sábado, 30 de novembro de 2019

O que já é possível aprender com a tragédia que manchou o litoral brasileiro de óleo?

O óleo que tem manchado as praias do Nordeste e provocado danos imensuráveis à biodiversidade nos últimos meses continua afetando o litoral brasileiro, chegou também ao Espírito Santo. De acordo com o Ibama, mais de 490 localidades foram atingidas. Desde que a Paraíba notificou as autoridades sobre a presença do óleo no município de Conde, no dia 30 de agosto, o problema tem se agravado, tornando-se o maior desastre ambiental do litoral brasileiro, afetando dez estados. Enquanto buscam-se soluções, o que já é possível aprender com essa tragédia?
Para o membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, professor titular do Instituto Oceanográfico da USP e responsável pela Cátedra UNESCO para Sustentabilidade dos Oceanos, Alexander Turra, com o desastre, identificamos a necessidade de estarmos institucionalmente prontos para responder rapidamente a situações como esta. “A falta de capacidade técnica ou de assessoramento apropriado logo após a identificação do derramamento foi um grande problema, inclusive para a implementação do Plano Nacional de Contingência [PNC]. Essa demora, agravou os impactos e pode retardar a recuperação dos ecossistemas afetados”, afirma.
A transparência na comunicação também é determinante em casos como esse. “É fundamental que exista um centro de crise que estabeleça canais de comunicação interna, informe a sociedade sobre o que está acontecendo e envolva a comunidade científica na busca por soluções. Dessa forma, é possível trabalhar para uma resposta rápida ao problema. No caso do derramamento de óleo, ficamos reféns de informações desconexas e fragmentadas sobre o fato”, analisa o especialista.
Nesse sentido, a tragédia no litoral brasileiro demonstra também que é fundamental a participação de profissionais de diferentes áreas atuando em busca de soluções criativas e inovadoras para o problema. “Precisamos ter foco no que importa. Diante de fenômenos como esse, discussões ideológicas não são apropriadas. Os esforços devem ser focados em como conter esse tipo de acidente”. explica Turra.
Proteção enfraquecida
Enquanto os impactos pelo derramamento de óleo ainda estão sendo mensurados, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, publicou uma atualização no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas e de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal (PAN Manguezal), diminuindo a proteção ao ecossistema.
Com a alteração, foi solicitada a revogação do objetivo 9 do PAN, que prevê iniciativas para a erradicação da carcinicultura – criação de camarão em cativeiro nos manguezais. “Essa pressão adicional sobre os manguezais vai dificultar ainda mais a recuperação da vida marinha impactada pelo incidente com o óleo”, finaliza o membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
Sobre a Rede de Especialistas
A Rede de Especialistas de Conservação da Natureza é uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores

Cueca, sacos plásticos e cordas encontrados em veado morto com 7 kg de lixo no estômago.

Um veado morto em um parque nacional ao norte da Tailândia foi encontrado com 7 quilos de lixo em seu estômago, dizem autoridades.
Entre os itens encontrados no estômago do animal estavam uma cueca, sacos plásticos, sachês de café instantâneo e partes de uma corda feita de plástico.
Um oficial do parque nacional de Khun Sathan disse que o veado vinha comendo plástico por “muito tempo” antes de morrer.
Ainda este ano, um filhote de dugongo, um mamífero semelhante ao peixe-boi, morreu depois de ingerir plástico, também na Tailândia.
O dugongo, chamado de Mariam, ganhou o coração do público tailandês quando fotos de seu resgate viralizaram. Ele faleceu meses depois, e a autópsia mostrou que o plástico havia obstruído seu estômago.

‘Seja responsável’

No dia 25 de novembro, um oficial em patrulha encontrou o veado macho de 10 anos no Parque Nacional de Khun Sathan, no distrito de Na Noi, ao norte.
Também foram encontrados luvas de borracha, uma toalha pequena e macarrão instantâneo em seu estômago.
“Nós acreditamos que ele estivesse se alimentando desses plásticos há algum tempo antes de morrer”, afirmou Kriangsak Thanompun, diretor do Departamento de Parque Nacional, Vida Selvagem e Conservação de Plantas, à BBC News tailandesa.
“As autoridades [acreditam] que o plástico tenha bloqueado seu canal alimentar, [mas uma] investigação mais aprofundada [será] iniciada”.
Nas redes sociais, muitos criticaram os frequentadores do parque que deixam lixo espalhado pelo lugar.
“Quando for a um parque nacional, recolha seu próprio lixo. Seja responsável”, diz um comentário no Facebook.
Outro afirma que é difícil fazer com que as pessoas limpem a própria sujeira.
“Isso é algo que precisa ser ensinado e implementado desde cedo. Já na vida adulta, é difícil [mudar]”, disse outro usuário.
De acordo com Kriangsak, um “plano de três etapas” será colocado em prática para encorajar os frequentadores a recolher o plástico e os outros detritos nas áreas do parque nacional.
A ideia é criar um comitê que lide com a gestão de resíduos e tente educar o público sobre formas de evitar a produção de lixo.
O uso de sacos plásticos é bem disseminado pela Tailândia.
A organização ambiental Greenpeace disse que cerca de 75 bilhões de pedaços de sacos plásticos são descartados pelo país todos os anos.
O ministro de Meio Ambiente do país havia dito, em setembro, que os grandes varejistas na Tailândia iriam parar de fornecer sacos plásticos a seus clientes a partir de janeiro de 2020.
Com contribuições adicionais de Watchiranot Thongtep e Smitanan Yongsta.
Fonte: BBC

Árvore gigante rara de 535 anos foi derrubada em Santa Catarina para virar cerca.

