terça-feira, 12 de novembro de 2019

Maioria dos países não irá atingir metas climáticas para 2030 – e todos pagarão o preço.

A maioria das promessas de redução das emissões de carbono para 2030 feitas por 184 países no Acordo de Paris não é suficiente para manter o aquecimento global bem abaixo de 2 graus Celsius. Alguns países não irão alcançar suas metas e alguns dos maiores emissores de carbono do mundo continuarão aumentando suas emissões, de acordo com um painel de cientistas climáticos mundialmente renomados.
O relatório A verdade por trás das promessas climáticas do Acordo de Paris alerta que, até 2030, o fracasso em reduzir as emissões custará ao mundo no mínimo US$ 2 bilhões por dia em perdas econômicas devido a eventos climáticos agravados pelas mudanças climáticas induzidas pelo homem. Além disso, eventos e padrões climáticos afetarão a saúde humana, os meios de subsistência, os alimentos e a água, além da biodiversidade.
Em 4 de novembro de 2019, o governo Trump apresentou um pedido formal para retirar oficialmente os Estados Unidos do Acordo de Paris de 2015, a ser efetivado em novembro do ano que vem. Todas as nações do mundo concordaram em “empreender esforços ambiciosos para combater as mudanças climáticas”, de acordo com o texto do pacto.
“Os países precisam dobrar e triplicar seus compromissos de redução para 2030 a fim de se alinharem à meta de Paris”, diz Sir Robert Watson, ex-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e coautor do relatório que examinou em detalhes as 184 promessas voluntárias feitas no Acordo de Paris.
“Possuímos a tecnologia e o conhecimento para fazer cortes nas emissões, mas o que falta são políticas e regulamentações suficientemente sólidas para que isso aconteça”, afirma Watson em entrevista. “No momento, o mundo caminha para um aumento de 3 a 4 graus Celsius até o final do século.”
Isso pode desencadear reações na natureza, como intenso degelo do permafrost ou extinção generalizada de florestas, o que poderia levar a um aquecimento adicional incontrolável. Os cientistas chamaram esse cenário de Planeta Estufa, onde o nível do mar sobe de 9 a 60 metros e grandes partes do planeta se tornam inabitáveis.
Mudar esse futuro exige atingir a meta climática do Acordo de Paris que consiste em ficarmos bem abaixo de 2 graus Celsius. As emissões globais precisam ser reduzidas pela metade até a próxima década e zeradas até meados do século, diz o economista energético Nebojsa Nakicenovic, ex-presidente do Instituto Internacional de Análise Aplicada de Sistemas (IIASA), na Áustria.
No entanto, a análise constante no relatório das 184 promessas para 2030 descobriu que quase 75% delas são insuficientes. Na verdade, a China e a Índia, respectivamente em primeiro e quarto lugar nas emissões do mundo, terão mais emissões em 2030. Os EUA são o segundo maior e sua meta é muito baixa. Ela também foi posta em dúvida, dada a retirada do governo Trump do Acordo.
A Rússia, o quinto maior emissor, nem se preocupou em estabelecer uma meta. Somente a União Europeia, o terceiro maior emissor, prometeu reduzir as emissões em pelo menos 40% até 2030 e deverá atingir uma redução de quase 60%.
O aspecto positivo desse relatório é que é muito fácil ver quais países estão liderando os esforços e quais estão ficando para trás, diz Watson. “Já estamos sentindo os imensos impactos das mudanças climáticas. Esperar para agir apenas nos expõe a temperaturas mais altas e impactos mais graves”, diz ele.
O relatório foi publicado pelo Universal Ecological Fund, uma organização sem fins lucrativos que fornece informações acessíveis sobre ciência do clima na esperança de inspirar as pessoas a pressionarem por ações climáticas.
Ele fornece “mais uma sólida evidência científica que justifica” os apelos do público por uma ação maior dos governos e empresas, afirma Bill Hare, cientista climático da Climate Analytics, que possui sede em Berlim. Hare não participou da produção do relatório, mas colabora com a Climate Action Tracker, que realiza análises científicas de compromissos e políticas climáticas.
Hare observa que os países mais pobres não podem fazer cortes profundos nas emissões sem o financiamento e o suporte técnico prometidos pelas nações ricas do mundo. Watson concorda, dizendo que os países industrializados causaram, em grande parte, o problema climático e devem apoiar os países menos desenvolvidos. “Precisamos da participação de todos para resolver isso”, diz ele.
Todos os países precisam intensificar os esforços, aceitar que as emissões globais devem ser eliminadas até 2050 e tomar medidas amplas para que isso aconteça, afirma Niklas Höhne, do Instituto NewClimate de Políticas Climáticas e Sustentabilidade Global, na Alemanha.
Intensificar significa realizar grandes melhorias em termos de eficiência energética, além de fechar 2,4 mil usinas a carvão e substituí-las por energias renováveis na próxima década. Além de isso ser possível, possibilitaria grande custo-benefício. Contudo 250 novas usinas a carvão estão em construção em todo o mundo, segundo o relatório.
“Os líderes precisam adotar novas políticas para fechar usinas a carvão e promover fontes de energia renováveis e sem carbono”, diz James McCarthy, professor de oceanografia da Universidade de Harvard.
Os esforços atuais dos governos não retardarão as mudanças climáticas como deveriam, diz McCarthy em comunicado.

