil assinaturas.
Fonte: G1
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