Era alta como um prédio de dez andares, larga a ponto de só poder ser abraçada por seis pessoas juntas e mais antiga que a chegada do navegador Pedro Álvares Cabral ao Brasil.
Essa gigante imbuia, árvore símbolo de Santa Catarina, foi derrubada para virar cerca, segundo o cenário encontrado por policiais militares ambientais.
O crime ambiental foi cometido em um terreno na via Linha Coração, em Vargem Bonita (SC), em fevereiro de 2018, mas só agora uma análise ainda inédita apontou a idade da imbuia gigante: ao menos 535 anos.
“É um problema cultural do nosso país, onde as pessoas não sabem o valor de uma árvore. Aquelas que caem por ação da natureza deveriam ser exploradas de forma mais nobre, virar peça de museu. Mas fazer uma derrubada de uma árvore rara saudável para fazer palanque de cerca é duplamente criminoso”, afirmou o professor Marcelo Scipioni, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em árvores gigantes.
A idade foi estimada por Scipioni e outros dois pesquisadores a partir da análise dos anéis de crescimento das árvores, que servem de base para a datação por meio da ciência chamada dendrocronologia.
Como a umidade e outras variações climáticas interferem no tamanho desses anéis de um modo distinto ao longo do tempo, pesquisadores agora buscam outras imbuias antigas para uma análise de construção climática dos últimos séculos que permita determinar com mais exatidão a idade da árvore.
Essa árvore, de nome científico Ocotea porosa, pode ser encontrada em florestas de araucária no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A espécie tem madeira de cor que varia do pardo-claro-amarelado ao pardo-acastanhado, folhas de até 10 cm, casca grossa, tronco tortuoso e copa arredondada.
E, por causa da exploração desenfreada, entrou para a lista de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção.
Ou seja, são proibidos “coleta, corte, transporte, armazenamento, manejo, beneficiamento e comercialização” da imbuia, à exceção dos “exemplares cultivados em plantios devidamente licenciados”.
O policial militar ambiental Teylor Comunello, que dá nome a uma espécie de flor que descobriu em sua pesquisa sobre orquídeas, relata ter sentido tristeza ao ver árvores raras no chão — foram derrubadas uma imbuia e 16 araucárias.
“Nunca tinha visto uma árvore assim, desse tamanho, cortada desse jeito. É bem triste porque, além de ser uma espécie ameaçada de extinção, é centenária e rara. Um desperdício”, afirmou à reportagem. Ele participou do trabalho de remoção da árvore, que agora está exposta na sede da Polícia Ambiental para fins educativos.
O uso em cercas ocorre porque a madeira é bastante resistente a intempéries, e pode resistir no solo por nove anos, em média.
Comunello estima que no mercado ilegal o valor dessa imbuia poderia girar em torno de R$ 4 mil, caso fosse transformada em estaca de cerca, ou passar de R$ 20 mil se fosse vendida à indústria madeireira.
A madeira dessa árvore é moderadamente densa e pode ser usada no manejo autorizado como viga, porta e móveis finos de alta qualidade.
O valor de mercado poderia superar, portanto, a multa de R$ 12.750 aplicada ao proprietário do imóvel, em razão da derrubada desta árvore junto de outros 16 exemplares da também ameaçada araucária (Araucaria angustifolia, ou pinheiro-brasileiro).
Os agentes chegaram ao local do desmate ilegal após uma denúncia, mas não encontraram pessoas ou equipamentos ali. Nenhum suspeito foi identificado desde então.
Segundo a Polícia Ambiental de SC, a derrubada de árvores teria sido feita à revelia dos donos do terreno, mas estes acabaram multados por serem, em última instância, os responsáveis pela área. A recuperação ambiental do local começou em maio deste ano.
A reportagem não conseguiu localizar os donos do terreno.

Mapeamento de árvores gigantes

Se não tivesse sido derrubada, essa imbuia de Vargem Bonita teria entrado para o mapeamento de árvores gigantes no sul do país conduzido pelo professor Scipioni, da UFSC, com auxílio também da Polícia Ambiental de Santa Catarina.
Publicado em 2017, um trabalho liderado por ele percorreu mais de 6,8 mil km ao longo de três anos e identificou as últimas 13 araucárias gigantes (acima de 2 metros de diâmetro nessa espécie) da região.
“Essas árvores gigantes são importantes para os ecossistemas porque geram várias cavidades que são habitats para vários animais, como insetos, aves e mamíferos, e outros seres vivos, como as epífitas, além de contribuir para entendermos o ciclo de vida da espécie e podermos também fazer um manejo sustentável para a exploração madeireira”, explica Scipioni.
A maior das araucárias, conhecida como “Pinheirão”, fica em São Joaquim (SC) e é a única que supera os 3 metros de diâmetro. Ou seja, precisaria de seis pessoas para ser abraçada.
“A escassez dessa madeira no mercado tornou essas árvores muito atraentes porque o volume de madeira em posições altas do tronco seria suficiente para viabilizar economicamente a exploração na época do ciclo madeireiro. Ela certamente teria sido explorada se o dono atual da fazenda e seus antepassados não tivessem recusado ofertas de madeireiras”, escrevem os autores do mapeamento.
As imbuias gigantes passam atualmente por levantamento semelhante, mas, até agora, só foi identificado um exemplar acima de 2 metros de diâmetro.
Essa espécie costuma ser a mais longeva da floresta de araucária, viver mais de 500 anos e superar os 30 metros de altura. Mas o tamanho não tem necessariamente relação com a idade de uma árvore, já que há espécies que crescem rapidamente, como o Eucaliptus regans (que passa de 80 metros de altura), mas não são multisseculares.
Scipioni afirma que o levantamento por enquanto se atém à identificação dessas árvores, mas a análise da longevidade delas demanda mais tempo. Mais informações podem ser encontradas no site do projeto.
O pesquisador também mapeou como esses enormes troncos de árvores se tornaram monumentos em cidades do interior do país. “A maioria das pessoas valoriza mais as árvores mortas do que vivas”, critica Scipioni.