Emergência climática global

Esse fracasso generalizado em tomar providências frente à ameaça existencial imposta pelas mudanças climáticas levou mais de 11 mil cientistas de 153 países a assinarem uma declaração de “Alerta sobre Emergência Climática de Cientistas de Todo o Mundo”. Publicada de forma independente do relatório sobre as promessas climáticas, a declaração começa assim: “Os cientistas têm a obrigação moral de alertar a humanidade sobre qualquer ameaça catastrófica e fornecer informações transparentes.”
Publicada na forma de um artigo na revista científica Bioscience, a declaração menciona seis passos importantes para reduzir os piores impactos das mudanças climáticas e 29 “sinais vitais” que devem ser monitorados. Esses sinais vitais se dão na forma de gráficos que documentam várias atividades humanas ao longo dos últimos 40 anos que contribuíram para as mudanças climáticas, como consumo de energia, desmatamento e transporte aéreo. Os gráficos também incluem os impactos climáticos resultantes, como níveis crescentes de CO2 e perda de gelo marinho.
Evitar “intenso sofrimento humano” exige ampla redução das emissões, alerta a declaração. Isso inclui reduzir o consumo de carne e o desperdício de alimentos, além de aumentar muito a eficiência energética por meio de energias renováveis.
As soluções climáticas descritas no artigo não são novas, reconhece o principal autor William Ripple, da Universidade do Estado de Oregon. Mas, ao listar as soluções como um conjunto de seis passos cruciais, além de “indicadores gráficos simples que mostram a que ponto estávamos há 40 anos e como as coisas mudaram”, os autores esperam que as informações sejam facilmente compreendidas por qualquer pessoa, diz Ripple.
“Cidadãos de todos os lugares precisam se envolver mais politicamente e os formuladores de políticas precisam fazer melhorias drásticas em seus planos de ação climática”, complementa ele.
O público está se envolvendo mais; milhões de pessoas no mundo participaram das greves climáticas de setembro. Muitos países, estados, províncias, cidades e empresas estão reagindo a essas demandas por ações mais intensas para controle das mudanças climáticas, afirma ele.
As eleições de 2020 nos EUA serão sobre mudanças climáticas, diz Ripple. “Ou melhor, as campanhas já falam disso.”

Os Estados Unidos querem ações climáticas

“Abandonar o Acordo de Paris é cruel para as gerações futuras”, diz Andrew Steer, Presidente e CEO do World Resources Institute, sobre a decisão do governo Trump de retirar oficialmente os EUA do Acordo. Os EUA sairão perdendo, pois deixarão de aproveitar a geração de empregos e uma economia muito mais sólida possibilitadas por um futuro de baixo carbono, diz Steer em comunicado.
O governo Trump está enviando ao mundo “uma mensagem catastrófica em um momento de grande urgência”, diz May Boeve, Diretora Executiva da 350.org, grande grupo ativista de base. “… a maioria das pessoas nos Estados Unidos entende a necessidade de lidar com a crise de forma agressiva”, afirma Boeve em comunicado.
Uma pesquisa de agosto de 2019 descobriu que 71% dos eleitores dos EUA querem que o governo federal faça mais para reduzir as mudanças climáticas. Uma maioria semelhante acredita que terá um impacto positivo na economia e na geração de empregos.
Daqui a um ano, em 4 de novembro de 2020, os EUA sairão oficialmente do Acordo de Paris. Isso acontecerá um dia após as eleições presidenciais. Os EUA podem voltar a fazer parte do pacto em 30 dias após terem protocolado uma solicitação às Nações Unidas.
Fonte: Stephen Leahy – National Geographic

Nenhum comentário: