sexta-feira, 5 de junho de 2020

A natureza equilibrada garante a vida das pessoas e dos negócios.

A iniciativa privada deve ter total interesse estratégico em preservar a natureza e a biodiversidade, pois sem ela nada existe — nem o lucro

Mata Atlântica: o desequilíbrio acontece quando a cooperação deixa de existir (Maria Cristina Boscolo/Wikimedia Commons)

Nesta Semana do Meio Ambiente, quero compartilhar minha visão sobre a importância da biodiversidade, para vida das pessoas e também dos negócios. Precisamos compreender que biodiversidade significa diversidade de vida e não algo restrito às espécies que encontramos apenas nas florestas. Todos e tudo está conectado.

Mas, infelizmente, a grande maioria desta sociedade moderna está começando a entender isso não pelo amor, mas pela dor. Seja com uma pandemia, seja com as mudanças climáticas ou mesmo com a fome e a desnutrição, algo tão presente em um planeta que tem capacidade e que produz alimento suficiente para alimentar seus mais de 7 bilhões de habitantes.

No entanto, o desequilíbrio acontece quando a cooperação deixa de existir. Quando há disputa. Quando o pensamento de escassez se instala no inconsciente coletivo. Ao analisarmos um ecossistema natural equilibrado, é fácil perceber como a natureza é perfeita na forma como rege seus ciclos, como cria abundância e harmonia nas relações de interdependência, entre as espécies e os elementos.

Digo isso para nos atentarmos ao fato de que, primeiramente, nós somos a natureza e, neste momento, é nela que precisamos nos inspirar para passar por este momento crítico de desequilíbrio. Precisamos nos adaptar e cooperar para que o equilíbrio se restabeleça na Terra, para que haja prosperidade econômica, saúde e bem-estar social.

Tenho observado como as pessoas têm valorizado o sol que bate em suas janelas durante a quarentena, admirado o céu azul e o calmo silêncio das ruas vazias. Também, pouco me admiram as notícias sobre os animais que agora são vistos andando livremente pelas ruas desertas ou os peixes e os golfinhos ressurgindo em canais pelo mundo. Ora, eles só estão coexistindo conosco, já que agora o ser humano se retirou um pouco de cena, podemos perceber o tamanho do espaço que estamos tomando da Terra para nós, sem considerar o fato de que não estamos sozinhos.

Além de não estarmos sozinhos, somos extremamente dependentes dos “serviços” que a natureza presta para o homem como a produção de alimentos, água e regulação do clima. Costumo compartilhar minha visão de que a iniciativa privada deve ter total interesse estratégico em preservar a natureza e a biodiversidade, pois sem ela nada existe, muito menos o lucro. A meu ver, o empresariado precisa buscar o sucesso responsável que está diretamente ligado à preservação da vida. É preciso, sobretudo no Brasil, criar e desenvolver negócios mais conscientes de seu papel no ecossistema e que buscam, ao máximo, mitigar seus impactos negativos.

Não à toa, há 30 anos, criamos a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza que, além de cumprir um papel social de retribuição ao Brasil por tudo que dele recebemos, também funciona como nosso celeiro de boas ideias e ações que cuidam do nosso futuro. Desde incentivo às pesquisas científicas, com propostas de soluções baseadas na natureza e o apoio ao ecossistema de negócios de impacto em conservação, até a divulgação para a sociedade, evidenciando a relação entre biodiversidade, economia, saúde e futuro.

Hoje, a nossa Fundação está liderando o Movimento Viva Água. Uma iniciativa em prol do aumento da segurança hídrica, da conservação da natureza e do desenvolvimento regional da comunidade da bacia do rio Miringuava, localizado em São José dos Pinhais, a menos de 20 quilômetros da nossa fábrica.

Para mim, esse projeto representa muito, pois além de dependermos dos “serviços” que o rio nos fornece, é também a oportunidade que temos de cuidar do bem mais precioso que existe: a água. E cuidando da água estamos cuidando de todas as pessoas que dela fazem uso. Um efeito cascata que, a partir do lucro de nossos negócios, que é revertido em investimento privado, garantimos vida para nossos consumidores, colaboradores, produtos e de toda a comunidade que está a nossa volta. É colocar os negócios a serviço da vida e não a vida a serviço dos negócios.

*Miguel Krigsner é idealizador e presidente do conselho da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e também presidente do conselho do Grupo Boticário.

Fonte: Exame

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