O ‘assassinato’ da árvore de quase 5 mil anos

O estudo da idade das árvores também oferece riscos.
Como a análise passa pela contagem dos anéis associada a diversas outras técnicas, identificar a idade de uma árvore viva envolve um tipo de furadeira que permite remover parte do núcleo da árvore sem matá-la.
Mas as coisas podem não ocorrer como esperado.
Nos EUA, em 1964, o então universitário Donald Rusk Currey coletava uma amostra de um pinheiro do tipo bristlecone, mas conta-se que a broca ficou presa na enorme árvore localizada no Estado de Nevada.
Como o equipamento é caro, ele e um guarda florestal teriam derrubado a árvore para recuperar a broca. Há também uma versão da história que aponta que a derrubada visava a retirada por completo de uma amostra da árvore.
De todo modo, autoridades do serviço florestal à época avaliaram que o exemplar não tinha nada de especial e autorizaram a derrubada dele.
Só depois é que o estudante de geografia descobriu que aquele exemplar de Pinus aristata, batizado de Prometeu, tinha quase 5.000 anos, vindo a ser a árvore mais antiga já registrada até então.
O episódio trágico teve ao menos dois grandes efeitos positivos: gerou uma onda de medidas de preservação em torno das árvores gigantes e levou a muitos achados científicos que contribuíram para a pesquisa da flora e do clima.
“Em razão da idade, essas árvores funcionam como cofres climáticos, armazenando dados de milhares de anos em seus anéis”, explica o Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos.
Fonte: BBC

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Corte de emissões precisa ser mais drástico para limitar aumento de temperatura global a 1,5ºC.

Mesmo que todos os compromissos atuais sob o Acordo de Paris para o clima sejam implementados, as temperaturas deverão subir 3,2°C, trazendo impactos climáticos ainda maiores e mais destrutivos, segundo novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Para alcançar a meta de 1,5°C, a ambição coletiva precisa aumentar em mais de cinco vezes em relação aos níveis atuais para proporcionar os cortes necessários na próxima década.
Às vésperas do ano em que as nações deverão fortalecer seus compromissos climáticos de Paris, um novo relatório lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) faz um alerta.
A menos que as emissões globais de gases de efeito estufa (GEEs) caiam 7,6% ao ano entre 2020 e 2030, o mundo perderá a oportunidade de entrar na trajetória rumo à meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura em até 1,5°C.
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2019 (Emissions Gap Report, em inglês) do PNUMA afirma que, mesmo que todos os compromissos atuais sob o Acordo de Paris sejam implementados, as temperaturas deverão subir 3,2°C, trazendo impactos climáticos ainda maiores e mais destrutivos.
Para alcançar a meta de 1,5°C, a ambição coletiva precisa aumentar em mais de cinco vezes em relação aos níveis atuais para proporcionar os cortes necessários na próxima década.
O ano de 2020 é um ano crítico para a ação climática. A conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, em Glasgow, objetiva determinar o curso futuro dos esforços para evitar a crise. Nela, os países precisam intensificar significativamente seus compromissos climáticos.
“Por dez anos, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões tem soado o alarme, e por dez anos o mundo só aumentou suas emissões”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Nunca foi tão importante dar ouvidos à ciência. A não observação desses avisos e tomar medidas drásticas para reverter as emissões implica que continuaremos a testemunhar ondas de calor mortais e tempestades e poluição catastróficas.”
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou que se a temperatura ultrapassar 1,5°C a frequência e a intensidade dos impactos climáticos, como as ondas de calor e tempestades testemunhadas em todo o mundo nos últimos anos, aumentarão.
“Nosso fracasso coletivo em agir cedo e com firmeza com relação às mudanças climáticas significa que agora precisamos realizar grandes cortes nas emissões, de mais de 7% ao ano, se forem distribuídos uniformemente na próxima década”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA.
“Isso mostra que os países simplesmente não podem esperar até o final de 2020, quando precisaremos de novos compromissos climáticos, para intensificar suas ações. Eles e todas as cidades, regiões, empresas e indivíduos devem agir agora.”
“Precisamos de vitórias rápidas para reduzir as emissões o máximo possível em 2020, e Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs) mais fortes para iniciar as principais transformações em economias e sociedades. Precisamos compensar os anos em que procrastinamos”, acrescentou. “Se não fizermos isso, a meta de 1,5°C estará fora de alcance antes de 2030.”
Os países do G20 respondem coletivamente por 75% de todas as emissões, mas apenas cinco deles se comprometeram com uma meta de emissões zero a longo prazo.
No curto prazo, os países desenvolvidos terão que reduzir suas emissões mais rapidamente que os países em desenvolvimento, por razões de justiça e equidade. No entanto, todos os países precisarão contribuir mais para os efeitos coletivos.
Os países em desenvolvimento podem aprender com os esforços bem-sucedidos nos países desenvolvidos e podem até ultrapassá-los e adotar tecnologias mais limpas em um ritmo mais rápido.
O relatório diz que todas as nações precisam aumentar substancialmente a ambição em suas CNDs, como são conhecidos os compromissos de Paris, em 2020 e acompanhar políticas e estratégias para implementá-las. Estão disponíveis soluções para viabilizar o cumprimento das metas de Paris, mas elas não estão sendo implantadas com rapidez suficiente ou em escala suficientemente grande.
A cada ano, o relatório do PNUMA avalia a diferença entre as emissões previstas para 2030 e os níveis consistentes com as metas de 1,5°C e de 2°C do Acordo de Paris. O relatório constata que as emissões de GEE aumentaram 1,5% ao ano na última década. As emissões em 2018, incluindo as mudanças no uso da terra, como o desmatamento, atingiram uma nova alta de 55,3 gigatoneladas de CO2 equivalente.
Para limitar o aumento das temperaturas, as emissões anuais em 2030 precisam ser 15 gigatoneladas de CO2 equivalente mais baixas do que as CNDs atuais para a meta de 2°C e 32 gigatoneladas mais baixas para a meta de 1,5°C. Em termos anuais, isso significa reduções de 7,6% ao ano entre 2020 a 2030 para cumprir a meta de 1,5°C e 2,7% ao ano para a meta de 2°C.
Para cumprir esses cortes, os níveis de ambição nas CNDs precisam aumentar pelo menos cinco vezes para a meta de 1,5°C e três vezes para os 2°C.
De acordo com o relatório, as mudanças do clima ainda podem ser limitadas a 1,5°C. Há uma maior compreensão dos benefícios adicionais da ação climática, como ar limpo e o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Existem muitos esforços ambiciosos de governos, cidades, empresas e investidores. As opções de soluções e a pressão e vontade de implementá-las são mais abundantes do que nunca, segundo o documento.
Como ocorre todos os anos, o relatório concentra-se no potencial de setores específicos para proporcionar cortes de emissões. Em 2019, ele analisa a transição energética e o potencial de eficiência no uso de materiais, o que pode ajudar bastante a diminuir o déficit de emissões.
Fonte: ONU

‘O mar parece um supermercado, com tanta sujeira’: mergulhadores lutam para limpar recifes.

É possível encontrar de tudo no fundo do mar do arquipélago — de sacolas plásticas a camas, ventiladores e armários.
“O fundo do mar parece um supermercado, tem tanta sujeira lá embaixo”, diz a ambientalista Swietenia Puspa Lestari, de 25 anos.
Ao ver os recifes de coral se afogando em plástico, Swietenia decidiu tomar uma atitude.
Ela fundou a Divers Clean Action Foundation, uma rede de mergulhadores voluntários que limpam detritos do mar da Indonésia — um dos ecossistemas marinhos com maior biodiversidade do mundo.
Eles contam agora com 1,5 mil voluntários em todo o país e no Sudeste Asiático.
Swietenia também trabalha em parceria com centros de reciclagem, para reaproveitar os resíduos encontrados no oceano e transformá-los em novos produtos.
“Algumas pessoas perguntam: ‘Por que se preocupar em limpar os recifes se haverá mais lixo amanhã’?”
“Mas precisamos salvar a vida marinha do plástico”, responde.
Ela também iniciou a campanha #nostrawmovement na Indonésia, que reduziu o uso de canudos de plástico descartáveis ​​em mais de 700 restaurantes.
Swietenia está na lista da BBC de 100 mulheres inspiradoras e influentes de todo o mundo em 2019.
Fonte: BBC

Milhares de agricultores protestam em Berlim contra pacote de reformas.

Um a um, tratores de toda a Alemanha preenchiam a área do Portão de Brandemburgo, no centro de Berlim. Há dias, agricultores de todo o país partiram em direção à capital para participar de um grande protesto nesta terça-feira (26/11) e garantir assim a visibilidade do público.
Apesar de cientes do transtorno causado no trânsito na região, eles precisam atrair a atenção para a causa pela qual estão protestando. “Não podemos continuar assim. Não precisamos de regulamentação excessiva”, afirmou um fazendeiro da região de Norhorn, localizada na fronteira da Alemanha com a Holanda. Ele levou 11 horas para chegar a Berlim. “Não estamos dispostos a aceitar aquilo que os de lá de cima querem que a gente faça, sem nos consultar antes.” 
“Os de lá de cima” são as ministras alemãs da Agricultura, Julia Glöckner, e do Meio Ambiente, Svenja Schulze. Em setembro elas apresentaram um pacote agrícola que prevê a redução do uso de fertilizantes, pesticidas e inseticidas para conter a morte de insetos e a contaminação de lençóis freáticos com nitrato, além do banimento do glifosato até 2023.
Cerca de 10 mil agricultores participaram da manifestação em Berlim, que exige uma mudança na política para garantir a sobrevivência do setor. Numa ação silenciosa, centenas de botas e sapatos de crianças foram colocados nos degraus da Coluna da Vitória, que fica do lado oposto do Portão de Brandemburgo, na Avenida 17 de Junho, representando as mais de 94 mil empresas agrícolas que fecharam suas portas nos últimos dez anos.
A vida no campo não é fácil na Alemanha. Além do trabalho duro, o pagamento é baixo. Os agricultores têm dificuldade de alcançar lucros diante das grandes despesas de produção. Com as novas políticas, eles temem que um controle maior sobre o uso de fertilizantes acabe provocando uma diminuição da produção, especialmente em zonas de solo pouco fértil.
“Sim, cometemos erros no passado, sem dúvida. Mas aprendemos com eles”, disse o criador de gado e suínos de Norhorn. “Ainda somos o bode expiatório da nação no debate do nitrato. Não estou convencido de que as medições recentes estão corretas. Tenho a impressão que apenas os casos piores foram relatados, mas somos todos obrigados a assumir a responsabilidade coletiva pelos poucos pecadores.”
O nitrato costuma ser utilizado em fertilizantes e está presente em esterco, mas em altas dosagens pode ser tóxico, tanto para plantas como para animais. Estudos indicam que a substância pode ser cancerígena.
“Queremos ver uma pesquisa honesta sobre de onde realmente vem o teor de nitrato dos lençóis freáticos. Não estou dizendo que nossos fertilizantes não contribuem para isso, mas existem outras causas. Nós, agricultores, somos os únicos alvos do governo e isso é injusto”, protesta um agricultor da Baviera.
“Se supostamente reduzirmos o uso de fertilizantes em 20%, como o governo deseja, isso significa que nossas plantas recebem 20% menos nutrientes por ano, e haverá um impacto correspondente na produção e na renda”, prossegue. “Eu adoraria que meu filho se juntasse ao nosso negócio, mas se não é possível viver disso no futuro, não faz sentido mantê-lo interessado.”
No palco montado no Portão de Brandemburgo, agricultores contavam suas dificuldades. Por volta no meio-dia, o microfone foi aberto às ministras do Meio Ambiente e da Agricultura. Inimiga favorita dos manifestantes, Schulze recebeu vaias ao defender a proteção dos lençóis freáticos e insetos. Klöckner, que vem de uma família de trabalhadores do campo, demonstrou uma compreensão maior para as demandas do grupo, mas tampouco entusiasmou os presentes.
Custos e preços
Os manifestantes reunidos em Berlim insistiram que os subsídios agrícolas são fundamentais para evitar que mais agricultores abandonem o campo. “Estamos frustrados porque não podemos viver dos preços dos nossos produtos”, afirmou a agricultora Antje Marufke, da Turíngia. “A política deveria estabelecer preços mínimos de venda, para que as cadeias de varejo sejam forçadas a aceitar preços mais altos, mas isso não acontece. Em vez disso, é trazida carne da América do Sul.”
“Se os preços dos nossos produtos fossem um pouco mais altos, não precisaríamos de subsídios. Mas haveria muita pressão de preços partindo do Leste Europeu e de outras nações, devido aos acordos comerciais, que estão dificultando nossas vidas com suas exportações baratas”, opinou um agricultor de Oldenburg.
Por sua vez, o agricultor da Baviera disse considerar os subsídios como pagamentos compensatórios pelos custos dos altos padrões de produção. “Sem isso, teríamos uma desvantagem devastadora no mercado em relação a países onde os padrões de produção não são tão altos”, reforçou.
Entre os manifestantes, há um sentimento geral de que o governo falhou ao não considerar os interesses do grupo, enquanto tenta pressionar por mais regulamentação. No fim do dia, os tratores iniciaram sua viagem de volta para as dificuldades do dia a dia. 
Fonte: Deutsche Welle

O fotógrafo Tim Flach faz retratos impressionantes de pássaros incomuns e ameaçados de extinção.

O fotógrafo Tim Flach é especializado em retratar animais, dos mais comuns aos mais bizarros. A série que reúne algumas de suas melhores imagens de belos pássaros ameaçados de extinção, seja por conta de perda de habitat natural, mudança climática ou atividade humana.

Pelos olhos de Flach: o mundo animal

Flach já fotografou outros animais em perigo crítico de desaparecimento, como o pangolim (um mamífero manídeo), o sauim-de-coleira (um sagui da Amazônia), o saiga (um antílope originário da Eurásia) e o esturjão-branco (um peixe do Mar Negro e Cáspio).
Nem só de animais curiosos e raros vive o homem, no entanto. Flach também já publicou diversos livros centrados em espécies como cavalos e cachorros.
Em seu website, Flach é descrito como um artista com “interesse na maneira como os seres humanos moldam os animais e seu significado enquanto exploram o papel das imagens na promoção de uma conexão emocional”. Seu objetivo seria trazer à vida “a complexidade do reino animal” ao destacar várias espécies diferentes unidas por uma estilização pessoal.
Para saber mais do trabalho do fotógrafo, acesse sua página pessoal ou siga-o na plataforma Instagram. [Colossal]
Fonte: Hypescience
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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Vergonha de voar coloca imigrantes entre a família e o clima.

Quando a adolescente alemã Jennifer Asamoah disse à mãe, em 2018, que não voaria para Gana, para o casamento de sua meia-irmã, ela não estava sendo teimosa, e sim tentando salvar o planeta. “Eu perdi um dos dias mais importantes da vida dela por causa da mudança climática”, explica Asamoah, que opta por não usar aviões devido às emissões de gases do efeito estufa.
Voar, uma das atividades mais produtoras de CO2 que um cidadão pode fazer, está se tornando uma questão decisiva para quem queira ajudar a preservar o clima global. Um levantamento realizado em agosto pela firma de análise de dados Yougov mostrou que dois entre cada três britânicos se dispõe a limitar suas viagens aéreas.
A ativista do clima Greta Thunberg trouxe de forma dramática o assunto à tona, em meados do ano, ao atravessar o Oceano Atlântico não de avião, mas de barco, a fim de ir condenar os líderes do mundo por não estarem protegendo devidamente o planeta.
A Suécia, país natal da jovem de 16 anos, cunhou a expressão flygskam (em inglês: flight shame), que significa “vergonha de voar” – a culpa por tomar um avião, enquanto o meio ambiente se aprofunda numa crise talvez sem volta. O termo se tornou sinônimo dos movimentos antivoo que despontam pelo continente europeu.
O dilema dos migrantes
Parece fácil vencer a vergonha de voar: é só tomar trens e tirar férias mais perto de casa. No entanto para os imigrantes, que compõem 8% da população da Europa, e suas famílias, sacrificar as viagens aéreas impõe um dilema que toca fundo nas identidades de alguns: com que frequência se pode viajar para seus países de origem – se é que se pode?
Cidadãos nascidos no exterior voam mais, mas andam menos de carro do que aqueles cujas famílias vivem há mais de três gerações num país, indicou uma pesquisa da Universidade Técnica de Dortmund. Usando dados do Reino Unido e levando em consideração fatores como renda e educação, os pesquisadores concluíram que os migrantes voam 38% mais do que os nascidos no país em que vivem.
“Migrantes têm necessidade de voar para manter seus círculos de família e de amizades”, explica Giulio Mattioli, pesquisador de transportes e principal autor do estudo. “Uma vez que você migra, isso implica um certo nível de viagens e emissões.”
Mudar de país pode significar deixar para trás filhos, genitores, cônjuges e amigos. Laços mais sutis igualmente provocam o desejo de voltar, como, por exemplo, a necessidade de estar perto do local de nascença ou cercado pela língua materna.
Ao queimar enormes quantidades de combustível de aviação para levantar voo e planar acima das nuvens, as aeronaves emitem cerca de 2% do CO2 global. Elas também liberam poluentes como vapor d’água e óxidos de nitrogênio, que, a altitudes elevadas, contribuem ainda mais para o aquecimento do planeta.
Se Asamoah houvesse voado com a mãe da Alemanha para o casamento Gana e retornado, teria emitido cerca de 0,7 tonelada de dióxido de carbono, de acordo com o calculador online da Organização Internacional de Aviação Civil (OACI). Isso é mais ou menos a média do que um ganense emite em todo um ano.
O estudo de Dortmund concluiu que, ao contrário de seus pais, os filhos de imigrantes não voam com mais frequência do que o restante da população – fato que os pesquisadores não associam a preocupações ambientais.
“Minha mãe apoia minha decisão e também acha que seja um tópico importante”, explica Asamoah. “Mas quando se trata de visitar a família, ela não se importa [com suas emissões], só quer ver sua filha, e eu realmente entendo.”
Vergonha: sim ou não?
Deparados com razões mais fortes para viajar, os imigrantes também têm menos alternativas. “Eu me recuso a me sentir envergonhado por tomar um avião, se não há alternativa melhor, mais sustentável”, afirma Quang Paasch, que tem ascendência vietnamita e é um dos organizadores em Berlim do movimento de protesto Greve para o Futuro. “Não me sinto culpado por voar para ver minha família, porque o nosso sistema é baseado na injustiça social.”
Para quem se estabeleceu em outros continentes, as conexões alternativas práticas são escassas: um trem de Berlim a Istambul leva três dias e meio; chegar a outras cidades ainda mais distantes, como Nova Délhi ou Pequim, poderia levar semanas.
“Uma linha de trem daqui a Nairóbi: isso eu adoraria”, brinca Anastasia Nganga, uma queniana que vive na Alemanha e está tentando reduzir sua pegada carbônica. “Não volto ao Quênia toda semana ou mês, só no prazo de alguns anos. Tem gente aqui na Europa que voa para uma folga de fim de semana.”
No cerne do movimento antivoo, está a questão da justiça. Não há dados confiáveis sobre que parcela da população mundial viaja de avião, mas os especialistas em aviação concordam que a maioria não o faz.
Um relatório divulgado em setembro pelo grupo de pesquisa sem fins lucrativos International Council on Clean Transportation, constatou que, embora só componham 16% da população, os cidadãos dos países ricos são responsáveis por 62% das emissões de CO2 da aviação. Mesmo entre os que usam aviões, um pequeno grupo de voadores frequentes, incluindo os migrantes, realiza uma parcela desproporcional das viagens, apontou o estudo de Dortmund.
Isso levanta questões delicadas para os movimentos ambientais em países mais ricos, que tentam se livrar de sua reputação de privilegiados, enquanto exigem que a população e os governos cortem suas emissões.
Pressionar os imigrantes para não voarem criaria muito conflito, antecipa Mothiur Rahman, advogado inglês de origem bangladeshiana e membro do grupo ativista ambiental Extinction Rebellion. “Quem mede tudo segundo as emissões de dióxido de carbono, está hipersimplificando. Há diferentes qualidades de motivos para voar.”
We Stay on the Ground (Ficamos no Solo), um grupo criado na Suécia, mas ativo por toda a Europa e América do Norte, diz ter coletado mais de 12 mil assinaturas de gente que se compromete a não voar em 2020: No entanto tem dificuldade em envolver as comunidades de imigrantes e da diáspora em seu projeto.
“É a questão mais difícil que encaramos”, admite a fundadora da campanha, Maja Rosen. Parte de mim quer dizer que, claro, todo mundo deveria poder ir ver sua família quando queira. O problema é que o clima não vê diferença.”
No entanto há meios de cortar emissões de aviação sem sacrificar os laços familiares, ressalva Rosen. Como viajar com menor frequência, mas ficando mais tempo fora. Ou eliminar as férias no exterior. “Para mim, faz muito mais sentido alguém que tenha família na Índia ir visitá-la do que alguém como eu sair de férias”, diz a fundadora da We Stay on the Ground.
Fonte: Deutsche Welle

Bolsonaro diz que governo estuda liberação da exportação de madeira in natura.

Segundo ele, o caso está sendo analisado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e a permissão para a exportação de madeira in natura talvez precise de aval do Congresso.
“É melhor exportar de maneira legalizada do de que forma clandestina. Talvez uma medida como essa dependa do Parlamento. O Ricardo Salles vai me dar a palavra final na semana que vem”, disse ele a jornalistas após participar de evento militar no Rio de Janeiro.
O governo Bolsonaro vem sendo alvo de críticas de ONGs e ambientalistas por causa de sua política ambiental.
O auge das críticas ocorreu nos meses de agosto e setembro, na esteira dos avanços das queimadas no país, especialmente na região amazônica.
Uma mobilização internacional foi feita, com chefes de Estados, artistas e personalidades pregando pela defesa da Amazônia. Até hoje, as cobranças incomodam o presidente brasileiro.
“Primeiro: mudou o governo do Brasil e não tem mais um presidente subserviente a alguns países da Europa. No governo anterior tivemos muito mais picos de focos de incêndio do que tivemos (agora). Foi um campanha insidiosa buscando atingir o governo brasileiro”, avaliou o presidente.
“Não estou preocupado em perder aliados. Estou preocupado em não perder o Brasil”, acrescentou.

PROTESTOS NO CHILE

O presidente brasileiro manifestou preocupação com avanço de mobilizações populares que começaram no Chile e mais recentemente se estenderam para Bolívia —com a queda do presidente Evo Morales— e para a Colômbia.
Bolsonaro disse que as autoridades brasileiras estão atentas e preparadas para uma eventual mobilização social por aqui, mas destacou que não há motivos para que movimentos desse tipo se repliquem no Brasil.
“É lógico que a América do Sul é uma preocupação de todos nós, e não gostaríamos que outros países voltassem para o Foro de São Paulo e aqui ninguém quer que andemos nessa direção. Veja a Venezuela”, disse.
“Temos que estar preparados para não sermos surpreendidos pelos fatos, mas até o momento não vejo motivo nenhum para que esse movimento venha para cá. Nunca o Brasil viveu uma normalidade democrática como vivemos nesse momento”, adicionou.
O presidente disse ainda que os protestos no Chile demonstram “excesso” dos manifestantes. Esses “excesso” foram classificados pelo mandatário brasileiro como atos terroristas.
“O que estou vendo em alguns países há excesso, como no Chile. Aquilo não são manifestações, são atos de terrorismo”, afirmou Bolsonaro.
No evento da brigada paraquedista, o presidente fez ainda uma homenagem ao apresentador Augusto Liberato, o Gugu, cuja morte foi anunciada na sexta-feira.
“Fiz a devida reverência a essa pessoa que por décadas fez parte de todas as famílias brasileiras”, finalizou.
O presidente afirmou ainda que o número 38 da nova legenda criada por ele, a Aliança pelo Brasil, não é uma alusão ao revólver de calibre 38, mas sim uma referência à sua contagem como 38º presidente do Brasil.
O presidente e seus aliados são defensores da liberação do porte de arma para que a população se defenda contra ações criminosas.
“Se alguém quer associar às armas pega o 12 do PDT, do calibre 12, o 45 e outros números que tem por aí”, disse. “(O número) É por conta do trigésimo oitavo presidente do Brasil”, acrescentou.
Fonte: Reuters

Vergonha de voar coloca imigrantes entre a família e o clima.

Quando a adolescente alemã Jennifer Asamoah disse à mãe, em 2018, que não voaria para Gana, para o casamento de sua meia-irmã, ela não estava sendo teimosa, e sim tentando salvar o planeta. “Eu perdi um dos dias mais importantes da vida dela por causa da mudança climática”, explica Asamoah, que opta por não usar aviões devido às emissões de gases do efeito estufa.
Voar, uma das atividades mais produtoras de CO2 que um cidadão pode fazer, está se tornando uma questão decisiva para quem queira ajudar a preservar o clima global. Um levantamento realizado em agosto pela firma de análise de dados Yougov mostrou que dois entre cada três britânicos se dispõe a limitar suas viagens aéreas.
A ativista do clima Greta Thunberg trouxe de forma dramática o assunto à tona, em meados do ano, ao atravessar o Oceano Atlântico não de avião, mas de barco, a fim de ir condenar os líderes do mundo por não estarem protegendo devidamente o planeta.
A Suécia, país natal da jovem de 16 anos, cunhou a expressão flygskam (em inglês: flight shame), que significa “vergonha de voar” – a culpa por tomar um avião, enquanto o meio ambiente se aprofunda numa crise talvez sem volta. O termo se tornou sinônimo dos movimentos antivoo que despontam pelo continente europeu.
O dilema dos migrantes
Parece fácil vencer a vergonha de voar: é só tomar trens e tirar férias mais perto de casa. No entanto para os imigrantes, que compõem 8% da população da Europa, e suas famílias, sacrificar as viagens aéreas impõe um dilema que toca fundo nas identidades de alguns: com que frequência se pode viajar para seus países de origem – se é que se pode?
Cidadãos nascidos no exterior voam mais, mas andam menos de carro do que aqueles cujas famílias vivem há mais de três gerações num país, indicou uma pesquisa da Universidade Técnica de Dortmund. Usando dados do Reino Unido e levando em consideração fatores como renda e educação, os pesquisadores concluíram que os migrantes voam 38% mais do que os nascidos no país em que vivem.
“Migrantes têm necessidade de voar para manter seus círculos de família e de amizades”, explica Giulio Mattioli, pesquisador de transportes e principal autor do estudo. “Uma vez que você migra, isso implica um certo nível de viagens e emissões.”
Mudar de país pode significar deixar para trás filhos, genitores, cônjuges e amigos. Laços mais sutis igualmente provocam o desejo de voltar, como, por exemplo, a necessidade de estar perto do local de nascença ou cercado pela língua materna.
Ao queimar enormes quantidades de combustível de aviação para levantar voo e planar acima das nuvens, as aeronaves emitem cerca de 2% do CO2 global. Elas também liberam poluentes como vapor d’água e óxidos de nitrogênio, que, a altitudes elevadas, contribuem ainda mais para o aquecimento do planeta.
Se Asamoah houvesse voado com a mãe da Alemanha para o casamento Gana e retornado, teria emitido cerca de 0,7 tonelada de dióxido de carbono, de acordo com o calculador online da Organização Internacional de Aviação Civil (OACI). Isso é mais ou menos a média do que um ganense emite em todo um ano.
O estudo de Dortmund concluiu que, ao contrário de seus pais, os filhos de imigrantes não voam com mais frequência do que o restante da população – fato que os pesquisadores não associam a preocupações ambientais.
“Minha mãe apoia minha decisão e também acha que seja um tópico importante”, explica Asamoah. “Mas quando se trata de visitar a família, ela não se importa [com suas emissões], só quer ver sua filha, e eu realmente entendo.”
Vergonha: sim ou não?
Deparados com razões mais fortes para viajar, os imigrantes também têm menos alternativas. “Eu me recuso a me sentir envergonhado por tomar um avião, se não há alternativa melhor, mais sustentável”, afirma Quang Paasch, que tem ascendência vietnamita e é um dos organizadores em Berlim do movimento de protesto Greve para o Futuro. “Não me sinto culpado por voar para ver minha família, porque o nosso sistema é baseado na injustiça social.”
Para quem se estabeleceu em outros continentes, as conexões alternativas práticas são escassas: um trem de Berlim a Istambul leva três dias e meio; chegar a outras cidades ainda mais distantes, como Nova Délhi ou Pequim, poderia levar semanas.
“Uma linha de trem daqui a Nairóbi: isso eu adoraria”, brinca Anastasia Nganga, uma queniana que vive na Alemanha e está tentando reduzir sua pegada carbônica. “Não volto ao Quênia toda semana ou mês, só no prazo de alguns anos. Tem gente aqui na Europa que voa para uma folga de fim de semana.”
No cerne do movimento antivoo, está a questão da justiça. Não há dados confiáveis sobre que parcela da população mundial viaja de avião, mas os especialistas em aviação concordam que a maioria não o faz.
Um relatório divulgado em setembro pelo grupo de pesquisa sem fins lucrativos International Council on Clean Transportation, constatou que, embora só componham 16% da população, os cidadãos dos países ricos são responsáveis por 62% das emissões de CO2 da aviação. Mesmo entre os que usam aviões, um pequeno grupo de voadores frequentes, incluindo os migrantes, realiza uma parcela desproporcional das viagens, apontou o estudo de Dortmund.
Isso levanta questões delicadas para os movimentos ambientais em países mais ricos, que tentam se livrar de sua reputação de privilegiados, enquanto exigem que a população e os governos cortem suas emissões.
Pressionar os imigrantes para não voarem criaria muito conflito, antecipa Mothiur Rahman, advogado inglês de origem bangladeshiana e membro do grupo ativista ambiental Extinction Rebellion. “Quem mede tudo segundo as emissões de dióxido de carbono, está hipersimplificando. Há diferentes qualidades de motivos para voar.”
We Stay on the Ground (Ficamos no Solo), um grupo criado na Suécia, mas ativo por toda a Europa e América do Norte, diz ter coletado mais de 12 mil assinaturas de gente que se compromete a não voar em 2020: No entanto tem dificuldade em envolver as comunidades de imigrantes e da diáspora em seu projeto.
“É a questão mais difícil que encaramos”, admite a fundadora da campanha, Maja Rosen. Parte de mim quer dizer que, claro, todo mundo deveria poder ir ver sua família quando queira. O problema é que o clima não vê diferença.”
No entanto há meios de cortar emissões de aviação sem sacrificar os laços familiares, ressalva Rosen. Como viajar com menor frequência, mas ficando mais tempo fora. Ou eliminar as férias no exterior. “Para mim, faz muito mais sentido alguém que tenha família na Índia ir visitá-la do que alguém como eu sair de férias”, diz a fundadora da We Stay on the Ground.
Fonte: Deutsche Welle